MINISTÉRIO DA DEFESA
COMANDO DO EXÉRCITO

CP/CAEM/ECEME-AHIMTB


BRASIL - CONFLITOS EXTERNOS
AS FORÇAS TERRESTRES BRASILEIRAS EM CONFLITOS EXTERNOS

COMPÊNDIO DE HISTÓRIA MILITAR TERRESTRE DO BRASIL

 

Colaboração:

 AHIMTB - Academia de História Militar Terrestre do Brasil 

 

Pesquisa, texto e interpretação:

Cláudio Moreira Bento
Acadêmico Emérito - Presidente.

 

 

 

 

(As FTB, em conflitos externos na Amazônia, serão estudadas

com conflitos internos na mesma área, em compêndio separado,

como será o caso da conquista da Amazônia pelo Capitão Pedro Teixeira ).

 


 

SUMÁRIO

- Apresentação

- Introdução

- Objetivos a serem atingidos

- As 6 grandes batalhas pela preservação da Integridade do Brasil

1 - A primeira reação a estrangeiros

2 - As invasões francesas no Rio de Janeiro e Maranhão

3 - As guerras holandesas 1624-54

4 - As invasões francesas do Rio de janeiro (1710 e 1711)

5 - As guerras no Sul (1763-1777)

6 - A Guerra de 1801 no Sul e no Oeste

7 - A campanha do Exército Pacificador na Banda Oriental (1811-12)

8 - As guerras contra Artigas (1816 e 1820)

9- As lutas para consolidar a Independência (1822-24)

10- A guerra Cisplatina (1825-28)

11- A Guerra contra Oribe e Rosas (1851-52)

12 - A Guerra contra Aguirre do Uruguai (1864)

13 - A Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai (1865-70)

14 - A Guerra do Paraguai e os patronos no Exército

15- O Exército e a 1a Guerra Mundial (1914-18)

16 - O Exército entre a guerras do Paraguai e a 2ª Guerra Mundial

17 - A participaçào militar do Brasil na 2a Guerra Mundial(1939-45)

18 - Bibliografia sobre Brasil: Conflitos Externos

19 - Estímulo do revisor Prof ALCEU BATISTA

20 - Dados sobre o autor CLAUDIO MOREIRA BENTO


APRESENTAÇÃO

De longa data temos nos dedicado, ao lado de nossa atividade profissional militar, às atividades relacionadas com a História do Brasil, e em especial a sua História Militar Terrestre e ,dentro desta ,prioritariamente, a pesquisa, a preservação, o culto e divulgação da História do Exército, como o comprova nossa biobibliografia hoje na Internet no Site da Academia de História Militar Terrestre do Brasil com links em outros sites de assuntos militares: http://www.resenet.com.br/users/ahimtb.

Ao longo de nossa carreira integramos diversas comissões no Exército, ligadas a sua História tais como: Coordenador do projeto, da construção e da inauguração do Parque Histórico Nacional dos Guararapes ,em Pernambuco , em 1970-71; Comissão de História do Exército Brasileiro ,do Estado - Maior do Exército(CHEB/EME), como adjunto da Presidência 1971-74; Comissão encarregada, em 1975 , de publicar n º da Revista Militar Brasileira, alusiva ao bicentenário do Forte de Coimbra; Comissões na AMAN, para a organização das comemorações dos centenários dos falecimentos do General Osório, em 1979 e do Duque de Caxias ,em 1980, quando éramos instrutor de História Militar da AMAN (1978-80); Coordenador da Comissão, na AMAN, que elaborou, com apoio do Estado - Maior do Exército ,os livros textos História da Doutrina Militar e História Militar do Brasil(texto e mapas); presidência da Comissão de História de A Defesa Nacional, quando sob a direção do Cel Aldílio Sarmento Xavier ; Comissão do Exército para os festejos dos centenários da Proclamação da República e da Bandeira; Presidente de Comissão do Exército para estudar a instalação do Museu do Exército que apontou o Forte de Copacabana e de História do Exército do Arquivo Histórico do Exército As quatro últimas quando dirigíamos o citado Arquivo Histórico do Exército de 1985-91. E ,além ,o exercício da chefia do Departamento Cultural e da Revista do Clube Militar, no centenário da entidade etc.

Foi uma experiência notável que acumulamos para produzir o presente trabalho crítico ,didático e integrado ,sobre todos os conflitos externos em que o Brasil se envolveu em suas 6 grandes batalhas vencidas, como se verá adiante , as quais , contribuíram para a conquista e a preservação dos Objetivos Nacionais Permanentes do Povo Brasileiro: Integridade, Soberania, Unidade e Independência da Pátria(De. Patris = antepassado)

Ao estudarmos e ministrarmos aulas aos cadetes da AMAN sobre as Grandes Potências mundiais, constatamos que todas para atingirem este status internacional ,se tornaram antes potências militares, com apoio , inclusive ,no estudo militar crítico de sua História Militar , de onde extraíram subsídios táticos ,logísticos e estratégicos para desenvolverem suas doutrinas militares genuínas(Organização, Equipamento, Instrução, Motivação e Emprego) que são seguidos pelas nações sobre as quais exercem influência .

