INFORMATIVO GUARARAPES- 2013              

                         AHIMTB/Resende
Mal.              Mal. Mário Travassos


 
Fundada em 23 de abril  de 2011
em continuidade a AHIMTB,
fundada
  em 1º Março 1996

 

O GUARARAPES

ÓRGÃO DE DIVULGAÇÃO DAS ATIVIDADES DA

 FEDERAÇÃO DAS ACADEMIAS DE HISTÓRIA MILITAR

TERRESTRE DO BRASIL (FAHIMTB) E DA AHIMTB/Resende

 MARECHAL MÁRIO TRAVASSOS

O CENTENÁRIO DA REUNIÃO DE FUNDAÇÃO DA REVISTA A DEFESA NACIONAL NO CLUBE MILITAR EM 20 DE SETEMBRO DE 1913

 

          CGC 0149.52/0001-09                                           www.ahimtb.org.br

 

Ano 2013,  nº13 – FAHIMTB AHIMTB/Resende  FEV.

    

 

    

 Cel Cláudio Moreira Bento - historiador militar e jornalista.

Presidente da FAHIMTB e AHIMTB/Resende Marechal Mário Travassos

 

  

 Óleo em tela, de Álvaro Martins, representa a reunião de fundação, em 20 de Setembro de 1913, no Clube Militar, da revista A Defesa Nacional. O original decora o Gabinete do Comandante do Exército. Este óleo figura em preto e branco em nosso artigo Reunião no Clube Militar para a fundação da revista A Defesa Nacional em seu nº 715 e, a cores, na capa da revista nº 750, mas com data de fundação errada, como sendo em 10 de outubro de 1913. Ela ilustra a capa do livro Soldados da Pátria - História do Exército Brasileiro 1889-1937 do historiador Frank McCann. A ilustração a seguir representa os fundadores como o pintor representou.

  

 

 Identificação da posição no óleo da página anterior em que o pintor colocou os 13 oficiais fundadores da revista A Defesa Nacional (Fonte: Artigo do autor sobre esta reunião de fundação na revista nº 715 à página 165)

 

Foto de painel na sede da Revista a Defesa Nacional, no Palácio Duque de Caxias no Rio de Janeiro, dos 12 fundadores e mantedores da revista e mais um mantenedor que ingressou no grupo pouco depois. Eles são descritos no texto a seguir, de 1 a 13, e na seguinte ordem: de cima para baixo, da esquerda para a direita: Klinger, Leitão de Carvalho, Mário Clementino, Euclydes Figueiredo, Paula Cidade, Taborda, Parga Rodrigues, Mares Maciel, Epaminondas Lima e Silva, Souza Reis, Jorge Pinheiro, e Amaro Azambuja Vilanova (Fonte: Capa A Defesa Nacional nº 709 set/out 1983).

 

  


 

UMA REUNIÃO HISTÓRICA NO CLUBE MILITAR, EM 20 SETEMBRO DE 1913

 A pintura o óleo focalizada e hoje no Gabinete do Comandante do Exército é de autoria do pintor Álvaro Martins e foi elaborada com apoio em nossas pesquisas e orientação, como Presidente da Comissão de Pesquisa de História Básica da revista A Defesa Nacional, criada em 10 de outubro de 1983, pela Cooperativa Militar Editora e Cultura Intelectual, a pedido de seu Diretor o Cel Inf QEMA Aldílio Sarmento, também Diretor da BIBLIEx.

O óleo procurou perenizar a histórica reunião em que ficou decidida a criação de A Defesa Nacional, em 20 de setembro de 1913, em de­pendência do Clube Militar, por 12 jovens oficiais idealistas, fundadores e mantenedores da mesma, apelidados à época de "jovens tur­cos" e designados em sociedade de "patentes novas" do Exército, segundo Pedro Calmon. A Reunião foi documentada em Ata nº1, adiante publicada.

Somente 20 dias depois, em 10 de outubro de 1913, da data que o grupo consagrou como a fundação da revista, é que teve lugar a reunião na Papelaria Macedo, à Rua da Quitanda 74, onde os fundadores receberam o primeiro número editado, o nº 1, com a data daquele dia. Nessa Reunião, segundo Francisco de Paula Cidade, os 12 fundadores presentes "adota­ram a filhinha recém-nascida".

O grupo fundador era constituído de seis capitães, cinco 1º tenentes e um 2º tenente. Pertenciam às seguintes armas: cinco de Infan­taria, seis de Artilharia e somente um de Cava­laria. A Engenharia não se fez representar, pois, criada em 1908, estava em fase de estru­turação.

Do grupo inicial, onze eram egressos da Escola Militar da Praia Vermelha, sendo que nove com curso no Exército Alemão de 1910-1912. Somente Paula Cidade era egresso da Escola de Guerra de Porto Alegre, que substituiu a Escola Militar da Praia Vermelha, fechada em 1904 e extinta em 1905. As idades variavam de 29 a 42 anos. Cinco se situavam entre 29-32 anos, quatro entre 31-37 e três entre 40-42.

O grupo era originário dos seguintes Esta­dos: quatro do Rio Grande do Sul, um do Paraná, quatro do Rio de Janeiro, um de Ala­goas, um do Ceará e um do Maranhão. Pouco mais tarde, juntou-se ao grupo fundador e mantenedor inicial, como mante­nedor, o 2º Tenente de Infantaria José dos Mares Maciel da Costa, de São Paulo, passando o grupo ao número de 13 mantenedores, dos quais só 12 fundadores.

Os "jovens turcos" identificaram-se em torno dos objetivos de fundação de uma revis­ta de assuntos militares, em aulas de jogo de guerra, patrocinadas na 9a Região de Inspeção Permanente (atual 1a Região Militar) por seu comandante, General-de-Divisão Antônio A. de Souza Aguiar.

Explicação do quadro da fundação da Defesa Nacional

Sentados, de forma paritária e informal, a alegoria mostra, com o auxílio da ilustração de silhuetas numeradas, como o artista concebeu os 13 mantenedores, com apoio em fotos dos mes­mos existentes na sede da revista, no Palácio Duque de Caxias.  

 São os seguintes os 13 sócios mantenedo­res, cuja memória hoje é cultuada com muito respeito e admiração por todos quantos no Brasil, em especial no Exército, têm se devotado a problemas relaciona­dos com a Defesa Nacional e ao desenvolvi­mento de nossas Forças Armadas, à altura do destino de grandeza que o povo brasileiro vem lutando para construir:

1) 1º Ten Art Bertoldo Klinger. Nasceu em Rio Grande, RS, em 1º de janeiro de 1884. Foi um dos três idealizadores da revista, em via­gem marítima de retorno ao Brasil de Curso no Exército Alemão, e um dos três primeiros redatores. Era o mais moço do grupo. Foi elei­to, por unanimidade, Presidente de Honra e redator-chefe. Representava a tropa, servindo no 1º Regimento de Artilharia. Foi o recor­dista em colaborações à revista nos mais varia­dos assuntos. Atingiu o posto de General-de-Brigada, na Ativa (7 de maio de 1931). Sobre ele, já esquecido, escrevemos o artigo Centenário do General Bertoldo Klinger, co-fundador da revista A Defesa Nacional em seu nº 711,1984, jan/fev, p.5/16. Com seu depoimento foi possível em grande parte produzirmos o livro Escolas Militares de Rio Pardo 1859-1911. Porto Alegre: AHIMTB/IHTRGS/Gênesis, 2005, em parceria com o Cel Inf EM Luiz Ernani Caminha Giorgis, presidente da AHIMTB/RS, Academia Gen Rinaldo Pereira da Câmara.

