2 -INVASÕES FRANCESAS NO RIO DE JANEIRO E MARANHÃO

2a) No Rio de Janeiro

Desgostoso com a França, o Vice-almirante Nicolas Durand de Villegaignon— famoso na Europa e considerado homem de ação e comandante notável da Marinha de Guerra— idealizou procurar no Novo Mundo o Brasil e fundar a França Antártica.

Tratou de organizar uma expedição militar que não viesse só para explorar o Brasil, mas para ficar. Submeteu a idéia ao Almirante Gaspard de Châtillon, conde de Coligny, calvinista e chefe do partido Huguenote que possuía prestígio com Henrique II . A idéia de Coligny era reservar aos calvinistas um refúgio no Novo Mundo, pois o fanatismo religioso era radical na Europa.

Coligny conseguiu do rei Henrique II a autorização para o projeto. Villegaignon, também, recorreu aos bons ofícios do Bispo de Lorena—de quem era muito amigo—para junto do rei de França superar as dificuldades. E o fez como católico e membro da Ordem de Malta.

Villegaignon recebeu dois grandes navios, artilharia e munições para todas as armas e ferramental para a construção e defesa de um forte, além do subsídio de dez mil libras tornesas e a promessa do título de vice-rei das terras que conquistasse.

A dificuldade no recrutamento de marinheiros e colonos foi grande, forçando-o abaixar o nível moral inicial . Mobilizou colonos nos cárceres de Paris, de Rouen e outras cidades. Só assim conseguiu reunir o efetivo suficiente de homens de todas as idades, condições, índoles e crenças.

A expedição compunha-se exclusivamente de 600 homens e de nenhuma mulher,e partiu do porto do Havre, chegando à Guanabara em 10 de novembro de 1555. Estabeleceu-se num rochedo à entrada da barra, a que denominaram Ratier e que foi artilhado (atual Forte da Laje). Depois, houve a transferência para a ilha de Seregipe (Serijipe) mais para o Interior da baía. O fortim ali erigido recebeu o nome de Coligny (atual Escola Naval).

Logo se solidificou a aliança com os T a m o i o s, graças aos franceses que ali jáviviam. A notícia, na França, da chegada da expedição ao Brasil, entusiasmou os armadores. Os comerciantes procuravam o porto do Rio de Janeiro, com a proteção de um posto militar sob a bandeira da França. Formavam aldeias, negociavam em todo o litoral e faziam viagens pelo interior. Os que desertavam da ilha ampliavam a conquista da terra.

Pedido por Villegaignon a Coligny, chegou à Guanabara, em 7 de março de 1557, o reforço de esquadrilha de 3 navios, artilhados com 18 peças, denominados Grande Roberge, Petite Roberge e Rosée. Comandava-a o sobrinho de Villegaignon, Comandante Bois-le-Conte, A tropa era de 200 homens. Vieram fidalgos, artesãos e missionários calvinistas, enviados pela igreja protestante de Genebra. Entre estes, Jean de Lery, que se tornou o cronista da expedição, ao publicar " Histoire d’un Voyage fait en la terre du Brésil"-- La Rochelle, 1578. Essa 2a Expedição -foi mais militar do que colonizadora.

Foi então que o novo Governador - Geral), Mem de Sá, veio assim a encontrar a colônia portuguesa , em 1557. .

Mem de Sá no Governo-Geral – Difícil a situação da colônia, aos fins de 1557, quando chegou ao Brasil o 3º Governador-Geral, Mem de Sá. Sua escolha baseara-se no conceito e prestígio que desfrutava na terra-mãe, onde era consideradohomem decidido, de pulso forte e seguro, e dotado de alto valor moral.