Estudando a História do Exército, constatamos como o Duque de Caxias e os marechais Floriano Peixoto e Castelo Branco manifestaram e trabalharam para a conquista deste sonho de uma doutrina militar terrestre genuinamente nossa.

E foi assim que concentrarmos nosso esforço desde então ,neste sentido, com apoio, inicialmente ,no Sistema de Classificação de Assuntos de História das Forças Terrestre Brasileiras do EME, fruto da pesquisa intensa e detalhada realizada pelo Cel Francisco Ruas Santos, como presidente da CHEB/EME e ,mais a Portaria n o 061-de 7 out 1977 , que aprovou a Diretriz para as Atividades do Exército no Campo da História .

E mergulhamos neste objetivo ,estudando o assunto e traduzindo o nosso pensamento na obra Como estudar e pesquisar a História do Exército Brasileiro, mandado editar pelo EME em 1978 pelo EGGCF e reeditado em 2000 ampliado e agora com o aval da Academia de História Militar Terrestre do Brasil.

Sonhávamos produzir um dia com a experiência acumulada em História Militar Terrestre do Brasil, um guia para apoiar estudos militares críticos de História sobre os nossos Conflitos Externos, para um conhecimento inicial geral do tema , complementado por indicações bibliográficas que permitissem ao militar em geral e em todos os níveis do ensino de História Militar no Exército ,aprofundar o assunto e conseguir a mesma excepcional acolhida de A História da Doutrina Militar. ( Resende:AMAN,1978) .Pois acreditamos que o assunto será capaz de conferir ao soldado a impositiva identidade e perspectiva históricas , sobre os problemas de Segurança Externa do Brasil , a missão fundamental constitucional de todo o Soldado do Exército , a sua Atividade fim ,desde o mais simples soldado ,até o Comandante do Exército .

Lembro que o então Coronel Clóvis Jacy Burmann cursou Estado - Maior na Alemanha ,e falou-nos que lá o estudo dos fundamentos da Arte da Guerra ( Príncípios de Guerra, Manobra e elementos etc) eram estudados por todos os níveis , para aplicação desde o combatente isolado até o mais alto Comando , no âmbito de seu escalão respectivo.

Assim esperamos que o presente trabalho Brasil conflitos externos 1500-1945 torne possível a seus usuários :

E tudo ao final, para que do estudo crítico de nossa História Militar, à luz dos fundamentos da Arte da Guerra – a Arte do Soldado, responderem às Forças Terrestres Brasileiras, a altura de suas responsabilidade na construção de um Brasil, grande nação potência e quem sabe talvez, uma grande potência mundial.

E como resultado de um grande esforço, na pesquisa e divulgação intensa de nossa História Militar Terrestre do Brasil esperamos que este trabalho que acreditamos, original, seja acolhido e não sepultado pela indiferença. Esta, segundo categorizada autoridade:

"A indiferença é o peso morto da História. É a bola de chumbo para o inovador, é a matéria inerte na qual freqüentemente se afogam os entusiasmos mais esplendorosos."

Que nossa colaboração, vingue, e faça o papel que julgamos deveria fazer ao escrevermos para o CP/CAEM/ ECEME, por sua solicitação. Pois temos a firme convicção de que qualquer integrante do Exército que tem a missão de defender o Brasil, deva conhecer o seu passado militar para adquirir e consolidar a identidade e perspectiva históricas, militar terrestre de sua Pátria (De Patris = Antepassado), para melhor desempenho de seu papel de soldado..

E de que este trabalho ao ser colocado na Internet ,venha a servir a todos os integrantes do Exército ,que seguramente e progressivamente serão alfabetizados virtualmente e assim poderão acessá-lo ao lado de outros na Biblioteca virtual da AHIMTB, em pleno desenvolvimento com temas básicos de nossa História Militar Terrestre.

Claudio Moreira Bento


INTRODUÇÃO

Este estudo— BRASIL: CONFLITOS EXTERNOS—, por nós apresentado em ordem cronológica, dá uma idéia das lutas externas desenvolvidas pelo Brasil em defesa de sua Integridade, antes mesmo do Descobrimento até 1945 .

Acreditamos ser o mais completo trabalho integrado até hoje sobre o assunto, por proporcionar uma visão ampla das lutas que

luso- brasileiros, e depois brasileiros apenas, enfrentaram para, com a vitória, nos legar um Brasil- Continente, obra, portanto, não de um milagre, mas de sacrifícios, vigílias, suor e sangue de nossos antepassados, especialmente dos Soldados Terrestres Brasileiros.

