5 -AS GUERRAS NO SUL 1763-77

(Ou Guerra da Restauração do Rio Grande)

 

De 1763-77, o Sul do Brasil foi envolvido pela primeira vez numa guerra. O atual Rio Grande do Sul sofreu duas invasões que chegaram a controlar cerca de dois terços de seu território. Ao final, houve forte e vitoriosa reação de Portugal, o que acabou por restaurar a soberania portuguesa sobre a área e projetar-se como a definição do destino brasileiro da área.

Para tal, concorreram, no esforço de guerra, sob o comando do Tenente- General Henrique Bönh, os atuais Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Bahia, Santa Catarina e Paraná. Destaca-se também a contribuição militar de civis paulistas, enviados durante a guerra, num fluxo contínuo para a fronteira de Rio Pardo. Unidos a um punhado de civis rio-grandenses, e lado a lado com bravos do Regimento de Dragões do Rio Pardo, ajudaram a conduzir modelar guerra de guerrilhas contra o invasor, traduzida pelas vitórias militares obtidas (Monte Grande - 1763, Reconquista de São José do Norte - 1767, Santa Bárbara e Tabatingaí - 1774, São Marçotinho - 1775 e Santa Tecla - 1776).

As guerrilhas na área do Rio Grande do Sul, por dez anos, mantiveram as invasões circunscritas. Criaram condições para o Exército do Sul, com o concurso de uma Esquadrilha Naval, tudo ao comando do Tenente- General Henrique Böhn, completar a restauração com a reconquista da Vila de Rio Grande, em 1º de abril de 1776.

 

Vamos "mergulhar" na história dessa guerra sulina.

 

 

 

 

Dentro deste contexto, paulistas de São Vicente fundaram Laguna, em Santa Catarina, em 1688. Foi o primeiro centro populacional português da Região Sul do Brasil e, por muitos anos, centro irradiador de apoio para a exploração, povoamento e conquista do Rio Grande do Sul.

 

 

 

 

 

 

 

 

Foi apoiado, por terra, por estancieiros de Viamão e paulistas, que tinham por missão ocupar e manter o local da atual cidade de Rio Grande; estabelecer pontos de vigilância nas regiões do Chuí e São Miguel, e preparar e enviar carne salgada para a expedição de Silva Pais, em operações no Prata.

Por fatores adversos, Silva Pais não desalojou os espanhóis de Montevidéu, mas conseguiu fazer o inimigo levantar o cerco da Colônia. Então, retornou para cumprir seu terceiro objetivo.

Ao entardecer de 19 de fevereiro de 1737, Silva Pais desembarcou no local da atual cidade do Rio Grande. Este fato é marco da fundação oficial portuguesa do atual Rio Grande do Sul, que contou com a decisiva cooperação de mineiros, paulistas e cariocas.

A base militar fundada tomou o nome de Presídio Jesus-Maria-José. Seu fundador tratou de consolidá-la, erguendo-se em terreno arenoso o Forte Jesus-Maria-José da Praia. A seguir, empenhou-se na construção da fortaleza Nossa Senhora do Estreito; reforçou os redutos do Arroio e da Mangueira estabelecidos próximos do Presídio e, mais distantes, Taim e Albardão.

Silva Pais fez uma expedição ao Chuí, de setembro a outubro de 1737, com os objetivos de ampliar a conquista e criar segurança, a distância, para o Presídio em Rio Grande.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Acompanhe-o com o mapa.

 

 

 

 

A PRIMEIRA INVASÃO ESPANHOLA DO RIO GRANDE DO SUL EM 1763

Eventos adversos, que culminaram com a invasão de Portugal em 1762 por Espanha e França, e mais a presença do General Pedro Ceballos como governador de Buenos Aires e demarcador do Tratado de Madri (tudo fez para prejudicá-lo), e o movimento ostensivo de preparo militar para a conquista de Colônia e Rio Grande preocuparam significativamente o General Gomes Freire de Andrade.

Arregimentando cerca de mil homens (800 sulistas - dragões, milicianos e aventureiros - e 200 aventureiros paulistas já participantes dos movimentos de demarcação do Sul e da Guerra Guaranítica), Gomes Freire ordenou as seguintes articulações:

Deslocamento do grosso do Regimento de Dragões do Rio Pardo (a única tropa de linha do Rio Grande) para o arroio Chuí. Assim, a tropa ficaria em condições de avançar e construir uma fortaleza em Castilhos (Santa Teresa, após), no caso de um ataque à Colônia.

