INFORMATIVO GUARARAPES- 2013              

                        

AHIMTB/Resende
Mal.
Mário Travassos


 
Fundada em 23 de abril  de 2011
em continuidade a AHIMTB,
fundada
  em 1º Março 1996

 

 

O GUARARAPES

ÓRGÃO DE DIVULGAÇÃO DAS ATIVIDADES DA

 FEDERAÇÃO DAS ACADEMIAS DE HISTÓRIA MILITAR

TERRESTRE DO BRASIL (FAHIMTB) E DA AHIMTB/Resende

 MARECHAL MÁRIO TRAVASSOS

          CGC 0149.52/0001-09                                           www.ahimtb.org.br

 

O 81º ANO DAS OPERAÇÕES, A PARTIR DE RESENDE,
  DA AVIAÇÂO DO EXÉRCITO NO COMBATE À REVOLUÇÃO DE 1932
 NO VALE DO PARAÍBA E FRENTE MINEIRA

 

Ano 2013,  nº 22 – FAHIMTB AHIMTB/Resende  AGO.

    

 

OPERAÇÕES DA AVIAÇÃO DO EXÉRCITO, A PARTIR DE RESENDE, NO COMBATE À REVOLUÇÂO DE 1932 NO VALE DO PARAÍBA E FRENTE MINEIRA

Cel Claudio Moreira Bento - Historiador Militar e Jornalista - Presidente da FAHIMTB e da AHIMTB/Resende Marechal Mário Travassos

 

 

          Na faixa branca, posição aproximada da Pista de Pouso da Aviação do Exército durante a Revolução de 1932 ao comando do Major Eduardo Gomes, estendendo-se hoje entre o Portão Monumental e o conjunto de Piscinas.

 

          

Fonte: INCAER. História Geral da Aeronáutica v.2

         A Revolução de 1932 durou noventa e cinco dias - de 9 de julho a 3 de outubro de 1932. Resende, na maior parte des­se movimento revolucioná­rio, o de maior expressão até hoje, foi o centro de gravi­dade das operações terres­tres e aéreas que contra ela se desenvolveram em todo o Brasil.

         Sediou, o (QG) do Destacamento Exército do Leste, na Estação Ferroviá­ria, em um comboio ferroviá­rio, ao comando do General Pedro Aurélio Goes Montei­ro, que havia sido, também, o comandante militar da Re­volução de 1930. Agora di­rigia as operações na princi­pal frente, a do Vale do Paraíba, apoiado pelo grosso do Grupo de Aviação do Exér­cito, o único existente, co­mandado pelo Major Eduar­do Gomes, herói dos 18 do Forte de Copacabana (5 de julho de 1922), quando ain­da era tenente de Artilharia. O Campo do Grupo de Aviação foi, de 8 de julho a 6 de outubro, no atual Campo de Paradas da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) e que serviu de Base Aérea do Destaca­mento Resende do Grupo de Aviação que aí instalou seu QG, transferindo-o do Campo dos Afonsos  para Resende. Sua pista se desenvolvia numa reta balizada hoje entre o Portão Monumental e o Conjunto de Piscinas.

         O Major Eduardo Gomes, hoje patrono da FAB, atuou como observador em voos de ligação das tropas da Frente do Vale do Paraíba com as da Frente de Minas Gerais, da 4a Divisão de In­fantaria (4a DI). Inclusive, tomou parte no bombardeio do campo de pouso de Guará em 23 de agosto, e de um pouso noturno em campo iluminado, façanha digna de registro na época, durante a noite de 14 de agosto, tendo como piloto o legendário Tenente “Mello Maluco”. Era o Tenente Francisco de Assis Correia de Melo, que se tornou lendário por sua perícia, coragem e audácia como piloto.

         A mudança do Grupo para Resende em reforço ao Destacamento foi motivada por terem ficado provadas as inconveniências de atuar, a partir dos Afonsos, no Rio, devido a enorme distância dos objetivos e por ter, na ida e na volta, de enfrentar a travessia da Serra do Mar, com problemas de condi­ções meteorológicas adver­sas que abortavam opera­ções, além de grande desgas­te dos motores.