Este ensaio, pela copiosa bibliografia, ao final, estende-se além do tema, permitindo que estudantes, historiadores, pensadores, planejadores e chefes militares brasileiros dele extraiam subsídios para o continuo desenvolvimento da Doutrina Militar Terrestre Brasileira, com apoio na rica experiência brasileira aqui descrita.

Na bibliografia, poderão obter mapas para o estudo militar crítico à luz dos fundamentos da Arte Militar (A Arte do Soldado) , de detalhes dos conflitos externos, aqui tratados, e na dimensão aconselhada pelo Marechal Ferdinand Foch, comandante da Vitória Aliada na 1a Guerra Mundial e antigo instrutor de História Militar, na ESG da França, ao se expressar assim :

"Para alimentar o cérebro de um Exército na paz, para melhor prepará-lo para a eventualidade indesejável de uma guerra, não existe livro mais fecundo em lições e meditações que o livro da História Militar ."

Esta obra, na sua simplicidade, tenta mostrar como nossas

Forças Terrestres, usando a estratégia do fraco contra o forte, conseguiram, após 30 anos de lutas, na forma de Guerra Brasílica, expulsar o invasor holandês do Nordeste, e, à moda gaúcha, ( A Guerra à gaúcha) depois de 13 anos, o invasor espanhol do Sul e Oeste. Guerras Brasílica e à Gaúcha, a base da guerrilha, e de inspiração genuína da Arte Militar Terrestre Brasileira, sem se buscar apoio em doutrinas alienígenas .

Oxalá nossos objetivos sejam atingidos! E mais o objetivo atual no 1 do Exército:

Pesquisar ,preservar ,cultuar e divulgar , a memória histórica , as tradições e os valores morais culturais e histórico do Exército .

E no caso em tela colocar o rico patrimônio cultural militar terrrestre brasileiro a serviço do continuo desenvolvimento da doutrina militar terrestre brasileira , como a sonharam Caxias,Floriano Peixoto e Castelo Branco entre outros .Que assim seja !

Claudio Moreira Bento
Acadêmico Emérito Presidente da AHIMTB


OBJETIVOS A SEREM ATINGIDOS

Esta publicação deverá capacitá-lo a:

- identificar os antecedentes e os acontecimentos de destaque que caracterizaram campanhas em que o Exército Brasileiro, ou as FTB, que o antecederam, participaram;

-- descrever a participação das FTB ou do Exército Brasileiro (com ênfase, em Guararapes, o despertar do espírito de Exército e da Nacionalidade );

- - identificar os reflexos dessas participações na expressão militar do Poder Nacional, particularmente no que se refere à doutrina, ao moral e à estrutura militares.

Para isso, ela proporciona, com fundamento em respeitáveis autoridades na matéria, uma visão minuciosa, em sentido horizontal e vertical, contando com o suporte de antecedentes militares das áreas do Brasil sobre as quais se realizam exercícios ou manobras militares.

As lutas externas relacionadas com a conquista de Caiena, em 1809, e a conquista e manutenção do Acre, serão tratadas em História Militar Terrestre da Amazônia, em desenvolvimento.


AS SEIS GRANDES BATALHAS PELA INTEGRIDADE DO BRASIL

As Forças Terrestres Brasileiras, de 1500-1870, por cerca de quase quatro séculos, venceram seis grandes batalhas para preservar a integridade do Brasil.

A Primeira Batalha resultou do estabelecimento de franceses com feitorias no Nordeste ( Sergipe, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Maranhão) e no Norte (Pará e Amazonas), com apoio dos índios locais.

Foram expulsos, em 1532, de Pernambuco, que serviu de ponto de partida para a reconquista dos demais locais onde os franceses se haviam fixado com

feitorias.

A conquista mais difícil e disputada aos franceses foi a P a r a í b a, deImportância estratégica, como chave das comunicações do Nordeste com o Norte,e conquistada em 1585; Sergipe, em 1557; o Rio Grande do Norte, quando teve início a construção do Forte Três Reis Magos. Em junho de 1590, os índios firmaram a paz.

No Ceará, a conquista teve início em 1603; em 1611, foi fundada Fortaleza. Em pouco,estava vencida a primeira grande batalha pela integridade do Brasil no Nordeste e Norte.

 

 A Segunda Batalha foi travada no Sudeste, de 1556 a 1567, para expulsar os franceses que ali se estabeleceram, fundando a França Antártica, tendocomo principal ponto de apoio o Forte Coligny ( atual Escola Naval ), sob a liderança de Villegaignon e, em terra, aliança com os índios Tamoios contra os luso-brasileiros.