2) 1º Ten Inf Estevão Leitão de Carvalho. Nasceu em Alagoas, em 6 de abril de 1881. Foi o lançador da idéia da revista em viagem marí­tima, de retorno ao Brasil, de curso no Exérci­to Alemão, e um dos seus três primeiros re­datores. Escreveu sobre assuntos ligados à In­fantaria. Foi chefe de escól. Comandou a 3a Região Militar, com papel destacado nas ma­nobras de Saican, RS, durante a 2a Guerra Mundial.  Foi representante do Brasil, nos EUA, na Comissão Mista de Defesa Brasil-EUA que ajudou a concretizar a cooperação do Bra­sil no esforço de guerra aliado, através em especial da FEB. Atingiu o posto de General-de-Divisão na Ativa (24 de maio de 1940). Foi historia­dor destacado do IGHMB e do IHGB. Sintetizou sua vida e obra o acadêmico e vice-presidente da AHIMTB, coronel Arivaldo Silveira Fontes, ao inaugurar cadeira da hoje FAHIMTB, em homenagem ao General Estevão de Carvalho. Cadeira que teve como ocupante o Gen Ex Paulo César de Castro, ex-Cmt da ECEME e hoje tem por titular o Cel Antonio Augusto Vianna de Souza, ex-comandante do CMPA.

A Oração do Cel Arivaldo está publicada na seguinte obra por ele organizada AHIMTB - posses de acadêmicos 1996-1997. Brasilia: SENAI, 1998. p. 51/60. Ao historiador militar Estevão Leitão de Carvalho muito está a dever o IHGB em relação à sua moderna sede, por haver intermediado um empréstimo da CEF entre o seu presidente no IHGB, Dr. Pedro Calmon, e o seu ex-instruendo e, depois Presidente da República General Emílio Garrastazu Médici. Seu precioso arquivo pessoal foi doado pela família ao acadêmico General Médico Alberto Martins da Silva, em Brasília. O General Leitão de Carvalho doou seus livros à Biblioteca da AMAN e presidiu por 20 anos a Fundação Osório, dedicada à educação de órfãs de militares das Forças Armadas.

3) Cap Inf Mario Clementino de Carva­lho. Nasceu no Rio de Janeiro, em 7 de maio de 1876. Formou-se na Escola Militar da Praia Vermelha. Era Secretário do Clube Militar na época. Autor da idéia do nome da revista, como síntese dos objetivos da mes­ma. Foi o redator dos dois primeiros editoriais e, por largo tempo, professor da Escola Mili­tar do Realengo. Comandou como coronel, posto que atingiu na Ativa. Era muito estimado por seus alu­nos no Realengo. É patrono de cadeira na FAHIMTB. Desenvolvemos seu currículo ao final, como homenagem da FAHIMTB.

4) 1º Ten Cav Euclydes de Oliveira Figueiredo. Nas­ceu no Rio de Janeiro, em 12 de novembro de 1883. Foi aluno interno do Colégio Militar do Rio de Janeiro, 1896-1901. Cursou Cavalaria no Exército Alemão em 1911-12, sendo o único representante da nobre Arma no grupo e no 1º Regimento de Cavalaria (hoje Dragões de Brasília). Atuou no Contestado, e mais tarde chefiou o Curso de Cavalaria da históri­ca Missão Indígena da Escola Militar do Rea­lengo. Colaborou em assuntos ligados à Cava­laria. Comandou o 1º RC, atual Dragões da Independência, que foi levado para Brasília por seu filho Cel João Baptista de Oliveira Figueiredo. E também a 1a Brigada de Cavalaria, em Alegrete e a 2a Divisão de Cavalaria em Uru­guaiana, como coronel. Comando mais tarde exercido por seus filhos generais Euclides e Diogo de Oliveira Figueiredo. Abordamos a sua vida militar na obra, em parceria com o Cel Luiz Ernani Caminha Giorgis, 2ª Brigada de Cavalaria Mecanizada - Brigada Charrua. Porto Alegre: Metrópole/AHIMTB/IHTRGS, 2007. p. 123/125. Atingiu, na reserva, o posto de General-de-Divisão.

5) 2º Ten Inf Francisco de Paula Cidade. Nasceu em Porto Alegre, em 22 de dezembro de 1883. Foi secretário da revista. Havia par­ticipado em 1910 da fundação e dire­ção da Revista dos Militares1910/1922, em Porto Alegre. Era o mais moderno e o único egresso da Es­cola de Guerra de Porto Alegre. Comandou unidades de Infantaria em Corumbá e Belo Horizonte, a ID/9 e a 8a Região Militar, em Belém, como General- de-Brigada. Foi juiz mi­litar da FEB. Infante de escol, historiador e geógrafo militar dos mais fecundos do Exército, é hoje patrono de cadeira no IGHMB, que foi por nós ocupada, e da FAHIMTB. Sobre sua vida e obra escrevemos artigo na revista em seu nº 709, set/out 1983 às p.13 /35 intitulado “Paula Cidade, um soldado a serviço do progresso do Exército”, no qual levantamos toda a sua obra literária. Sua biblioteca foi entregue à Biblioteca da AMAN. Foi o introdutor no Realengo, por decisão de seu comandante Cel José Pessoa, do ensino de Geografia Militar, tendo produzido a valiosa obra Notas de Geografia Militar sul-americana. Rio de Janeiro: Escola de Realengo, 1934 1ª ed e pela BIBLIEx em 1942, 2ª ed. Obra que abordava o Terreno, um dos fatores da decisão militar a nível de América do Sul e que foi muito,apreciado pelos exércitos de países irmãos.

6) 1º Ten Art Brasílio Taborda. Nasceu em 20 de maio de 1877, no Paraná. Foi cola­borador da revista da qual mais tarde se tor­nou redator-chefe. Chegou a ser mobilizado durante dois meses no período da I Guerra para lutar na Europa. Atingiu o generalato na Ativa, tendo comandado a 8a Região Militar, em Belém. Foi um dos três oficiais que idealizaram a revista em viagem marítima de retor­no ao Brasil, de curso no Exército Alemão.

7) 1º Ten Art José Pompeu de Albuquer­que Cavalcanti. Nasceu em 11 de março de 1879, no Ceará. Foi destacado colaborador em assuntos relacionados com tiro de Artilha­ria. Também representava a tropa, o 1º Re­gimento de Artilharia. Comandou a 9a Região Militar em Mato Grosso. Depois atingiu o ge­neralato. Ligou-se sentimentalmente à A Defe­sa Nacional.

8) Cap Art Cezar Augusto Parga Rodri­gues. Nasceu em 1 de dezembro de 1871. Foi colaborador assíduo da revista, de capitão a general, sobre assuntos de Artilharia, virtudes militares, remonta e profissionalismo militar. Atingiu o posto de General-de-Divisão, tendo comandado o 1º Distrito de Artilharia de Costa, a 1a Brigada de Artilharia Anti-Aérea e a 3a Região Militar.

9) 2º Ten Inf José dos Mares Maciel da Costa. Nasceu em 1 de setembro de 1877, em São Paulo. Não participou da fundação da re­vista, embora esta o represente no quadro, em homenagem aos seus serviços e sacrifícios por suas idéias, punido que foi disciplinarmente em 1915, junto com Klinger e Pompeu Caval­canti, estes reincidentes, no célebre incidente gerado pelo número da revista de 10 de de­zembro de 1915 que publicou o artigo "Exa­me do Batalhão", no qual denunciavam uma farsa na instrução, lesiva à operacionalidade do Exército e contado por Paula Cidade em Síntese de três Séculos de Literatura Militar Brasileira. Maciel da Costa servia no 52º BC. Como capitão transferiu-se para a Intendência de Guerra, tendo falecido em Porto Alegre. Fazia parte dos treze mantenedores, mas não dos doze fundadores. E incluído no quadro alegórico como homenagem da revista.

10) Cap Epaminondas de Lima e Silva . Nasceu em 26 de novembro de 1872 no Rio Grande do Sul. Cursou Artilharia no Exército Alemão. Como major, foi presidente e redator-chefe da revista. Atingiu o posto de coronel, tendo comandado o Grupo de Ar­tilharia de Montanha e a 9a Região Militar. Era ligado por laços de parentesco ao Duque de Caxias - Patrono do Exército e da FAHIMTB e AHIMTB filiadas. Foi chefe do Curso de Artilharia da "Missão Indígena" da Escola Militar do Realengo.

11)    Cap Int Joaquim de Souza Reis. Nas­ceu em 2 de novembro de 1881, no Rio de Janeiro. Cursou a Infantaria no Exército Ale­mão. Foi um dos três primeiros redatores da revista. Integrou o 58º Regimento de Caçado­res de Niterói, no Contestado. Faleceu como major, em 7 de agosto de 1924, deixando duas filhas de seu consórcio com a alemã Vali Van der Kilen. Foi punido no incidente de crítica ao "Exame de Batalhão", quando foi substituí­do por Maciel da Costa na redação, por ter sido transferido para o Sul, sem nenhuma li­gação com o incidente.

