Fundada em 13 set 1988, no centenário de seu patrono
Conrado Ernani Bento

 

 

MEMÓRIA

INFORMATIVO DA ACADEMIA CANGUÇUENSE DE HISTÓRIA

 

RUY RÉGIO PINHEIRO (1918-2012)
Homena
gem póstuma

 

 

Ano 2012                 Especial              2 JAN66

 

RUY RÉGIO PINHEIRO (1918 – 2012)

Cel Cláudio Moreira Bento

 

Faleceu em Pelotas em 02 janeiro de 2012, aos 93 anos, meu apreciado amigo Ruy Régio Pinheiro. Ele foi  testemunha ocular da fundação do Curso Ginasial em Canguçu, em reunião histórica, em 25 março  de  1954, no Salão Nobre da Prefeitura, hoje Casa da Cultura. Reunião  presidida pelo Prefeito Conrado Ernani Bento e presente entre outros o Dr. Osvaldo Muller Barlém e Firmo Duarte Moreira , as três  personalidades de Canguçu mais admiradas por Ruy que  aparecem na foto a seguir do Arquivo Conrado Ernani Bento.

 

Na foto na presidência da mesa com a mão no queixo o Prefeito Conrado Ernani Bento. De pé o Dr Osvaldo Muller Barlém, juiz de Direito, Atrás dele, de óculos, Firmo Duarte Moreira, Escrivão do Civil e Crime. A sua esquerda, de pé. Lucio Rodrigues, Secretário da Prefeitura. De frente sentados na mesa, da esquerda para a direita: Dr Walter de Oliveira Prestes, advogado, Waldemar Fonseca, Coletor Estadual, Claudio Jorge , titular do Cartório de Registro Civil. Atrás de Valdemar Fonseca aparece de pé, de traje escuro e com gravata Ruy Pinheiro Oficial de Justiça aos 36 anos. A esquerda na porta em traje escuro identifico Baltazar Nunes Duarte (Macota)e a sua direita Jose Freitas Jorge.

 

 

   Ruy Pinheiro era um dos mais antigos reservistas do 9° Batalhão de Infantaria Motorizada – o Regimento Tuiuti, que esteve pela primeira vez representado na área onde hoje ele tem sede em Pelotas , através de uma Companhia, destacada de Jaguarão para Canguçu de 1845/49, ao comando do Capitão Antonio de Sampaio, atual  patrono da Infantaria do Exército. Em Canguçu  Sampaio    teve como Posto de Comando, a antiga cadeia mandada construir por volta de 1843, pelo Ten Cel da Guarda Nacional Francisco Pedro de Abreu, o Moringue que em Canguçu comandava a Ala Esquerda do Exército do Barão de Caxias. Cadeia que ele anunciava ironicamente para servir de “Casa de hospedes dos farrapos”, segundo J. Simões Lopes Neto em 1912, na Revista do Centenário de Pelotas , dedicada a Canguçu..      Esta cadeia demolida na década de 1940 (início) situava-se no local onde foi construído o Teatro Municipal 27 de junho – Professor Antonio Joaquim Bento, o 1º Professor régio para meninos do município. este criado em 1857, e introdutor do teatro em Canguçu,por volta de 1862, no local da atual sede da Câmara de Vereadores de Canguçu.

      Ruy serviu no atual 9° BIMTz, duas vezes. em 1933, aos 15 anos como voluntário e de 1934-35, como convocado.   Deste tempo ele me contou  que ia de Pelotas a Piratini a pé, para visitar a família. Ou “no 11”, segundo a gíria militar.