         O Destacamento Resen­de instalou-se em Resende no 18° dia da Revolução, iniciando a ampliação e melho­ria da pista, derrubando mangueiras do Horto Flores­tal, então administrado pela ferrovia Central do Brasil.

  

 Principais aeronaves que foram usadas por governistas e revolucionarios paulistas em 1932 nas frentes do Vale do Paraiba e Mineira. Da esquera para a direita de cima para baixo;1-WACO Vermelhinho da Aviação do Exército, modelo conservado pelo Museu Aeroespacial no Campo dos Afonsos. 2- Avião WACO igual ao anterior, mas com pintura diferente. 3-Avião MOTH. 4-Avião POTEZ5- Avião Neuport Delage. 6-Avião Curtiss Falcon. A seguir eles serão citados como presenças entre as forças governistas e revolucionárias.(Fontes: Diversas pesquisadas na Internet)

         Atuaram, com base em Resende, como comandan­tes do Destacamento, os se­guintes oficiais da Arma Aviação do Exército, que havia sido criada em 1927: 1º tenentes Joelmir Campos de Araripe Macedo, José Cândido da Silva Muricy Filho, e Capitão Henrique Dyott Fontenele. Este, foi quem am­pliou o campo de pouso ao custo de árvores importan­tes do Horto Florestal. Alertado por um resendense de que eram essências raras, assim con­solou o reclamante, segun­do nos contou e mais tarde Brigadeiro Lavenère-Wanderley (àquele tempo citado como Vanderlei): "Fique tranquilo, se estas árvores eram raras, ficarão mais ra­ras ainda".

         Foram pioneiros do Des­tacamento, além do Tenente Araripe, os tenentes Nel­son Freire Lavenére-Wanderley e Júlio Américo dos Reis. Também atuaram em Resende os tenentes José Sampaio Macedo, Francisco de Assis Correia de Melo (“ Melo Maluco)”, João Adil de Oliveira, Waldemiro A. Montezuma, Benjamin Ma­nuel Amarante, Homero Souto de Oliveira, Joaquim Tavares Libânio, Antônio Lemos Cunha, José Vicente Faria Lima, Anizio Botelho e Geraldo Aquino que, des­tacado no Campo de Marte, em São Paulo, conseguiu es­capar de ser preso, evadindo-se. Atingindo o Rio em 15 de julho, foi enviado para Resende, não tendo a mes­ma sorte sua os outros ofici­ais lá destacados, inclusive o tenente  Casemiro Montenegro.

         Estiveram eventualmen­te operando em Resende os gaúchos Rui Presser Bello, Nero Moura e outros, na fase final, como França, Capitão Alves Seco, etc. Durante os 70 dias em que o Destacamento atuou a partir de Resende, foi a fra­ção governista mais atuante na primeira e única batalha Aérea travada no Brasil, re­alizando operações aéreas pioneiras, como se verá. Nesse período, executou 665 missões de combate, em 1.043 horas de voo, além de 255 vôos de treinamento. Consu­miu 85.200 litros de gasoli­na, lançou 2.476 bombas, tirou 847 fotos aéreas, e con­sumiu 21.900 cartuchos de metralhadoras.

         Seu esforço operacional concentrou-se, em agosto, sobre formações revolucio­nárias em São José do Bar­reiro, Morro Frio, Areias, Silveiras, Cachoeira Paulis­ta, Vila Queimada e Pedrei­ras, e sobre o trem blindado revolucionário. Em 13 de agosto, o Des­tacamento Resende recebeu o primeiro caça Niuport Delage, pilotado pelo "Melo Maluco". Este era o tenente Francisco Assis Correia de Melo que foi assim apelidado por sua invulgar perícia, coragem e audácia. Mais tarde. Foto ao lado seria o Ministro da Aeronática do Presidente Juscelino Kubitschek e ambos lutaram como governistas na Revolução de 32.Melo Maluco como lendário, audaz, habil corajoso piloto da Aviação do Exército e Resende e Juscelino como Coronel Medico da Policia Militar de Minas Gerais, na Frente do Tunel da Mantiqueira ligando Passa Quatro-MG e Cruzeiro-SP.

