7- A CAMPANHA DO EXÉRCITO PACIFICADOR DA BANDA ORIENTAL 1811-12

Com o movimento de independência da Espanha, as províncias que constituíam o antigo Vice-Reinado do Prata trataram de proclamar sua independência.

O governador de Montevidéu, no entanto, manteve-se fiel à Espanha.

Montevidéu foi cercada por forças de Buenos Aires e de orientais (uruguaios) de Artigas.

Portugal organizou o Exército de Observação na Capitania do Rio Grande do Sul, ao comando de D. Diogo de Souza, com a finalidade de prevenir, na Capitania do Rio Grande de São Pedro, os reflexos das lutas que incendiavam o Rio da Prata.

As operações militares --A concentração inicial do Exército de Observação foi feita

Em Bajé(atual), ao comando do Mal

de Cavalaria Manoel Marquês

de Souza, comandante da

Fronteira do Rio Grande.

e

no acampamento São Diogo, junto

ao rio Inhaduí (a 25 Km NO

de Alegrete), ao comando do Mal

de Infantaria Joaquim Xavier

Curado, comandante da Fronteirado Rio Pardo.

Daqui saiu para São Borja,

ao comando do Coronel João de

Deus Menna Barreto, um

grupamento de forças.

 

Em maio de 1811, o governador de Montevidéu, sitiado pelo argentino Rondeau e por tropas orientais de Gervásio Artigas, solicitou socorro a D. João VI, cunhado do rei D. Fernandes da Espanha (que fora aprisionado por Napoleão). D. João, então, determinou a invasão da Banda Oriental (atual Uruguai) pelo Exército de Observação, agora transformado em Exército de Pacificação da Banda Oriental.

D. Diogo de Souza ordenou que todas as forças da Capitania se concentrassem em Bajé. Deixou uma pequena força de cobertura em São Borja, ao longo das fronteiras. Em 17 de julho, o Exército Pacificador rumou para o rio Jaguarão.

Em 23, o Mal Marquês de Souza invadiu o Uruguai e tomou posse de Cerro Largo (atual Mello). De retorno, a coluna principal foi obrigada a acampar, na noite de 23 para 24 de julho, em local inadequado. O guia da coluna errou o caminho em virtude de forte cerração. A tropa passou uma noite debaixo de chuva, sob frio intenso, com cavalos presos pelas rédeas, em várzea desabrigada e destituída de lenha. Ao amanhecer, foram encontradas diversas sentinelas mortas pela ação do frio intenso, e várias doentes.

 

Em 5 de setembro, Marques de Souza, à frente de 300 cavalarianos, apossou-se da Fortaleza de Santa Teresa, no Uruguai, abandonada pelo inimigo. Na mesma noite, vanguardas de Marquês de Souza penetraram no acampamento inimigo de Castilhos, onde fizeram prisioneiros e apresaram 300 cavalos. Prosseguindo em seu avanço fulminante, Marquês de Souza surpreendeu o inimigo concentrado em Rocha. D. Diogo de Souza mandou reparar as pequenas brechas da Fortaleza de Santa Teresa e guarneceu-a com artilharia e homens.

 

A 3 de outubro, o Exército Pacificador retomou sua marcha. Em 11 dias de marcha forçada, atingiu Maldonado, sem que o inimigo intentasse qualquer reação ou ações diversionárias sobre as desguarnecidas fronteiras do Rio Grande.

 

D. Diogo de Souza avançou baseado nos excelentes trabalhos de informações militares realizados pelo Mal. Curado, que, em longa permanência no Rio da Prata, em missão diplomática, havia levantado todas as possibilidades e valor do inimigo.

 

Em 14 de outubro, o governador de Montevidéu mandou aviso a D. Diogo, pedindo que recolhesse para o Rio Grande o Exército Pacificador, em razão de haver concertado um armistício com os argentinos e orientais, por imposição de interesses britânicos.

 

Rondeau retirou-se para Buenos Aires, e Artigas para Entre-Rios.

