RAIZES FAMILIARES DO PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

NO EXÉRCITO

(Publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro no 410)

Cláudio Moreira Bento

A mais profunda raiz no Exército conhecida é a de seu bisavô Capitão Felicíssimo do Espírito Santo. Este casou com D. Emerenciana Azevedo Espírito Santo, de cujo consórcio nasceram, em Goiás Velho (GO) ,as duas vertentes militares no Exército dos Cardoso. Ou sejam, os irmãos Joaquim Ignácio e Augusto Ignácio que atingiram o generalato no Exército.

O primeiro é o avô do presidente Fernando Henrique Cardoso, cuja imagem de soldado ele apreendeu a respeitar e admirar , ao residir com sua avó algum tempo , a qual , possuía pelo marido um respeito profissional reverencial que transmitia aos familiares e cuja vida militar tentaremos resgatar sintéticamente neste ensaio .

O Capitão Felicíssimo que viveu de 1835-1905 foi um dos líderes do Partido Conservador em Goiás, tendo sido deputado e senador e presidente de Goiás por 2 veses e terminou titulado como brigadeiro honorário do Exército Imperial .

O trisavô do presidente foi o Capitão Manoel Cardoso de Campos, provavelmente da Guarda Nacional que faleceu em 1868 ,em Goiás, em plena Guerra do Paraguai. Síntese dos ilustres irmãos .

Gen de Brigada na Ativa JOAQUIM IGNÁCIO BAPTISTA CARDOSO, o avô do Presidente .Nascido em 24 jun 1860, antes da Guerra do Paraguai. Ingressou no Exército como soldado voluntário ,em 15 jul 1875, aos 15 anos, no 20º BC de Goiás e cadete de 2ª classe ,13 dias depois. Encerraria a sua carreira militar profícua em 5 mai 1923, acusado de participação em conspiração na Revolução de 1922 ,em Mato Grosso, como comandante da 1ª Circunscrição, sendo preso por mais de 100 dias, de 19 ao a 2 dez 1922,a bordo do Scout Ceará, na Baia da Guanabara. Abalado moralmente ,acreditamos, pela ingratidão e desconsideração por seus relevantes serviços ,inclusive na propaganda, proclamação e consolidação da República , faleceu em jun 1924.

Gen de Brigada na Ativa AUGUSTO IGNÁCIO DO ESPÍRITO SANTO CARDOSO, É o pai do Gen Ciro do Espírito Santo Cardoso e do Cel Dulcídio .Nascido em Goiás, 7 anos mais moço do que Joaquim Ignácio, em 31 mai 1867, durante a Guerra do Paraguai. Ingressou no Exército, como praça ,no Curso de Cavalaria da Escola Militar da Corte (1855-85) na Praia Vermelha, em 1884. Dela saiu Alferes em 1890, tendo antes marchado com a mesma, a pé, até o Botafogo e, daí ,em bondes tirados a muares, até o Campo de Santana, junto com outros companheiros e ao comando do Major Marciano de Magalhães, irmão caçula de Benjamim Constant. E ,assim, participou da deposição do Gabinete Ouro Preto e ,a seguir da Proclamação da República. Foi reformado como general de Brigada em 1º jul 1938 ,com cerca de 44 anos de serviços, pois esteve fora 9 anos de 1923-32 ,em função de sua atuação pró Revolução de 22.

PARALELISMO DAS DUAS VIDAS DOS IRMÃOS

O mal Joaquim Ignácio e seu filho gen Leônidas Cardoso

A carreira do Mal Joaquim Ignácio pode assim ser descrita: Soldado Voluntário em 15 jul 1875, aos 15 anos. Furriel 8 fev 1876. 1º Sgt , 6 nov 1880. Sgt Quartel Mestre (intendente) 8 nov 1880 e aprovado em Cavalaria e Infantaria. Diversas tentativas de cursar a Escola Militar, tendo trancado a matrícula. Alferes de Cavalaria 20 out 1883. Tenente por serviços relevantes na Proclamação da República . Capitão 24 fev 1894 e, por merecimento, Major em 4 out 1805 (9 anos).Tenente Coronel em 5 ago 1908 e Coronel em 12 jan 1912. Gen Bda em 12 jun 1914 em cujo posto foi reformado ,em 5 mar 1922, por acusado de participar da conspiração da Revolução de 1922 em Mato Grosso, contando 47 anos de bons serviços e com freqüência relevantes, constantes de suas alterações e em especial os ao serviço da propaganda, proclamação e consolidação da República.

Em Goiás e Rio de Janeiro

Sentou praça em Goiás, no 20º BC, em15 jul 1875 e ali foi aprovado em Infantaria e Cavalaria. Destacou-se como burocrata: furriel, quartel mestre (intendente), tendo ali servido na Infantaria e Cavalaria de 1876-81. O 20 BC foi extinto em 1908 com a criação das brigadas estratégicas ,sendo as suas 1a ,2a e 3a companhias destinadas a formar no Rio de Janeiro o III Batalhão do 1 o Regimento de Infantaria e atual Batalhão Sampaio .

Como 1º sargento, em 1881, matriculou-se na Escola Militar da Corte onde se destacou "pela sua aplicação e distinção", revelando dificuldades em Matemática e Desenho. Foi promovido a Alferes de Cavalaria em 20 out 1884, sendo felicitado em Boletim "por sua promoção bem merecida". Em 3 abr 1884 foi desligado sem concluir o curso e foi servir no 1º RC (atual Dragões da Independência de Brasília) unidade que secretariou.

Aí recém chegado de Curitiba de onde veio muito doente ,teve destacada participação ,de 12 out-15 nov ,na propaganda ,conspiração e proclamação da Republica ,conforme escreveria 50 anos mais tarde seu filho major Leônidas Cardoso ,em início artigo que será explorado mais adiante ao biografá-lo e no qual aborda ,em detalhes, a conspiração militar que culminou com a Proclamação da República, com base testemunhal de conspiradores que contatou e , apoio no capítulo "Conspiradores da Revolução de 15 de Novembro de 1889"da obra :

SILVEIRA, Urias .Galeria Histórica da Revolução Brasileira de 15

de Novembro de 1889.Rio de Janeiro : Tip.Laemmert.1890.