12) Cap Art Francisco Jorge Pinheiro. Nas­ceu em 25 de março de 1873. Cursou a Arti­lharia no Exército Alemão. Foi redator da re­vista. Comandou a 4a Região Militar em Juiz de Fora de 1930-32, sendo transferido para a reserva como General-de-Divisão, em 25 de no­vembro de 1933.  Segundo o General Lyra Tavares, Jorge Pi­nheiro é o autor da letra da Canção da Arti­lharia, colocada sobre a música da Canção da Infantaria da Alemanha, com ritmo ou cadên­cia lenta.

13) Cap Inf Amaro de Azambuja Vilanova. Nasceu em 18 de abril de 1879 no Rio Grande do Sul. Cursou a Artilharia no Exército Ale­mão. Colaborou com diversos assuntos e entre eles "Um combate aéreo na Frente Sul no iní­cio da Revolução Paulista de 32". Atingiu o posto de General-de-Brigada, tendo comanda­do a 7a Brigada de Infantaria do seu tempo.

PROJEÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA

    A revista A Defesa Nacional  foi criada no contexto da Reforma Militar 1898-45 e, na Presidência da República do Marechal Hermes da Fonseca o seu grande artífice e dínamo de 1904-1914, como comandante da Escola de Aplicação do Realengo e do Distrito Militar, atual 1a Região Militar, Ministro da Guerra e Presidente da República.

 Das múltiplas e significativas proje­ções históricas da revista registre-se:

 - A relevante contribuição para a consoli­dação da revolução cultural do Exército, de­sencadeada pelo Regulamento de Ensino de 1905, ponto de inflexão do bacharelismo que vogorava desde 1874, para o profissionalismo militar que até hoje vigora.

  - Haver cristalizado e suportado a corren­te do pensamento militar brasileiro que con­tribuiu para orientar as preocupações do Exér­cito para a sua operacionalidade, atualização e modernização, circunstâncias que ajudaram a arrancar o Exército dos ultrapassados pa­drões operacionais revelados em Canudos, no sertão da Bahia, em 1897, inferiores aos da Guerra do Paraguai, aos notáveis  revelados pela FEB, na Itália, em 1944-45.

  - Haver contribuído para produzir uma geração de escritores militares que se torna­ram notáveis nos mais variados setores da pro­blemática relacionada com a Defesa Nacional, em todos os seus níveis.

Constatar isto é obra de simples verifica­ção dos índices de autores e assuntos  de cada número  em 100 anos de existência. Na falta de um índice geral da mesma que facilitaria sobremodo esta verificação. Pois por suas pá­ginas, desde 1913, desfilou expressiva parcela de inteligência nacional, civil e militar, com contribuições as mais diversas, abordando os problemas nacionais mais relevantes, muitos, inclusive, em caráter pioneiro. Abordagens hoje sepultadas em números das revistas por falta de um indice geral de autores e assuntos e mesmo por falta de uma colocação digitalizada da revista à diposição, na Internet, dos alunos de nossas escolas militares para a elaboração de suas monografia, dos historiadores, pensadores e planejadores do Exército e em especial de seus chefes. Enfim um precioso tesouro a ser desenterrado por traduzir a evolução do pendamento militar brasileiro em um século.

  Foram de seus quadros dirigentes, no pas­sado, os ex-presidentes marechais Eurico Gas­par Dutra e Humberto de Alencar Castello Branco e o General-de-Exército João Batista de Oliveira Figueiredo, filho de um dos fundadores e o Presidente que levou o Brasil à Antártida, um dos grandes sonhos da revista.

Por tudo, os 13 "jovens turcos" ou "pa­tentes  novas" que tiveram a feliz inspiração de fundar, manter, vivificar e projetar nacional­mente a revista, se tornaram credores da admi­ração nacional. Constituem-se hoje como um exem­plo digno de ser imitado por todos quantos neste imenso Brasil, no mar, na terra e no ar, dedicaram o melhor de si, num trabalho anôni­mo, para dotarem o Brasil de Forças Armadas à altura de sua atual expressiva projeção economica e mundial. Tarefa grandiosa, cuja responsabilidade maior é dos poderes Executivo e Legislativo que representam o Povo Brasileiro que os elegeram para o representar e o defender.

Os "jovens turcos" e todos os colaborado­res de “A Defesa Nacional" 1913-1944, con­tribuíram com seus escritos, para a organiza­ção da Força Expedicionária Brasileira, que representou o povo brasileiro de modo con­digno, ao lutar, lado a lado ou contra frações expressivas dos melhores exércitos do mundo presentes na Europa na 2a Guerra Mundial.

"Não cora o sabre de ombrear com o livro, nem cora o livro de chamá-lo irmão"

Esta parece ser a grande lição, reafirmada diversas vezes pela História, a extrair hoje dos fundadores de A Defesa Nacional, patriotas, escritores de circunstância e profissio­nais militares de escól ao serviço da grandeza das Forças Armadas do Brasil. Ação meritó­ria que o Tribunal da História julgou e consa­grou como fato nacional relevante, com sen­tença transitado em julgado que o óleo da fundação da revista hoje no Gabinete do Comandante do Exército consagrou para a posteridade.

Ata de fundação de ‘A Defesa Nacional’

No dia vinte de Setembro de mil novecentos e treze, numa das salas do Clube Militar, na Capi­tal Federal, presentes os abaixo assinados, realizou-se a primeira reunião dos interessados na publicação de uma revista que refletisse as idéias do novo Exército e fosse, por conse­quência, um órgão de combate e um instru­mento de trabalho.

Aberta a sessão, às 4 horas da tarde, tomou a palavra o 1o tenente Leitão de Carvalho, que expoz os fins da reunião e os trabalhos realizados até aquella data, por ele orador, pelo capitão Mario Clementino de Carvalho e pelos tenentes B. Klinger e Souza Reis. Se cogitando dos meios e fins da revista, de antemão denominava-se "A Defe­sa Nacional", ficou resolvido que, salvos os casos expressos de responsabilidade que cada qual assume pelas idéias e juizos  que publica, houvesse sempre a mais perfeita solidariedade em todos os sentidos, especialmente quanto ao onus-pecuniário a que por ventura venha a dar lugar a manutenção da revista.

 E como nem todos os associados estivessem presentes, ficou também resolvido que esta Ata fosse li­da e assignada por todos.

 Por proposta do 1º tenente Taborda foram aclamados para diri­gir a revista os tenentes Klinger, Leitão e Sou­za Reis, ficando o primeiro como chefe da re­dação; tratando-se da escolha de um secretá­rio, foi, ainda por proposta do tenente Tabor­da, aclamado o tenente Cidade.

 No que diz respeito à impressão da revista, nada fi­cou resolvido, deixando-se, no entanto, os di­retores encarregados de a contratar com quem mais vantagens oferecer. E como o fim principal deste livro de atas seja facilitar fu­turamente o estudo das condições em que sur­giu e viveu esta revista, reclamada pelo mo­mento histórico e pelas condições atuais do Exército, que vamos combater atrasadas e pe­rigosas práticas, cumpre nos declarar que coube aqui toda a iniciativa ao tenente Leitão de Carvalho, tendo como auxiliares imediatos o capitão Mario Clementino, os 1ºs tenentes Klinger e Souza Reis. E como nada mais hou­vesse a tratar, foi encerrada a sessão e marca­da outra para o dia que fosse escolher pela diretoria.

F. de Paula Cidade, Secretário Confere: Bertoldo Klinger Io Tenente, Estevão Leitão de Carvalho Tenente Joaquim de Souza Reis Netto, Brasílio Tarborda E. de Lima e Silva Parga Rodrigues

Scientes: Mario Clementino Cap,. Jorge Pinheiro José Pompeu de Albuquerque Cavalcan Euclydes de 0liveira  Figueiredo, Amaro de Azambuja Villanova

 

Editorial do nº 1 da revista A Defesa Nacional elaborado pelo Capitão Mário Clementino de Carvalho

(preservada a grafia da época)

 

A DEFEZA NACIONAL, que inicia com este numero a sua carreira na literatura militar do pais, tem o seu programa contido na fórmula que lhe serve de epigrafe. Como e fácil de ver, o escopo dos seus fundadores não é outro senão colaborar, na medida de suas forças, para o soerguimento das nossas insti­tuições militares, sobre as quais re­pousa a defesa do vasto patrimônio territorial que os nossos antepassados nos legaram, e da enorme soma de interesses que sobre ele se acumulam.

