NOS 60 ANOS DO DIA DA VITÓRIA EM VOLTA REDONDA

UMA EVOCAÇÃO AO COMANDANTE DA GLORIOSA FEB

Cel Cláudio Moreira Bento(X)

O Marechal Mascarenhas de Morais, - é o símbolo e o padrão do soldado brasileiro moderno. Comandou à vitória forças brasileiras, na Itália, no esforço de guerra na 2ª Guerra Mundial, que culminou com a derrocada da ameaça nazi- fascista, no maior conflito da Humanidade.

Por esta razão, principalmente, ali ele conquistou lugar de grande relevo, entre os maiores guerreiros do Brasil, cultuados, evocados e apontados como exemplos à Nacionalidade, inclusive pela Academia de História Militar Terrestre do Brasil na qual é patrono de sua cadeira 19.

Nosso marechal conheceu em vida a glória e a consagração, como herói nacional militar, em demonstrações espontâneas oportunas e justas, de parte do Povo e do Exército do Brasil. Iniciando a vida militar, em 1899, como aluno da Escola Preparatória do Rio Pardo, atingiu a culminância da hierarquia militar no posto de marechal, por vontade soberana do povo brasileiro. Esta, manifestada através do Congresso Nacional. E por vontade soberana desse mesmo povo reconhecido, teve o privilégio da vitaliciedade no Serviço Ativo e o de ser soldado na Ativa por 65 anos, até falecer.

Sua espada honrada só foi desembainhada em defesa da Lei, da Ordem e das Instituições, no campo interno, e da Democracia e da Liberdade Mundial, no campo internacional. Prestou assim brilhantes serviços, de grande projeção no Brasil, em sua marcha rumo à conquista de seu destino de grandeza no concerto das nações.

Concentrando no comando da FEB, na Itália, e no retorno vitorioso da mesma, grandes poderes legais e, potenciais de fato, em suas mui dignas mãos, jamais abusou dos mesmos .Visceralmente soldado, não cedeu às tentações políticas, em que caíram alguns generais, ao retornarem cobertos de glórias do campo de batalha, conforme o registra a História da Humanidade.

Suas glórias imortais e consagradoras, como a maior espada até o presente, da República, ele as conquistou com soldados tropicais no montanhoso e por vezes gelados campos de batalhas na Itália, já sexagenário, e na condição de o mais velho general aliado em campanha, naquele Teatro de Guerra.

Lá, seguindo seu oficial de operações, o então tenente-coronel Humberto Castello Branco, nosso herói afrontou a morte, com serenidade, expondo-se aos lances e perigos da guerra, com características de ato de bravura. Esta, reconhecida, em citação do Presidente Harry Truman dos EUA. Bravura capaz de justificar a concessão de medalha especifica a "única que não recebeu e que mereceu mais do que ninguém" e que completariam as suas 27 condecorações, das quais 11 nacionais e 16 internacionais.

Escolhido por sua Ciência, Arte Militar e Virtudes para comandar a FEB, segundo o acadêmico Menotti del Pichia, "o marechal que aliava tanta dignidade à bravura, transformou aquela força, de um punhado de bravos, num corpo de combate, homogêneo, eficiente, não raro audaz e impetuoso que nos trouxe as vitórias de Castel Nuevo, Montese, Fornovo e o instante épico de Monte Castelo que iluminou de glórias as virtudes do soldado brasileiro".

Nosso Marechal à frente da FEB, e a História o comprova, revelou ao Brasil, um espírito superior ao chamar a si a responsabilidade do revés e dividir os louros da vitória. Mostrou-se modelar como chefe e líder militar brasileiro, consciente em alto grau de seus deveres e responsabilidades, em sua histórica missão de "comandar a maior aventura militar do Brasil". Em combate, revelou calma, equilíbrio intelectual e emocional no insucesso e humildade e modéstia na vitória. Foi organizador silencioso, discreto, meticuloso e previdente. Estrategista e tático inspirado. Planejador sóbrio e objetivo. Condutor sereno, tenaz, enérgico, perseverante, estóico e capaz dos maiores sacrifícios.

Segundo o saudoso mestre Pedro Calmon " o marechal foi herói providencial por ter sido sem injustiça, sem ilegalidade, sem egoísmo e impelido por sua única paixão compatível com os deveres cívicos - a paixão do Bem Comum. Providencial ainda por haver feito do destino nacional, como soldado modelo, a sua diretiva da glória sem mácula e do sacrifício o seu timbre heráldico, das vitórias ganhas pelo país, os títulos impessoais de sua carreira militar honrada".

Todos os seus feitos que o consagraram na galeria dos maiores soldados guerreiros do Brasil, foram praticados sem alardes, arruídos, violência desnecessária e abusiva. Não se embriagou com a glória. Não tripudiou sobre os vencidos. Ao contrário, exigiu, para os prisioneiros de guerra, trato humano coerente com as melhores tradições brasileiras e recusou assinar proclamações que expusessem seus homens à manipulações psicológicas.

Foi além, a expressão viva da dignidade e do respeito à ética e a encarnação da lealdade autêntica à Ordem, à Lei e às Instituições, pelo que sua dignidade pagou alto preço em 1930.