"As homenagens de hoje em memória daqueles que , então, moços empolgados por um ardente ideal , no afã patriótico do interesse que manifestavam pela causa pública, sentiram-se arrastados a precipitar a marcha evolutiva da transformação política ,com o afastamento de seu cenário do vulto respeitável do Imperador D.Pedro II. E para que reflitam a interpretação da verdade histórica ,já podem marcar ,dentre outras ,as figuras do Cap Antônio Adolpho da Fontoura Mena Barreto, Ten Sebastião Bandeira e Alferes Joaquim Ignácio Baptista Cardoso."

E ao final de seu artigo o Major Leônidas ainda destaca o seu pai:

"Vê-se ,portanto, acompanhando-se os fatos cronológicamente aqui descritos, que o Cap Mena Barreto e o Alferes Joaquim Ignácio ,pouco antes de outubro de 1889,não estavam na Côrte .Mena Barreto viera do Rio Grande do Sul e Joaquim Ignácio do Paraná ,de onde se ausentara, ainda convalescente de grave enfermidade.

Aqui chegados ,Mena Barreto e Joaquim Ignácio ,reunidos com o ten Sebastião Bandeira formaram a Aliança Tríplice , que compreendeu a conveniência de não mais se deterem no interesse de levar a cabo a grandiosa obra de regeneração nacional , concordaram em avançar sempre, sem temer os obstáculos que infalivelmente apareceriam da parte do governo .

Foi esta "Aliança Tríplice" que perseverando no mesmo objetivo em marcha - a conspiração , em 11 de novembro reuniu-se ,a noite, na casa 131 da rua São Cristóvão ,2º andar e convocou os conspiradores para firmarem o célebre compromisso de sangue( Pacto de Sangue) entregue a Benjamin Constant."

O Alferes Joaquim Ignácio estava de Oficial de Dia ao 1 o RC na noite de 14/15 novembro .No início da noite fora ele que colocara o Regimento em forma e que falou as praças dos motivos da formatura. Mandou chamar os oficiais. E cerca de uma hora da madrugada de 15, estando fora do quartel, dali se aproximou o então Cap Hermes Rodrigues da Fonseca( futuro Presidente ) que lhe transmitiu mensagem do marechal Deodoro, destinada ao Major Solon ,no sentido de que "o rompimento devia ser feito pela manhã, pois só a esta hora poderiam desembarcar as forças navais ,"que apoiariam o movimento .

Em 24 jan 1890, tenente, foi ,como homem de confiança do Governo do Presidente Marechal Deodoro, comissionado Major Fiscal (sub comandante) do 2º Batalhão da Brigada Policial do Distrito Federal, que comandou de 12 abr a 27 mai 1890. Então, passou a Fiscal (sub comandante) do Corpo de Cavalaria da Brigada Policial do Distrito Policial onde foi elogiado por sua atuação "no controle a greve de carroceiros e cocheiros do Rio de Janeiro" e por "haver evitado incidentes entre as sociedades carnavalescas rivais". E, mais, "por haver restabelecido a ordem em conflitos ocorridos em 30 jan 1892".

Ao deixar a Polícia, em 21 ago 1892, depois de mais de 2 anos a ela servir como subcomandante e comandante de Unidades de Cavalaria e Infantaria, foi elogiado "por relevantes serviços prestados desde a Proclamação da República".

Ainda tenente foi comissionado tenente coronel comandante do Corpo de Cavalaria da Polícia de São Paulo por 7 meses, de 11 out 1992 a 25 abr 1893, antes de eclodir a Guerra Civil 1893-95 que enlutou o Rio Grande do Sul ,Santa Catarina e Paraná .

Retornou como tenente ao Rio onde tomou parte no combate a Revolta da Armada na Guanabara e por tal participação contou em dobro, os seguintes serviços prestados no combate a mesma e a Guerra Civil no Sul.

Em 1896 foi Ajudante de Ordens do Presidente de Goiás, de onde retornou para o 1º RC (atual Dragões de Brasília) e casou em 23 dez 1886, aos 26 anos, com D. Leonídia Fernandes Cardoso que conheceu ali em São Cristóvão ,próximo do Quartel do Regimento .Moça que chamava muita atenção dos militares do Regimento "junto com mais duas irmãs por serem 3 morenas muito bonitas". .Deste consórcio tiveram 16 filhos , que descontados 5 que não se criaram, acompanharam o casal pelo Brasil afora .Imagine-se hoje um oficial deslocar-se com tamanha prole ?

Em 1888 , ainda sem filhos vivos ,fez sua derradeira tentativa de cursar a Escola Militar. Esteve destacado em 1889 no 2º RC (Regimento Osório atual) em Jaguarão e de lá foi mandado para o 8º RC em Curitiba.

Foi nesta missão ,em Curitiba ,que em 24 fev 1889 ,nasceu-lhe seu filho Leônidas , o pai do presidente ,seguramente concebido e gerado no Rio Grande do Sul .

Por ocasião das agitações que precederam a Proclamação da República, delas participou, a partir de 12 out 1889, como secretário interino do então 9º RC (atual Regimento Andrade Neves) que fora transferido de Ouro Preto por incidente com a Polícia e acantonou no Quartel do 1º RC em São Cristóvão.

E com seu regimento ( o atual Andrade Neves )reduzido e a pé, e armado de espadas, clavinas e revólver ,protegeram a Artilharia até o Campo de Santana, onde, em 15 nov 1889 ,teve lugar a deposição do Gabinete Ouro Preto e a proclamação ,de fato, da República. Junto ali estava seu irmão Augusto Ignácio como aluno da Escola Militar da Corte.

Joaquim Ignácio como conspirador pela República ,havia sido um dos 42 integrantes do Exército e Armada que ingressaram no Clube Militar em 5 nov 1889 ,além de ser um dos 160 signatários do Pacto de Sangue firmado nos dias 11 e 12 nov, "de acompanharem Benjamin Constant até a resistência armada".