De resto, os interesses militares se acham hoje em dia e em todos os países do mundo, de tal forma entrelaçados aos interesses nacionais, que trabalhar pelo progresso dos meios de defesa de um povo e, senão o melhor, pelo menos um dos melhores meios de servir aos interesses gerais desse povo.

O caso do nosso pais apresenta, além disso, algumas características particulares. Se nos grandes povos, inteiramente con­stituídos, a missão do Exército não sai geral­mente do quadro das suas funções pura­mente militares, nas nacionalidades nascentes como a nossa, em que os elementos mais va­riados se fundem apressadamente para a formação de um povo - o Exercito - única força verdadeiramente organizada no seio de uma tumultuosa massa efervescente vai ás vezes um pouco além dos seus deveres profissionais para tornar-se, em dados momentos, um fator decisivo de transformação politica ou de estabilisação social.

A nossa pequena historia, bem como a de outros povos sul-americanos, está cheia de exemplos demonstrativos dessa afirmação.

E' debalde que os espiritos liberais, numa justificada ânsia de futurismo, se insurgem contra as intervenções militares na evolução social dos povos: é um facto histórico que as sociedades nascentes têm necessidade dos elementos militares para assistirem á sua for­mação e desenvolvimento, e que só num grau já elevado de civilisação elas conseguem emancipar-se da tutela da força, que assim se recolhe e se limita à sua verdadeira função.

 Sem desejar, pois, de forma alguma, a incursão injustificada dos elementos militares nos negócios internos do pais, o Exército precisa entretanto estar aparelhado para a sua função conservadora e estabilisante dos elementos sociaes em marcha - e preparado para corrigir as perturbações internas, tão comuns na vida tumultuária das sociedades que se formam.

 No que diz respeito ao exterior, o pro­blema que o nosso Exercito tem a resolver não é menos complexo. Vasto pais, opulento e formoso, com 1.200 léguas de costa, abertas ás incursões do lado do mar; com extensas linhas frontei­riças terrestres, do outro lado das quais se agitam e progridem muitos povos também em formação não seria absurdo admitir a hipótese de que o Brasil viesse um dia a en­contrar um sério obstáculo às suas naturais aspirações de um desenvolvimento integral.

 E nesse dia, que pode estar próximo ou remoto, e sem saber de que lado virá o perigo, que pode vir do Norte como do Sul, do Ori­ente como do Ocidente o Brasil não po­derá verdadeiramente contar senão com as suas próprias forças, isto é, com a sua organização militar.

Mas a questão tem ainda um terceiro as­pecto: O Exército, num pais como o Brasil, não é somente o primeiro factor de transfor­mação politico-social, nem o principal ele­mento de defesa exterior: ele tem igualmente uma função educativa e organisadora a exer­cer na massa geral dos cidadãos.

Um bom Exército é uma escola de disci­plina hierárquica, que prepara para a disciplina social, e é, ao mesmo tempo, uma escola de trabalho, de sacrificio e de patriotismo.

Um Exército bem organisado é uma das criações mais perfeitas do espirito humano, porque nele se exige e se obtém o abandono dos mesquinhos interesses individuais, em nome dos grandes interesses coletivos ; nele se exige e se obtém que a entidade homem, de ordinário tão pessoal e tão egoista, se trans­figure na abstração dever; nele se exige e se obtém o sacrificio do primeiro e do maior de todos os bens que é a vida, em nome do principio superior de pátria.

Compreende-se facilmente que uma insti­tuição dessa natureza, que destaca, e põe em relevo, e fortalece aquilo que ha de nobre e de heróico, e de sublime no barro comum tem que exercer forçosamente uma influ­ência salutar sobre o desenvolvimento dos individuos e das sociedades.

Se essa influência, que sempre se fez sentir nas sociedades cultas da Europa, traba­lhadas por dois mil anos de civilisação, é, nas velhas sociedades já formadas, um meio valioso de aperfeiçoamento, que os filósofos reconhecem e assinalam — num pais como o Brasil ela será, com mais forte razão, um fator poderoso de formação e de trans­formação de uma sociedade retardada e in­forme.

A necessidade, pois, de construirmos um Exército que corresponda às nossas legítimas aspirações de desenvolvimento e de progresso, está acima de qualquer discussão.

Num momento histórico, como o que atra­vessamos, em que a capacidade social de um povo se mede e se avalia pela sua organi­zação militar - o Brasil, que é um dos mais opulentos países da terra, não pode cruzar os braços indiferente aos rumores de luta, que nos chegam dos quatro pontos cardiais  e confiar a defesa do seu patrimônio aos azares do destino.

Há na história da nossa pátria a memória de algumas tentativas, que temos feito, no sentido de organizar um Exército regular — tentativas que infelizmente ate hoje têm en­contrado apenas um sucesso parcial ou relativo.    

Para não levarmos a nossa análise muito longe, basta relembrar os esforços destes 24 anos de administração republicana. É um fato evidente que o pais inteiro compreendeu a necessidade, que temos, de um sólido instrumento de guerra, e que sempre se mostrou nas melho­res disposições para fazer sacrifícios de toda a sorte, em nome da defesa nacional.

Essa convicção geral repercutiu no seio do Exército, e nós começamos a trabalhar, de 1889 para cá.

 Temos gasto nesse período um milhão e quinhentos mil contos de réis aproximadamente; fizemos duas reorganizações gerais e algumas parciais: o Regulamento das Escolas Militares foi reformado 4 vezes: 2  vezes no sentido de dar ao ensino teórico uma importância maior que ao ensino prático  e 2 vezes no sentido contrário.

Alteramos várias vezes o plano de Uniformes e os regu­lamentos das Armas. O da arma de Infantaria foi transformado 4 vezes; e ha soldados de 20 anos de praça, porque há so os  que sabem as quatro instruções dessa arma.

Enfim, para não alongar muito esta enumeração basta dizer que nós temos trabalhado. E entretanto é hoje uma convicção generalizada, tanto no mundo militar como no mundo civil, que o Exército atual não corresponde absolutamente ás nossas necessidades, e que o pais está completamente indefeso.

 Ora ai esta o nosso verdadeiro ponto de partida, queremos dizer o da nossa revista A Defesa Nacional, que inicia com este número a sua carreira nas letras militares do pais. Nós estamos profundamente convencidos que só se corrige o que se critica: de que criticar é um dever; e de que o progresso é obra de dissidentes.

 Esta revista A Defesa Nacional foi fundada, por conseguinte, para exercer o direito, que todos temos, de julgar as coisas que nos afetam, segundo o nosso modo de ver, e de darmos a nossa opinião a respeito.

Mas nós também não perderemos de vista que tudo neste mundo é relativo, e que “...quand on comprend tout, on pardonne tout...”.

Nunca esqueceremos, nestas páginas, de fazer a mais rigorosa justiça daquele que nos precederam nesta senda, e que hoje, embranquecidos e trôpegos, os pés sangrando das durezas do caminho, se vão afundando, nas glórias fúnebres do poente...

Em todas as coisas desta vida é preciso não esquecer nunca a época em que elas foram feitas e o espirito que as ditou.

 Muito do que hoje nos parece deslocado e anacrônico, foi racional e acceitavel a seu tempo, assim como o que hoje nos parece excelente, será criticável amanhã.

Profundamente compenetrados dessas ver­dades eternas, nós desejamos que um largo espirito de tolerância e camaradagem estenda sobre as páginas desta revista A Defesa Nacional duas grandes asas brancas...

Não queremos ser absolutamente, no seio da nossa classe, uma horda de insurretos dispostos a endireitar o mundo a ferro e fogo mas um bando de Cavaleiros da Idéia, que saiu a campo, armado, não de uma clava, mas de um argumento; não para cruzar ferros mas para raciocinar; não para confundir, mas para convencer.