A permanência em Rio Pardo dos 100 Dragões mais experimentados e conhecedores da campanha rio-grandense, e de 200 paulistas que estavam para chegar ao Sul.

Os Dragões ocuparam Castilhos em 10 de setembro de 1762 com 400 homens e 10 canhões pequenos. Em 10 de outubro de 1762, ao saber-se que o General Ceballos havia cercado a Colônia do Sacramento, deu-se início à construção de uma Fortaleza em Castilhos, batizando-a cinco dias após com o nome de Santa Teresa. Ficaram ali 360 alquebrados Dragões e 640 civis improvisados em militares, para defenderem uma extensa faixa de fronteira com início em Rio Pardo e término em Santa Tereza.

Ceballos atacou, em 1º de outubro de 1776, a Colônia de Sacramento, que teve de render-se cerca de um mês após, apesar dos socorros enviados do Rio.

Com a criação do Vice-Reino do Brasil, com sede no Rio de Janeiro, deslocou-se o centro do poder da Colônia para fazer face, inclusive, à ameaça sobre o Rio Grande do Sul.

A morte de Gomes Freire, menos de um mês antes, deixou a isolada Trincheira de Santa Teresa desamparada militar, moral, administrativa e economicamente. O Coronel Thomaz Luís Osório e seus velhos e desmotivados Dragões, com 32 meses de soldo em atraso, e um pugilo de improvisados militares estavam cônscios da adversidade da situação e de que pouco poderiam esperar de apoio na conjuntura militar adversa, vivida por Portugal e seus domínios .

Em sua marcha, Ceballos chegou a Santa Teresa. Seu comandante, por deficiência de informações, e em função de ordens superiores, perdeu a oportunidade ideal de retirar-se.

Decidida a resistência, 80% da guarnição de Santa Teresa desertou em pânico e a praça capitulou com os 150 homens que permaneceram fiéis ao coronel Thomaz Osório.

Com 3 mil homens, Ceballos prosseguiu, conquistando o forte de São Miguel. Em 24 de abril de 1763, ocupou a vila do Rio Grande, que estava abandonada. O governador Eloy Madureira também fugiu, sem nem tentar fortificar-se em São José do Norte, conforme ordens recebidas da Junta Governativa que substituíra Gomes de Freire. Ceballos atravessou o canal e estabeleceu base de partida para uma penetração mais profunda.

 

Esta invasão foi uma humilhação para o Rio Grande. Posteriormente, abriu-se uma devassa para apurar as responsabilidades do Governador Madureira, já falecido, e do Coronel Osório, prisioneiro dos espanhóis e, depois, executado na forca.

 

Até hoje, historiadores divergem sobre a culpa ou não do Coronel Osório por este desastre.

 

 

 

De acordo com o Tratado de Paris, Ceballos devolveu a Colônia a Portugal; recusou abrir mão de sua conquista no Rio Grande e impôs ao governador Eloy Madureira, que transferira seu governo para Viamão, uma Convenção de Suspensão de Armas e Limites.

Neste quadro tumultuado e confuso, passado o pânico inicial, foi desenvolvido grande esforço para fortificar a faixa entre Viamão e Estreito, via de acesso a importantes regiões do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

 

Para enfrentar o poderoso inimigo com parcos meios, foi necessário atribuir missões aos nossos para que tirassem o máximo partido do terreno da área sulina. A solução foi a adoção da guerra de guerrilhas pela Junta Governativa no Rio que, em junho de 1763, baixou a seguinte ordem que fundamentaria a Guerra à gaúcha, uma manifestação doutrinária genuinamente sulina, como fora a guerra brasílica em Pernambuco:

 

"A guerra contra o invasor será feita com pequenas patrulhas atuando dispersas, localizadas em matos e nos passos dos rios e arroios. Destes locais, sairão ao encontro dos invasores para surpreendê-los, causar-lhes baixas, arruinar-lhes cavalhadas, gados e suprimentos e, mantê-los ainda em contínua e persistente inquietação! ".

 

O papel relevante, executado por estas guerrilhas, até agora era pouco conhecido em toda a sua projeção. Suas bases localizavam-se em Encruzilhada do Duro (município de Canguçu atual), na Serra dos Tapes, a cargo de Rafael Pinto Bandeira, e nas guardas da Encruzilhada (Encruzilhado do Sul atual), na Serra do Herval, estas, inicialmente a cargo de Francisco Pinto Bandeira e, após a sua morte, a cargo do intrépido e heróico paulista Cypriano Cardoso de Barros Leme.