Em 16 nov 1889, acompanhou o porto-alegrense major Solon Ribeiro, pai de Ana de Assis, futura esposa de Euclides da Cunha, até a presença do Imperador D.Pedro II, para entregar-lhe a carta depondo-o e indicando-lhe o exílio, em função da Proclamação da República no dia anterior . Junto foi também o Ten Sebastião Bandeira .Ao seu irmão, Augusto Ignácio ,como aluno da Escola Militar no último ano, não foi oferecido o Pacto de Sangue.

Joaquim Ignácio era oficial do dia aos 1º e 9º RC na noite de 14/15 nov, onde teve atuação relevante fazendo por isso jús a promoção a tenente por serviços relevantes como se verá adiante .

Então ,foi elogiado pelo Ajudante General do Exército Gen Bibiano Costallat , em Ordem do Dia 600,de 1894 nos seguintes termos.

"Abnegação, acrisolado patriotismo e amor ao cumprimento do dever e agradecido pelo leal, constante e eficaz coadjuvação que prestou como Ajudante de Campo do Ajudante General de Exército, durante a Revolta na Armada."

Ao Ajudante Geral coube comandar o combate à Revolta de 1/5 da Armada na Baia de Guanabara e Niterói .E ao seu Ajudante de Campo Tenente Joaquim Ignácio ,obviamente ,coube destacado papel na coordenação e transmissão de ordens entre o Presidente, o Ajudante General do Exército e aos comandos subordinados ,

O Gen Bibiano nascera em Porto Alegre no final do ano em que o Duque de Caxias pacificou a Revolução Farroupilha e era o Presidente da Província e seu Comandante das Armas .Bibiano foi aluno brilhante e muito aplicado em Colégio local .Ingressou no Exército em 1883 ,aos 18 anos, combateu com bravura na Guerra do Paraguai onde ascendeu rápido por promoções por atos de bravura. Depois da guerra foi professor da Escola Militar da Praia Vermelha. Gozava no Exército excelente conceito de bravo e inteligente. Foi importante elemento em que se apoiou o Marechal Floriano Peixoto para combater a Revolta de 1/5 da Armada na Baía de Guanabara e Niterói. Foi Ministro do Superior Tribunal Militar. Exercia a chefia do Estado - Maior do Exército ao falecer em 8 dez 1904 ,aos 59 anos. Foi católico fervoroso cuja fé aumentava com o passar dos anos .Este foi o chefe que escolheu o Ten Joaquim Ignácio para seu Ajudante de Campo, em momento crucial e perigoso.

Em Porto Alegre

Liberado da função de Ajudante de Campo do Ajudante General, comandou uma Companhia do Colégio Militar do Rio de Janeiro. A seguir foi enviado para o 6º RC em Porto Alegre, ao final da Guerra Civil 1893-95,ou Revolução Federalista de 93.

Lá não adaptou-se ao frio. Muito doente, obteve licença para tratamento de saúde, uma constante em sua vida militar, ao ponto de adquirir mais tarde ,em Mato Grosso ,"impaludismo e beribéri curáveis."

No Paraná

Serviu no Paraná no 6º RC ,em Palmas, Ponta Grossa e Curitiba de 1896-25 jun 1906 ,por cerca de 10 anos ,com uma interrupção em Mato Grosso, tendo sido ajudante, subcomandante e comandante do 6º RC em operação de rescaldo e consolidação da vitória sobre a Guerra Civil 1893-95 que enlutou aquele estado. Serviu no 5º Distrito Militar (atual 5ª RM / 5a DE – Heróis da Lapa). Em Curitiba foi condecorado com a Medalha de Ouro por mais de 30 anos de bons serviços e promovido a major e elogiado "como comandante de brio do Exército, pela lealdade à República, patriotismo e amor à disciplina". Foi-lhe autorizado a usar a espada que lhe fora doada pelo Aviso 1920 de 2 fev 1906, a qual lhe fora oferecida em Curitiba, em 29 jul 1905,no 10 o aniversário de morte do Mal Floriano Peixoto ,na fazenda Paraíso ,em Floriano atual, próximo de Resende, em Barra Mansa. Durante sua permanência em Curitiba ocorreu a Guerra de Canudos no sertão baiano.

Em Mato Grosso

1898 – Apresentou-se ao 7º RC, em Miranda - MT (fronteira do Baixo Paraguai) sendo subcomandante e logo a seguir comandante, de 21 mar 1898 – 3 jan 1900 ,no combate de revolta ocorrida no Sul de Mato Grosso. Ali foi atacado "de impaludismo e beribéri curáveis."

Foi assim elogiado em 3 jan 1900 : "Lhe estendo os aplausos pelo modo brilhante, correto e de verdadeiro soldado com que se houve naquele cargo de Fiscal (subcomandante), durante a revolta do sul de Mato Grosso."

Em Jaguarão - RS

Como major foi enviado a Jaguarão - RS para comandar o 2º RC (atual Regimento Osório) e a Fronteira de Jaguarão onde permaneceu algum tempo. Retornou para servir na 1º RC (atual Dragões da Independência de Brasília).

No Rio de Janeiro novamente

No Rio assumiu o subcomando da 1ª RC e com ele participou das Manobras no Curato de Santa Cruz, de 12 ago – 15 set 1907, idealizadas pelo General Hermes Ernesto da Fonseca ,com o distrito a seu comando (a atual 1ª RM – Marechal Hermes). Tenente Coronel em 5 ago 1908, passou a comandar o 1º RC e a seguir, ainda no Rio, o 13º RC ,com o qual participou das Manobras de Santa Cruz ,em 1910.

Em 1911 foi louvado por sua atuação no combate a Revolta dos Marinheiros ou da Chibata em 1910 ,liderada pelo marinheiro Manuel Cândido ,de Encruzilhada do Sul -RS.