Foi com estas ideias que resolvemos fun­dar esta revista. Nela exerceremos necessariamente o di­reito da critica: — ás idéias, não aos indivíduos. Mas, tanto quanto nos for possível, dentro da fabilidade das coisas humanas, procura­remos manter sempre uma nobreza de atitude digna daqueles para quem escrevemos.

 Não nos move de forma alguma a preocupacão pretensiosa de sermos os mentores dos nossos chefes nem dos nossos camaradas; entramos na liça apenas com um pouco de mocidade, um pouco de estudo e a maior boa vontade, e dos nossos chefes e camaradas am­bicionamos tão somente ser prestimosos auxiliares e dedicados colaboradores.

                                                 Grupo Fundador:

Estevão Leitão de Carvalho, Mario Clementino de Carvalho, Joaquim de Souza Reis Bertholdo Klinger, Francisco de Paula Cidade , Brasílio Taborda,  Epaminondas de Lima e Silva, Cesar Augusto  Parga Rodrigues, Euclides de Oliveira Figueiredo. José Pompeo Cavalcanti de Albuquerque, Jorge Pinheiro e Amaro de Azambuja Villa Nova.

 

Segundo o Marechal Odylio Denys em Ciclo Revolucionário Brasileiro, (Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1980, p. 104), o presidente do Clube Militar na época era o General Pedro Ti­to Escobar, também comandante da Brigada Mista de Caçadores. Esse chefe deu apoio ao grupo fundador, acolhendo na sede do Clube várias palestras proferidas por Klinger, Souza Reis, Euclydes Figueiredo e Leitão de Carva­lho, antes da fundação.

Segundo Pedro Calmon, a Liga de Defesa Nacional, fundada por Miguel Calmon Du Pin e Almeida, ligava-se à revista pela solidariedade que ela emprestou ao histórico discurso que ele pronunciou na Bahia, em 1915, de retorno da Europa, de alerta ao despreparo militar do Brasil para a eventualidade de seu envolvimen­to na1ª Guerra Mundial

        A projeção de A Defesa Nacional" na ins­trução do Exército é focalizada com riqueza de detalhes pelo Marechal Odylio Denys, na obra citada, no anexo sob o título "Renova­ção do Exército Missão Indígena".

Merecem destaque as pala­vras de incentivo do Ministro da Guerra, Ge­neral Caetano de Farias:

 "A Defesa Nacional nunca se afastou do terreno profissional. Seus leitores encontraram em suas páginas o estudo de questões de organização militar, de regula­mentações táticas, do modo de executar ser­viços, mas nunca tiveram de distrair a atenção dos soldados, para ltas cogitações filosóficas ou outros assuntos alheios à profissão”.

 

A revista A Defesa Nacional traduz a evolução do pensamento militar brasileiro de 1913 até o presente, bem como a evolução do Exército, o que é expressivo para nosso Exército razão da importância da elaboração como Instrumento de Trabalho dos profissionais e historiadores do Exército de uma publicação com um índice de autores e assuntos da revista A Defesa Nacional, como procedeu o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro ao atingir o seu nº 400 em jul/set 1998. Antes recorríamos ao índice de nosso professor na 2ª serie ginasial no Ginásio Gonzaga professor Planella e por ele elaborado quando professor de História da PUC/Porto Alegre, do qual doamos uma cópia ao IHGB e foi muito usada por seus membros e até copiadas por muitos.

  Quando na Direção do Arquivo Histórico do Exército elaboramos os seguintes instrumentos de Trabalho: o do desempenho escolar dos alunos que estudaram na Academia Real Militar e o do livro registro de Engenheiros Militares, e outros. E nos foi confiado pelo Cel Francisco Ruas Santos o Índice da Revista da AMAN, e ele conseguiu publicar pela BIBLIEx o livro Coleção Bibliográfica Militar, em 1960, com índices de publicações como O Boletim  Estado- Maior do Exército, e Revista Nação Armada. E elaborou índice de autores e assuntos da A Defesa Nacional de 1913 à 1960 de cerca de 551 números do qual possuímos exemplares hoje à disposição na sala da FAHIMTB e AHIMTB/Resende - Marechal Mario Travassos, em sala ao fundo da  Biblioteca no andar do Gabinete do Comandante da AMAN e ali acolhidas por seu comandantes Gen Div Edson Leal Pujol e Júlio César Arruda, hoje acadêmicos da FAHIMTB .

        E argumentava o Cel Ruas que uma revista sem o índice de assuntos e autores é uma sepultura do pensamento militar, com o que concordo, e que cada historiador ao tratar de um assunto sempre inicia seu trabalho sem considerar, por desconhecer outros trabalhos sobre o tema e por via de consequência não avança. E sempre recomeça sem aprofundamentos ou avanços. O que nos leva a lembrar uma definição de História de Honoré de Balzac de que “a História é doida se repete, se repete, se repete”.

 E assim ocorre no caso de nossas revistas e jornais militares sem índice, os historiadores e profissionais militares se repetem, se repetem, se repetem, por não integrarem ao seu trabalho os já produzidos sobre assunto, por os desconhecerem.

 Basta se imaginar como teriam sido mais desenvolvidas as monografias produzidas por alunos de nossas escolas militares e trabalhos profissionais militares se tivessem os autores ao seu dispor, por exemplo, de índice de revista A Defesa Nacional e acesso as suas coleções, que creio existir raras  completas. E caso se possa refazer uma coleção completa seria relevante a digitalizar e a colocar disponível em um site na Internet.

 Aqui fica a sugestão reiterada da FAHIMTB sobre comemorar-se o centenário de A Defesa Nacional, com índice de assuntos e autores e toda a sua coleção que deve contar hoje com cerca de 825 números.

A FAHIMTB pode contribuir com o concurso do índice de assuntos e autores de sua coleção em sua sede na AMAN elaborada pelo patrono de cadeira na FAHIMB Cel Francisco Ruas Santos.

Aliás, historiador militar ao qual o Exército esta a dever a ‘Teoria de História do Exército Brasileiro’ para cuja elaboração concorremos como seu adjunto e que foi traduzida pelo EME na publicação Sistema de Classificação de Assuntos das Forças Terrestres Brasileiras. Teoria que procuramos simplificar, abordando os casos de emprego de forças terrestres do Brasil que figuram em nosso manual Como estudar e pesquisar a História do Exercito Brasileiro, no Capitulo V, com o título ‘Temas históricos sobre o emprego das Forças Terrestres Brasileiras para a pesquisa e estudo militar crítico com vistas a formação de seus combatentes e ao desenvolvimento da Doutrina’ 1ª ed 1978, 2ª ed 1999, distribuídos a AMAN, EsAO e à AHIMTB a última edição.

  

         Lista de artigos publicados pelo autor na A Defesa Nacional

         Artigos do autor na revista A Defesa Nacional Revista

Convenção para recuperação: Nº de ordem, título do artigo, nº da Revista, ano, meses e páginas

 

1 – Evocação da Guerra do Paraguai     632     1970      jul/ago       33-49

2 - O Exército no desenvolvimento do Nordeste 633, 1970 set/out 91-92

3 -  Um sertanejo que foi um dos maiores generais do Brasil  (Brigadeiro Antonio de Sampaio)  637       1971     jul/ago      83-90

4 – A guarnição federal do Recife há cem anos e o seu comandante (Mal. Emílio Luiz Mallet)     641            1972      jan/ fev.   135

5 – Bagé e o lanchão farroupilha “Seival” 636      1972 mar/abr. 119-122

6 – Hipólito da Costa – fundador  do jornalismo  Brasileiro . 643 1972   mar/abr  59-68

7 – Contribuição aos festejos do centenário de D. Pedrito (RS) 647  1973 jan/fev 19-26

8 – Centenário do Libertador do Acre (Plácido)  652 1973 nov/dez 19-26

9 -  Mallet – o artilheiro símbolo do Brasil  663 1975  set/out   124/132

10 – Bicentenário da conquista Forte de São Martinho   663  1975 set/out    71/76

11- Bicentenário da Restauração do Rio Grande (Sul) aos espanhóis  666 1976 mar/abr. 9-20

12 – Caxias e o uso militar de aeróstatos  666     1976 mar/abr   195-197

13 – Estudo militar dos fatores da decisão  na Batalha de Passo do Rosário Passo.    672    1977   62-107

14 – Marchas estratégicas dos Exércitos para a Batalha do Passo do Rosário  680   1978  nov./dez  71-88

15 – General Osório – pensamento militar   684   1979  jul./ago.

