ÉRICO VERÍSSIMO – A REVOLUÇÃO FARROUPILHA E O SEU PACIFICADOR DUQUE DE CAXIAS E A SUA OBRA ADMINISTRATIVA DE PORTO ALEGRE

Cel Cláudio Moreira Bento

 

Há anos adquirimos e lemos encantados a trilogia O Tempo e o Vento de Érico Veríssimo, quando já possuíamos algum conhecimento sobre as guerras externas e internas que envolveram no Rio Grande do Sul, assunto que nos especializamos como historiador militar terrestre brasileiro. Eventos muito bem abordados no 1º volume O Continente da trilogia

Em 1972, quando fomos a Porto Alegre para receber prêmio na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul pelo nosso trabalho: Hipólito da Costa – o gaúcho fundador da Imprensa Brasileira, ora publicado e 32 anos depois, tivemos a oportunidade de visitar Érico Veríssimo em companhia de uma jornalista carioca, filha de um destacado jornalista falecido e que representara a ABI no julgamento do concurso em que fomos um dos premiados.

E na casa do escritor, com visita previamente agendada pela mencionada jornalista, fomos muito bem recebidos por Èrico e sua senhora . E lembro de ali haver perguntado sobre a minha surpresa por seu enorme conhecimento histórico militar do Rio Grande do Sul que ele tão bem abordara como moldura de seu romance, e em especial o citado 1º volume .

E ele respondeu que havia estudado muito a História do Rio Grande do Sul, mas como romancista se tivesse que dela se desprender o faria.

Naquela época eu havia concluído a Escola de Estado- Maior do Exército e lhe falei como o seu romance Senhor Embaixador continha lições preciosas para oficiais que viessem a exercer funções de adidos militares, o que o deixou muito satisfeito.

Mais tarde ao escrevermos a História da 3ª Brigada de Cavalaria Mecanizada sediada em Bagé, ao pesquisar os antecedentes desta cidade, lá deparamos com o furriel Ricardo, bisavô de Érico Veríssimo que combateu em Ibirocai em 19 de outubro de 1816, na 1ª Guerra contra Artigas, no 1º Regimento de Cavalaria de Milícias do Rio Pardo. Personagem que em realidade, segundo Tarcísio Taborda em seu Governos e Governantes de Bagé. Museu D. Diogo de Souza, 1966, foi o administrador de fato da Guarda e Distrito Militar de Bagé em 1811/1825 por estar doente o comandante do Distrito.

E seria o trineto do furriel Ricardo, Luiz Fernando Veríssimo, filho de Érico que imaginaria a notável figura do Analista de Bagé, tornado público com suas crônicas e contos em 1981., sucesso repetido em 1982 com publicação Outras do analista de Bagé que se transformariam em grande sucesso teatral.

A então Guarda e Distrito de Bagé depois de ser incluída como distrito de Piratini em 1831, junto com Canguçu e Cerrito ,se tornaria município independente depois da Revolução Farroupilha, por ato do hoje Duque de Caxias que teve atuação administrativa marcante como presidente da Província, tendo elevado Bagé a freguesia e a município e vila ,pelas leis 64 e 65 de 5 de junho de 1846.

Pois Bagé com a revolução havia sido abandonada e nela residiam somente duas senhoras idosas . Assim foi Caxias que reergueu Bagé a recolocando no caminho do progresso, como também ele reergueu Pelotas, conforme pesquisa do historiador Ângelo Pires Moreira, bisneto do simbolista farrapo Bernado Pires que estudamos em Autoria dos símbolos do Rio Grande do Sul (subsídios para revisão histórica tradicionalista e legal).Recife: UFRPE, 1971.