Em 10 jan 1912 é coronel por merecimento. Passou a comandar mais uma vez o seu 1º Regimento de Cavalaria (o atual 1º RC Dragões de Independência) que hoje guarnece o seu neto, Presidente Fernando Henrique Cardoso. Unidade cuja História foi pioneiramente publicada por nós em artigo no Correio Brasiliense ,Brasília , 21 abr 1972, sob o título "Uma testemunha dos grandes momento de nossa História". Depois foi publicado com nossa assessoria reconhecida pelo autor Cap Alcides Thomaz Aquino Filho o livro Dragões da Independência. Rio de Janeiro:BIBLIEx,1972(Coleção Sesquicentenário da Independência) onde figura o ex comandante Coronel Joaquim Ignácio Cardoso como ex comandante entre outros ilustres assinalados soldados desde 1809.

Ali elogiado por haver introduzido e instituído no Regimento o esporte "Caça à raposa, a cavalo". Foi no 1º RC que foi promovido a General de Brigada, em 2 jun 1914, aos 54 anos.

Em Bagé - RS

De 2 out a 13 dez 1915 comandou a 3ª Brigada de Cavalaria em Bagé, a atual 3ª Bda C. Mec- Mal Patrício Correia Câmara .Era a época do combate à Revolta do Condestado ,em Santa Catarina e Paraná .

Em Recife - PE

De 29 abr 1916 – 12 nov 1919, durante a 1ª Guerra Mundial, por mais de 3 anos e meio comandou a Região Militar em Recife -PE, tendo se esforçado ali para estimular a formação de reservistas com apoio na Lei do Serviço Militar Obrigatório inaugurado ,em 1916, com o 1 o Sorteio Militar realizado no atual QG do Exército e Palácio Duque de Caxias, durante a 1a Guerra Mundial ,em cerimônia presidida pelo presidente Wenceslau Braz .

Em Belém-PA

De 7 jan 1920 a 1 mar 1921 ,por um ano, comandou a atual 8ª RM em Belém do Pará ,que abrangia parte da atual 10ª RM em Fortaleza.

Em Mato Grosso – Revolução de 1922

De 13 ago 1921 – 30 mar 1922 ,comandou a 1ª Circunscrição de Mato Grosso e atual 9ª RM/9a DE . Ali foi acusado de envolver-se na conspiração tenentista, anti- oligárquica, de que resultaria a Revolução de 1922 no Forte de Copacabana, na Escola Militar no Realengo e no Mato Grosso .Neste liderada por seu substituto e em 5 jul ,o General Clodoaldo da Fonseca .Movimento que ali fracassou por completo e pôs fim a brilhante carreira do General Clodoaldo ,grande figura da Reforma de 1808 .Foi ele que na Europa adquiriu canhões Krupp, metralhadoras Madsen e fuzis Mauser ,com respectivas fábricas de munições que por muitos anos supriram nosso Exército. Era primo do Marechal Hermes .

Em conseqüência ,o General Ignácio Joaquim foi preso no Rio de Janeiro a bordo da Scout Ceará ,de 19 ago a 2 dez, por mais de 100 dias, atendendo a ordem do Ministro da Guerra Pandiá Calógeras e do Presidente Arthur Bernardes, em razão das ocorrências de Mato Grosso.

Colocado em liberdade por não ter sido denunciado pelo adjunto do promotor da 6ª Circunscrição Judiciária Militar, como o responsável pelos acontecimentos em 5 jul 1922 (Revolta de 1922, episódio dos 18 do Forte).A repressão foi violentíssima, muitos oficiais foram presos na Ilha Grande. Em 8 jan 1923 foi novamente preso por ordem do governo, do presidente Arthur Bernardes, na 1ª RM, onde ficou até 5 mai 1923, quando foi reformado com apoio no Art. 51 do Dec. Legislativo 4.555 de 10 ago 1922, revigorado pelo Art. 54 da Lei 4.632 de 6 jan 1923, visto contar com mais de 40 anos de serviços (em realidade cerca de 48 anos). Foi reformado aos 63 anos depois de relevantes serviços prestados ao Brasil do que é eloqüente testemunha sua Fé de Ofício aqui interpretada e sintetizada. Sobreviveu pouco mais de um ano ao rude golpe e humilhante e ao que parece injusta prisão. Faleceu em jun 1924 no Rio de Janeiro aos 64 anos. Foi promovido a marechal post mortem .

O seu filho gen Brigada (na Reserva) Leônidas Cardoso

Nasceu em Curitiba em 24 fev 1889, indo para o Rio para onde seu pai alferes de Cavalaria iria participar, com destaque, da propaganda, proclamação e consolidação da República ,conforme demonstramos.

De retorno ao Paraná, em jun 1905, aos 16 anos, ingressou na primeira turma da novel Escola de Guerra de Porto Alegre (1906-11) de onde saiu Aspirante a Oficial de Intendência na 1ª turma com este título, sendo ali contemporâneo ,entre outros ,dos mais tarde Mal Eurico Gaspar Dutra e Gen Pedro Aurélio Góes Monteiro a cujos Gabinetes como ministros da Guerra ele integraria com intendente .

Em Porto Alegre, no Casarão da Várzea , participou da inflexão do bacharelismo militar equivocado ,do ensino no Exército de 1874-1904, para o profissionalismo militar que até hoje sustenta ,em decorrência do Regulamento de Ensino do Exército de 1905. Este ,imposto por veteranos e filhos de veteranos heróis do Exército na Guerra do Paraguai e outros profissionais das Armas ou tarimbeiros ,como o seu pai ,então capitão de Cavalaria em Curitiba .

Trabalhou no Serviço de Intendência em funções denominadas Contador. Serviu ,ao que consta, no Rio ,no 1º RC atual Dragões da Independência de Brasília, hoje encarregado da Guarda do seu filho Presidente.

Em 1910 foi promovido a 2º Ten e em 1914 deu início a atividade literária em jornais ,escrevendo inclusive sobre História ,em jornais e revistas de curta duração.