A repercussão na Metrópole, com a fixação dos franceses no Rio de Janeiro, na baía de Guanabara, e a incapacidade demonstrada por Duarte da Costa para expulsá-los, estavam a exigir uma figura ímpar, do quilate de Mem de Sá. E este, depois de nomeado, procurou inteirar-se da situação da longínqua colônia, e verificou, pelas informações obtidas, que eram apreciáveis as forças de mar francesas no Brasil; que havia necessidade de grande prudência na ofensiva a ser desencadeada contra o Forte Coligny, a fim de preservar os parcos recursos humanos e materiais de que dispunham os portugueses; que tornava imperioso contar com forte poder naval e considerável contingente de tropas terrestres, para o bom êxito do empreendimento. Tudo isso transparecia claro na comparação com o que possuía Villegaignon, comandante e chefe francês, servido por gente muito bem armada e que ainda tinha a grande facilidade em receber reforços, pois que, em sua empresa, constavam enormes interesses comerciais franceses, especialmente os relativos ao pau-brasil.

Chegou Mem de Sá ao Brasil, fins de 1557. Logo ao assumir o governo, fundou, na capitania do Espírito Santo, uma base terrestre capaz de lhe fornecer o indispensável apoio cerrado às operações e de impedir a expansão dos franceses para o norte, barrando-lhes o acesso fácil à capital da colônia – Salvador – sede administrativa. Daí pretendia fustigá-los com freqüência, enquanto montava incursão de vulto e decisiva.

Os erros da administração precedente e os efeitos da ocupação francesa haviam tornado difíceis as condições de vida na colônia. Corrigiu erros e abusos, ordenou a vida financeira e terminou com o jogo, o roubo, a vadiagem e outras pragas. Seu pulso firme e senso de justiça criaram as condições mínimas para aquilo que era importante: a expulsão do invasor francês. Igualmente graves e problemáticas, as relações colono e gentio. Obedecendo à sua consciência e sentimentos religiosos, fiel à sua concepção da sociedade futura, e contando com a preciosa colaboração da Igreja, representada pelos jesuítas, com os quais acertou medidas para coibir os abusos.

Baixou atos tendentes a acabar com a antropofagia, e luta entre os índios e entre estes e colonos. Os indígenas aliados foram reunidos em reduções – grandes aldeias – e intensificou-se sua catequese. Com energia, castigou os infratores, fossem eles colonos ou silvícolas, demonstrando desse modo absoluta eqüidade nas relações da autoridade com as duas raças. Ordenou ainda que se pusessem em liberdade os índios escravos em poder dos colonos.

A luta para colocar em ordem a casa desenvolveu-se em toda a colônia. Perdeu a vida seu filho Fernão de Sá, quando na chefia da expedição para combater os índios do Espírito Santo. Até o Governador, no comando de expedições, acorreu aonde se fez necessária sua presença, causando espanto aos próprios aborígines. Os vencidos embrenharam-se nos sertões, fugindo e pedindo paz, submetendo-se às ordens da autoridade. Em pouco mais de um ano, estava mudada a situação. Mem de Sá, além das provas de coragem, demonstrara alto espírito de humanidade e sabedoria política, não se limitando apenas a proteger o gentio, confiando-o aos jesuítas, mas procurando despertar neles o sentimento de família e de prosperidade e a noção de direito. Tratou de integrá-los à nova sociedade, confiando-lhes cargos na administração e justiça. Associou a força da autoridade à palavra do missionário. Também de importância foram suas providências como administrador. Incrementou a produção agrícola, terminou de construir o engenho Pirajá, iniciado por Duarte da Costa, o que muito favoreceu os lavradores pobres. Muita coisa mais realizou em benefício da terra. Ordenada a casa, voltou-se para a tarefa magna do seu governo: a expulsão dos invasores franceses da baía de Guanabara. Desvelou-se na organização e adestramento de suas tropas, constituídas de colonos portugueses e índios aliados, esses em maior número. E passou a aguardar reforços da Metrópole.

Franceses expulsos da Guanabara-- Em novembro de 1559, aportou

na Bahia a armada de Bartolomeu Vasconcelos. De posse de informações colhidas de um fidalgo francês, que lhe forneceu toda a ordem de batalha dos invasores, e tendo antes o cuidado de enviar mensageiros a todas as capitanias, partiu sem mais demora.

