10 - A GUERRA CISPLATINA (1825-28 )

Causas: A guerra de independência do Uruguai, com apoio da Argentina, desejosa de incorporá-lo como sua província unida, foi a principal causa desta guerra que encontrou o Brasil bastante debilitado militarmente pelas seguintes razões :

Acontecimentos marcantes :Em 19 de abril de 1825, a Província Cisplatina rebelou-se contra o Brasil, ao qual fora incorporada por Portugal em 1821.

Nesse dia, 33 orientais, liderados pelo Coronel D. Juan Lavalleja e provenientes da Argentina, desembarcaram na praia de Agraciada no rio Uruguai e iniciaram o processo de independência do último país de origem espanhola na América.

Em 25 de outubro de 1825, Lavalleja proclamou a independência do atual Uruguai do Brasil e o declarou confederado às Províncias Unidas do Rio da Prata.

 

A tropa do Rio Grande, agora ao comando do Marechal José de Abreu, passou a atuar no campo estratégico, com a missão de reunir tropas da capitania e cerrar sobre Montevidéu, para auxiliar o General Lecor a debelar a revolta oriental.

 

Em 4 de setembro de 1825, o Coronel miliciano Bento Manoel Ribeiro derrotou Rivera em Àquila. Em 23, Rivera, em Rincón de Las Galinas, tomou a reserva de cerca de 6 mil cavalos do Marechal Abreu e, no dia seguinte, bateu dois regimentos milicianos de guaranis das Missões.

 

Em 12 de outubro, travou-se o combate de Sarandi: as tropas, ao comando de Bento Manoel Ribeiro, foram batidas por Lavalleja e Rivera. Por isso, as tropas milicianas e gaúchas não conseguiram juntar-se às do General Lecor. O Marechal José de Abreu teve de retornar ao Rio Grande e defendê-lo com um tênue e fraco cordão defensivo.

Os orientais de Rivera e Lavalleja, reforçados pelos argentinos, dominaram todo o Uruguai, exceto Colônia e Montevidéu.

Caxias, então Capitão, participou do sistema defensivo de Montevidéu.

As tropas da Província do Rio Grande foram reorganizadas. Predominava a Cavalaria de 2ª linha (Milícias): valorosas, mas de limitada operacionalidade contra as forças que iriam enfrentar - o Exército Republicano da Argentina, regular e veterano da independência do Chile, Bolívia e Peru.

O comando das Armas estava a cargo de um bravo e experimentado guerrilheiro, o Marechal José de Abreu, que foi substituído em 3 de fevereiro de 1826 por outro chefe militar, até bem pouco tempo Coronel de Infantaria da Legião de Voluntários Reais - Brigadeiro Francisco de Paula Massena Rosado, sem vivência no campo estratégico e no Rio Grande.

 

Agora o governo do Rio Grande estava separado do comando militar, que passou a depender do Presidente. Isso trouxe uma série de lamentáveis desencontros. O território gaúcho estava desamparado.

 

Massena Rosado demonstrou incompetência para comandar o Exército do Sul. Apressou-se, inexplicavelmente, em reunir todas as forças disponíveis em Santana (Imperial acampamento da Carolina, um dos nomes da princesa Leopoldina), deixando a descoberto o resto da fronteira, presa fácil de um envolvimento por Aceguá. Ficou em Jaguarão o Coronel Bento Gonçalves, que não cumpriu a ordem de concentração em região insalubre e de péssimos pastos. Enquanto Massena discutia com o Visconde de São Leopoldo, presidente da Província, o Exército se deteriorava em Santana.

 

O clamor público acordou D. Pedro I, que decidiu ir pessoalmente ao Teatro de Operações, levando importantes reforços e um novo e prestigioso comandante, o Tenente General Felisberto Caldeira Brandt Pontes e Marquês de Barbacena, que, com muito boa assessoria, assumiu o comando do Exército do Sul em 1º janeiro de 1827, em Santana, assim:

 

"Encontrei um exército descalço, sem munição de boca (alimento) e de guerra, sem remédios, sem cavalos e reduzido depois de um ano à mais humilhante defensiva."