E foi num crescendo até colaborar com os importantes jornais Correio da Manhã, O País, Gazeta de Notícias, O Globo, A Noite, O Imparcial e o Jornal do Brasil.

Em nossas revistas militares contribuiu com o número inaugural de Nação Armada ,em 1939, sob a direção do Gen Affonso de Carvalho, biógrafo de Caxias e de Rio Branco e, com extenso artigo de 13 páginas, intitulado "Jubileu da República - História do 15 de novembro", seguramente ,tendo em mente reverenciar a atuação assinalada de seu pai e seus companheiros no episódio e aqui demonstrada, o que consegue fazer com provas irrefutáveis .

Tendo muito escrito sobre a Proclamação da República em seu Centenário, conforme consta do bibliografia ,o artigo do major Leônidas é o que melhor radiografou e monitorou passo a passo o núcleo e motor da conspiração militar chamado Aliança Tríplice ,ao qual se juntaria, em 30 de outubro ,o porto-alegrense ,major de Cavalaria Frederico Solon Sampaio Ribeiro que passou a dirigir os trabalhos conspiratórios e, em fase em que havia a convicção, por diversas indícios da existência de plano secreto do governo para dissolver o Exército para garantir o 3o Reinado .Plano traduzido pela arregimentação da Guarda Nacional, criação da Guarda Cívica, aumento das policias militares da Corte e Rio de Janeiro, todas armadas e instruídas às pressas, com fuzis Comblain de retro carga ,ficando os Exército com as Minié de carregar pela boca etc.Quando o Major Leônidas perdeu o pai possuía cerca de 36 anos tendo naturalmente ouvido muito do pai e amigos detalhes da conspiração militar que resultou o 15 de novembro .Assim seu artigo é de muito valor histórico e fonte básica da História do 15 de Novembro .

Com 2º Ten tentou Medicina e interrompeu o curso em 1917,formado em Fármácia .Foi promovido a 1º Ten em Jaguarão - RS, em set 1919, servindo no RC local e atual Regimento Osório de Porto Alegre ,onde seu pai também havia servido. E possível que tenha sido concebido em 1888, em Jaguarão . De retorno ao Rio, tentou Direito, 1919-22, tendo que interromper o curso por sua participação na Revolução de 1922, junto com seu pai, conforme abordamos.

Foi preso no quartel do atual 1º Batalhão da Polícia do Exército, na Tijuca ,enquanto seu pai, gen Bda da Ativa, amargava sua dura prisão a bordo do Scout Ceará, fundeado na Baia de Guanabara.

Do Rio foi enviado para a Fortaleza de Óbidos - PA. E depois foi mandado servir em Belém - PA, onde conheceu a amazonense, filha de alagoanos .D. Naide Silva, com a qual se casaria em 1928, aos 39 anos e, ainda 1º Ten ,depois de servir no Hospital de Itatiaia e atual CRI, em 1926-27.Declarando-se favorável à Revolução de 5 jul 1924, foi enviado para São Luiz do Maranhão ,para ali servir no atual Batalhão de Caçadores local e pouco dias depois da morte de seu pai.

E acompanhou com entusiasmo a grande Coluna Miguel Costa, a qual juntou-se a Coluna Prestes, vinda do Sul para realizarem a Grande Marcha depois deste, então tenente, revoltar parte do atual 1º Batalhão Ferroviário de Lajes - SC, então sediado em Santo Ângelo. Assumiu o comando do batalhão que não aderiu à revolta o então Ten José Machado Lopes ,mais tarde comandante, como coronel, do 9 o Batalhão de Engenharia de Combate da FEB. Coluna Miguel Costa/Prestes que escreveu páginas épicas através do Brasil, até internar-se na Bolívia em 1927.

Ao retornar do Maranhão depois de breve passagem pela unidade de Artilharia de Itú - SP ,foi mandado servir no então Depósito de Convalescentes de Campo Belo ,atual Centro de Recuperação do Exército ,onde contatou com o então Ten Odylio Denys que ali fora mandado convalescer, depois de longa e sofrida prisão na Ilha Grande, junto com o Ten Edmundo Macedo Soares .Este, dali conseguiu fugir e ir para Europa, onde adquiriu os conhecimentos que aplicou na construção da Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda, "a mãe da industrialização do Brasil "e na fabricação de Granadas de Artilharia na Fábrica do Andaraí

Ao ser desligado, em Resende, do Depósito de Convalescentes de Campo Bello(nome primitivo da cidade de Itatiaia-RJ) o Boletim Interno 147 de 13 jun 1927 registrou:

"Desligamento de Oficiais .Por haver entregue a carga do Almoxarife e ter de seguir para a Capital Federal afim de recolher-se ao seu estabelecimento( Colégio Militar do Rio de Janeiro) ,desligo nesta data o sr 1o Ten Intendente Leônidas Cardoso.

A desligar este oficial é com júbilo que o louvo e o elogio pelos bons serviços prestados a este Depósito de Convalescentes ,onde sempre demonstrou capacidade de trabalho, inteligência, boa vontade, e solicitude no cumprimento do dever ,qualidades estas aliadas a um bom espírito de camaradagem e ótima educação civil e militar .Ass: Major Dr Boaventura de Almeida Dias Diretor ."

O Ten Leônidas havia chegado a Itatiaia vindo do 4o Grupo de Artilharia a Cavalo de Itú e seguia pata o Colégio Militar do Rio de Janeiro. Por diversas vezes teve como missão viajar até ao Rio junto a Diretoria de Contabilidade Geral do Exército, para receber e efetuar o pagamento dos vencimentos dos oficiais, praças e civis do Depósito de Convalescentes, em local ,hoje ,sede do Executivo de Itatiaia, com o nome de Campo Belo ,recém cedido pelo Exército.

Promovido a capitão em 1928, aos 39 anos, casou com D. Neyde Silva. A carreira na Intendência era lenta em promoções ,até pelo menos ao que lembro ,a década de 50.

Participou da Revolução de 1930 que derrubou oligarquias estaduais que se haviam consolidado depois do governo do Marechal Floriano Peixoto . Oligarquias que perseguiram militares e entre os quais o seu pai, grande vítima da repressão de Arthur Bernardes em 1922 e 24.