Em Porto Alegre a atuação administrativa de Caxias foi notável e dela tento remover mais uma vez aqui, a patina dos tempos que a encobrem e que já a abordamos em nosso estudo , Porto Alegre –memória dos sítios farrapos e da administração de Caxias. Brasília: IHTRGS/ EGGCF, 1989. Trabalho em que muito nos louvamos em Walter Spalding e Moacyr Flores

O Duque de Caxias presidira o Rio Grande do Sul de 1842 a 1846 e depois de 1851 a 1852 e o representaria no Senado por cerca de 30 anos. E Porto Alegre dele mereceu especial atenção administrativa.

Três dias depois de sua posse como presidente da Província, visitou a Santa Casa de Porto Alegre, sendo logo a seguir eleito seu irmão e seu Provedor para 1843.Como provedor mandou construir a sua imponente fachada e nela criou uma enfermaria militar que foi a raiz histórica do Hospital Militar de Porto Alegre, conforme estudamos no 3º volume da História da 3ª Região Militar. E tanto fez por esta instituição que ao deixar a sua administração foi titulado Grande Benemérito da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre .

Ele concluiu a 2ª torre da igreja matriz e mandou reparar o seu telhado e a rebocá-la por fora. Determinou que fosse projetado o cadeião que existiu até bem pouco tempo na Volta do Gasômetro e construiu a ponte dos Açorianos no arroio Dilúvio e reconstruiu a ponte da Azenha.

As casas de Porto Alegre passaram a ser numeradas e as ruas da cidade começaram a serem calçadas, com prioridade os trechos em ladeira, para permitir o tráfego durante as chuvas, como nas generais Câmara, João Manoel etc.

Determinou a abertura das atuais ruas Venâncio Aires ( antiga do Imperador) e a República( antiga da Imperatriz) e ampliou a iluminação pública. Determinou o planejamento da nova Câmara de Vereadores e do prédio da Justiça, ao lado do Teatro São Pedro, cujas obras tiveram o seu incentivo e apoio.

Depois de pacificar a família gaúcha determinou a demolição das trincheiras de Porto Alegre que protegeram o seu atual centro de 3 sítios farrapos. Trincheiras que tiveram inicio com governador Coronel Marcelino de Figueiredo para proteger a cidade de um ataque espanhol durante a Guerra do Sul de 1763 a 1776, em que o Rio Grande do Sul fora invadido em 1763 pelo espanhol General D. Pedro Ceballos e, em 1774 pelo general espanhol, nascido no México, D. Vertiz y Salcedo. Demolição para que Porto Alegre se expandisse pela Várzea ao longo da atual João Pessoa.

Preocupado com a não poluição do rio Guaíba junto a cidade, proibiu que nele " fossem feitos despejos e mais imundícies." E mandou nele construir dois trapiches para a coleta de água em melhores condições de consumo.

No setor educacional criou o Estabelecimento de Aprendizes Menores no Arsenal de Guerra, no qual matriculou 34 órfãos de ambos os partidos que se enfrentaram na Revolução Farroupilha . Sua obra de imensa projeção no setor de Educação foi o lançar em 1º de fevereiro de 1846 , em presença de D. Pedro II, a pedra fundamental do Liceu D. Afonso e o apoiando com duas loterias. Escola nos moldes do Colégio São Joaquim, onde ele estudara no Rio de Janeiro e que deu origem ao famoso Colégio D. Pedro II.

Apoiou a construção do Mercado Público de Porto Alegre e de seu trapiche e rampa com um empréstimo que concedeu para tal fim..

Walter Spalding que estudou esta sua obra administrativa assim escreveu:

"Se fizermos um estudo minucioso do Duque de Caxias relativamente a sua obra como administrador público em Porto Alegre , vamos encontrá-lo em todos os setores, dos mais salientes aos mais humildes, inclusive no tratamento dos pobres e do órfãos de guerra, sem olhar para o partido político de quem quer que fosse."

Ai talvez resida a explicação de Caxias haver se ligado à gratidão dos gaúchos depois de cerca de 6 anos, como o seu presidente de Província e Comandante de suas Armas, ao final da Revolução Farroupilha que pacificou e da Guerra contra Oribe e Rosas 1851-1852, além de continuar a defender os interesses da terra e gente gaúcha como senador e três vezes chefe do Governo do Brasil, como Presidente do Gabinete de Ministros, conforme demonstramos em nosso Caxias e a Unidade Nacional .Porto Alegre: AHIMTB/Gênesis/Metrópole, 2004.

