14-A Guerra do Paraguai e o patronos no Exército

Essa guerra, a maior e a mais longa em que o Exército Brasileiro participou, daria origem aos seguintes Patronos do Exército: O do Exército, o da Infantaria, o da Cavalaria, o da Artilharia, o da Engenharia e o do Quadro Auxiliar, cujos perfis e projeções históricas abordaremos a seguir.

O patrono do Exército: O Marechal-de-Exército Luiz Alves de Lima e Silva e Duque de Caxias foi consagrado, de direito, por Dec. 51929, de 13 mar 1962, como o Patrono do Exército Brasileiro, onde ele se forjou e de cujo seio emergiu no cenário nacional, como um dos maiores brasileiros de todos os tempos. Caxias prestou à Pátria mais de 60 anos de excepcionais e relevantes serviços, como político e administrador de contingência e sem igual , como soldado de vocação e tradição a serviço da Unidade, da Paz Social, da Integridade e da Soberania brasileiras.

Ainda em vida e até nossos dias, o povo, a imprensa, chefes, escritores, pensadores e historiadores têm procurado defini-lo entre outros com os seguintes títulos: "Filho querido da vitória; Pacificador; General invicto; Condestável, Escora e Espada do Império; A maior espada do Brasil; o Wellington Brasileiro; Duque de Ferro e da Vitória; o Escravo da Pátria; Nume ou Espírito Tutelar; Símbolo da Nacionalidade, o Maior Soldado do Brasil ... "

Por sua monumental obra pacificadora de quatro lutas internas, pelas modelares manobras de flanco de Humaitá e Piquiciri, na guerra Tríplice Aliança contra o Paraguai- 1865-70, figura, sem favor nenhum, na galeria dos maiores capitães da História Militar Mundial.

Sua escolha como patrono deveu-se ao fato de haver vencido todas as seis campanhas de que participou : as campanhas internas pacificadoras da Balaiada, no Maranhão em 1841; de São Paulo e Minas Gerais, em 1842, a Revolução Farroupilha de 1842-45; e os conflitos externos contra Oribe e Rosas 1851-52, a Tríplice Aliança contra o Paraguai de 1866-69, além de haver dirigido o Exército, de forma fecunda e marcante, como Ministro da Guerra, por três períodos 1855-58; 1861-62 e 1875-78, dos quais os dois últimos como Chefe de Estado, na qualidade de Presidente do Conselho de Ministros do Império.

Caxias possuía muito orgulho nativista de ser veterano condecorado da guerra da Independência na Bahia. Sonhava com uma Doutrina Militar genuína para o Exército Brasileiro, sonho manifestado ao adaptar a Doutrina do Exército de Portugal ao nosso, em 1861, com apoio na experiência que havia colhido em 5 campanhas que até então havia vencido, doutrina com a qual o Exército Brasileiro lutou e venceu no Paraguai.

Como Ministro da Guerra, suas grandes realizações foram as construções da Escola Militar da Praia Vermelha e a do Quartel Central do Exército no Campo de Santana.

Como cidadão brasileiro, seu ponto culminante foi pacificar a família brasileira em Ponche Verde, em 1º mar 1845, o que não só pôs fim à Revolução Farroupilha, como ao ciclo de lutas fratricidas que duraram quase 14 anos e iniciadas com sérios desencontros da Sociedade Brasileira, após a Abdicação de D. Pedro I.

Como líder de batalha, seu grande feito estratégico foi a manobra de Flanco de Piquiciri, através do Chaco, onde correu um risco calculado, ao sacrificar o princípio de guerra da Segurança, em benefício do princípio da Surpresa, a qual obteve em nível estratégico, ao desembarcar na retaguarda profunda do exército adversário, em Santo Antônio, abreviando, em muito, a duração do conflito e, com isso, poupando recursos de toda a ordem.

Como líder de combate, seu grande momento foi em Itororó, quando, ao perceber que o Exército poderia ali ser detido, desembainhou a sua já invencível espada de 5 campanhas, brandiu-a ao vento, voltou-se decidido e convincente para o Exército detido e comandou com energia: "Sigam-me os que foram brasileiros! "Ato contínuo lançou-se sobre a ponte com o seu cavalo de guerra, indiferente ao perigo, arrastando eletrizado todo o Exército atrás de si, para, em seguida, colher expressiva vitória.