Em 1931 o Capitão Leônidas formou-se em Direito .Nasceu, no Rio de Janeiro em 18 jun 1931 onde servia, o seu filho primogênito Fernando Henrique Cardoso ,na casa 24 ,Rua 19 de Fevereiro no Botafogo e atual Presidente da República e Comandante Supremo das Forças Armadas. Casa de propiedade de sua avó e residência paterna onde viveu dois anos com sua vó Linda ,viúva do Marechal Joaquim Inácio ,ali, com memória exemplarmente cultuada pela sua viúva .

No ano seguinte colocou-se ao lado da Revolução 32 que foi combatida no seu mais alto nível por seu tio General de Brigada Augusto Ignácio do Espírito Santo Cardoso, mais moço de que seu falecido pai.

E aí talvez resida a origem das posições políticas diversas dos descendentes de seu avô e dos descendentes de seu tio, aos quais estariam reservadas importantes funções na Presidência de Getúlio Vargas de 1951-54. Este por longo tempo um ídolo na família Cardoso.

Major, em 1934, foi convidado pelo seu antigo colega da Escola de Guerra de Porto Alegre, o Ministro da Guerra General Pedro Aurélio de Góes Monteiro para servir em seu Gabinete com intendente .

A esta altura apresentava elevado índice de politização. Segundo seu filho Fernando o pai "revelava-se nacionalista e defensor intransigente do que julgava ser os interesses do Brasil e de seu Povo. Alegre, bem humorado, revelava grande facilidade em comunicar-se com os mais simples. Negociador, ouvia muito e possuía grande poder de argumentação e de persuasão .Era um consumado contador e bem sucedido de histórias."

Estas características segundo os que conhecerão, teriam muito influenciado na formação do filho, ao lado de sua avó materna, de quem Fernando Henrique era o predileto e ao qual transmitiu um respeito reverencial pelo seu avô o Marechal José Ignácio, que morto, a sua presença espiritual e lições cívicas permaneciam vivas na casa de sua avó ,como um herói da propaganda, proclamação e consolidação da República. Circunstância consagrada em monumento ao Marechal Joaquim Ignácio e outros no Rio(praça Barra da Tijuca) e, figurar ele ao lado do Major Solon Ribeiro, pai de Ana de Assis ,esposa de Euclides da Cunha ,em conhecida alegoria em que Solon entregava ao Imperador, em 16 nov 1889 ,a intimação para deixar o Governo e exilar-se .

Por ocasião da Intentona Comunista no Rio de Janeiro, o Major Leônidas gozava férias em Icaraí com a família. Em 1938 foi contra ação Integralista frustada de atacar o Palácio do Catete de Getúlio Vargas.

Em 1939 foi convidado pelo Ministro Gen Eurico Gaspar Dutra, seu colega na Escola de Guerra de Porto Alegre, para integrar o seu Gabinete durante a 2ª Guerra Mundial.

Talvez por influência de Dutra , do Gen Gois Monteiro e, do Cel Affonso de Carvalho, diretor da Nação Armada, inclinou-se inicialmente por uma aliança com Alemanha. As circunstâncias posteriores o fazem recuar junto com o grupo favorável à Alemanha e para posição pró EUA/Inglaterra.

Contou-me o cel Elber de Mello Henriques que assistiu o cel Affonso de Carvalho, no alto de um morro no Forte Duque de Caxias (atual CEP) dizer-lhe no início da guerra sonhar "um dia com a Esquadra Alemã fundeada na Guanabara".

Em 1940 ,o major Leônidas foi servir no QG da 2ª Região Militar no centro de São Paulo e residiu próximo ao Parque Água Branca, onde seu filho Fernando Henrique tomou o primeiro contato com São Paulo.

De retorno ao Rio, o Major Leônidas foi encarregado, acreditamos, no atual Forte Duque de Caxias, de usando binóculos, anotar os navios que deixavam o Rio rumo ao Nordeste. Tarefa que vez por outra seria acompanhado e ajudado pelo menino de cerca de 10 anos Fernando Henrique Cardoso.

Promovido a tenente coronel, em dez 1942 ,continuou a servir em definitivo em São Paulo, desde jan 1940 , sob a égide de Estado Novo. Foi promovido a coronel em 29 out 1945, passando a inatividade como General de Brigada por questões de saúde, quando dedicou-se a advocacia. Engajou-se em movimentos nacionalistas durante o Governo Dutra ,sendo um dos fundadores ,em 1948, do Centro de Estudos de Defesa do Petróleo e da Economia Nacional (CEDPEN), onde atuou até a criação da Petrobras. Tendo essa iniciativa inspirado o Presidente Fernando Henrique a fundar e presidir em 1965 o CEBRAP (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento ).

Em 3 out 1954 foi eleito deputado federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB)que havia sido fundado por Getúlio Vargas , menos de 2 meses antes. Encerrou seu mandato em 1959.

Em 31 de março de 1964, segundo o professor Fernando Henrique Cardoso "o seu pai General Leônidas, morando em Copacabana, manifestou-se contra o Movimento de 64, como ex-deputado do PTB e favorável as reformas propostas por Jango Goulart. O então prof Fernando Henrique Cardoso, segundo o próprio, "auto exilou-se no Chile por nada ter a ver com política, e ser um professor universitário, com preocupações puramente acadêmicas e, para no exílio poder ensinar mais livremente e não suportar ficar num país que iria limitar e cercear sua liberdade de expressão!"

O Gen Leônidas Cardoso faleceu em São Paulo ,em agosto de 1965, com quase 76 anos, quando seu filho Fernando Henrique, com 34 anos, encontrava-se no Chile.