16 – Paula Cidade – um soldado a serviço do progresso do Exército 709  1983  set/out.   13- 35 (Foi um dos fundadores da A Defesa Nacional)

17 – Centenário de nascimento do Gen Bertoldo Klinger  co-fundador de A Defesa Nacional  711   1984  jan./fev.   5-16

18 – Reunião no Clube Militar para a fundação de A Defesa Nacional   715 1984 set./out. 168/169

19– Apresentação a artigo de Artur César Ferreira Reis, Imperialistas ou sub. Imperialistas. 715  1984  set/out    133. (A pedido de Pedro Calmon)

20 – O Poder Nacional e o estudo militar crítico da História Militar. 717 1985   jan/fev. 75-81

21 – Registros Arquivo do Exército tem novo Diretor 717 1985 jan fev  166

22 – Travessia Militar de Brechas e Cursos D’água no Brasil (1645-1986)722  1985 nov./dez.   90/106 ( Ilustrado)

23 – Revolução Farroupilha – Desenvolvimento Estratégico e ação pacificadora de Caxias   723    1986   jan/fev.    90/106

24 – Mal José Caetano de Farias – Projeção como Chefe do EME e Ministro da Guerra  na Reforma  Militar 724  1986    mar/abr   93/124

25 – O brasileiro que foi general de Bolívar  725  1986   mai/jun

26 – Sesquicentenário do Combate do Seival o berço da República Brasileira        726  1986   jul/ago  44-85

27 – Pedro Calmon e a AMAN 727  1986 set/out.   31/33

28 – Os 70 anos do 1º Sorteio Militar  727  1987   jun/fev  120-130

29 – Marechal Denys uma vida inimitável 729  1987 jul/ago 132-135( Comentário de livro com sua biografia)

30 – O aniversário do Mal Deodoro  732 1987 mai/jun 149-153

31 – O Exército e a Abolição  pensamento e ação. Trabalho premiado em 1º lugar e concurso promovido pela BIBLIEx  738 1988 jul/ago 7/37

32 – Centenário do Colégio Militar do Rio de Janeiro 743 1989 mai/jun 104

33 – Marechal Deodoro - saúde, pensamento e ação em 15 de novembro de 1889  744  1989 jul/ago   7-26 ( Pesquisa histórica básica)

34 – Libertação de Angola pelo Rio de Janeiro 744 1989 jul/ago 150-153

35 – Os radicais da República 744 1989 jul/ago   155-156

36 – Sesquicentenário do Marechal Floriano 744 1989 jul/ago  157-158

37 – Cinquentenário da Visita do Gen George Marshall  ao Brasil 746 1980  nov./dez. 155-157

38 – Ensino Militar-Cultura Geral x Profissional 746 1980  nov/dez   157

39 – Sesquicentenário do Combate do Rio Pardo 740 1988 nov/dez. 41-52

40 –100 anos do Gen Aurélio de Góes Monteiro 747 1988 jan/mai 164-165

41 Enfoques sobre a Proclamação da República 749 1990 jul/set   -----

42 – Gen Div A. Tasso Fragoso (biografia) 750  1990  out/dez 105-130

43 – Capa óleo – Fundação de Defesa Nacional feita pelo pintor  Álvaro Martins, com base em pesquisa e orientação nossa a pedido da BIBLEX 750  1990  out/dez capa (ver detalhes inicio este artigo)

44 – Ensino Militar – Cultura Geral e Profissional 746 1989 nov./dez 155

45 – Cinquentenário da visita do Gen. George Marshall 746  idem idem 156

46 Controvérsias - Proclamação da República 749 1990 ju/set 750  1990  out/dez 17/37

47 – O ilustrador da História Militar do Brasil (Miranda Jr.)752 1991abr/jun 148

48 – A Revolta da Vacina Obrigatória 1904 752  1991 abr/jun   149

49– A Fortaleza de Santa Cruz vista por um Alte. Inglês 752 1991 abr/jun 149

50 – O Exército na 1ª Guerra Mundial 752 1991 abr/jun 145 (Importante)

51 – Caxias e a ponte do Passo Geral da Jacuí 852 1991 abr/jun  146

52 – Barão do Rio Branco um diplomata da escola com alma de soldado 754 1991 out/dez 139

53– Bicentenário da mais antiga academia militar das Américas 754 1991 out/dez 141

54 – Um Capelão do Exército o 1° bispo do RGS 754 1991 out/dez 143

55 – As duas faces da Glória 755 1992  jan./nov.   59-62  Resposta a livro sob este título com abordagens sobre a FEB e abordagens inéditas sobre o inimigo na frente da FEB.

56 – Vultos do Ensino Militar 755 1992  jan/nov 133 (Comentário livro do Cel  Arivaldo Silveira Fontes presidente da Fundação Osório)

57 – Centenário do Marechal Odylio Denys .756 1992 abr/jun 131

58 – O combate da Vila Amapá 756 1992 abr/jun 132

59 – Sesquicentenário da pacificação de SP e MG 757 1992 jul/set 144

60 - Figuras e fatos de Sergipe 758 1992 out/dez 159 (Comentário livro do Cel Arivaldo Silveira Fontes presidente da Fundação Osório)

61 – Um jornal do Exército na Guerra do Paraguai 758 1992 out/dez 166

62 – O Pioneirismo do Exército no Movimento Tradicionalista Gaucho 759 1993 jan/mar 155

63 – Bicentenário do Ensino Militar Acadêmico nas Américas e do Ensino Superior Civil 759 1993 jan/mar 156

64 – Sistema Luiz Jacome de doma e a Cavalaria Brasileira 759 1993 jan/mar 156 ( Um picadeiro do CMRJ leva seu nome )

65 – A Revolução Paulista de 1932 – Operações Militares 760 1992 abr/jun 101/102 (Foi palestra em Cruzeiro –SP no 60º aniversário desta Revolução a convite do Instituto de Estudo Valeparaibanos).

66 – Formação de Oficiais do Exército no RGS 1853-1911 761 1993 jul/set 181 (Mais tarde produzimos Escolas Militares de Rio Pardo 1855/1911)

67 – Etimologia das graduações e posto dos Exército (1500-1553) 761 1993 jul/set 183/185

68  – O centenário da Revolta na Armada (Esquadra) 762 1993 out/dez 25/58 ( Pesquisa histórica básica)

69 – A Heurística aplicada a seleção de fontes históricas confiáveis 765 1994 jul/set 121/126

70 – Revista da Escola Militar da Praia Vermelha 765 1994 jul/set 147

71 – Centenário do sítio federalista de Bagé 764 1994 jan/mar 151/163

72 – Cercos de Bagé e da Lapa – duas resistências épicas da História Militar do Brasil 767 1995 jan/mar 103ss.