Caxias nasceu em 25 ago 1803 na Fazenda Taguaruçu, em Caxias-RJ, local hoje transformado em Parque Histórico Duque de Caxias.Faleceu em 07 mar 1870, na Fazenda de Santa Mônica, em Valença, que hoje se constitui em dependência do Museu Histórico do Exército. Segundo sua vontade, seu corpo foi transportado ao cemitério por soldados de bom comportamento, onde falou em nome do Exército o Major de Engenheiros Alfredo de Taunay, que assim procurou definir o grande morto:

"Só a maior concisão unida à maior singeleza é que poderá contar seus feitos. Não há pompas de linguagem, não há arroubos de eloqüências capazes de fazer maior sua individualidade, cujo principal atributo foi a sua simplicidade na grandeza."

O historiador Capistrano de Abreu escreveu então:

"Caxias dispensou as honras militares. Fez bem !

As armas que ele tantas vezes conduziu à vitória teriam vergonha,

talvez, de não ter podido libertá-lo da morte."

Os restos mortais de Caxias e de sua esposa encontram-se no Panteon defronte ao Palácio Duque de Caxias, e sua invicta espada de 6 campanhas, da qual os espadins dos cadetes do Exército são cópia fiel em escala, pertence ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro do qual foi sócio.

Caxias sublimou as Virtudes Militares de Bravura, Coragem, Abnegação, Honra Militar, Devotamento e Solidariedade.

Não se pode esquecer o pioneirismo de Caxias em nossa Aeronáutica, ao mandar vir dos EUA balões cativos para proceder a reconhecimentos das posições inimigas que se antepunham ao seu avanço de Tuiuti, até a Fortaleza de Humaitá, reconhecimentos aéreos eficazes que contribuíram para a conquista daquela poderosa fortaleza, objetivo militar aliado, em função de uma manobra de duplo envolvimento realizada pela Marinha, no rio Paraguai, e pelo Exército, por terra. O altar portátil usado por Caxias para assistir a missas em campanha, como católico de fé robusta que era, encontra-se no Mosteiro de Santo Antônio, no Largo da Carioca.

O Patrono da Infantaria: O Brigadeiro Antônio de Sampaio foi consagrado, em Dec. 51429 de 13 mar 1962, patrono da Arma de Infantaria, em cujo seio se forjou e se destacou sobremodo como bravo e modelar líder de combate, instrutor e disciplinador da Infantaria, à frente da qual, representada pela sua 3ª Divisão de Infantaria – a Divisão Encouraçada, teve seu glorioso encontro com a glória militar em 14 mai 1866, na Batalha de Tuiutí, onde se constituiu em fator decisivo para a vitória, em que pese aos três ferimentos recebidos que determinaram sua morte, em 6 jul 1866, a bordo do vapor "Eponina" e o fato de quatro cavalos que montava durante a resistência, a todo o custo, que liderava, terem tombado por perfurações de balas e baionetas inimigas e, mais, o de sua heróica Divisão haver concorrido com 33% das baixas brasileiras neste dia, por se haver constituído em ponto chave da defesa.Sampaio chegou ao Rio Grande do Sul ao final da Revolução Farroupilha, onde, no comando de uma companhia de Infantaria, estacionou quase 5 anos em Canguçu, como instrumento de consolidação da Paz de Ponche Verde e próximo de Piratini e Caçapava, antigas capitais da República Rio - Grandense (1836-45).

A seguir Sampaio empenhou-se a fundo no comando sucessivo de batalhões e brigadas de Infantaria. Em pouco, transformou-se num consumado condutor de homens, conhecedor profundo do uso militar do terreno e mestre em adestrar e empregar a Infantaria. Combateu na guerra contra Oribe e Rosas (1851-52), quando participou da Batalha de Monte Caseros, como integrante da Divisão Brasileira. Comandou um Batalhão de Divisão de Observação que penetrou em Montevidéu em 7 mai 1859, a pedido do Presidente oriental Venâncio Flores. Na guerra contra Aguirre, teve atuação destacada à frente de uma Divisão, na conquista de Paissandu, o que lhe valeu sua promoção a brigadeiro.