Em março de 1764, o Coronel Custódio Faria assumiu, em Viamão, o governo do Rio Grande, imprimindo novo ritmo à guerra.

Em agosto, concluiu o Forte São Caetano da Barranca do Estreito, entregando seu comando ao Capitão Francisco Pinto Bandeira. O referido forte foi reforçado por quatro companhias de paulistas enviadas pelo governador de São Paulo.

Na atual Taquari, erigiu o forte de Tebiquari; junto a ele, aldeou deslocados da invasão. Com esses dois fortes, cobriu as direções estratégicas, incidindo sobre Viamão: São José do Norte-Viamão e Rio Pardo-Viamão.

O Coronel José Custódio implementou as guerrilhas contra o invasor para cobertura do Rio Pardo nas direções: Missões - Rio Pardo e a de Bajé (atual) - Rio Pardo e a de Rio Grande - Rio Pardo. Para a liderança dessas guerrilhas, foram destacados dois oficiais dos Dragões, já referidos, Capitão Francisco Pinto Bandeira e seu filho, Rafael Pinto Bandeira.

Na noite de 28/29 de maio de 1766, sob a liderança do Coronel Marcelino de Figueiredo, proveniente de Portugal e que assumiu o comando do Forte São Caetano, fracassou o assalto à vila de Rio Grande. Ventos fortes e serração dispersaram os barcos com as forças de assalto. Tentava-se aproveitar situação favorável, resultante da atração para o Forte do São Gonçalo, Pelotas atual, de forças espanholas da guarnição do Rio Grande, por contingentes dos Dragões do Rio Pardo e de guerrilhas baseadas na Estância de Luiz Marquês de Souza, em Canguçu atual.

Em abril de 1766, foi reconquistada aos espanhóis a margem norte fronteira à vila de Rio Grande (São José do Norte), que há três anos era domínio de Espanha.

 

A segunda Invasão do Rio Grande ( 1773-76)

Os ataques ao Rio Grande e São José do Norte repercutiram negativamente em Portugal. Contrariavam os esforços do Marquês de Pombal junto à Espanha no sentido de, unidos, pressionarem o Papa a extinguir os jesuítas, responsabilizados pelo fracasso da demarcação no Sul e pela Guerra Guaranítica.

Em conseqüência, caiu o vice-rei. O Cel José Custódio Faria foi chamado a Lisboa para responder por seu "fogoso desaino", e Marcelino foi afastado do Rio Grande. Felizmente, não foi cumprida a ordem de devolver-se São José do Norte.

Passaram-se os anos. As guerrilhas neste período causaram grande prejuízo aos espanhóis. Em junho de 1763, Marcelino reassumiu o Rio Grande e transferiu a sede do governo para Porto Alegre. Os espanhóis ficaram insistentes e incisivos! Queriam São José do Norte de volta e providências contra as guerrilhas. Começaram a correr boatos de invasão; em conseqüência, o vice-rei elevou a guarnição do Rio Grande.

 

Em novembro de 1773, o governador de Buenos Aires, o mexicano General Vertiz Y Salcedo, invadiu o Rio Grande pela Campanha e fundou o forte de Santa Tecla. Ao encontro das Missões, deslocou-se força com importantes recursos logísticos destinados a manter a mobilidade de seu Exército para conquistar, sucessivamente, Rio Pardo, Taquari, Porto Alegre e Viamão. A partir daí, atacar São José do Norte; após, varrer as bases de guerrilhas nas serras dos Tapes e Herval e, por fim, expulsar os portugueses do Rio Grande.

Em conseqüência, o governador Marcelino de Figueiredo decidiu:

 

 

Em 2 de janeiro de 1774, Rafael Pinto Bandeira, com 100 guerrilheiros e dragões, bateu e aprisionou, em Santa Bárbara, a coluna proveniente das Missões, com valiosos reforços logísticos.

Em 5 de janeiro, Vertiz recalcou a guarda do Piquiri, defendida por 21 homens do paulista e herói de Monte Grande, Capitão Miguel Pedroso Leite.

 

Vertiz Y Salcedo foi derrotado em Tabatingaí, em 10 de janeiro de 1774. Ao perceber estar a coluna comprometida em sua mobilidade e alimentação com a não chegada de coluna das Missões, decidiu recuar célere para a base mais próxima, a vila de Rio Grande, através das serras dos Tapes e Herval, sempre perseguido por guerrilhas de Rafael Pinto Bandeira.