Em Salvador, deixou um mínimo de tropas, apenas o necessário para a defesa. Durante a viagem em direção ao Rio de Janeiro, tocou em Porto Seguro, Ilhéus e Espírito Santo, onde recolheu reforços em pessoal e gêneros. Fundeou na barra da baía de Guanabara a 28 de fevereiro de 1560 e obteve informações da ausência de Villegaignon, fato que decidiu a antecipação do ataque à Fortaleza ou Forte Coligny, localizada na ilha que hoje tem o nome de Villegaignon e onde se encontra a nossa Escola Naval. Reunidos, os chefes foram contrários ao ataque naquelas circunstâncias, já que da comparação ressaltara menor o número dos atacantes. Ademais, os defensores contavam não apenas com maior efetivo, mas também estavam com a vantagem de defender uma posição fortificada. No entanto, a decisão coube a Mem de Sá, chefe supremo da empresa.

Foi o padre Nóbrega enviado a São Vicente a apressar os reforços que tardavam. Por feliz coincidência, já estavam chegando . A 15 de março de 1560, uma Sexta-feira, teve início o combate. Na noite de Sábado, alguns portugueses e mamelucos brasileiros conseguiram heroicamente penetrar de surpresa no forte e tomar uma das baterias. Por aí, apesar da reação dos franceses, entraram os reforços e com tamanho ímpeto que os defensores fugiram para o continente. Eram cerca de 200 franceses e 800 tamoios a eles aliados. No outro dia, Domingo, pela primeira vez, foi realizada missa de ação de graças naquela ilha.

Feita a limpeza na baía, o inimigo refugiou-se no sertão. Enquanto eram reparadas as naus, Mem de Sá determinou fosse o forte arrasado, apressando-se, a seguir, em abandonar a área sem deixar um único defensor. Esse procedimento, pouco depois, invalidava todo aquele esforço da luta. Recuou para São Vicente e daí mandou Estácio de Sá a Portugal, para relatar o ocorrido.

Retornando à Bahia, empenhou-se em luta contra os aimorés, que haviam devastado várias povoações, conseguindo derrotá-los.

Sua imprevidência, deixando desguarnecida a baía de Guanabara, muito cedo foi comprovada. Os tamoios, aliados dos franceses e por estes insuflados, passaram a mover Guerra implacável a todas as povoações portuguesas de São Vicente. Graças à coragem e abnegação dos padres Nóbrega e Anchieta em Iperoig, concertando com eles a paz e conseguindo aplacar o ódio dos selvagens, o fato não teve conseqüências desastrosas.

Também os remanescentes franceses aos poucos foram retornando à baía de Guanabara, onde guarneceram e fortificaram uma aldeia, agora no continente. Restabelecidos, mudaram de atitude, passando a assaltar navios e a saquear os colonos portugueses. Os tamoios sentiram-se fortes e correram a imitá-los, desrespeitando inclusive os jesuítas.

Atuação de Estácio de Sá--Em 1563, Estácio de Sá retornou de Portugal, com dois navios de Guerra e ordens expressas de executar a expulsão definitiva do invasor francês. Com os meios que Mem de Sá, em Salvador, pôs à sua disposição, partiu para o Rio de Janeiro em princípios de 1564. Hostilizado, entretanto, pelos tamoios, prosseguiu para São Vicente, já sabendo que alguns índios haviam quebrado a paz de Iperoig.

Ali encontrou o padre Anchieta reunido com vários chefes indígenas, dentre os quais Cunhambebe – que se tornou valioso aliado. Demorou-se a expedição em preparativos e, somente graças ao padre Nóbrega, Estácio de Sá não desistiu da empresa. Após se abastecer, rumou para o Rio, onde encontrou os reforços que antes mandara pedir ao Governador-Geral. A 1º de março de 1565, desembarcou e iniciou os trabalhos de fortificação e construção das primeiras casas na várzea ao lado do Pão-de-Açúcar e no morro Cara-de-Cão, erigindo a Vila Velha, que daria origem à cidade do Rio de Janeiro.