         E foi nesse dia 13, pela madrugada, entre 01h30 e 03h00, que um audaz e ou­sado piloto revolucionário, partindo de Lorena, depois de sobrevoar o Campo de Pouso de Resende e o QG do Destacamento do Exérci­to do Leste na Estação Ferroviária de Resende, lançou três bom­bas em campos da orla resendense, só para efeito psicológico sobre a tropa e o povo. Constituindo-se assim, no 1º bombardeio noturno na América do Sul, e causou grande temor e sensação de medo aos resendenses que, no dia seguinte, fizeram romarias aos locais de impactos. Em resposta, ao amanhecer do dia seguinte, partiu de Resende uma esquadrilha que bombar­deou o Campo de Pouso em Lorena, mas não impediu que aviões revolucionários o evacuassem, ilesos, e fos­sem para São Paulo, contan­do com o ousado feito do dia anterior.

         Na noite de 14 de agos­to, a população de Resende passou por outro susto, ao divisar, à noite, aviões ilu­minados sobrevoando a ci­dade. Acreditavam ser um bombardeio mais efetivo que o da madrugada anterior, até que souberam, no outro dia, do que se tratava. Eram aviões Moth, governistas, testando o equipamento de iluminação de campanha do campo de pouso (farol e grupo eletrogêneo). O pri­meiro vôo teste foi pilotado pelo Ten Melo ("Melo Ma­luco") tendo como observa­dor o Major Eduardo Go­mes, comandante do Grupo de Aviação e, o segundo, o capitão Fontenele, então co­mandante do Destacamento Resende.

         A crônica e a memória local registram o susto que leva­ram os resendenses pensan­do tratar-se de outro bom­bardeio aéreo, mas, agora para valer! Pouco depois o campo de Resende passou a ter cober­tura antiaérea com metralha­doras recebidas. Ficou na memória da população os voos do aviões denominados Vermelhinhos. Em realidade assim eram denominados os aviões do Governo e também ficaram na memória dos resendenses as manobras ousadas de” Melo Maluco”.

         Em 22 de agosto, o espa­ço aéreo entre Resende e Queluz teria testemunhado o primeiro combate aéreo re­gistrado no Brasil, entre dois aviões governistas, pilota­dos pelos tenentes Lavenére-Wanderley e Muricy, con­tra dois aviões revolucioná­rios. Depois de se enfrenta­rem com metralhadoras, os revolucionários tomaram a iniciativa de romper o con­tato, por estarem distantes de sua base. Os governistas eram um Potez de observação e bombardeio, e um Waco com metralhadora, pilotado pelo Tenente Lavenére, que socorreu o Tenente Muricy atacado por um caça Niuport Delage e um Waco. Consi­deramos este, salvo melhor juízo, o primeiro combate aéreo no Brasil, pois houve reação recíproca, ao contrá­rio do ataque sofrido pelo Potez 25 TOE A-l 17 na tar­de de 8 de agosto, na região de Buri, por três aviões go­vernistas. Sem reação, atin­gido seu radiador, conseguiu aterrar em território sob con­trole governista sem danos pessoais, mas com perda to­tal do equipamento. Este Potez é consi­derado o primeiro avião aba­tido na América do Sul em operação aérea. Foi uma per­seguição sem reação, face à superioridade revolucionária ,liderada pelo mais tarde Bri­gadeiro Lysias Rodrigues, nosso primeiro mestre em Geopolítica do Brasil, com a obra Geopolítica do Brasil, para iniciantes Ele foi uma legenda na aviação dos Gaviões de Penacho, apelido dos pilotos revolucionários.

         Em 5 de julho um Waco, pi­lotado pelo Tenente Bote­lho, tendo como observador o Tenente Balloussier, ao aterrar, capotou. Chegava de um reconhecimento de Arei­as, Queluz e Morro Frio. Fi­cou indisponível.

         Em 9 de agosto, um Potez, pilotado pelo Tenente Araripe, tendo como obser­vador o Tenente Montezuma, foi atingido por balas revo­lucionárias, em Silveiras. Em 19 de agosto, um Moth pilotado pelo Tenente Amarante, tendo como obser­vador o Tenente Muricy que­brou o trem de pouso contra um barranco ao aterrar.

