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O GAÚCHO
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Fundado no
Sesquicentenário |
ANO: 2006 MÊS: DEZ No 35 |
Major ÂNGELO PIRES MOREIRA (1913-2006)
Faleceu em Pelotas em 25 de novembro de 2006 o historiador e tradicionalista
gaúcho Ângelo Pires Moreira, personalidade de expressiva atuação como
historiador pelotense e articulista freqüente dos jornais Diário Popular e
Correio da Manha e tradicionalista destacado na União Gaúcha J. Simões Lopes
Neto Personagem esta da qual foi um dos seus biógrafos e o tinha como patrono de
cadeira na Academia Canguçuense de História (ACANDHIS) e na Academia Sul Rio
Grandense de Letras. Durante sua longa vida militar serviu, até ser transferido
para a Reserva ,no 9º Batalhão de Infantaria Motorizada – o Batalhão Tuiuti.
Nasceu em 10 de outubro de 1913 em Canguçu, mas foi consagrado cidadão pelotense.
pelos relevantes serviços culturais prestados a Pelotas da qual se considerava
filho adotivo.Foi um dos integrantes da família Moreira que revelou gosto e
dedicação para a literatura, histórica e tradicionalista.
Era seu bisavô José Inácio Moreira Filho que jovem foi Chefe de Gabinete do
Ministro Farrapo Ulhoa Cintra. Em 1857, ao ser criado o município de Canguçu,
foi para lá enviado como o seu primeiro serventuário de Justiça. Possuía
intimidade com as letras. Eram seus filhos Franklin Máximo e Carlos Norberto
Moreira que colaboraram e colecionaram o Almanaque Literário e Estatístico do
Rio Grande do Sul.Coleção mais tarde herdada por Luis Carlos Barbosa Lessa e
inspiração para a sua consagração como filósofo do Tradicionalismo Gaúcho e um
dos gaúchos do século 20.
Entre as suas filhas destaque para Amenaide Moreira da qual descende Mario
(Moreira) Barbosa de Mattos( seu neto), atual vice presidente do Instituto
Simões Lopes Neto.
De Carlos Norberto descendem os escritores seus netos Ângelo Pires Moreira e o
autor e seus bisnetos Luiz Carlos Barbosa Lessa citado e Clovis Rocha Moreira.
E de Franklin Maximo Moreira, veterano do Paraguai e fundador do Clube Harmonia,
descende seu bisneto Cairo Moreira Pinheiro, o genealogista da família Mattos
Moreira e também escritor e animador cultural. Menos Cairo, os demais constam do
Dicionário Bibliográfico Gaúcho.
.O Major Ângelo deixou Canguçu para ingressar no Exército em 1931 tendo
participado, como cabo, de Operações no Vale do Paraíba, integrando o então 9º
RI e no combate a Revolução de 32. Fez o curso primário no Colégio Elementar em
Canguçu, em antigo prédio transformado em 1957, no Centenário de Canguçu, em
Casa do Centenário.E aí conforme concluo de foto de 1927, foi colega de suas
irmãs Sara e Leda, primas e irmãs Luiza e Carmem Bento, de Dulce Bento, Amália
Shoroeder e João Albano de Souza e Georgina Quadros, futura professora desta
escola..
Ângelo aproveitou para tirar o Curso de Contador no Colégio Gonzaga, o que
recordo como aluno pensionista de 1945/48. Mais tarde, em 1958, formou-se em
Direito.
A História de Pelotas era a sua paixão. Já membro de alguns institutos
históricos insisti com ele para que fundasse o Instituto Histórico e Geográfico
de Pelotas, colocando em suas mãos estatutos de instituições do gênero.
Ao servirmos como soldado e cabo da 3ª Cia de Comunicações, em 1950, acantonada
em dois pavilhões atrás do Pavilhão de Comando do 9 º RI o avistei diversas
vezes. E então já era subtenente. Éramos então dois estranhos no ninho.