Vertiz não ultrapassara o Rio Pardo, desde então "Tranqueira Invicta".

Foi decisiva para a vitória a Ação Retardadora, muito bem planejada e conduzida pelo Capitão José Carneiro da Fontoura (comandante ao Sul do Jacuí), Rafael Pinto Bandeira e Cypriano Cardoso.

 

As tropas de Cavalaria Ligeira (nome oficial das guerrilhas) eram constituídas em grande parte por paulistas enviados em socorro ao Sul, por estancieiros rio-grandenses e gaudérios.

 

 

Passaram, deste momento em diante, a marcar sua presença militar histórica como sentinelas no Sul, em defesa da Integridade e Soberania do Brasil.

Vertiz deixou plantados no Rio Grande os fortes de Santa Tecla e São Martinho, ambos bases de partida para ataques a Rio Pardo, barreiras às incursões de nossas guerrilhas e instrumentos de domínio de cerca de dois terços do atual território do Rio Grande.

A Guerra de reconquista do Rio Grande (1775-76)

 

A invasão de Vertiz repercutiu em Portugal. O Marquês de Pombal decidiu em relação ao Rio Grande:

 

 

O esforço ofensivo deveria ser conduzido sobre três pontos fortes em seqüência :

 

Forte São Martinho (por barrar o acesso português às Missões e

ameaçar o flanco do Rio Pardo);

 

Forte Santa Tecla (por barrar o acesso português às campanhas de Maldonado, Montevidéu e Colônia, ameaçar Rio Pardo e possibilitar intercâmbio de reforços com as Missões);

 

Vila de Rio Grande (por barrar o acesso português ao Sul, pelo litoral, e base de partida para ataques sobre Porto Alegre e Laguna).

 

 

Böhn escolheu, como posição mais vantajosa e principal, São José do Norte, cujo comando passou a exercer pessoalmente.

 

Confiou o comando da Fronteira do Rio Pardo e da Base Logística, em Porto Alegre, ao governador do Rio Grande, Marcelino de Figueiredo, que também conduziu a luta de guerrilhas em sua fronteira.

 

O Exército do Sul, após concluída sua concentração (final de 1774), atingiu o efetivo de 4 mil homens, assim distribuídos:

São José do Norte

3.365 homens

Porto Alegre

27 homens

Rio Pardo

710 homens

 

 

Destes últimos, 300 guerrilheiros ficaram nas bases das guerrilhas, nos atuais municípios de Canguçu e Encruzilhada.

 

O Rio contribuiu com 135 artilheiros, e o Regimento de Infantaria (o atual Sampaio) com uma das duas companhias do Esquadrão de Guarda do Vice-Rei.

 

Portugal contribuiu com o RI de Bragança e mais os RI de Moura e Estremoz, aos quais estaria reservado grande papel na reconquista do Rio Grande.

 

O Rio Grande, além dos Dragões do Rio Pardo, Cavalaria Ligeira e Caçadores Índios, participou com um BI e mais uma Cia. de Artilharia, distribuída em Rio Pardo e São José do Norte. Uma companhia de Infantaria de Santa Catarina guarneceu Porto Alegre.

 

Ao plano militar foram destinados todos os rendimentos das provedorias de São Paulo e Rio de Janeiro, subsídio voluntário e literário de Angola, 200.000 cruzados anuais, o equivalente ao soldo de dois regimentos enviados da Bahia.

Citar os Estados que contribuíram direta ou indiretamente para a reconquista do Rio Grande.

O Apoio de Engenharia (leia-se Marechal Jaques Diogo Funck e Francisco Róscio) melhorou os caminhos terrestres Laguna - Porto Alegre - São José do Norte, com pontes e balsas, e elaborou um roteiro do percurso com indicação de recursos locais.

 

Em São José do Norte, fundeou a esquadra de Hard-Castle com seis unidades, entre as quais a "Belona" e a "Invencível", construídas em Porto Alegre.

 

Concluída a concentração, ao final de 1775, teve início a ofensiva para restaurar o Rio Grande.

Em 31 de outubro de 1775, o Forte São Martinho foi conquistado de surpresa e arrasado por 205 dragões e guerrilheiros do Rio Pardo, ao comando de Rafael Pinto Bandeira.