Em meados de janeiro de 1567, após receber reforços chegados da Metrópole e poderoso contingente vindo de São Vicente, ficou decidida, em conselho, a data de 20 para início da ofensiva. Depois de rezada missa campal, iniciaram-se os ataques, primeiro contra Uruçumirim e em seguida contra o Forte de Paranapuã, na ilha dos Maracajás. Os franceses, que deles escaparam, tomaram suas naves e desapareceram da baía de Guanabara para sempre, mas foram estabelecer-se em Cabo Frio, um pouco ao norte. Estácio de Sá, ferido por uma flechada no braço, veio a falecer cerca de um mês depois. Os portugueses contaram com valorosa colaboração dos Temiminós, chefiados por Araribóia, a quem doaram as terras em que hoje está edificada a cidade de Niterói. Foi inestimável o auxílio, tanto da gente de São Vicente e Itanhaém, quanto dos jesuítas, para o desfecho feliz das operações que culminaram com a expulsão dos franceses da Guanabara.

Mem de Sá retornou à Bahia. Idoso e alquebrado, após 14 anos de lutas constantes, e solicitou a el-rei a vinda de substituto.

Divisão administrativa do Brasil em Sul e Norte-- O substituto nomeado, D. Luís Fernandes de Vasconcelos, não logrou chegar ao Brasil, tendo sido assaltado e morto por piratas. Seu sucessor, Luís de Brito Almeida, chegou em 1572, à Bahia, quase às vésperas do falecimento de Mem de Sá. O novo Governador-Geral possuía planos de largo alcance, porém não pôde colocá-los em execução, porque a metrópole decidira dividir a colônia em duas seções administrativas, ambas sem ligação entre si e com idênticos encargos. D. Luís de Brito ficaria em Salvador, responsável pela área de Ilhéus para o norte, e o Dr. Antônio Salema governaria de Porto Seguro para o sul. Procuraram os dois governadores colocar-se de acordo no modo de agir, pelo menos nas coisas mais importantes. Uma delas eram as relações com os indígenas, cuja luta com os brancos se agravava à mediada que esses ocupavam suas melhores terras.

Entrementes, com a morte de D. João III e a regência do Cardeal D. Henrique, as coisas pioraram e a colônia ficou esquecida. Apesar disso, prosseguiu a luta contra o invasor francês, que não desistira do intento de partilhar o Brasil com os portugueses. Estabelecidos agora em Cabo Frio, continuavam o comércio com os tamoios e a pilhagem da costa. Realizaram, em companhia dos tamoios, a incursão à baía de Guanabara, com o intuito de punir Araribóia, aliado dos portugueses. Graças aos auxílios recebidos por Araribóia, foram eles rechaçados. Salvador Correia de Sá, capitão-mor do Rio de janeiro,recebeu reforços e marchou contra Cabo Frio. Contando com o auxílio de paulistas e fluminenses, derrotou o inimigo novamente.

Em 1575, sucedendo a Cristóvão de Barros, assumiu o governo da cidade do Rio de janeiro Antônio Salema. Sob seu comando, fez-se, em agosto desse ano, a última e definitiva expedição contra os franceses e tamoios de Cabo Frio. Com uma força de 400 brancos e 800 índios, infligiu dura derrota ao antagonista. Os sobreviventes fugiram para o sertão. Foi concertado então um armistício com os franceses, os quais, mediante a entrega de armas e munições, puderam retirar-se em paz.

Graças à providencial cooperação do colono português e do brasileiro-mameluco, e dos inestimáveis serviços religiosos dos jesuítas, pôde o Sul passar a viver em paz. Ali já não tentaram estabelecer-se os franceses.

A organização militar do rei D. Sebastião-- Prosseguindo no caminho da organização militar de Portugal, segundo os antigos princípios da nação armada, e a influência das idéias do século, o rei D. Sebastião baixou, a 10 de dezembro de 1570, o Regimento dos Capitães- Mores e mais Capitães e Oficiais das Companhias da Gente de Cavalo e de Pé. De acordo com esse regimento, em cada cidade, vila ou concelho, o alcaide-mor e senhores eram os capitães-mores.