O gen Augusto Ignácio e os filhos gen Ciro e cel Dulcídio

A carreira do General Augusto Ignácio pode assim ser sintetizada: Praça em 1884, no Curso de Cavalaria da Escola Militar da Corte na Praia Vermelha. Alferes em 1890, depois de haver participado da deposição do Gabinete Ouro Preto e proclamação, de fato da República, em 15 nov 1889, junto com outros companheiros da Escola Militar. Evento do qual participou seu irmão Joaquim Ignácio, como alferes do 9º RC (atual Andrade Neves).

Integrou de 1893-95, tropa legal que participou do combate à Guerra Civil 1893-95 no Rio Grande do Sul ou Revolução de 93 que atingiu os estados do Paraná e Santa Catarina em combinação com a Revolta na Armada. No curso desta Guerra Civil foi promovido a tenente em 1894, e seu irmão a capitão, posto este que alcançou em 1906. Em 1898, como tenente ,encontrava-se destacado na Lapa - PR, local da épica resistência, 4 anos antes ,do Coronel Ernesto Gomes Carneiro ao sítio federalista, liderado por Gumersindo Saraiva ,apoiado por marinheiros revoltosos na Armada .Ali nasceu seu filho Ciro, futuro Ministro da Guerra em 1952-54 e notável comandante da AMAN.

Major em 1912, 17 anos mais tarde que o irmão. Tenente Coronel em 1917, 9 anos após seu irmão. Coronel em 1919, 7 anos depois do irmão. Foi preterido para a promoção a General de Brigada em razão da Revolução de 1922 quando comandava o 4º RC em Três Corações, local da atual ESA e quando seu irmão esteve preso no Rio por acusado de envolvimento na mesma em Mato Grosso, com comandante daquela área. Serviu em várias unidades de Cavalaria no Rio Grande do Sul e Paraná e no 1º RC (atual Dragões da Independência) no Rio de Janeiro.

Reformou-se em 1923 ,a pedido e seu irmão Joaquim Ignácio foi reformado por acusado de revolucionário de 1922.

Fixou-se em Três Corações como industrial de cerâmica onde participou das conspirações que resultaram na Revolução de 30, tendo acolhido em sua casa o Tenente Djalma (Soares) Dutra, ex integrante da Coluna Miguel Costa /Prestes e que seria morto em 1930, a bala, em Três Corações, "acidentalmente" ,em condições até hoje não suficientemente esclarecidas, no que se empenha elucidar uma jornalista local Ilze Joana Ribeiro ,como provável assassinato político .

Em 1932 a oficialidade tenentista, vitoriosa em 1930, sugeriu ao Presidente Getúlio Vargas, o nome do General Augusto Ignácio para ser o Ministro da Guerra, o qual foi surpreendido no Rio com a escolha.

Assumiu o Ministério da Guerra em 28 jun 1932, como General de Brigada reformado e na oportunidade em que lideranças civis e militares preparavam a Revolução de 1932 em São Paulo. Revolução que eclodiria 12 dias depois e cujo combate, em amplitude nacional, coube-lhe liderar no mais alto nível.

Sua posse como Ministro da Guerra provocou um ofício violento do General Bertoldo Klinger ,de protesto por sua nomeação como ministro, alegando entre outras coisas: "Não infundir confiança dos pontos de vista de aptidão física e sob o aspecto moral... ou de que já não era um militar, pois que de militar apenas tinha lembranças da pensão militar". Alegou também que "ele não possuía o Curso de Estado - Maior".

Recebido seu ofício em 6 julho, às vésperas de eclodir a Revolução de 32, o Gen Augusto Ignácio telegrafou a Klinger comunicando sua destituição do comando da área de Mato Grosso e a sua reforma administrativa. O General Bertoldo Klinger foi escolhido para comandar as tropas revolucionárias paulistas e o General Augusto Ignácio ocupou-se em organizar, no mais alto nível ,o combate aos revolucionários de 1932 em todo o Brasil.

Afastou de seu gabinete tenentes radicais. Criou o Correio Aéreo Nacional (CAN) e a Escola de Educação Física. Organizou o Conselho de Segurança Nacional. Instituiu a Comissão Técnica e consolidou as Escolas de Armas. Regulamentou as Formações Sanitárias, Divisionárias, o Serviço Telegráfico em Campanha, o Serviço Geográfico do Exército e a Escola de Aviação do Exército, etc.

Fez uma administração profícua conforme o registrou o General Francisco de Paula e Azevedo Pondé em História Administrativa do Exército – República.

Reverteu ao serviço ativo do Exército em abril de 1933, como General de Brigada . Em 11 dez 1933, dia da instalação da Assembléia Nacional Constituinte pediu demissão do cargo de Ministro do Exército.

Fixou residência no Rio e foi reformado pela 2ª vez, em 1º julho 1938, como General de Divisão, com 44 anos de serviços, pois estivera fora 10 anos. Faleceu no Rio em 23 setembro 1947, aos 63 anos.

Casado com Ana Fernandes Cardoso, irmã de sua cunhada Leonídia ,esposa de seu irmão Joaquim Ignácio .Dois de seus filhos foram generais: Gen Ciro do Espírito Santos Cardoso, duas vezes nome de turma na AMAN e considerado o general cadete nascido em 1898, na Lapa-PR e foi chefe da Casa Militar (1951-52) e Ministro da Guerra de Getúlio Vargas (1952-54).

Era seu irmão o Gen Dulcídio do Espírito Santo Cardoso, professor do Colégio Militar do Rio de Janeiro , que foi Secretário de Segurança de São Paulo ,em 1937 ,como major e, prefeito do Rio de Janeiro 1952-54, quando casou com a cantora portuguesa Ester de Abreu.

General Ciro do Espírito Santo

Nasceu na Lapa - PR em 24 ago 1898. Ingressou na Escola Militar de Realengo em 1915, sendo declarado Aspirante a Oficial de Infantaria em 1918. 2º Ten em 1919, tendo servido nos 7º RI (atual 7º BI Mtz – Batalhão Gomes Carreiro) em Santa Maria e no 54º BC em São Gonçalo-RS. 1º Ten em 1921.