73 – Centenário da inauguração do 1° QG do Exército no RGS 767 1995 jan/mar 147 (Na cidade de Rio Grande próximo da Biblioteca da cidade)

74 – As repercussões do combate do Cerro do Ouro em São Gabriel na invasão do Paraná 766 1994 out/dez

75 – Uma possível explicação a violência na Guerra Civil na região Sul 1893/1895 768 1995 abr /jun  p. 141

76 – Contribuição Paulista ao Combate a Guerra Civil 1893-95  769 1995 jul/set p. 119-140 (Pesquisa Histórica básica)

77 – Troféus de combate do Gen. Tasso Fragoso no Museu AMAN  769 1995 jul /set  162/163

78 – Marechal  Floriano Peixoto – centenário morte 771 1996  1 trim. 111-120

79 – Pacificação da Revolução de 93 (Guerra Civil no Sul 1893/95) 1 trim/

80 – Campo de Concentração de Prisioneiros de Guerra da Marinha alemã em Pouso Alegre –MG na 2ª Guerra Mundial 770 1995 4 trim

81- Canabarro, filho adotivo de Santana 773 1996

82 – Caserna de Bravos Comentário livro de Osório Santana Figuei-redo sobre o quartel de Mallet em São  Gabriel RS 774 1996 4 trim

83 – Operações da Aviação do Exército em Resende, na Revolução de 1932 775 1997 jan/mar 115 /120 ( Pesquisa histórica básica)

84 – O Duque de Caxias Ministro da Guerra? 1998 jul/set.  25/58

85- O uso militar de jangadas no Brasil em 1º Abril 1776. O uso militar de jangadas no Brasil em 1º Abril 1776  779 139

87 - Um significado de Canudos para as FTB 778 1997 out/dez

88 – Interpretação da Batalha de Passo do Rosário pelo Duque de Caxias – 777 – 1997, 154/157;

89 – As Guerras Holandesas – Evocação no 350° Aniversário da 1ª Batalha dos Guararapes – 780 – 1998, 5/26;

90 – Caminhos Históricos e estratégicos de penetração no Vale do Alto Paraíba- 784, 1999, jan/ago – 113/130

91 – Caxias e a doutrina militar terrestre brasileira – 788 – 2000, set/dez, 150/153;

92 – Influências estrangeiras na Doutrina Militar Terrestre Brasileira – 789 – 2000. jan./abr – 143/146

93 – Caxias vítima da manipulação da História – 792 – 2002, jan./abr. 2000

94 – A necessidade de uma História Militar da Amazônia – 790, mai./ago. 133/138 (Em 2004 escrevemos Amazônia Brasileira Conquista. Consolidação. Manutenção História Militar Terrestre da Amazônia 1616-2004. Porto Alegre:AHIMTB, 2004) 96 – A necessidade de uma História Militar da Amazônia – 790, mai./ago. 133/138

95 – Bicentenário da Guerra de 1801 no Rio Grande do Sul (conquista dos Sete Povos) 791, 2001, set/dez, 5/9;

96 – Getúlio Vargas e a evolução da Doutrina do Exército. 802 2005, mai./ago – 51/57 (Pesquisa histórica básica)

97 – O Exército e a Revolução Farroupilha, uma releitura (A Revolução foi feita pela Guarnição do Exército e a Guarda Nacional), 803 – 2005, set./dez. 54/56

 

 

 Consagração dos fundadores de A Defesa Nacional na capa do livro Soldados da Pátria –História do Exército Brasileiro 1889´1937 de Frank D. Mc Cann, publicado pela BIBLIEx. Quanto poderia ter avançado mais Mc Cann, se tivesse tido ao seu alcance um índice de autores de A Defesa Nacional para desenvolver ainda mais o seu notável trabalho, incorporando trabalhos de oficiais brasileiros que produziram sobre o assunto, mas com seus trabalhos sepultados por falta de Indice Geral da Revista, que traduz a evolução do pensamento militar brasileiro sepultado nesta preciosa coleção por falta de um índice.

Votos de que em 1913, centenário de A Defesa Nacional, ele possa ser perenizado com um índice de autores e assuntos e mais do que isto com uma coleção de A Defesa Nacional digitalizada acessível pela Internet aos alunos de nossas escolas militares, aos instrutores de história, aos chefes, aos pensadores e planejadores militares de nosso Exército, hoje de um país com expressiva projeção econômica e social crescentes, mas ao que nos parece, salvo melhor juízo, contraria esta lição da História da Humanidade “País rico deve ser forte militarmente”. Tarefa de responsabilidade dos poderes Executivo e Legislativo, assessorados pelas carreiras de Estado, os militares e diplomatas. Creio que a responsabilidade da Defesa Nacional é dos poderes Executivo e Legislativo eleitos pelos brasileiros para os representar e o defender,  não por seu braço armados as suas Forças Armadas, se não forem colocados a sua disposição os meios necessários para que desenvolvam Poder Militar Defensivo dissuasório compatível.

 


 

 

Cel Inf Mário Clementino de Carvalho - a homenagem da FAHIMTB a um pensador militar brasileiro esquecido

       

Integrou o grupo dos 12 fundadores da Revista Nacional, o Capitão de Infantaria Mário Clementino de Carvalho. Ele foi o autor do historic e contundente Editorial do nº 1 de A Defesa Nacional que transcrevemos neste trabalho para a meditação dos profissionais militares brasileiros de hoje e do amanhã.

Ele era até pouco tempo um desconhecido no tocante a sua vida e obra e pensamento militar.

E este esclarecimento inicial foi feito pelo acadêmico e presidente da AHIMTB/ Rio de Janeiro - Marechal João Batista de Mattos - o Eng Ten R/2 Art Israel Blajberg, depois de mergulhar em sua Fé de Oficio sob a guarda no Arquivo Histórico do Exército.

Instituição esta de que nos orgulhamos de a haver dirigido de 1985-1990. E foi com o auxílio do acadêmico emérito Gen Ex Jonas de Moraes Correa Neto, então Secretário do Exército e com a aprovação do Ministro do Exército Gen Ex Leônidas Pires Gonçalves tivemos aprovada nossa proposta de mudar a sua denominação de Arquivo do Exército, repartição então voltada para basicamente para o fornecimento de certidões, para a de Arquivo Histórico do Exército. E a partir daí voltado para a preservação de fontes da História do Exército e de seus integrantes do passado, com a nobre missão de Casa de Memória Histórica do Exército.

Missão traduzida em placa de bronze, que colocamos com em sua entrada, com a permissão do citado Secretário do Exército, ao qual o Arquivo estava subordinado o Arquivo.

O acadêmico Israel selecionou da obra de Mário Clementino estas preciosas lições de Arte Militar, extraídas de sua obra Lições de História Militar – Notas de Aula, Rio de Janeiro. Estado-Maior do Exército, 1931.

Lições preciosas que aprendemos na ECEME (1967/69) e que as utilizamos desde 1971 ao produzirmos nosso trabalho As Batalhas dos Guararapes – análise e descrição militar. Recife: UFPE,1971.

Obra em que Mário Clementino condenou o bacharelismo que se implantou no ensino do Exército de 1994-1905. Bacharelismo também condenado por seu colega de A Defesa Nacional, o Marechal Estevão Leitão de Carvalho que viria a chefiar a Missão Militar Brasil-EUA, bem como outros expressivos chefes de nosso Exército como o Marechais João Batista Mascarenhas de Morais, o comandante da FEB, e Odylio Denys entre outros chefes. E condenava os bacharéis que julgavam que podiam fazer uma campanha com régua e compasso como quem faz Geometria. E assim descrevia a relevância da Arte Militar.    

"A Arte da Guerra exclui qualquer esquematismo. E não há maior perigo do que se pretender querer conduzir uma campanha com régua e compasso, como quem faz geometria..."

Exemplificando o pensamento do Marechal Ferdinand Foch professor de História Militar da Escola Superior de Guerra da França e que dali saiu para comandar a vitória aliada na 1ª Guerra Mundial. Mário Clementino escreveu em suas aulas de História há 81 anos.

"Durante os períodos de paz mais ou menos longos, é do estudo meditado da História Militar que os comandos dos exércitos se preparam para as eventuais campanhas futuras.

Esse estudo é de tal forma proveitoso que se têm visto exércitos que durante largo tempo só estudaram a guerra nos livros, baterem em campanhas recentes exércitos aguerridos, porém que deram mostras de menosprezo ao estudo teórico dos princípios da Arte da Guerra.

De 1815-1866 o Exército da Prússia não tinha ido à guerra. Entretanto venceu com notável maestria em 1866 o Exército da Áustria que vinha de realizar campanha de 1859.

O Exército do Japão só aprendeu a Arte da Guerra com a experiência alheia, adquirida de missões militares alemã e francesa. E na Manchúria revelou conhecimento completo da Arte da Guerra e fez campanha notável sob todos os pontos de vista.

Não se deve concluir disto que a mera acumulação na memória dos fatos da História Militar (História Militar Descritiva) confira a capacidade para comandar exércitos. Se assim fosse seria fácil ser um general cabo de guerra. Mas não é isto!

A Guerra é produto de um conjunto de circunstâncias múltiplas e várias, e o que se pode afirmar é que nenhuma campanha se reproduz da mesma forma no espaço e no tempo, de modo que possa ser copiada ou rigorosamente imitada de campanhas recentes.