 

2b) A invasão francesa no Maranhão 1612 –1615

Desfeito o sonho da França Antártica, não desistiram os franceses da idéia de estabelecer no Brasil uma colônia. O objetivo agora era o Maranhão, que permanecia despovoado e inexplorado por Portugal. Lá tentariam fundar a França Equinocial, por localizar-se próximo da linha do Equador.

A primeira idéia de ocupação do Maranhão foi do aventureiro Jacques Riffault, que, em 1594, animado pelas boas relações que mantinha com o chefe selvagem Uirapive, se associou a outros aventureiros, e, com meios suficientes, recrutou e veio para o Brasil em 3 navios, aportando no Maranhão, longe do local do objetivo inicial , mas decidiu fixar-se ali como base de partida para outras incursões ao longo do litoral brasileiro .

No Maranhão, as ambições dos invasores. Eles sentiram as extraordinárias proporções do projeto, caso a França patrocinasse. Jacques Riffault foi à Europa, deixando em seu lugar Charles des Vaux. Depois de 2 anos, sem notícias, novo emissário procurou o rei da França. Este, interessado na partilha do Novo Continente, deu a missão a Daniel de La Touche, senhor de La Ravardière, de vir à América verificar as informações de Charles des Vaux..

Da mesma forma que os demais, depois de 6 meses no Maranhão, Ravardière, encantado com a região, retornou à pátria, não encontrando vivo o rei Henrique IV. Mas recebeu da rainha-regente, Maria de Médicis, e dos seus ministros, patrocínio ainda efetivo e a oficialização do projeto .

A invasão do Maranhão -- Em 1612, partiu a expedição. La Ravardière

conseguiu 3 navios e cerca de 500 invasores, entre soldados, colonos, além de 4 frades capuchinhos e, para o projeto, dois nobres financiadores de grande parte.

Deixaram a França em 19 de março. Os ventos levaram a esquadra até a Inglaterra. Dali atingiram a ilha de Fernando de Noronha, onde encontraram 1 português e 17 índios desterrados de Pernambuco. Eles foram incorporados à expedição e conduzidos para o Maranhão, por ordem de La Ravardière.

A 26 de julho, a esquadra fundeou frente à ilha mais tarde denominada Santana. No dia 6 de agosto de 1612, desembarcaram , recebidos com muitas festas e demonstrações de alegria por parte dos índios e franceses.

A posse do Maranhão--Os invasores franceses fundaram um forte a que denominaram São Luís, em homenagem a Luís XIII, rei da França. No local, ergue-se o Palácio do Governo do Maranhão. O forte deu origem à cidade de São Luís, capital do Estado. Ao seu redor, foram construídas casas, armazéns e a igreja. Assim, objetivavam o seu estabelecimento definitivo no Maranhão. Os índios ficaram cada vez mais hostis aos portugueses dominadores. Os invasores fizeram viagens de reconhecimento, estudos da língua indígena, levantamentos geográficos, e deram início às primeiras plantações, para o abastecimento da tropa.

A conduta dos colonos foi regulada. Instituiu-se a pena de morte e deu-se grande proteção aos índios contra os abusos dos colonos. Os padres começaram a penetrar na terra, em ação de catequese.

A reação da Espanha/Portugal à invasão—A notícia da invasão e fixação dos franceses no Maranhão chegou ao rei Felipe III da Espanha e Portugal, que ordenou expulsá-los.

Para comandar a reação, foi escolhido J e r ô n i m o d e A l b u q u e r q u e, o bravo mameluco - brasileiro, conhecedor da terra onde nascera e dos índios de quem descendia como mameluco .

Os portugueses organizaram-se, recrutaram homens e preparam navios e acumularam armamento e munições. Na falta de homens, esvaziaram as prisões. Tentaram conseguir o concurso dos índios para causa .