      O pai de Ruy Ernesto  Ignácio Pinheiro atuou como oficial das forças governistas no Combate de Canguçu Velho ,em 14 de agosto de 1923,( Vide BENTO,Canguçu reencontro com a História p. 197, 2 ed.) que descreve que coube-lhe a tarefa de sepultar no campo alguns dos tombados neste combate. Mais tarde quando Prefeito em 1951, pela 3ª vez coube a meu pai mandar exumá-los e  colocar seus restos mortais em local seguro e bem visível, cercado de arame farpado e as cruzes dos túmulos de ferro para resistirem as intempéries, conforme a foto a seguir, batida por Jesus Bento Martins, em visita ao local em 1972 quando localizei as ruínas do sobrado sede e do mangueirão de pedra da sede da Real Feitoria do Linho cânhamo do Rincão do Canguçu que ali funcionou de 1783/89 . Em 2008 tirei foto de Cairo no mesmo local e deparei que o local das 3 cruzes de ferro se transformara depois de 36 anos de minha primeira visita num enorme cemitério.

      

 

Foto do autor então Major da Comissão de História do Exército, do Estado Maior do Exército, tendo ao lado seu filho Carlos Norberto, hoje Comandante de Marinha no posto de Capitão de Mar e Guerra
(posto  equivalente ao de coronel no Exército) e atualmente instrutor de Navegação na Escola Naval(Foto de meu arquivo)

         Ruy foi casado por 63 anos de 1942 a 2004, com D. Hilda( Krusser) Moreira Pinheiro, neta de Franklin Maximo Moreira, veterano da Guerra do Paraguai e fundador do Clube Harmonia, com seu irmão mais moço, Carlos Norberto Moreira e ambos hoje patronos de cadeira na Academia Canguçuense de História (ACANDHIS) por suas atividades literárias em Canguçu, no Império.

     O casal teve os seguintes filhos; Maria Suzana, Cairo, Mary Suez, Siana Maria e Iran, todos nascidos em Canguçu.     A mãe de Ruy era D. Adelaide Régio Pinheiro ( D.Zizica). Quando menino, fui socorrido por D. Adelaide, ao cair de bicicleta e ter perfurada cerca 1,5 cm da perna direita, abaixo do joelho, pelo punho acionador do freio de mão dianteiro. Ela me levou para sua casa que ficava em diagonal com a casa de minha tia Alice Moreira, há pouco demolida, na esquina da General Osório  com a Duque de Caxias em Canguçu. Aí lavou o ferimento com uma infusão de uma erva em álcool que conservava numa garrafa, e a seguir protegeu o ferimento com uma atadura de pano, não me esqueço desta cena!

     Ruy possuía 5 netos sendo duas netas Niaia, Eduardo, Anderson, Antonela e Rafael nascidos em  Pelotas, menos Eduardo e 5 bisnetos, sendo 2 netas; Nicole e Isabel e 3 netos; Lucas, Thiago e Yuri Fernandes. Todos pelotenses.

     Ruy era maçom filiado as lojas Rio Branco III em Piratini e Antunes Ribas em Pelotas e era membro do Lions Clube Centro em Pelotas e Patrono da Associação da Família Pinheiro.

        Quando jovem trabalhou em Serviços Gerais na Prefeitura de Piratini. Foi balconista de seu tio Maneco e sapateiro. Conheci e fui muito amigo de seus irmãos em Canguçu, Paim, Olavo . Este muito inteligente e criativo, Ambos se arrumaram bem na vida. Conheci o seu irmão Luiz Catão há pouco tempo. Ele trabalhava no Correio do Povo.

        Dentre os amigos de Ruy Pinheiro ele destacou como seu maior amigo e seu primo, Valdomiro Pinheiro Duarte, que ao casar lhe fez presentes de itens básicos, para iniciar sua vida de casado e inclusive sua roupa para a cerimônia de casamento, no qual  foi seu padrinho, Era muito amigo de Hermes Ribeiro (Lelo), como também o fui.Lelo foi casado com uma filha de Kurt Von Laer e os três filhos homens fizeram belas carreiras. Convivo mais com Sebastião hoje acadêmico da cadeira J. Simões Lopes Neto que foi inaugurada por meu primo Major Ângelo Pires Moreira, consagrado historiador pelotense.