 

Na impossibilidade de um ataque frontal, durante nove dias foi aberta uma picada na mata que conduziu os atacantes à retaguarda de São Marinho. Foram feitos 40 prisioneiros e tomados preciosos recursos logísticos, entre os quais 7.100 cabeças de vacuns e cavalares.

Em 19 de fevereiro de 1776, objetivando criar condições para que o Exército do Sul assaltasse a vila de Rio Grande, o Capitão-de-Mar-e-Guerra McDovall tentou, com uma esquadra de nove unidades, destruir a esquadra espanhola, que tinha sete. Malogrou.

 

O passo seguinte seria Santa Tecla, próximo a Bajé, fortaleza defendida por 250 homens apoiados em 8 canhões com potência total de 30 libras, com destacamento de segurança externa, água e charque para resistir a cerco prolongado. Seu valor militar foi subestimado pelo Vice-Rei e General Böhn.

 

Para conquistá-la, de surpresa, foi atribuída a missão a Rafael Pinto Bandeira, auxiliado pelo Major Patrício Correia Câmara, recém-chegado com um RI do Rio de Janeiro.

 

Marcelino de Figueiredo organizou uma força de 619 homens, composta de 366 Dragões do Rio Pardo (ao comando de Patrício), 193 guerrilheiros da Cavalaria Ligeira (com suas bases nos atuais municípios de Canguçu e Encruzilhada) e uma Companhia de Infantaria de Caçadores Índios (organizada em Rio Pardo).

Rafael recebeu a ordem de atacar Santa Tecla em sua base de Encruzilhada do Duro, na Serra dos Tapes. Após atravessar o Camaquã e reunir-se nas guardas de Encruzilhada, na serra do Herval, com Cypriano Cardoso, marchou para o Piquiri.

 

Do Piquiri, partiram Rafael e Correia Câmara, para surpreender Santa Tecla. A tentativa falhou. Santa Tecla foi submetida a cerco durante 26 dias; em 25 de março, capitulou sob condições; e a 26, seus defensores evacuaram-na pelo portão dos fundos, rumo a Montevidéu. Em 27, suas muralhas foram arrasadas pelos atacantes. Durante o cerco, a situação dos sitiantes ficou crítica pelo desgaste da cavalhada, após um mês de operações, patrulhamento intenso e confinamento em reduzidas e raspadas pastagens de verão. Tiveram, então, de alimentar-se de raízes e ervas.

Publicaremos o Diário desta Campanha do então Major Patrício e adapatado a linguagem atual na História da 3a Bda C Mec de que ele é o patrono .

 

Expulsos os espanhóis de Santa Tecla e São Martinho, faltava a reconquista da Vila de Rio Grande.

Para reconquistar a Vila de Rio Grande, além de seus fortes e esquadra, era preciso vencer, com meios descontínuos, a enorme distância entre São José do Norte e Rio Grande. Para isso, fundamentalmente, serviriam as jangadas, construídas por soldados pernambucanos vindos de Santa Catarina com madeira pernambucana.

 

 

O ataque à Vila de Rio Grande foi decidido para primeira hora do dia 1º de abril de 1776, dia seguinte ao aniversário da Rainha, festejado ruidosamente, com salvas e embandeiramentos, pelo Exército do Sul e Esquadra. Tudo para iludir os espanhóis em Rio Grande.

Comparar os dispositivos.

 

Espanhol

(Rio Grande)

Português

(S. José do Norte)

Efetivo estimado

1.500 homens de terra

dado não disponível

Esquadra

8 unidades

12 unidades

Fortes

da Barra, Mosquito, Novo, Trindade, Mangueira, Ladino, da Vila e do Arroio

do Patrão-mór

Potência de fogos (esquadra + fortes)

674 libras

956 libras

O assalto à Vila do Rio Grande em 3 fases:

O 1º Destacamento - Major Soares Coimbra e

200 granadeiros do 1º RI do Rio de Janeiro. O RI

de Estremoz teve a seu cargo o ataque

secundário; usando lanchas de barcos mercantes e jangadas, desembarcou sem reação. Às 4:30h,

já havia conquistado o forte do Mosquito.

 

O 2º Destacamento - Major Manoel

Carneiro e 200 granadeiros dos RI

de Bragança e de Moura, teve a seu cargo o Ataque Principal.

Sua missão: ultrapassar, à noite, sem

ser pressentido, a esquadra

inimiga ancorada junto aos fortes Trindade e Mangueira. Após conquistá-los,

ao amanhecer, voltar os canhões

dos mesmos contra a Esquadra inimiga.