 

Diante das ameaças que continuaram por parte de Artigas e seus seguidores, D. Diogo de Souza destacou de Maldonado para o acampamento de São Diogo, em fins de dezembro de 1811, os regimentos de Dragões e de Milícias de Rio Pardo, ao comando do Coronel Thomaz da Costa.

 

No início de 1812, em Maldonado, D. Diogo de Souza ordenou uma convocação geral no Rio Grande do Sul. Todos os homens entre 16 e 40 anos seriam obrigados a se apresentar no prazo de dez dias.

 

Deixando Maldonado, o Exército Pacificador rumou para Paissandu, passando por Pão de Açúcar, Passo de Cuelo, Cerro Pelado, Passo do Durazno, Rio Yi, Rio Negro, Arroio Malo, face à ameaça de Artigas.

 

Chegando a Paissandu, D. Diogo de Souza entrincheirou o seu Exército. Esta marcha do Exército Pacificador não foi tranqüila, como se crê. Suas forças tiveram que enfrentar diversas guerrilhas de Artigas.

O Coronel Thomaz da Costa partiu de São Diogo à frente dos Dragões e Milicianos de Rio Pardo. Atacou Artigas entre o Quarai e Ibicuí, obrigando-o a repassar o Uruguai.

 

Partindo de São Borja, 80 homens, ao comando de Bento Manoel Ribeiro, atacaram o povo de Japeju (local de nascimento de San Martín), obrigando seus defensores a evacuá-lo.

O Coronel de engenheiros Francisco Chagas Santos, comandante do Distrito Militar nos Sete Povos das Missões, à frente de 300 milicianos e índios guaranis, atacou o povo de São Tomé, destruindo-o por completo. Neste ataque, incendiou casas, destruiu carretas, matou 150 homens e afogou no rio mais de 3 mil cabeças de gado.

 

Em 10 de junho, D. Diogo de Souza, em Paissandu, recebeu ordens de D. João VI de retirar-se da Banda Oriental, em razão de armistício. Em 13 de junho, o Exército marchou para as cabeceiras do Cunha Peru, onde permaneceu durante três meses. Em 12 de setembro de 1812, o Exército Pacificador, em duas colunas, marchou para Bajé.

 

Em Bagé e Nossa Senhora da Conceição (município de Herval), as tropas milicianas foram desmobilizadas. O restante retornou para Rio Pardo e Rio Grande.

 

Em conseqüência desta ação, D. Diogo de Souza foi agraciado com o título de Conde de Rio Pardo. A conseqüência relevante desse evento foi a incorporação, de fato, ao Brasil, do rico distrito de Entre-Rios, onde se situam os municípios de Uruguaiana, Quaraí, Santana do Livramento, Alegrete e parte dos municípios de Rosário do Sul e D. Pedrito. Do acampamento de D. Diogo, na guarda de São Sebastião, surgiria a cidade de Bajé, e, do acampamento de São Diogo, surgiria a cidade de Alegrete, o primeiro povoado português a oeste do rio Santa Maria.

 

A primeira povoação no distrito de Entre-Rios (quadrilátero formado pelos rios Uruguai, Quaraí, Ibicuí e Santa Maria) originou-se no acampamento do Marechal Xavier Curado, em São Diogo (25 Km NO de Alegrete).

 

O acampamento de São Diogo serviu de base de operações de um destacamento ao comando do Capitão José de Abreu, que expulsou várias vezes da região os artiguenhos que tentaram invadi-lo. Em 1814, o São Diogo foi incendiado por Verdun, seguidor de Artigas. Seus habitantes abandonaram o local e se estabeleceram em Alegrete, dando origem à atual cidade. São Diogo passou a ser conhecido, desde então, por Capela Queimada.

D. Diogo de Souza, na campanha de conquista do distrito de Entre-Rios, doou muitas sesmarias a militares que dela participaram. E, assim, povoou-as com lideranças capazes de desenvolvê-las e defendê-las militarmente, sempre que necessário.