Instrutor de Infantaria da Escola Militar do Realengo em 1922, participou com destaque da Revolução que ali teve lugar. Em conseqüência foi preso por um ano e quatro meses. Seu pai pediu transferência para a Reserva e seu tio Joaquim Ginásio foi preso no Scout Ceará e reformado e faleceu em 1924. Seu primo 1º Ten Leônidas Cardoso foi preso no quartel do atual 1o BPE - Marechal Zenóbio da Costa e a seguir enviado para a Fortaleza de Óbidos no Pará. Os militares de sua família pagaram alto preço então. Sua carreira foi paralisada.Com a vitória da Revolução de 30 foi promovido a capitão em 15 nov 1930.

Seu pai, em jun 1932 foi resgatado da reforma e nomeado como general reformado , Ministro da Guerra de Getúlio Vargas e ele a Ajudante - de Ordens do pai, depois de servir no 11º RI em São João del Rei, cidade onde passaria os últimos dias de sua vida, trabalhando por ela, que em reconhecimento o reverenciaria com monumento.

Major em 1934, na EsAO. Retornou ao 11º RI em 1935 e de 1935-36 cursou a ECEME e 2º lugar ao final do curso. Instrutor de Infantaria no Realengo em 1937. Oficial do EM/2ª RM em São Paulo, onde cooperou com seu irmão Major Dulcídio então Secretário de Segurança Pública de São Paulo. Oficial do EME em 1938. Chefe do EM/7ª RM ,no Recife 1939-40. Ten Cel em 1940 e comandante do Batalhão de Guardas (atual BGP Batalhão da Guarda Presidencial de Brasília , o responsável também pela segurança de seu primo presidente).

Coronel em 1942, chefiou o Gabinete da Conselho de Segurança Nacional de jul 1943-46 , órgão que fora organizado por seu pai .

General de Brigada em 1946. Serviu no EME, comandou Núcleo das Unidades Escolas. De 1947-48, subcomandante da 3ª DI – Santa Maria,(atual 3a DE -Divisão Couraçada). Comando da Escola Militar de Resende em 1948-50 (atual AMAN) onde tornou-se líder dos cadetes que o consagraram com o título de General Cadete e o elegeram duas vezes como nome de turmas dela egressas ,em 1948 e 1950.

Quando ingressamos na AMAN, em 1953 ,ele transpôs conosco, simbolicamente, o portão destinado a entrada de novos cadetes e na qualidade de General Cadete.

Da AMAN foi comandar a 7ª RM em Fortaleza, pronunciando se a favor da posse de Getúlio Vargas ,contestada pela Imprensa e políticos , o que lhe valeu convite para presidir a Casa Militar do Presidente Getúlio Vargas ,de 31 jan 1951-10 abr 1952, cumulativamente com a Secretaria do CSN e Comissão Especial da Faixa de Fronteira.

Em 26 mar 1952, exatamente 30 anos passados ,substituía o pai na função de Ministro da Guerra do Presidente Getúlio Vargas e em substituição ao General Newton Estillac Leal ( seu primo longinquo).E passou a um combate efetivo do Comunismo no Brasil.

General de Divisão em ago 1952 .De set – nov 1952 foi Ministro da Marinha, interino.

Em 8 fev 1954 ,82 coronéis divulgaram o Manifesto dos Coronéis que traduzia: "Inconformismo de ser a dotação orçamentária do Exército, menor do que a das outras FFAA; aumento de 100% do salário mínimo, aberração que subvertia valores profissionais; apelo ao reaparelhamento do Exército e ,apontando a ameaça dos quadros institucionais pelo Comunismo.

Este Manifesto lhe custou o cargo em 23 fev 1954 ,sendo substituído pelo General Euclides Zenóbio da Costa, Ministro da Guerra até o suicídio do Presidente Getúlio Vargas ,em 24 ago 1954.

A seguir foi Diretor de Ensino no Exército, no resto de 1954. Comandou a 4ª RM/4aDI em Juiz de Fora jan 1955 – fev 1956. Diretor Geral do Serviço Militar mar 1956, quando ordenou a prisão do Cel Neno Canabarro Lucas, líder da Frente de Novembro em favor do General Henrique Lott.

Dez 1956 – mar 1957, foi Diretor do Material Bélico. Entre mar – mai 1957 estagiou na Escola Superior de Guerra. Comandou o IV Exército (atual CMNE) de jun 1957 a mar 1959. Gen de Exército em ago 1958, assumiu a Diretoria Geral do Pessoal de abr – 17 jul, quando passou a Reserva como Marechal.

Retirou-se para São João del Rey onde passou a dirigir a Faculdade local a frente da qual deparamos ,em 1982, quando comandamos o 4º BE Cmb e a caminho de Juiz de Fora ,seu monumento.

E ali ,a gratidão de um sobrinho político nosso, por casado com uma sobrinha e ,uruguaio da família de Gumersindo Saraiva que cercara a Lapa, local onde o Marechal Ciro nasceria 4 anos mais tarde.

Gratidão pela maneira paternal com que o Marechal Ciro o recebera e resolvera seu problema a primeira vista insolúvel.

O Marechal Ciro faleceu em Belo Horizonte, em 31 ago 1979 aos 81 anos. No início dos anos 50 um filho seu de nome Augusto, homenagem do ilustre avô, foi cadete da AMAN e formou-se oficial sem completar a carreira morrendo de grave doença .

Foi um trotista famoso, que segundo consta no folclore acadêmico, deu origem ao trote Augustometro. Este consistia em o futuro cadete e chamado bicho ,colocar o dedo indicador no solo e girar rapidamente em torno dele. Segundo outros depoimentos o tratamento de Augustíssimo dispensado pelos bichos aos cadetes veteranos teria sido derivado do nome do célebre trotista. Outro filho de general Ciro foi o seu homônimo que cursou as escolas preparatórias de Cadetes de Fortaleza e São Paulo onde deixou uma boa imagem entre seus colegas e depois seguiu a carreira diplomática onde se aposentou.

E assim concluímos este ensaio que servirá ao leitor e pesquisador interessado para aprofundar e fazer interpretações e correlações .

Fontes consultadas

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