Este destacamento deixou a base de

partida, embarcado em lanchas da

esquadra e jangadas. Os ruídos

produzidos por algumas lanchas

que encalharam foram pressentidos

pelo barco inimigo "Santa Mathilde",

que abriu fogo contra elas. Isto obrigou

seus ocupantes a desembarcarem com

água pela cintura, com espada nos dentes e com o bornal de granadas na cabeça.

 

 

Um terceiro destacamento ficou em condições de, mediante ordem, partir do Forte Guarda Norte e atacar a vila de Rio Grande. Objetivo: fixar efetivos inimigos na Vila.

Ficaram em reserva, junto ao Forte do Patrão-Mór, cinco unidades navais.

 

 

Das 6 às 9 horas, os atacantes, com os canhões dos fortes conquistados, bombardearam a esquadra inimiga que, surpresa, levantou ferros e rumou em direção à barra, à procura de melhores ventos. Às 8 horas, manobrou perigosamente para escapar dos fogos do Forte de São Pedro da Barra, perdendo no encalhe, três unidades.

 

A esquadra de Hard-Castle bombardeou os fortes de Ladino e Novo. O primeiro cedeu à pressão; o segundo ofereceu heróica resistência, particularmente a agressiva e brava corveta pernambucana "Graça".

 

 

Os espanhóis se retiraram para a Fortaleza de Santa Teresa; Böhn, por falta de Cavalaria, não fez a perseguição.

E, assim, terminou, após 30 horas, a operação de reconquista da Vila de Rio Grande. Vitória maiúscula da qual foi retirado o máximo partido dos princípios de guerra do Objetivo, Surpresa, Manobra e Segurança.

 

Restaurado o Rio Grande do Sul, as duas bases militares portuguesas voltaram a ser Rio Grande e Rio Pardo, ambas ligadas por um caminho terrestre balizado pelas atuais cidades de Pelotas, Canguçu e Encruzilhada.

 

A reconquista repercutiu na Espanha. Foi criado o Vice-Reinado do Prata, para o qual foi designado o General D.Pedro Ceballos. Este partiu de Cadiz, com 9 mil homens de terra em março para conquistar sucessivamente a Ilha de Santa Catarina, (para isolar do Rio de Janeiro o Exército do Sul), a Vila do Rio Grande e a Colônia do Sacramento.

 

Conseguiu realizar seus planos?

 

Ceballos conquistou Santa Catarina, mas fracassou no ataque ao Rio Grande, por ter sido sua esquadra dispersada por fortes ventos. Conquistou, definitivamente, a Colônia do Sacramento. Após, planejou esmagar o Exército do Sul, em Rio Grande, através de um movimento de pinça, por forças provenientes de Santa Catarina e Santa Teresa.

 

As expectativas de uma terceira invasão do Rio Grande do Sul

Exército do Sul concentrou-se em Rio Grande; a Fronteira de Rio Pardo foi reforçada pela Legião de Voluntários Reais de São Paulo e um RI de Santos; a cobertura de Rio Grande, ao norte, foi feita em Torres, com a construção do Forte São Diogo (segundo projeto do Marechal Diogo Funk), que foi guarnecido pela companhia de granadeiros do RI de Santos. Ao Sul, no Albardão e Taim, pela Cia. de Cavalaria do Vice- Rei e Dragões do Rio Pardo e, entre o Estreito e São José do Norte (atual), por uma Companhia de Cavalaria da Legião de Voluntários de São Paulo.Nesta ocasião, o forte de Santa Tecla foi reocupado pelos espanhóis.

Rafael Pinto Bandeira, (já coronel de uma Legião de Cavalaria Ligeira), estabeleceu a cobertura da Vila de Rio Grande face à direção de Santa Tecla, na Serra de Tapes, em Canguçu atual.

Ativou as arreadas, à busca de informações militares nas imediações de Santa Teresa, Maldonado, Montevidéu, Colônia e vigilância de Santa Tecla. Passou a usar, como via de acesso para suas operações, a direção atual Canguçu - Piratini - Herval do Sul - Cerro Largo (atual Mello no Uruguai).Explicar as razões dos inúmeros conflitos que ocorreram na região sul da América.

  1. Qual a contribuição das guerras que se desenvolveram no cone sul do continente sul-americano, nos séculos XVI, XVIII e início do século XIX, para a formação territorial do Brasil?