As decisões de Barbacena :

 

Sobre a ação de Barbacena, podemos concluir:

 

(1) Ter sido excepcional feito de Barbacena e seu Estado-Maior receber uma tropa em frangalhos e marchar na direção de Bajé e ainda colocar-se em posição favorável numa serra para a sua Infantaria e interposta entre o Exército argentino de Alvear e as principais cidades do Rio Grande, com o caminho livre para ser suprido por elas.

 

(2) Ter sido a Batalha do Passo do Rosário indecisa, resultante de um combate de encontro, cuja retirada brasileira feita para o passo São Lourenço no rio Jacuí foi forçada, não pelo inimigo, mas pelos seguintes fatores:

 

Comando do Marechal José de Abreu, em retomar a marcha em direção de Passo do

Rosário. Disso decorreu a chegada na região da batalha junto com o restante do Exército do Sul.

A manobra em retirada já havia sido usada por Napoleão, como alternativa para uma derrota certa no caso pelo incêndio do campo. E essa foi a decisão de Barbacena, num combate de encontro e para evitar que seu Exército fosse destruído pelo General Fogo. Isso ele deixou claro em sua parte de combate. Caxias, ao depor como membro, ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, sobre Passo do Rosário, concordou com a decisão de Barbacena e criticou a atuação de Bento Manuel (conforme publicamos na Revista A Defesa Nacional 777,jul/set 1997).

Os argentinos não fizeram a perseguição. Tiveram apenas o caminho aberto para retornar rápido ao Uruguai, sem conquistar os objetivos estratégicos previstos pela invasão.

Até hoje se discute: ‘Batalha indecisa ?" "Derrota brasileira ?" E ainda "Derrota de ambos os contendores, que se retiraram do campo de batalha?" ...

Em 1977, sesquicentenário da batalha, produzimos dois artigos alentados sobre a batalha do passo do Rosário nos nºs 672 e 680 de A Defesa Nacional, sob os títulos O estudo dos fatores da decisão militar em Passo do Rosário e, Marchas estratégicas dos ex;ércitos para a Batalha do Passo do Rosário. Estudo feito sobre uma carta topográfica, e não sobre levantamentos expeditos e imprecisos realizados por estudiosos anteriores. Foram revisadas todas as fontes que relacionamos em nosso Como estudar e pesquisar a História do Exército Brasileiro, sob os auspícios do Estado Maior do Exército e editada pelo EGGCF em 1978, e reeditada em 1999.

 

Após permanecer em Los Currales - Uruguai, de 19 de março a 13 de abril - Alvear invadiu, mais uma vez, o Rio Grande por Bajé, que reocupou. A seguir, foi operar na região do rio Jaguarão.

 

Em 10 de junho de 1827, após deixar o Brasil, procurou Mello (antigo Cerro Largo) no Uruguai, de onde comunicou à Argentina sobre o estado deplorável do seu Exército e sua intenção de abandonar temporariamente a luta.

 

Em 13 de setembro de 1827, o Marechal Henrique Brown assumiu o comando no Passo de São Lourenço, no Jacuí. Deslocou sua tropa para Pelotas para a cobertura das antigas fronteiras do Rio Grande. Acampou em Candiota. Aí desencadeou algumas ações, como um ataque de surpresa em Las Canas, o que obrigou Lavalleja a retrair para Cerro Largo.

Nesta época, a diplomacia negociou uma saída.

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Foi traduzida na Convenção Preliminar da Paz, entre o Brasil e a Argentina, que reconheceram a independência do Uruguai após sete anos de incorporação artificial ao Império do Brasil.

 

Artigas viveu para saber da independência do Uruguai, "um algodão entre dois cristais" - Argentina e Brasil - o que por certo preveniu muitos choques armados potenciais entre dois países ainda imaturos.

 

Identificar se a guerra Cisplatina favoreceu, ou não, a soberania nacional brasileira..