O que interessa no estudo da História Militar (Crítica), no mais alto nível, é a capacidade de discernir, destacar e isolar os princípios da Arte da Guerra que regem o fenômeno, da massa enorme de fatos que deles se depreendem, como uma emanação espiritual (é o que nosso Presidente Cel Bento classifica como História Militar Crítica).

E mesmo depois que se fez isso, depois que os Princípios da Arte da Guerra foram isolados,destacados e compreendidos ,aqueles que aspiram as culminâncias da Arte Militar tem de ir um pouco além.

Tem que penetrar-lhes (Princípios da Arte da Guerra) em seu senso filosófico e por vezes esotérico, sua extrema elasticidade diante das circunstâncias, o seu relativismo inflexível,os seus conflitos mútuo-aparentes ou reais,os paradoxos a que eles por vezes conduzem e, ao lado disso, o seu caráter imutável e eterno, a sua incoercibilidade irredutível em determinadas emergências, a implacabilidade de seus decretos, as consequências desastrosas que às vezes acompanham as suas mais elementares infrações.

   Tudo isto deve o general discernir e compreender em meio do tumulto e do entrechoque dos motivos, os mais diversos, que entram no fenômeno da guerra: motivos/psicológicos, biológicos, industriais, geográficos, topográficos, climatéricos, místicos, políticos e outros....”

         A vida deste notável soldado que aqui resgatamos para conhecimento mais amplo com a pesquisa do acadêmico Israel Blajberg, sua oração de posse na AHIMTB onde recebido na pelo hoje acadêmico emérito e ex Ministro do Exército e a seguir Comandante do Exército Gen. Ex. Gleuber Vieira em 30 de novembro de 2006, no Museu Conde de Linhares.

Sessão preservada no Volume 39 de posses da AHIMTB, p. 73/305, hoje depositada no interior da AMAN, no acervo da FAHIMTB/AHIMTB/Resende – Marechal Mário Travassos.

Mário Clementino nasceu no Rio em 7 de maio de 1976, um ano antes da Revolta de Canudos. Com 12 anos freqüentou na Fortaleza São João a Escola de Aprendizes de Artilharia.  

Matriculado na Escola Militar do Ceará. Por ocasião da Revolta da Armada 1893/94 embarcou no Cruzador Niterói da Esquadra Legal, formada pelo Presidente Marechal Floriano Peixoto. Revolta que abordamos em artigo: Centenário da Revolta da Armada A Defesa Nacional nº 762, out/dez 1993.p.18/49.

Em 3 de nov. 1895 foi promovido ao posto de Alferes de Infantaria, por serviços prestados à consolidação da República. 

Prosseguiu seus estudos na Escola Militar da Praia Vermelha, sendo em 1900 graduado Bacharel em Matemática e Ciências Físicas.

A seguir trabalhou na Construção do Sanatório de São Paulo no alto da serra da Mantiqueira, a esquerda da rodovia Pique te – Itajubá. E depois trabalhou na Comissão de Linhas Telegráficas do Paraná.

Retornando ao Rio em 1904 foi auxiliar da Comissão de Engenharia sendo cumulativamente como professor de ensino teórico na Praia Vermelha no ano da revolta desta escola que passou a História como a Revolta da Vacina Obrigatória titulo de nosso pequeno artigo na A Defesa Nacional: nº 762 out/dez 1993.p.25/28.

Em 1905, ainda Alferes, serviu novamente na Esquadra Legal em operações no litoral brasileiro.

Foi classificado no 3º BI em Rio Grande, no histórico quartel do grupo de Artilharia Marques de Tamandaré, onde foi instrutor geral. De retorno ao Rio, fez viagem de estudos aos EUA em 1908.

Em 1910, como 1º Tenente ao retornar de viagem de curso de Infantaria no Exército Alemão foi nomeado auxiliar do Estado-Maior do Exército(EME) .

Em 1912, na época da fundação da A Defesa Nacional foi promovido a Capitão e nomeado professor de inglês na Escola de Artilharia e Engenharia no Realengo, local onde neste ano funcionou a Escola de Guerra transferida de Porto Alegre e que foi denominada em 1913, Escola Militar do Realengo com nova orientação.

Serviu na Companhia Regional do Alto Acre em Rio Branco e no 53º no Batalhão de Caçadores em Lorena, São Paulo. E depois foi nomeado, em 1916, internamente, professor de 2º ano da atual ECEME.

Retornou a tropa ao 15º Batalhão do 5° RI em Florianópolis e a seguir no comando em Itajaí-SC do 14º Batalhão do 5º RI. Já com Revolta do Contestado pacificada pelo Gen Bda Fernando Setembrino de Carvalho. Em 1918 no Rio ficou adido a Escola Militar do Realengo e assumiu a regência das aulas de inglês.

Em 1919 foi reformado a seu pedido no posto de major, por pressões resultantes de sua atuação na A Defesa Nacional.

Em 1931 reverteu ao serviço ativo em decorrência da Revolução de 30, sendo promovido a Tenente Coronel a  contar de 1928 e a coronel a partir de 1930, devendo figurar no Almanaque acima do Cel. Estevão Leitão de Carvalho.

Em 1932 recebeu o seguinte elogio de seu comandante o General Arthur Sílio Portela.

“Louvo o esforço e dedicação que dispensou com a preocupação de bem servir o Exército no preparo de seus oficiais. As lições que  professava eram eloqüentes atestados de um grau de cultura que muito honrou o corpo de docentes militares”.

Em 1934 foi louvado pelo Cel Francisco José Pinto ao deixar o comando das Escolas Técnicas do Exército e Militar Provisória , para assumir a chefia do Gabinete de Ministro da Guerra Gen Div Pedro Aurélio Góes Monteiro.

“Peço neste instante permissão ao Sr. Cel. Mário Clementino, muito digno professor da 5ª aula de História Militar do 3º ano, para testemunhar-lhe a minha profunda admiração pelo cabal desempenho e inexcedível  competência com que rege a referida aula de História Militar Esses predicados que ornam o Sr. Cel. Mário Clementino não constitui para mim novidade. Desde o seu ingresso no oficialato do Exército brasileiro, que me habituei a o ver muito justamente pela sua vasta cultura intelectual e profissional e pela inteireza de seu diamantino caráter, como um dos mais brilhantes ornamentos do quadro de professores militares”.

Em 1934 integrou a Comissão Examinadora de História Militar da Escola Militar Provisória. Em 1936 aos 60 anos foi transferido para a Reserva, por haver atingido a idade limite.

Este foi o pensador militar esquecido e professor de História da Escola Militar, autor do notável, contundente e corajoso Editorial do n° 1 de A Defesa Nacional. Revelação, justa e oportuna graças a notável pesquisa do acadêmico Eng. Ten. R/2 Israel Blajberg, presidente da AHIMTB/RJ Marechal João Batista de Matos.

E muito ainda precisa ser resgatado da vida e obra de Mário Clementino, o que será possível quando se dispuser de um índice de autores e assuntos da revista e A Defesa Nacional e de uma coleção digitalizada da mesma e de um aprofundamento de sua Fé de Ofício (Alterações no Arquivo História do Exército).

                

DEDICATÓRIA

A Federação de Academias de Historia Militar Terrestre do Brasil (FAHIMTB) e suas 4 academias de Historia Militar Terrestre do Brasil(AHIMTB) em Resende, no Distrito Federal, no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, dedica este trabalhos como justa homenagem a todos os autores que em 100 anos contribuíram com seus artigos na Revista A Defesa Nacional para construir o precioso tesouro que ela registra em especial a Evolução do Pensamento Militar Brasileiro, durante um século. Tesouro que necessita ser resgatado através de um índice de assuntos e de autores em uma coleção digitalizada a disposição da Inteligência Nacional com responsabilidades pela Defesa Nacional e em especial dos alunos das Escolas de nossas Forcas Armadas para a elaboração de monografias curriculares, cada vez mais aprofundadas incorporando idéias de autores que já abordaram os assuntos objeto de sua monografia.

 

 

Cláudio Moreira Bento, Cel

Presidente da FAHIMTB e do IHTRGS

 

"Para alimentar o cérebro de um Exército na paz, para prepará-lo para a eventualidade indesejável de uma guerra, não existe livro mais fecundo em meditações e lições do que o da História Militar."