RECORDANDO HUMBERTO PEREGRINO (1911/2003)

Humberto Peregrino nasceu em Natal em 1911. Ao lado do General Francisco de Paula Cidade, ambos patronos de cadeiras na Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB), dedicaram-se intensamente, desde tenentes à produção cultural literária militar no nosso Exército. Um guasca de Porto Alegre e um "potiguasca", na expressão de Câmara Cascudo em bilhete que nos enviou em 1971 e que assim se considerava ao saber que éramos gaúcho.

Tivemos a oportunidade de presidir sessão no Arquivo Histórico do Exército em que foi inaugurada com a sua presença, a cadeira 47 General Humberto Peregrino da AHIMTB de que era tpatrono em vida.

Entre as muitas e variadas projeções de sua vida cultural, brilhante e intensa, destaco a singular e marcante direção de Humberto Peregrino da Biblioteca de Exército de 1954/60, da qual também é o seu historiador com a obra lançada no IHGB: A Biblioteca do Exército - um capítulo da História Cultural do Brasil, na qual não figura o ano e o editor. Mas sei que foi editada pelo SENAI, por iniciativa de seu presidente nacional por 12 anos, nosso confrade Cel Arivaldo Silveira Fontes. Aliás a ele devemos a edição de nosso livro O Exército na Proclamação da Republica em 1989, obra 1º lugar em concurso da Biblioteca do Exército, mas que não seria publicada por ela. E outros escritores e entidades militares devem ao Cel Arivaldo, nosso ilustre vice presidente da AHIMTB, gratidões semelhantes. Recordo por exemplo, o saudoso confrade e amigo General Jonas Correia, centenário este ano, que teve publicado pelo Cel Arivaldo sua valiosa obra sobre Símbolos Nacionais.

Na Biblioteca do Exército Humberto Peregrino foi fiel ao espirito com que ela fora criada. Publicar obras de preferência de oficiais do Exército e manter, no Rio, uma Biblioteca de apoio aos militares do Exército.

E então estimulou o surgimento de uma geração de escritores militares, encomendado-lhes obras importantes e os apoiando com copy desk , revisão e indicações de conteúdo. E sempre preocupado em atingir o público militar jovem, cadetes, aspirantes, tenentes e capitães, como complemento as suas formações profissionais.

Seu período como Diretor da BIBLIEx 1954/60, correspondeu ao nosso último ano na Academia Militar das Agulhas e a nosso período com aspirante e tenente. Lembro que nas unidades em que servia nesta época eu era o representante da BIBLIEX encarregado de distribuir livros aos associados, tendo como estimulo receber um exemplar grátis que eu lia com grande prazer e passava adiante.

Com o objetivo de despertar e amparar novas vocações de escritores militares para alimentarem uma corrente do pensamento militar brasileiro, Humberto Peregrino criou os prêmios Tasso Fragoso, Pandiá Calógeras e Franklin Dória e muito concorridos em seu tempo, conforme sua História da BIBLIEx .Com o retorno da FEB, vitoriosa da Itália, preocupou-se em preservar a sua memória, editando diversos livros a ela relacionados como o Fontes de História da FEB, do patrono em vida de cadeira na AHIMTB, Cel Francisco Ruas Santos, que fora comandante de Companhia do Regimento Tiradentes na Itália. Esforço do General Peregrino que lhe valeu este reconhecimento do hoje também patrono de cadeira na AHIMTB, o Marechal Mascarenhas de Morais. "Que a Biblioteca do Exército continue a ser o regaço da FEB."

Na divulgação da História Militar Terrestre do Brasil destaco sua obras sobre Euclides da Cunha e Canudos, biografias dos marechais Hermes da Fonseca e Floriano Peixoto e a sua participação na Comissão de Exumação dos restos mortais do Duque de Caxias, assunto sobre o qual que muito conversamos a respeito.

Foi ajudante de Ordens dos marechais Dutra e José Pessoa. É grande biografo e talvez o maior do Marechal Hermes da Fonseca, cujo arquivo recebeu da viúva do marechal Dona Nair de Tefé, com a qual muito conversou e muito colheu para seu trabalho biográfico.

Ao tratar da vida e obra desses grandes líderes do Exército adquiriu valiosa noção do que se passava nas altas esferas do Exército.

Nosso primeiro contato indireto com o General Peregrino aqui no IHGB, não foi agradável para nós. Em 1978 apresentei a CEPHAS nosso livro editado pelo Estado- Maior do Exército, Como estudar e pesquisar a História do Exército Brasileiro. Obra ora reeditada pelo mesmo órgão e mais uma vez como um Manual Militar.

Na seção seguinte, que deve estar registrada na CHEPHAS, o General Peregrino usou a palavra e referiu indiretamente ao nosso livro citado, com uma certa mágoa, por não termos referido a sua marcante direção de BIBLIEX, de onde ele saira em meio a um desgastante incidente com autoridade militar poderosa na época.

Daí em diante passamos a nos entender e eu a compreender a grande projeção de sua obra na Direção da Biblioteca do Exército, que acabei de referir.

Certa feita fomos procurado por sua companheira que nos relatou a situação crítica de saúde do General Peregrino, decorrente de possuir enorme próstata, que necessitava uma solução urgente e não permitia mais delongas. Foi ai que procuramos o Diretor o Hospital Central do Exército, nosso amigo e hoje membro do IHGB e acadêmico da AHIMTB, General Alberto Martins da Silva, que prontamente tomou a tarefa a seu cargo, poupando o confrade de uma cansativa espera cheia de entraves burocráticos, numa repartição onde o general não era conhecido.

Depois fomos convidados com nossa equipe do Arquivo Histórico do Exército que dirigíamos, a visitar a sua Casa de Cultura São Saruê, um enorme complexo cultural privado em Santa Teresa. Lembro a alegria e a satisfação com que nos recebeu e mostrou-nos tudo! Lembro da sua notável biblioteca e de sua expressiva coleção de literatura de Cordel.

Ao final da visita nos fez deixar nossa assinatura, a carvão, numa parede, ao lado de muitos outros visitantes. E com muita alegria e satisfação e, notamos um pouco de gratidão com que se despediu de nós. O que será feito deste valioso patrimônio cultural? Tomara tenha tido destino honroso!

Parece que o estou vendo ele chegar no IHGB, para as reuniões da CEPHAS, dirigindo o seu Fusca e o ouvindo falar de sua amada terra Natal, onde possuía uma casa de praia e do mestre Câmara Cascudo. e de seus amigos de lá! Natal, terra e gente, que reverenciou em sua obra: Crônica de uma cidade chamada Natal. Natal: Ed.Clima,1989.

 

 

Claudio Moreira Bento

Sócio emérito do IHGB

CEPHAS 29 out 2003