         Em 25 de agosto, o Des­tacamento Resende recebeu 4 Waco CSO (que se popularizam como "vermelhi­nhos") adquiridos nos EUA, sendo um deles pilotado pelo Tenente Nero Moura, 12 anos mais tarde coman­dante do 1º Grupo de Caça (o Senta Pua), na Itália, mi­nistro da Aeronáutica e atu­al patrono da Aviação de Caça da FAB. Vinham equi­pados com metralhadoras e porta-bombas, com capaci­dade de bombardeio picado. Com esse avião ele tomou parte no bombardeio de Lavrinhas, em 29 de agos­to.

         Em 30 de agosto, foi constituído o Destacamento de Aviação de Pouso Alegre-MG, subordinado ao Grupo Misto de Aviação, sendo destacados, de Resen­de para lá, os tenentes Arari­pe (chefe), Júlio e Nero Moura.

         No início de setembro, o Major Eduardo Gomes fez ligações de coordenação entre os destacamentos de Resende e o de Pouso Alegre, que apoiava a 4a DI de Juiz de Fora, no Vale do Paraíba mineiro. Foi piloto o Tenente Lavenére-Wanderley. Hoje são patro­nos da Força Aérea Brasilei­ra (FAB) e do Correio Aé­reo Nacional (CAN), e am­bos foram ministros da Ae­ronáutica. O último, histori­ador da FAB, tem obra prefaciada pelo primeiro, a qual  mencionamos nas fon­tes consultadas.

         Privamos com o Briga­deiro Lavenére nos IGHMB e IHGB, do qual guardamos excelente recordação. Lem­bro que em tom de brinca­deira o convidamos para uma palestra no Arquivo Histórico do Exército, que dirigíamos, dizendo-lhe: "Confrade, o Arquivo His­tórico do Exército está ne­cessitando de apoio aéreo". E ele prometeu comparecer, pois tinha grande orgulho de sua origem como artilheiro do Exército. Nesse ínterim, ocorreu sua internação ur­gente em São Paulo, onde veio a falecer. Não se esque­ceu de, nesse momen­to, encarregar um familiar de telefonar-me, desculpando-se de não poder compa­recer. Deixou muita sauda­de entre seus confrades his­toriadores, que lembram o seu carinho e devoção pela His­tória da Aeronáutica, que ajudara a escrever, com modés­tia incrível, encobrindo sua participação destacada. Em sua homenagem, criamos em Santos Dumont-MG a Delegacia da FAHIMTB Ten Brig Nelson Freire Lavanére Wanderley, por sua ligação com Santos Dumont, através de seu casamento com Dona Sofia, da família do Patrono da Aeronáutica.

         Em 8 de setembro, mais  3 Waco CSO reforçaram o Destacamento Resende e tomaram parte no apoio aé­reo às conquistas de Silvei­ras, Pinheiros e Cru­zeiro, em 13 de setembro, e Cachoeira Paulista em 14 do mesmo mês.

         A 11 de setembro pousaram no campo de Resende 2 aviões Curtiss Falcon apreendidos dos re­volucionários, o que causou sensação entre curiosos ci­vis e militares de Resende, que fizeram romaria ao cam­po de pouso. Um acidente antecedeu a chegada do Destacamento em Resende. O Potez TOE A 216 pilotado pelo Tenen­te Faria Lima, ao aterrar com os tenentes Anízio e Aquino, quebrou o trem de pouso ao entrar numa vala, tendo de ser levado, para o Rio de trem. Foi em 27 de julho.

         Em 16 de setembro, o Destacamento Resende re­cebeu mais 3 Waco CSO de reconhecimento, equipa­dos com dispositivos foto­gráficos e rádio. Em 17 de setembro, recebeu mais 3 WACO e passou a usar Cruzeiro como Campo de Pouso Avan­çado.

         Em 20 de setembro, o Campo de Pouso de Lorena passou a ser usado como Campo Avançado do de Resende. Ainda em 20 de setembro, dois aviões do Destacamento de Pouso Alegre foram quei­mados no solo, por bombar­deio da aviação revolucioná­ria, sendo seus pilotos os Tenentes França e Guilher­me.

         Em 21 de setembro, avi­ões do Destacamento de Aviação de Resende bom­bardearam os campos de pouso revolucionários de Guará e Taubaté. Esta última é hoje sede do Comando de Aviação do Exército, a base de helicópteros.