Em 1º de março de 1565, Estácio de Sá, tendo como base a FortalezaBertioga, no litoral paulista, desembarcou na área da atual Fortaleza São João, e alifundou a cidade do Rio de Janeiro.

Dois anos mais tarde, Estácio de Sá iniciou ofensiva final para expulsar os franceses de pontos fortes nos atuais Outeiro da Glória e Ilha do Governador. Expulsou os invasores, ficando, assim, definido o destino brasileiro no Rio de Janeiro.

A Terceira Batalha: em 26 de junho de 1612, os francesesinvadiram o Maranhão, fundando ali a França Equinocial; ergueram o Forte São Luísem homenagem Luís XIII, Rei da França, nome que permaneceu na c a p i t a l maranhense. Liderou a invasão, que durou mais de 3 anos e meio, Daniel de La Touche,senhor de La Ravardière, tendo-se destacado nessa luta o Capitão- mor Jerônimode Albuquerque.

A Quarta Batalha: Em 1616, foi enviado ao Maranhão o CapitãoFrancisco Caldeira Castelo Branco, que fundou o atual Forte do Castelo, origem da cidade de Belém. Daí, o Capitão Pedro Teixeira atuou para expulsar as feitorias inglesas, irlandesase holandesas que se haviam estabelecido no estuário e no Baixo Amazonas.

A seguir, caberia a Pedro Teixeira liderar viagem de Belém a Quito (1634-36).Dela resultou a conquista da Amazônia, que há mais de três séculos e meio integra o Brasil, depois de conquistada para Portugal em nome do rei comum de Portugal e Espanha.

A Quinta Batalha seria travada no Nordeste (1624- 54), com asinvasões holandesas na Bahia e depois Pernambuco. Foi esta grande campanha que culminou com as Batalhas de Guararapes em 1648 e 1849, nas quais segundo o consenso de intérpretes do processo histórico brasileiro, despertou o espírito de Exército e de Nação brasileiros.

A Sexta Batalha pela integridade do Brasil foi travada no Sul. Iniciou-seem 1680, com a fundação da Colônia do Sacramento por Portugal, defronte a Buenos Aires, luta que se prolongaria até 1870, com o término da Guerra do Paraguai. ( Interpretação:Cel Cláudio Moreira Bento em A História do Brasil através de seus fortes).


 

1 - A PRIMEIRA REAÇÃO A ESTRANGEIROS

Em 27 ou 28 de janeiro de 1500, segundo pesquisa do Almirante Max Justo Guedes, diretor do Serviço de Documentação da Marinha, o navegador Vicente Pinzón, com 4 caravelas e 150 homens, desembarcou no litoral do atual Ceará, a 120 Km de Fortaleza, na foz do rio Curu. Ao desembarcar em 4 escaleres, entrou em contato com 40 índios,e verificou-se um conflito entre filhos da terra portuguesa (pelo Tratado de Tordesilhas) e espanhóis.

Ao tentar um espanhol apanhar uma vara dourada lançada por um índio, os demais se jogaram em cima dele. A seguir, 40 índios se engalfinharam com 20 marujosde Pinzón, que assim descreveu na Europa o caso:

"Dentro do rio (Curu), os índios se apossaram temerariamente da margem dosescaleres; foram trucidados à lança e à espada como ovelhas, porque estavam nus(desprotegidos). Nem assim se retiraram. Arrebataram dos nossos um barco, depois de morto com uma seta o mestre do barco . Os outros marujos puderam safar-se.

Para concluir, os índios mataram 8 dos nossos com setas e dardos, e mal houve quem não recebesse algum ferimento. Se suas setas tivessem sido ervadas(envenenadas), nenhum dos nossos teria conservado a existência. "

Cerca de 2 meses mais tarde Pedro Álvares Gouveia (Cabral, mais tarde), descobriu o Brasil.

Explica Eduardo Bueno, em Náufragos, traficantes e degredados.

Rio de Janeiro : Objetiva, 1998 p. 14 :

 

"Esse primeiro encontro entre espanhóis e indígenas no Brasil é surpreendente

e em tudo desigual àquele que, meses mais tarde, aguardaria os portugueses no Brasil.

A explicação é simples: Enquanto Cabral e seus homens se encontravam com os Tupiniquins

e estabeleceram com eles uma relação pacífica, os marujos de Pinzon desembarcaram

no território dos Potiguares e podem tê-los provocado. "

 

E aí, mesmo antes do Descobrimento do Brasil, já de Portugal pelo Tratado de

Tordesilhas (1494), teve início a série de lutas externas, que, vencidas, contribuíam

para a definição e manutenção de um Brasil de dimensões continentais, cabendo às atuais

e futuras gerações preservar soberano, uno, indivisível, íntegro.