Durante a guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai (1865-70),o que fez como oficial general teve atuação destacada até Tuiuti.

Sobre o seu conceito e o de sua tropa, escreveu em Reminiscências da campanha do Paraguai, Dionísio Cerqueira, o maior cronista desse conflito e que foi integrante da Divisão Encouraçada e subordinado de Sampaio:

"A idéia de eu passar para a Infantaria não me abandonava. Esta arma exercia sobre mim indizível fascinação. Quando passava um daqueles belos batalhões da Divisão Sampaio, a Encouraçada, de bandeira desfraldada, os pelotões alinhados, guardando bem as distâncias, marchando airosos e elegantes, ao som alegre de um dobrado vibrante, não me podia conter, e punha-me a marcar passo..."

E mais adiante: "Fui apresentar-me ao general Sampaio. O ilustre general, glória do Exército, pelo valor e amor à disciplina, estava uniformizado, debaixo de uma ramada, lendo uma história de Napoleão, seu capitão predileto. Quando me viu, fechou o livro, marcando-o com o indicador da mão esquerda".

Sampaio era cearense de Tamboril, onde nasceu em 24 mai 1810. Morto heroicamente aos 56 anos, após sublimar as Virtudes Militares de Coragem, Bravura, Honra Militar e Desprendimento.

Vive ainda na memória do Brasil, na alma do Exército e, sobretudo, nas melhores tradições da Infantaria Brasileira que ele ajudou a forjar. Seus restos mortais repousam em mausoléu, em Fortaleza - CE.

O Patrono da Cavalaria:O Marechal-de-Exército Manoel Luiz Osório e Marquês de Herval, ou, simplesmente, o general Osório, como foi chamado em seu tempo, foi consagrado, em Dec. 51.429 de 13 mar 1962, patrono da Arma de Cavalaria, em cujo seio se forjou e despontou como líder de combate, mais bravo, audaz, querido e carismático do Exército, ao ponto de ter sido o único a concorrer com o Duque de Caxias à consagração como Patrono do Exército.Osório foi o comandante aliado na vitoriosa batalha de Tuiuti, em 24 mar 1866, a maior batalha campal da América do Sul, na qual, anulou a capacidade e ofensiva tática adversária, ao conduzir, pessoalmente, modelar defesa em posição. Foi tamanho o brilho de sua arte militar nessa batalha, que um dos seus biógrafos assim a definiu: "Tuiuti é Osório e OSÓRIO é Tuiuti". Ele teve especial destaque na guerra Cisplatina (1825-28), quando, como alferes, conseguiu audaz e espetacularmente romper o cerco inimigo no combate de Sarandi. Seu comandante, General Bento Manoel, admirado pelo feito do alferes Osório, sentenciou: "Hei de legar-lhe, Alferes, a minha lança, porque a levará mais longe do que a levei." E essa profecia seria cumprida! Na guerra contra Oribe e Rosas (1851-52), à frente do 2º Regimento de Cavalaria Ligeira, Osório desempenhou importante papel na vitória aliada de Monte Caseros, o que lhe valeu promoção a coronel, por merecimento.

Na guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai (1865-1870), coube-lhe comandar o Exército Brasileiro em operações contra o Paraguai, desde o Uruguai até a batalha de Tuiuti, destacando-se no comando da invasão ao Paraguai, em Passo da Pátria, quando preferiu celebrar palavras em Ordem do Dia, em 17 abr 1866:

 

"É fácil a missão de comandar homens livres: basta mostrar-lhes o caminho do dever."

Ele foi o primeiro a pisar do outro lado, em solo inimigo. Osório destacou-se como líder de combate em Avaí, onde foi ferido no rosto. Prestou nessa guerra excepcionais serviços à Integridade e Soberania do Brasil, sobrepujando doenças e ferimentos.Dele e de sua singular liderança poderia afirmar:

 

Osório, nome que foi legenda e que é glória. Foi "estrela guia em negros horizontes no caminho da luta e da vitória". Formou-se na Academia Militar das Coxilhas, na Fronteira do Vai-e-Vem, entre pará tatás de centauros, pontaços de lanças, quadrados de Infantaria, troar de canhões e cargas de Cavalaria, na belicosa coreografia da Arte Militar dos Pampas.