Jerônimo de Albuquerque visitou as aldeias e conversou com os caciques. Os índios, agora, não queriam guerrear, cuidavam das plantações, da caça e da pesca. À custa de muita habilidade e astúcia, Jerônimo conseguiu-lhes a adesão. Partiu do Rio Grande do Norte com destino ao Maranhão. Do Piauí, enviou um grupo de reconhecimento sobre posições francesas na costa norte. Enquanto esperava, fundou povoação no Camocim, para reforçar o domínio português na região.

Martim Soares Moreno, comandando o grupo de reconhecimento, encontrou os franceses instalados no Maranhão. Conseguiu muitas informações de grande valor para a expedição. De regresso, violenta tempestade o levou para as Antilhas, de onde seguiu para a Espanha.

Jerônimo de Albuquerque, considerou-o perdido. Resolveu retornar a Pernambuco, enfrentar os franceses em precárias condições logísticas. Antes de regressar, fundou o forte de N. S. do Rosário, aí deixando 40 homens. Sabedor das novidades, o Governador - Geral, Gaspar de Souza, mandou vir de Portugal, para ajudar Jerônimo, Diogo de Campos Moreno, o grande conhecedor do Brasil.

Formou-se nova expedição, com cerca 300 homens. Eles se uniram aos 200 índios de Jerônimo de Albuquerque, seguindo para o Maranhão. Organizaram-se os expedicionários na praia de Guaxinduba. Ali levantaram uma fortificação, a que deram o nome de Santa Maria.

Começaram a aparecer índios a mando dos franceses, e aconteceram os primeiros incidentes, em conseqüência dos quais índios da expedição foram mortos. Os portugueses apressaram os trabalhos de fortificação, enquanto aguardavam reforços prometidos de Pernambuco, que não chegaram a tempo. A inferioridade numérica portuguesa era flagrante.

Na madrugada de 19 de novembro de 1614, os franceses atacaram na praia de Guaxinduba: Força naval acompanhada por 50 canoas tupinambás com 200 franceses e mais de 2.000 índios.

O invasor desembarcou e aproximou-se. Foi quando Jerônimo passou da defensiva a impetuoso ataque. Reuniu tropa de reserva, quase todas de índios, e deu-lhes a missão de guardar o forte de Santa Maria. Decidiu cercar os franceses por terra, enquanto Diogo de Campos atacaria na praia os que estavam desembarcando.

Nesse momento, chegou um emissário dos franceses com mensagem de La Ravardière, intimando os portugueses à rendição. Temendo um ardil, Diogo de Campos atacou, seguido por Jerônimo. Os portugueses destruíram uma posição inimiga; os franceses desanimaram . A maré baixa não permitiu receberem reforços da esquadra fundeada ao largo. Os que se encontravam em terra já não podiam retornar, porque as suas embarcações estavam sendo queimadas pelos portugueses. Em que pese à inferioridade numérica, graças à coragem dos portugueses e à habilidade de Jerônimo Albuquerque, os franceses foram derrotados, com número muito maior de perdas, entre mortos e prisioneiros, no dia que passaria à História com o título de "A Jornada Milagrosa". "Audentes fortuna iuvat" (Virg., Eneida, X, 284) = A sorte favorece os audaciosos. Também se encontra "Audaces fortuna iuvat" (adaptação).

Mais uma vez fizeram honra ao seu pensamento militar decorrente de seu ideal político de dilatar A Fé Católica e o Império : "Julgada a causa justa, pedir proteção divina e atuar ofensivamente, mesmo em inferioridade de meios "(General Paula Cidade).

Os portugueses esperaram novo ataque. Os invasores não desistiram! Mas não queriam correr riscos ! Resolveram negociar a paz, com um armistício honroso.

Os dois líderes rivais chegaram a um acordo, suspendendo as hostilidades por um ano, enquanto se mandavam para cada uma das Cortes dois emissários, um português e um francês, em busca de novas instruções .