         No dia 23 de setembro, o Pelotão de Bombardeio, com 5 aviões, do Destaca­mento Resende bombar­deou, pela manhã e pela tar­de, o Campo de Guaratingue­tá (no Hipódromo) sendo que, no último, foi atingido e destruído no solo o Potez TOE, dos revolucionários. Foram pilotos os Tenentes Macedo, Lavenére-Wander­ley, Muricy, “Melo Maluco” e Araripe. O último, à tarde, conduziu, como observador, o Major Eduardo Gomes, comandan­te do Grupo Misto de Avia­ção, baseado em Resende, no hoje Campo de Paradas da AMAN. Esse pelotão bom­bardeou, pela terceira vez, o campo de Guará, no Hipó­dromo, em 24 de agosto. Ainda no dia 23, o pilo­to Capitão Alves Seco, ten­do como observador o te­nente Amarante, bombarde­aram o Campo de Guará, com o Waco CSO 18.

         De 23 a 26 de setembro, tiveram lugar diversos voos de ligação do Campo de Resen­de com seu Campo Avança­do em Lorena, sendo que, em 25 desse mês, o tenente “Melo Maluco”, partindo de Lorena, realizou um reconhecimento aéreo noturno das posi­ções revolucionárias em Guará.

         Em 26 de setembro, ocorreu o bombardeio de Aparecida, a partir do Campo Avançado de Lorena, em avião Waco 19, pilotado pelo tenente Lampert, tendo como observador o Tenente Montezuma e, ataques a Guará - Aparecida, à bom­ba, e com reconhecimento, pelos Waco 14 e 19, dos te­nentes Loiola e Amarante, em horários diferentes, e re­conhecimento fotográfico pelo Tenente Araripe (futu­ro Ministro da Aeronáutica) com o Waco 21, tendo como observador o Tenente Balloussier. O Waco 18, pilota­do pelo Tenente Lampert executou uma missão de regulação de tiro de Artilha­ria.

         O dia 27 foi movimen­tado. Aviões partem de Re­sende e executam missões de reconhecimento armado sobre Guaratinguetá e Apa­recida e aterram nos campos avançados de Cruzeiro e Lorena. São cerca de 14 missões de reconhecimento e bombardeio. Neste dia caiu, na decola­gem, por perda de força, um Moth pilotado pelo Tenente Rui Presser Belo, tendo como observador o Coronel Alzir.

         O avião ficou inutilizado. O Coronel Alzir, pilotando ou­tro Moth, decolou de Resende com destino ao Campo dos Afonsos, tendo como observador o Capitão Aroldo. Em virtude do mau tempo, o Moth se chocou com a Serra de Itaguaí, com perda total do equipamento, perecendo o observador, Tenente Aroldo, e ficando gravemente ferido o Coronel Alzir.

         No dia seguinte, decola­ram de Resende 6 Waco e 1 Moth para localizar o Moth sinistrado, do qual não se possuíam informações em Resende. Ainda nesse dia, decola­ram, do Campo Avançado de Lorena, 6 aviões para reco­nhecimentos com ataques a bomba sobre alvos em Guará-Aparecida, consumindo-se 30 bombas de 25 libras, segundo o Diário de Campanha.

         Em 29, correu a notícia do início das negociações para a cessação das hostili­dades. Nesse dia, tiveram lugar quatro missões de reconhe­cimento, inclusive fotos, e 11 voos de treinamento.

         Dia 30, intensificam-se reconheci­mentos, com ataques a bom­ba sobre alvos em Apareci­da e Guará. Foram realiza­das 31 missões. O Major Eduardo Gomes, no Waco 19, pilotado pelo tenente Lavenére-Wanderley, coor­denou as atividades dos des­tacamentos Resende e Pou­so Alegre, fazendo o voo de ligação Pouso Alegre- Caxambu- Cruzeiro- Resende. Em Iº de setembro desen­volvem-se negociações de paz. Intensificam-se voos de reconhecimento sobre a con­centração revolucionária em Guará.

         No dia 2 de outubro, conhecida a cessação das hostilidades, o Destacamen­to de Aviação de Resende acompanha o movimento de evacuação das forças revo­lucionárias, sendo realiza­das 8 missões nessa tarefa.