 

Osório nasceu em Conceição do Arroio, atual Osório - RS, em 10 mar 1808, em local transformado em Parque Histórico com o seu nome. Faleceu no Rio de Janeiro, como Ministro da Guerra, em 4 out 1879, aos 71 anos. Seu corpo embalsamado repousava na Praça 15 no Rio de Janeiro. Hoje, está em Tramandaí, no Parque Osório, local de seu nascimento.Osório sublimou as Virtudes Militares de Coragem, Bravura, Desprendimento, Honra Militar e Camaradagem. Foi militar excepcionalmente vocacionado, cidadão exemplar, chefe e líder amado, camarada invulgar e modelo do soldado brasileiro. Glória lhe seja, pois, "esta mais preciosa recompensa dos bravos", no seu conceito.

O Patrono da ArtilhariaArma do Apoio de Fogo:O Marechal-de-Exército Emílio Luiz Mallet e Barão do Itapevi foi consagrado, por Dec. 51424 de 13 mar 1962, patrono da Arma de Artilharia, em cujo seio se forjou e se firmou com o honroso título de Artilheiro Símbolo do Brasil. Mallet teve como ponto culminante e mais glorioso de sua carreira a frente do 1º Regimento de Artilharia a Cavalo, o atual Regimento Mallet, na batalha de Tuiuti de 24 mai 1866. Ali, com seu regimento na vanguarda e em posição atrás de um fosso escavado com auxílio inclusive do Batalhão de Engenheiros e manobrando com rara habilidade e competência sua "Artilharia - Revólver", cumpriu sua determinação assim expressa no calor da luta: "Por aqui eles não passam". Foi o primeiro a suportar e a repelir as massas inimigas que a todo o custo pretendiam romper a posição aliada, o que lhe valeu promoção a coronel por bravura.E assim narrou com simplicidade esse seu heróico feito:

"Este Regimento com 24 bocas de fogo, colocado na vanguarda sobre o centro do Exército, sustentou triunfalmente e repeliu todas as colunas do inimigo... Em poucas horas, foi varrida a frente do Exército e o grande número de homens e cavalos mortos atestam a eficácia de seus fogos."

Isso foi na guerra do Paraguai, que ele fez de fio a pavio, em companhia de seus três filhos, e na qual, segundo Osório, "nenhum oficial do Exército prestou mais assinalados serviços, do que o valente comandante da nossa Artilharia".

Como tenente, no comando de duas peças de Artilharia, Mallet teve atuação marcante na batalha de Passo do Rosário de 20 fev 1827. Na guerra contra Oribe e Rosas (1851-52), como capitão, fez toda a campanha contra Oribe no comando do 1º Regimento, então tracionado por bois. Data de então a tradição de a unidade chamar-se "Boi-de-botas", em razão de os bois, de tanto atravessarem lodaçais, no inverno, darem a impressão de estarem calçando botas.

Mallet nasceu em Dunquerque – França, em 10 jun 1801, e faleceu no Rio de Janeiro em 2 jan 1866, depois de 68 anos de devotamento à construção de sua nova pátria, na paz e na guerra. Seus restos mortais repousam em seu Memorial no Regimento Mallet em Santa Maria.

Mallet sublimou as Virtudes Militares de Bravura, Coragem, Devotamento e Abnegação, como oficial do Exército, em todas as guerras externas do Império do Brasil: guerra Cisplatina (1825-28); guerra contra Oribe e Rosas (1851-52); guerra contra Aguirre (1864) e guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai (1865-70).

Amargou a injustiça de demissão indevida do Exército, pela Assembléia Geral, no posto de capitão, em 1831, por ser estrangeiro, embora tivesse sido 1º cadete, privilégio de brasileiros, cursado a Academia Militar, lutado pela Independência do Brasil e ter-se consagrado herói, em Passo do Rosário. Mas, em 1831, exigiram-lhe como condição de permanência um ferimento em ação. Por não possuí-lo, a injustiça se consumou.