O governo luso - espanhol não aprovou o armistício, conforme notícia trazida por Francisco Caldeira Castelo Branco.

Jerônimo de Albuquerque não desfez o acordo. Aguardou nota oficial. Esta chegou com o General Alexandre de Moura, nomeado Governador - Geral da Armada e Conquista do Maranhão. Seu propósito: obter dos franceses a rendição incondicional.

Ao chegar, o General Alexandre de Moura convocou Jerônimo de Albuquerque, a quem fez ler a carta de sua patente de general. Este ficou indignado com a falta de reconhecimento pelos serviços prestados. Era mais forte, porém, no seu coração de bravo, o sentimento de amor à terra natal e o do cumprimento do dever. Curvando-se diante de seu superior hierárquico, entregou-lhe o comando e continuou a servir, com abnegação, à causa pela qual tanto já se sacrificara.

A expulsão dos invasores do Maranhão-- Em 31 de outubro de 1615, o General Alexandre de Moura ordenou o ataque aos franceses. Jerônimo de Albuquerque iniciou por cercar, por terra, o forte São Luiz. Em 1º de Novembro, a esquadra de Alexandre de Moura fechou o cerco por mar. Desembarcou a sua tropa na ponta de São Francisco, próximo do forte São Luís, e ali construiu fortificação de pau-a-pique, a que deu o nome de São Francisco ou Forte do Sardinha.

Intimado à rendição, La Ravardière submeteu-se com condições. Prometia partir em 3 meses. De Portugal chegaram reforços e ordens específicas – não pagar indenizações, apenas permitindo que os invasores franceses levassem seus pertences. La Ravardière entregou o forte de São Luís e, enquanto seus homens embarcavam para a França, pediu para ficar, por amor à terra a que muito se afeiçoara. Alexandre de Moura, entretanto, levou-o para Pernambuco e dali para Lisboa, onde foi encerrado por três anos, na Torre de Belém.

Jerônimo de Albuquerque, que então passara a assinar-se Jerônimo de Albuquerque Maranhão, como afirmação definitiva da conquista da nova terra, foi nomeado capitão-mor da capitania do Maranhão em reconhecimento aos relevantes serviços. Enquanto isso, Francisco Caldeira Castelo Branco seguiu para o Norte, com ordens de fundar, 900 quilômetros além, a capitania do Pará. Era dado o primeiro passo para a conquista da Amazônia. A costa norte, até então abandonada à própria sorte, ficou conhecida e na posse definitiva dos portugueses. Participou da luta pela expulsão dos franceses do Maranhão o mais tarde Capitão Pedro Teixeira, o conquistador da Amazônia e que participara da Expedição fundadora de Belém em 12 de janeiro de 1616, de onde foi enviado, por terra, de Belém a São Luiz, a fim de explorar um caminho terrestre para garantir apoio militar terrestre mútuo entre as duas bases militare de Belém e São Luiz (Caminho por onde hoje corre a rodovia Belém -São Luiz com o seu nome) . De 1616 a 1631, por 15 anos, comandou operações militares tipo guerrilha para, arrasar as feitorias e fortificações inglesas, irlandesas e holandesas estabelecidas no Estuário e Baixo- Amazonas. A seguir, de 1637 – 39, realizou a sua grande e imortal epopéia - a conquista da Amazônia Brasileira para Portugal, em nome do rei comum de Espanha e Portugal. Conforme tratamos em "A Conquista da Amazônia" - Rio de Janeiro: DNER,1974.

Durante dois anos, agora com auxílio dos índios, Jerônimo de Albuquerque Maranhão governou a capitania do Maranhão. Foi o justo prêmio de sua bravura, esforço, habilidade guerreira e capacidade de liderar.

Os franceses concentraram seus esforços na margem norte do rio Amazonas. Os portugueses puderam, em razão dessa luta, ocupar em definitivo a costa norte do Brasil e fundar Belém, a base de partida para o domínio do Estuário e Baixo- Amazonas e conquista da atual Amazônia Brasileira.