         Dia 3 de outubro, foram suspensas as hostilidades e só houve um voo de reco­nhecimento sobre os eixos de Retirada para prevenir congestionamentos.

         No dia 6 de outubro, os aviões do Destacamento Resende começaram a se retirar para o Campo dos Afonsos só permanecendo três, para uma emergência.         

         O Diário de Campanha do Destacamento Resende do Grupo de Aviação do Exército, da Diretoria de Aviação, assinalou:

"A organização da Aviação Mili­tar (do Exército) era a mais precária que se possa ima­ginar ao estourar a Revolu­ção de 32". E, prossegue: "falta, de recursos pessoais e materiais e de organiza­ção principalmente".

         Ao final da revolução foi reconhecida a ação da Aviação Militar, que mante­ve a superioridade aérea na Frente do Vale do Paraíba, sem nenhuma perda huma­na ou material em combate, nos seguintes termos, em documento oficial:

"...A Aviação Militar se lançou galhardamente para a frente e, com verdadeira elegância, soube sofrer, lu­tar e vencer..." Para esta útil atuação não prendeu-se à teoria, idealizada para recursos que não logrou reunir. Aceitou as situações como elas se apresentaram, resolveu-as com os recur­sos existentes e dentro das circunstâncias ambientais em que se desenvolveram. Assim, terminou a campa­nha gozando a confiança das armas irmãs. E o resul­tado obtido não foi sem sa­crifícios..."

 

A Aviação Constitucionalista

         ‘A aviação que combatia do lado de São Paulo era chamada de Aviação Constitucionalista. Os aviões de que dispunha pertenciam à Aviação Militar. Alguns já se achavam no Campo de Marte quando a Revolução de 1932 teve início. Outros foram levados em voo do Campo dos Afonsos, por oficiais que aderiram à Revolução.

         No início da Revolução, os aviões de emprego militar de que dispu­nham os paulistas eram: os Potez TOE. A-116 e A-212, os Wacos CSO C-2 e C-3 e o avião de caça Nieuport Delage K-421. Os 2 Potez e o Waco C-2 já se achavam destacados no Campo de Marte, quando defla­grou a Revolução.

         O Waco C-3 foi levado para São Paulo, no dia 21 de julho, pelo 1º Ten Tenente Arthur da Motta Lima Filho que, simulando a realização de um voo de treinamento local, rumou para São Paulo, levando, como passagei­ro, o soldado da Escola de Aviação Militar José Cesar Falcão, que desco­nhecia as intenções do piloto.

         O Nieuport Delage K-421 foi levado para São Paulo, na segunda quin­zena de agosto, pelo Capitão Adherbal da Costa Oliveira, que, iludindo a vigilância, decolou do Campo dos Afonsos e foi aderir à Revolução. Além dos aviões acima mencionados, os revolucionários paulistas possuíam um Fleet e um Moth de instrução primária e alguns aviões civis que eram utilizados ora na instrução, ora como aviões de ligação na Zona do Interior.    Os outros oficiais da Aviação Militar, que tomaram parte na Revolução, deslocaram-se do Rio de Janeiro, clandestinamente, por via marítima.

         Os seguintes oficiais da Aviação Militar do Exército participaram da Revolução de 1932: Major Ivo Borges, que ficou como Comandante das Unidades Aéreas da Aviação Constitucionalista, o Major Lysias Augusto Ro­drigues, que ficou como comandante do Grupo de Aviação Constituciona­lista, Capitão Adherbal da Costa Oliveira, Primeiros-Tenentes José Angelo Gomes Ribeiro, Orsini de Araujo Coriolano, Arthur da Motta Lima Filho e Nicanor Porto Virmond.

         A grande maioria, porém, das missões aéreas foi realizada pelo Major Lysias, Capitão Adherbal e Tenentes Gomes Ribeiro e Motta Lima. Vários oficiais da Força Pública de São Paulo e civis participaram das operações aéreas, quer como pilotos, quer como observadores.

         O Campo-base da Aviação Constitucionalista, na cidade de São Paulo foi o Campo de Marte que teve, na ocasião, as suas instalações muito ampliadas; os hangares existentes na orla leste, próximo ao Corpo da Guar­da, foram construídos durante a Revolução de 1932.