Em 1970 fui apresentado a ele, já na Reserva, por meu cunhado Agostinho Viana. E
aí surgiu uma forte e longa ligação e afinidade cultural. E por seu intermédio
comecei a escrever longos artigos históricos na Coluna A Querência, da União
Gaúcha J. Simões Lopes, no Diário Popular. Ele era então destacado e ativo
tradicionalista da citada União Gaúcha. E por muitos anos escrevi para a citada
coluna matérias históricas por intermédio do Major Ângelo. Meus artigos de
estréia na imprensa tiveram por título:
-As charqueadas de Pelotas – influência no povoamento do Sul – projeção
econômica e
social e como foram vistas por Saint Hilaire, Debret e Herbert Smith. 1º e 8 de
março 1970.
- Canguçu por volta de 1780-1804. 15 março 1970.O 1º artigo foi minha estréia
nas letras.
Em data recente, em visita que lhe fiz de pêsames, ele me entregou uma pasta
contendo todos os originais dos meus trabalhos que intermediou na Coluna A
Querência e me cedeu e copiei uma pasta de artigos escritos pela amiga e notável
historiadora pelotense Heloisa Assunção do Nascimento, que tive o prazer, de
junto com ela, ser agraciado pela Câmara de Pelotas com a Comenda J. Simões
Lopes Neto, em 18 set 1986.
Major Ângelo e D. Heloisa que tive o prazer de empossá-los sócios
correspondentes da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB) em
2001, no Quartel General da 8ª Brigada de Infantaria Motorizada , ao ali
lançarmos nossa obra em parceria com o Cel Luiz Ernani Caminha Giorgis , a
História da 8ª Bda Inf Mtz - Brigada Marechal Marques de Souza (1ª).Recordo que
ali o Major Ângelo mencionou que o primeiro Estado-Maior, no Brasil, nos moldes
atuais, foi criado em Pelotas pelo General Brown, que estudei na obra
Estrangeiros e descendentes na História Militar do RGS (1975) e antes de partir
para reforçar o Marquês de Barbacena na Guerra Cisplatina 1825/28.
Ele conhecia a fundo a História de seu querido 9º RI e gozava de excelente
conceito com todos os militares da guarnição, pois era profundamente sério,
ético e solidário.
O Major Ângelo era bisneto do simbolista farrapo Bernardo Pires, autor da
primeira bandeira da República Rio Grandense. E a seu pedido, em 1971,
produzimos o livro Autoria dos Símbolos do Rio Grande do Sul, Recife: UFRPE,
1971 e prefaciado pelo grande ambientalista professor J. Vasconcelos Sobrinho.
Livro em que biografamos seu bisavô Bernardo Pires, ligado a criação dos
símbolos da República Rio Grandense. Personagem que faleceu em Pelotas com 101
anos, em 9 de novembro de 1891, no prédio 81 da rua Manduca Rodrigues, entre as
ruas Gen Argolo e Avenida Bento Gonçalves. E a ele se deve a proposição
vitoriosa feita ao Presidente da Província Cel Jerônimo Coelho para criar ha 150
anos atrás o Município do Canguçu.
Em 1986, no curso das Comemorações do Decênio Heróico Farroupilha contamos com o
seu notável concurso, como coordenador, para fundarmos o Instituto de História e
Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS). Cerimônia que teve lugar em
concorridíssima cerimônia no Auditório da Escola Técnica Federal de Pelotas,em
10 de setembro de 1986, no Sesquicentenário do Combate de Seival, que criou
condições para a Proclamação da República Rio Grandense no dia seguinte no Campo
do Menezes.
Feitos históricos no município de Piratini, marcado pela vitória da Divisão
Liberal de Antônio Neto, constituída por forças recrutadas no vasto município de
Piratini, então integrado pelos seus distritos de Canguçu, Cerrito e Bagé até o
Piraí. Esta é a verdade histórica.E teve o Major Ângelo destacada participação
no 2º Encontro do IHTRGS que teve lugar, sob sua coordenação, na sede da União
Gaúcha J. Simões Lopes Neto, onde abordamos em conferência o assunto Os sítios
farrapos de Porto Alegre.