Não foi um líder carismático arrebatador. Mas sim líder que firmou sua liderança, em função de suas elevadas capacidades profissional militar e administrativa. Esta decorrente das aptidões de muito bem planejar, organizar, comandar, controlar e coordenar. Tudo embasado em: inteligência e saúde mental invejáveis; caráter superior; espírito público e integridade em grau superlativo; coragem física e moral, provada em diversas ocasiões; capacidade de decisão e de diagnosticar situações humanas, como no caso de seu Estado- Maior antes da vitória de Monte Castelo; grande capacidade de auto-análise e auto- domínio e fortaleza de espírito que resistiu na guerra às enormes pressões, que não lhe deixaram seqüelas na paz, caso comum entre veteranos de campanhas.

Comparando-o com um "iceberg", a ponta era representada por sua figura humana que ele classificou certa feita de minúscula.

Sob ela, a parte restante e a maior do "iceberg" era representada por seu espírito superior e providencial, para comandar os brasileiros na segunda participação militar extracontinental da Nacionalidade.

Chefe e amigo de seus subordinados, foi o arquiteto de seus entusiasmos, levou-os todos os dias, em todos os recantos de sua zona de ação a sua presença, a sua assistência moral, a palavra certa e sobretudo a confiança. Na paz continuou atento aos seus destinos e na luta pela defesa de seus legítimos interesses.

Além das qualidades excelentes e modelares de cabo-de-guerra e cidadão brasileiro, foi esposo modelar. Alimentou um amor- veneração correspondido por sua esposa Adda Brandão, exemplo de filha, esposa, mãe e avó de soldados do Exército Brasileiro. Heroína brasileira moderna que repousa ao lado do Marechal, no Mausoléu dos Veteranos da FEB, no cemitério São João Batista, que inauguraram com seus veneráveis despojos.

 

 

 

 

Bravo histórico e providencial cabo-de-guerra brasileiro!

Marechal Mascarenhas de Morais, hoje denominação histórica da gloriosa 1ª Divisão de Exército, da Vila Militar que carrega as mais caras tradições da 1ª DIE da FEB, à frente da qual colhestes com teus bravos soldados, louros imarcescíveis para armas brasileiras, na Itália na II Guerra Mundial.

Hoje em nome dos integrantes da Academia de História Militar Terrestre do Brasil(AHIMTB) através da palavra deste modesto soldado e pesquisador e divulgador da História do teu Exército, lhe prestamos por justiça e dever, uma das poucas homenagens que te eram devidas e mais do que isto, para consagrar-te!

Como historiador e geógrafo brasileiro e, fundamentalmente como padrão, símbolo e patrono espiritual do soldado brasileiro moderno, com projeção histórica que mais se aproxima do ínclito Duque de Caxias - o Patrono do Exército e também da Academia de História Militar Terrestre do Brasil..

E mais como general brasileiro que conquistou nos campos de batalha, na Itália: lugar na galeria dos capitães da História Militar Mundial; o de maior soldado latino- americano deste século e um dos maiores da História do Brasil e por haver estado à altura e honrado as tradições militares brasileiras dos Guararapes, Catalan, Taquarembó, Passo do Rosário, Monte Caseros, Paissandu, Passo da Pátria, Tuiuti, Curuzu, Humaitá, Itororó, Avaí, Lomas Valentinas e Campo Grande.

Bravo Marechal Mascarenhas de Morais!

Que o teu imortal exemplo de soldado brasileiro moderno continue a inspirar e alicerçar o presente e o futuro do Brasil e em especial o do Exército Brasileiro - o teu Exército - o Exército do Duque de Caxias - O Pacificador.

O major de Engenheiros Alfredo de Taunay, ao falar em nome do Exército, no sepultamento do Duque de Caxias, assinalou como a maior característica do Patrono do Exército – "a grandeza de sua simplicidade".

Do Marechal Mascarenhas, falando em nome de nossa Academia de História Militar Terrestre do Brasil e interpretando os sentimentos gerais, podemos afirmar que suas maiores características foram a grandeza de sua dignidade e a de sua consciência profissional militar.

Com esta evocação da tua modelar vida e obra a Academia de História Militar Terrestre do Brasil que o tem como seu patrono da cadeira nº 19 lavra o seu solene protesto ao desrespeito a memória nacional e ao povo brasileiro a tentativa de um " magarefe da Honra Alheia", segundo Rui Barbosa, ora lembrada por Jarbas Passarinho de, na revista Nossa História nº 18 ,deslustrar a memória do Marechal Mascarenhas de Morais que acabamos de interpretar. História é verdade e justiça que são feitas com apoio em fontes primárias confiáveis e não em fantasias subjetivas.


 

(x) Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil(AHIMTB) e em nome dos seus patronos de cadeiras ,acadêmicos eméritos e acadêmicos veteranos da FEB.

(Este trabalho é uma síntese de nossa oração proferida em homenagem ao Marechal Mascarenhas de Morais, em nome do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, por Delegação de seu presidente Pedro Calmon e no centenário de nascimento do Marechal e publicada na integra na RIGHB,v.344,jul/set,1984,p.119/136, sob o título Significação histórica do Marechal Mascarenhas de Morais)