         Os revolucionários paulistas aproveitaram sempre a sua posição central, em relação às três frentes de combate para, com os mesmos aviões e pilotos, fazerem incursões de surpresa, ora numa frente, ora noutra. Durante o mês de agosto, os revolucionários compraram, na fábrica de montagem da Curtiss Wright Corporation, instalada no Chile, 9 aviões de observação e bombardeio Curtiss "Falcon", tipo O-IE. Estes aviões, de construção extremamente robusta, equipados com motor Curtiss D-12, de 435 HP, com velocidade máxima de 224 km/h, capazes de realizar "piques" verticais de bombardeio, com raio de ação de 1.000 quilômetros e teto de 4 600 metros, foram os aviões militares mais aperfei­çoados, entre os que participaram da luta aérea, durante a Revolução de 1932.

         No começo de setembro, os referidos aviões Curtiss "Falcon" começa­ram a ser transladados em voo, um a um, do Chile para o Brasil, por pilotos norte-americanos e chilenos. Os dois primeiros aviões foram entregues aos pilotos brasileiros na cidade de Encarnación, no Paraguai, na fronteira com a Argentina. Um terceiro avião acidentou-se na Argentina, próximo à fron­teira com o Chile. Um quarto avião acidentou-se na aterragem em Concep­ción, tendo sido apreendido pelas autoridades paraguaias. Daí para diante os aviões "Falcon" começaram a ser levados até a cidade de Campanário, no sul de Mato Grosso, onde eram entregues aos pilotos revolucionários.

         Ao chegar em São Paulo, os aviões "Falcon" ainda tinham que ser armados com metralhadoras e porta-bombas. Um dos aviões ficou inutiliza­do por ter a sua hélice sido perfurada por tiros de metralhadora, numa experiência de sincronização. A primeira vez que os aviões Curtiss "Falcon" foram empregados foi a 20 de setembro, no bombardeio do campo de aviação de Mogi-Mirim. Em 24 de setembro, uma semana antes do término da Revolução, a Aviação Constitucionalista sofreu a sua primeira perda de pessoal em com­bate: o Primeiro-Tenente José Angelo Gomes Ribeiro, como piloto, e o civil Dr. Mário Machado Bittencourt, como observador, num avião Curtiss "Fal­con", foram abatidos pelo fogo de armas antiaéreas, quando atacavam o cruzador "Rio Grande do Sul", em Santos.

Fontes consultadas

AVIAÇÃO CONSTITUCIONALISTA. 50 anos de textos - Gaviões de Penacho contra Vermelhinhos (Consultar na Internet ‘Vermelhinhos’).

BASTOS, Expedito Carlos Stephani. Aviação Constitucionalista de 1932. Luta aérea nos ceus do Brasil. www.defesa.ufif.br.

BENTO, Cláudio Moreira, Cel. Uma História Militar do Vale do Paraíba. Volta Redonda, 1996. (Conferência no XIII Simpósio de História do Vale do Paraíba).

(_____).Resende: Cenário do único combate aéreo no Brasil. O Ponte Velha. Resende: jun/1996.

(_____).Resende: alvo do 1° bombardeio aéreo noturno na América do Sul. O Ponte Velha. Resende: ago/1996. (Focaliza bombardeio de Resende na madrugada de 13 de agosto de 1932, por um avião revolucionário.

(_____).

BOPP, Itamar. Resende 1848-1948. São Paulo: 1975, p. 248-256 (Revolução 1932).

DONATO, Hernani. História da Revolução de 1932. São Paulo, 2002.

INSTITUTO HISTÓRICO-CULTURAL DA AERONÁUTICA. História Geral da Aeronáutica Brasileira. (Revolução 1932). Rio de Janeiro: INCAER, 1990. p. 339-363.

INCAER. Diário de Campanha do Destacamento de Aviação dc Resende do Grupo de Aviação da Diretoria de Aviação do Exército em 1932.

LAVENÉRE-WANDERLEY, Nelson Freire, Ten-Brig Ar. História da Força Aérea Brasileira. Rio de Janeiro: MAer, 1975. 2a ed. (Revolução de 1932), p.113-123.

 

"Para alimentar o cérebro de um Exército na paz, para prepará-lo para a eventualidade indesejável de uma guerra, não existe livro mais fecundo em meditações e lições do que o da História Militar."