Em 1988 ajudou na fundação da Academia Canguçuense de História, onde assumiu a
cadeira João Simões Lopes Neto, o historiador de Canguçu em 1912, em Bosquejo
Histórico de Canguçu na Revista do Centenário de Pelotas em 1912, nº 4. Presença
do hoje consagrado autor tradicionalista a convite do Intendente Cel Genes
Gentil Bento para registrar o centenário de Canguçu como Freguesia.
Ocasião em que se destacou no fornecimento de informações a Simões Lopes Neto o
intendente e Carlos Norberto Moreira, avô de Ângelo e do autor, conforme
registrou Simões Lopes Neto. E aos 75 anos o Major Ângelo exerceu as funções de
Vice Presidente da AHIMTB, as quais logo transferiu a Professora Yonne Maria
Sherer Bento, por dificuldade de se fazer presente com freqüência em Canguçu. E
sua cooperação conosco foi valiosa ao consultar jornais de Pelotas e copiar
assuntos de interesse da História de Canguçu que colecionamos, em encadernações
indexadas que fazem parte do acervo da ACANDHIS.
Um dos seus pleitos ao Povo de Pelotas era a construção de um monumento ao Duque
de Caxias, por ele haver, pessoalmente, depois da Pacificação Farroupilha
“recolocado Pelotas no caminho do progresso”, o que foi motivo de pesquisa
pessoal sua que transcrevi parte as p. 166/167 de nossa obra Caxias e a Unidade
Nacional. Porto Alegre: Metrópole, 2003.
“Pelotas que vinha num progresso notável ficou 8 anos acéfala, as atividades de
suas charqueadas cessaram. Seu território trocou de mãos algumas vezes”.
Em 9 de janeiro de 1836 o Jornal do Comércio do Rio de Janeiro noticiou.
“Estão ancorados em São José do Norte 39 barcos e 14 iates, guardando familiares
que desampararam Pelotas, hoje totalmente deserta.”
Caxias determinou a reinstalação da Câmara de Pelotas e o inicio de seus
trabalhos, o mais breve possível.Segundo o Major Ângelo esta ordem de Caxias
“teve o poder de uma vara de condão, por despertar Pelotas de seu sonho
letárgico de 8 anos.” E aqui deixou este seu sonho “que ele define com precisão
no 4º volume de Pelotas na tarca do tempo.
O Major Ângelo produziu vários livros cumprindo destacar: A outra face de J.
Simões Lopes Neto. Porto Alegre: Martim Livreiro, 1983, O Civismo e o Espírito
de João Simões Lopes Neto .Pelotas:Ed Universitária ,1999.Pelotas na tarca do
tempo. Pelotas: Edição do autor, 1988/1990, 3 volumes. O Tenente General Manoel
Marques de Souza. Este patrono da 8ª Brigada de Infantaria Motorizada, em
sugestão que fizemos acolhida, proposta e aprovada e personagem por nós
biografada em 2001 na já citada História da 8ª Brigada.Sua obra mais importante
e original é a sua trilogia Pelotas na tarca do tempo e em especial seu terceiro
volume abordando a Revolução Farroupilha em Pelotas, no qual merece destaque por
revelar seu espírito idealista, sua sinceridade e honestidade, a Dedicatória,
Agradecimentos e Nota Explicativa. Nesta reclama do povo de Pelotas o seu dever
de resgatar uma dívida de gratidão para com o Duque de Caxias.
Ângelo casou com Mercedes com a qual viveu pouco mais de 70 anos de casados.Ele
pouco sobreviveria a sua companheira.Ao visitá-lo para dar nossos sentidos
pêsames parecia que resistia bem a ausência de sua Mercedes e estava cheio de
planos e projetos. Mais tarde, ao visitá-lo no Laranjal revelou a imensa falta
de sua companheira de 70 anos, mas assim mesmo alimentava um sonho de inaugurar
no Correio da Manhã uma Coluna da Delegacia da AHIMTB Fernando Luiz Osório, da
qual era nosso Delegado e desenvolvida em conjunto por ele, pelo autor e por
seus coordenadores, os historiadores Flavio Azambuja Kremer e Cairo Moreira
Pinheiro. Mas o destino o levou de surpresa!