Foi reintegrado, 20 anos mais tarde, em função de requerimento que recebeu despacho favorável do Conselho Superior Militar, em 20 set 1851.

O Patrono da Engenharia – A Arma do Apoio ao Movimento: O Tenente-Coronel de Engenheiros João Carlos de VilLagran Cabrita foi consagrado, por Dec. 51.429 de 13 mar 1962, patrono da Arma de Engenharia – a arma de apoio ao Movimento, criada no Brasil em 1910, por desligamento da Arma de Artilharia que até então integrava.

ViLlagran Cabrita teve seu encontro glorioso com a História, em 10 abril 1866, ao liderar o vitorioso combate de consolidação da conquista da Ilha de Redenção, no Rio Paraná, defronte do forte inimigo de Itapiru, operação militar que se constituiu em importante e bem sucedida ação diversionária, para permitir o desembarque aliado em Passo da Pátria, 6 dias após, o que caracterizou a invasão do Paraguai no curso de guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai (1865-70). Daí, o nome ilha da Redenção - o início da redenção do povo paraguaio.

VilLagran Cabrita, então comandante do glorioso Batalhão de Engenheiros, que apoiava o 1º Corpo de Exército, ao comando de Osório, foi selecionado dentre muitos para, na liderança de 900 homens de Engenharia, Infantaria e Artilharia, conquistar, fortificar e manter a todo o custo a ilha, com apoio inclusive da Marinha. Cumpriu exemplarmente a missão recebida, com o sacrifício da própria vida. pois, morreu quando redigia a parte da Vitória, atingido por mortal estilhaço de um obus disparado do forte Itapiru. O seu belo exemplo de coragem e valor militar e mais o seu sacrifício supremo comoveram todo o Exército Brasileiro em operações. Desde então seu nome e exemplo viraram legenda.

Até então, ViLlagran tivera uma vida normal como a grande maioria dos oficiais do Exército Imperial. Era zeloso do seu preparo profissional e moral. Estava preparado profissional e moralmente para o seu grande encontro na Ilha da Redenção, com a História do Brasil. Vilagran era brasileiro, nascido na então Província Cisplatina do Brasil, atual Uruguai, em 15 abr1825. Ignora-se o destino de seus restos mortais.Em sua Memória, foi erigido o Memorial VilLagran Cabrita no Batalhão de Engenharia de Combate de Santa Cruz –RJ, que o tem como denominação histórica, em cuja inauguração fomos contemplado com a suprema honra, como oficial de Engenharia , de fazer a alocução alusiva.

O Patrono do Serviço de Saúde: O Gen Bda Médico Dr. João Severiano da Fonseca, também militar, escritor, naturalista, historiador, geógrafo, professor e político, foi confirmado Patrono do Serviço de Saúde, ou dos médicos, dentistas e farmacêuticos do Exército, pelo Dec. 51.425 de 15 mar 1962, pelo espírito científico, coragem moral e senso de solidariedade revelados, de modo assinalado, como médico militar e defensor dos direitos de seus pacientes, na paz e na guerra, ao ponto de ser guindado, por eleição, quase unânime, no quadro de Saúde, como símbolo e padrão do soldado de Saúde, além de patrono. Segundo seu biógrafo, o historiador e acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil General Bda Alberto Martins da Silva, o General Severiano, além do perfeito desempenho da função de médico militar durante a guerra do Paraguai, na qual lutou de fio a pavio, como o irmão Marechal Deodoro da Fonseca, singularizou-se:

"Pela defesa intransigente e corajosa dos doentes, no sentido de assegurar-lhes remédios, dietas, enfermagem, transporte condigno e abrigo das intempéries. Pela venda de sua coleção de moedas para comprar remédios aos seus enfermos e pelo uso da flora medicinal, em redor dos hospitais de sangue, para minorar o sofrimento de seus doentes, na falta de medicamentos."