       Rui era muito grato ao seu amigo Oficial de Justiça, Eldejar  Albano, conhecido por Jarra, filho de Zeca Albano. Isto por lhe haver assistido e orientado seus primeiros passos na profissão de Oficial de Justiça, na época em que era profissão precariamente remunerada, que quase a abandonou, não fora como informava, a orientação recebida de meu pai Conrado Ernani Bento, para que tivesse paciência que dias melhores viriam. Previsão que veio a confirmar-se.

      E as coisas melhoraram bastante para Ruy podendo bem assistir sua família. E depois de viúvo, aos 87 anos, quando seus males se agravaram, pode desfrutar de boa assistência médica e cuidados de profissionais de cuidadoras de idosos contratados para o cuidar sob a orientação carinhosa e devotada de seu filho Cairo. Deste inclusive esteve presente em seu 60° aniversário em 2005, na Associação Rural em Pelotas e depois em sua Formatura em 2008, como jornalista, em cerimônia no Teatro Guarani, tendo subido ao palco orgulhoso para entregar a seu filho o diploma.

     Ruy Pinheiro foi amoroso e sempre dedicado a sua família e com o futuro dos mesmos. Esposo amantíssimo, o maior atestado era sua esposa dizer  que “Ruy era uma verdadeira mãe para ela ! ” E a ela  fazia todas as vontades.

      Era muito emotivo e chegava a chorar de emoção ao ouvir músicas de seu tempo de menino e adolescência.

      Era um notável contador de histórias e causos, ocorridos em sua infância, adolescência e  fase adulta.    Gostava de declamar poesias e em especial as que aprendera em sua meninice e inicio da adolescência na escola, na Seleta em Prosa e Verso.

      Cultivava largo círculo de amigos e era muito popular e acolhedor, tanto em Piratini, como em Canguçu, Pelotas e até Porto Alegre. Era exímio dançarino e apreciava dançar sempre que surgia oportunidade.

 
Ruy Pinheiro aos 86 ano ao lado do autor em 2005 no 60º aniversário do seu filho Cairo Moreira Pinheiro

      Entre suas frases de efeito, destacaram seus filhos: Sobre sua morte, sepultamento e túmulo; “quem vier atrás de mim, fecha a porteira”. Quanto o significado de seu nome, Pinheiro; “Pinheiro de lei verga, mas não quebra!”. Para justificar, exagerar nas refeições: “Para mim tanto faz comer pouco ou muito, pois o mal – estar vai ser o mesmo”. Sobre a sobremesa depois da refeição: “Agora traz o limpa trilho”.    Não apreciava perfumes, era alérgico a eles. Costumava dizer que “Pinheiro é uma árvore que leva 100 anos para engrossar, mas que Pinheiro homem já nasce grosso”.

       Mas isto não era a realidade em relação a ele e a seus irmãos com quem convivi e em especial com seu filho Cairo, que herdou do pai a gentileza, a boa educação e a grande virtude de possuir e cultivar muitos amigos, e ser por eles muito apreciado.

      Piratini antes da atual igreja construída por Pascoal Benito Régio, italiano da cidade de Régia na Calábria, avô de Ruy Pinheiro, teve no mesmo local um templo menor que foi construído por meu tetravô  paterno José Teixeira de Mattos, natural da Freguesia da Cova Arcebispado de Braga, Portugal  um dos fundadores de Piratini como Vila dos Casais e criador do primeiro moinho de Piratini,que deu nome ao arroio do Moinho.Personagem que abordamos em nossos trabalhos:

Piratini, um sagrado símbolo farrapo. Resende-,IHTRGS/ACANDHIS,2000.

Dos Lemes da Ilha da Madeira aos Mattos, Moreiras e Bentos de Canguçu-RS.Itatiaia:ACANDHIS,2006.p.29.   

  

 

Dr Lori da Rosa Krusser, Cairo, Cel Bento e Saul Duarte no 6O º aniversário de Cairo, em Pelotas