Em face de idade de 101 anos atingida por seu bisavô Bernardo Pires insistimos
que ele ultrapassaria esta marca. Ou brincávamos “que ele viraria o
velocímetro”. Mas foi levado para o andar de cima aos 93 anos, batendo o
recorde, creio, entre os homens da família Moreira.
Ângelo era membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil e seu
delegado em Pelotas, do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS),
do Instituto Histórico e Geográfico de Pelotas (IHGPEL), da Academia Canguçuense
de História (ACANDHIS), da Academia Sul Rio Grandense de Letras e do CIPEL.
De Canguçu, sua terra natal carregou fortes influências e caras lembranças de
sua infância, adolescência e início da juventude. E em especial lembranças que o
tornaram um tradicionalista como em doses variadas os demais Moreiras literatos
citados no início.
Recordava muito da Chacrinha propriedade de nosso avô Carlos Norberto Moreira. E
exaltava o seu pioneirismo como empresário, tendo dotado sua residência de
modernas instalações sanitárias abastecidas por bombas d’água tocada por um
cata-vento metálico que em 1936 já havia tombado, além da haver introduzido em
sua casa um fonógrafo com discos cilíndricos, cujos remanescentes encontrei
embaixo de um paiol de milho.
Parte destas lembranças ele escreveu em 6 e 13 de abril de 1980, no Diário
Popular e reproduziu na Revista do Centenário de Canguçu em 2001 as p. 106/167.
E a certa altura escreveu:
“Tamanha foi à influência do cinema em mim, quando guri em Canguçu, que cheguei
a sonhar um dia ser um artista de cinema. O cinema era a grande e única janela
de Canguçu para um mundo de fantasias!”
A exemplo da Sabadoyle , de Plínio Doyle no Rio de Janeiro, que reunia
expressões da Literatura Brasileira ele criou a Quartângelo , que as quartas
feiras a tarde reunia um grupo de historiadores pelotenses em apartamento de sua
propriedade onde guardava seu precioso arquivo cujo futuro esperamos seja
guardado pelo Instituto Histórico e Geográfico de Pelotas do que ele foi ou
fundador o a presidiu por algum tempo. Seria uma lástima se este arquivo não for
preservado!
Ângelo era filho de Ciro Moreira e Madalena Pires Moreira ..
Aqui concluo esta homenagem ao prezado parente, amigo, irmão de armas no
Exército e apóstolo da preservação, pesquisa, culto e divulgação da História,
das Tradições e de valores morais, culturais e históricos. Atividade relevante
para a preservação da identidade e perspectiva históricas de um agrupamento
humano considerado. No caso dele, atuação esta relacionada com Pelotas, sua
terra de coração e em menor intensidade com Canguçu, seu torrão natal.
Pela Academia de História Militar Terrestre do Brasil(AHIMTB),Instituto de
História e Tradições do RGS (IHTRGS) e Academia Canguçuense de História(ACANDHIS).
Cel Cláudio Moreira Bento presidente
A seguir algumas fotos alusivas ao homenageado retiradas do Arquivo Conrado
Ernani Bento
Câmara de Vereadores de Pelotas em 20 set 1985 , conferencia do autor sobre os
150 anos da Revoluçao Farroupilha , data em que o Diario Popular publicou
extensa reportagem de nossa autoria.A Centro o autor, a sula direita O Gen Egeo
de Oliveira Freitas comandante da 8ª Bda Inf Motorizada e a nossa esquerda o
Major Ângelo Presidente do IHGPEL.
Bernardo Pires , veterano de Sete Guerras em seu uniforme de Guarda Nacional e,
abaixo em três tempos :1 -Ângelo ,atrás, aos 14 anos, aluno do Colégio
Elementar. 2- cabo do 9ºRI em Lorena´-SP,aos 19 anos no combate a Revolução de
32 no Vale do Paraiba e 3- a cavalo ,aos 20 anos, como 3º sargento e defronte a
casa paterna a direita,ao lado do antigo Hotel.