Nessa tarefa, como tenente, corajosamente e com firmeza, atuou em prol do doente junto aos chefes mais graduados, como os legendários Brigadeiro Sampaio e Coronel Tibúrcio. Tomou, também, junto com outros oficiais de saúde, posição corajosa em prol da abolição dos castigos corporais, inclusive pranchadas de espada, remanescentes do Regulamento Disciplinar do Conde de Lippe e só abolidos, em 1875, por Caxias, em Regulamento Disciplinar que então baixou como Ministro da Guerra.

João Severiano atuou de forma marcante como cirurgião e Diretor do Hospital Militar da Corte, raiz histórica do HCE. Foi Diretor de Saúde dedicado de 1850-57, gestão marcada por grandes melhoramentos e avanços, e também pelo grande apoio dado às operações do Exército nos sertões da Bahia, na guerra de Canudos.

João Severiano nasceu em 27 mar 1836, em Alagoas. Era filho de Rosa da Fonseca, que passou à História como a "Espartana brasileira" ou "mãe dos 7 Macabeus", em razão de 7 de seus 8 filhos homens haverem lutado na guerra do Paraguai, dos quais 3 morreram em ação: Hipólito Mendes e Afonso Aurélio, em Curupaiti, e Eduardo Emiliano, em Itororó. João Severiano faleceu em 7 nov 1897 no Rio de Janeiro, já integrando diversas agremiações culturais e científicas e senhor de vasta bibliografia, onde sobressaía Viagem ao redor do Brasil e Da Moléstia em Geral, sua tese de doutoramento, em 1860.

Sobre sua visão de justiça deixou este pensamento lapidar ao reassumir a Direção da Saúde:

"Já sabem o meu modo de servir. Na balança dos meus julgamentos não têm peso igual o brio e o desleixo, e tão pronto sou em reconhecer e afagar o merecimento e os bons serviços, como o sou em profligar e punir a tibieza, a desídia e o desmazelo."

João Severiano extremou-se na prática das Virtudes Militares de Coragem, Devotamento, Desprendimento, Solidariedade e Moralidade. Sobre ele escreveu o Marechal Dutra:

"Suas altas virtudes e impecável conduta, como médico e soldado, devem ser sempre louvadas com orgulho patriótico, servindo de constante inspiração aos que se devotam aos zelos humanitários e altruísticos".

 

O Patrono do Quadro Auxiliar: O Tenente Antônio João Ribeiro foi consagrado, por Dec. 85.091 de 24 ago 1980, patrono do Quadro Auxiliar de Oficiais, por haver atendido ao chamamento da História, ao qual está sujeito qualquer militar, e isso no comando da Colônia Militar de Dourados, quando, com coragem, bravura, honra militar, desprendimento e altivez, imolou-se no altar da Pátria, em 26 dez 1864, junto com alguns de seus comandados, na resistência à invasão do solo de sua pátria, ao negar-se a atender ultimatum de forças invasoras. Então, com atitude de extrema heroicidade, correspondeu a estas palavras a ele atribuídas:

"Sem ordem do governo imperial, não me renderei de forma alguma."Eu sei que morro, mas o meu sangue e o de meus camaradas servirá de protesto solene contra a invasão do solo de minha pátria! "

E resistiu com 13 homens a uma força de 365 homens. O fogo cerrado do inimigo o fulminou e atingiu dois soldados e dois colonos. Os restantes foram dominados. Desde então seu gesto de enorme heroísmo tem comovido todas as gerações de brasileiros. Seu gesto heróico foi imortalizado, em bronze, no Monumento à Retirada de Laguna e Dourados, na Ilha na Praia Vermelha, no Rio. Em sua Fé-de-Ofício, constam expressões como esta:

"É subordinado pronto para o serviço. É zeloso. Possui probidade. É pontual. Apto para o comando de Companhia.Regular instrução da Arma e bastante do Serviço em Campanha."

Antônio João nasceu em Poconé - MT, em 29 nov 1823, e iniciou carreira militar em Cuiabá -MT, em 6 mar 1841. Ascendeu ao oficialato, como Alferes, em 29 jul 1852. Ele sublimou as Virtudes Militares de Bravura, Coragem, Honra Militar e Desprendimento.