15 -O EXÉRCITO E A 1ª GUERRA MUNDIAL

O IHGB (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro) acaba de editar, de Francisco Luiz Vinhosa (do Dep. História - IFCS/UFRJ), o excelente e original trabalho "O Brasil e a 1ª Guerra Mundial" (A diplomacia brasileira e as potências), que mereceu 1º`prêmio em concurso literário por ele promovido ao ensejo de seu sesquicentenário.

Segundo o IHGB, "trata-se de livro bem escrito, estilo claro e equilibrado, notável trabalho de pesquisa e exposição histórica, bem fundamentado, em abundante, árdua e fidedigna documentação, com revelação de importantes documentos dos arquivos oficiais, até então inéditos, além de extensa e pertinente bibliografia - Trata-se de obra da melhor qualidade, com rigor metodológico... ".

Concordamos plenamente. E mais, com o mesmo Arthur Cézar Ferreira Reis, "trata-se de obra que evidencia aos brasileiros a notável projeção internacional do Brasil àquele tempo". Mas o trabalho merece uma achega, em relação à participação do Exército, ali omitida, o que é compreensivo, por havê-lo sido pela própria História do Exército, editada em 1972, pelo Estado-Maior do Exército, por ser considerado assunto confidencial, tratado em documentação reservada somente em 1997 revelada.

Trata-se da Comissão de Estudos de Operações e de Aquisição de Material na França, 1918/19, composta de 24 oficiais, sob a chefia do General Napoleão Felipe Aché. Com o fim de absorver, durante a Guerra, a maior quantidade de conhecimentos da Doutrina Militar Francesa e adquirir o material necessário à sua implantação no Brasil; os oficiais dessa comissão combateram no Exército da França, de modo que oito deles foram promovidos por atos de bravura.

Constituíram a Comissão, além do General Aché, o tenente Coronel José Fernandes Leite de Castro(Subchefe), o tenente Octávio M. Aché(Secretário), o tenente José Nery Eubank Câmara(Administração), Major médico Joaquim M. Sampaio(Veterinário), os tenentes Alzir M. Rodrigues Lima, Mário Barbado e Bento R. Carneiro Monteiro, da Aviação, tenentes Demócrito Barbosa, Sebastião Rego Barros e Carlos de Andrade Neves da Artilharia, major Tertuliano Potiguara, capitão Praxedes T. da Silva Júnior e tenente Onofre M. Gomes de Lima, da Infantaria; major Firmino Antônio Borba, tenentes Izauro Reguera, José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque e Cristóvão de Castro Barcellos, da Cavalaria, e major médico Rodrigo de A. Aragão Bulcão, e capitães médicos Cleomenes L. de Siqueira Filho, João Afonso de Souza Ferreira, Alarico Damázio, João Florentino Meira, Manoel Esteves de Assis e tenente Carlos da Rocha Fernandes.

Dentre as contribuições à doutrina do Exército trazida por esses oficiais registram-se: sua influência na contratação de missões militares francesas para a nossa Aviação Militar e para o Exército; a introdução de Blindados; a reformulação do ensino do nosso Exército, nos moldes da França, e a idealização da construção da AMAN; a implantação de nossa aviação Militar; a doutrina de emprego de gases e a atualização das doutrinas de Artilharia de Costa e Campanha, Infantaria, Cavalaria e Saúde.

Esses elementos foram pontas-de-lança do trabalho aqui desenvolvido pela Missão Militar Francesa(1920-1979), que foi substituindo, a partir de 1921, a influência da Doutrina Alemã(1910-1921), exercida através de oficiais que estudaram na Alemanha(1910-1912), tendo como principais instrumentos de difusão a revista "A Defesa Nacional", criada por eles em 1913, e a Missão Indígena, da Escola Militar do Realengo(1919-1921), viveiro de grandes soldados e estadistas.

Com a revolução de 30, dois deles, os então generais Leite de Castro, que combateu na Artilharia da França, e o coronel José Pessoa Cavalcante, que combateu na Cavalaria, tiveram marcante projeção na construção da AMAN e nas tradições desta (uniformes históricos, espadim, corpo de cadetes etc.) e no seu ensino, segundo padrões de Saint Cyr, Consagrou-se herói do combate de São Quentim, o já legendário herói do episódio da Revolta da Vacina Obrigatória e do Contestado, o mais tarde general Tertuliano Potiguara.

Esse assunto foi objeto de profundo e original resgate pelo então major de Engenharia Genino Jorge Consendey, em Monografia para a ECEME (1987). Foi assunto sugerido e apoiado pelo Arquivo Histórico do Exército (AHEx), no sentido de preencher lacunas na História do Exército, como agora aqui focalizada.

Existe cópia da Monografia na ECEME, no AHEx e com o autor.