Em O Continente, v. 1 da sua trilogia, Érico Veríssimo aborda a Revolução Farroupilha e a sua pacificação honrosa e vista da hipotética Santa Fé. E é neste capítulo que o seu famoso personagem farrapo Capitão Rodrigo retorna a Santa Fé para atacar no Sobrado, os imperiais Cel Ricardo Amaral e seu filho ,no qual numa briga ele havia marcado o seu rosto com um R feito a faca.,

No ataque ao Sobrado, o Capitão Rodrigo foi morto a bala ao pular uma janela no assalto e no seu interior . Foi também morto o Cel Ricardo Amaral e seu filho conseguiu fugir.O enterro do capitão Rodrigo é concorrido e o do capitão Ricardo Amaral não.

Isto nos faz lembrar o cemitério de Bagé onde estão próximos os túmulos do General Antônio Neto e o do chefe imperial que ele venceu em Seival, em 10 de setembro de 1836, o então tenente coronel João da Silva Tavares que era naquela área o maior esteio do Império. Combate do Seival que estudamos , a luz dos fundamentos da Arte Militar em O Exército farrapo e os seus chefes. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1991.v.2. Combate no qual tem sido pouco divulgado que e tropa vencedora era a Divisão Liberal, originária por transformação do Corpo da Guarda Nacional do amplo município de Piratini , do qual faziam parte mais os distritos de Canguçu, Cerrito e Bagé até o Pirai . dos quais se originaram alguns municípios. E mais que Neto foi assessorado militarmente neste combate pelo esquecido Coronel Joaquim Pedro Soares, veterano das lutas contra Napoleão na península ibérica e nas guerras contra Artigas e Cisplatina .E foi ele que organizou e foi o 1º comandante do Corpo de Lanceiros Negros, conforme o estudamos em O Exército farrapo e os seus chefes, v.1. Ele seria preso por Chico Pedro junto com José Mariano e ambos conservados por algum tempo na cadeia de Canguçu. Depois foi enviado preso para o Rio de Janeiro ao 74 anos, se desconhecendo o seu destino final

E junto, ao lado direito do túmulo de Silva Tavares está o " Santo de Bagé," o antigo soldado conhecido como Preto Caxias, e cheio de ex votos, em gratidão a graças recebidas. Personagem que estudamos no citado livro História da 3ª Brigada de Cavalaria Mecanizada.

O desenvolvimento das causas da Revolução Farroupilha por Érico Veríssimo são as mais notáveis que eu já li e muito conhecidas pelos que a estudam, mas não abordou , a causa militar, em razão de ela até o presente não haver sido interpretada e abordada pela historiografia gaúcha, a qual estamos abordando em Escolas do Exército em Rio Pardo 1856/1911, em retrospecto militar de Rio Pardo. Causa militar que a seguir tento interpretar.

Com a Abdicação de D. Pedro forças políticas que assumiram os destinos do Brasil, provocaram um enfraquecimento do poder militar do Brasil , sob o falso lema de que as Forças Armadas não podiam ficar nas capitais e sim na defesa das fronteiras e do litoral, O caso mais gritante foi a dispensa , por estrangeiro, do tenente Emílio Mallet, atual patrono da Artilharia, então consagrado herói em Passo do Rosário e que havia cursado a Escola Militar do Brasil .

No Rio Grande do Sul foi atingida radicalmente a estrutura do Exército ao ser ordenado que o Batalhão de Artilharia, ao comando do Major José Mariano de Mattos fosse aquartelar em Rio Pardo. José Mariano era carioca formado pela Escola Militar. Na República Rio Grandense para cuja adoção ele influiu decisivamente, depois da vitória de Seival, em 10 set 1836, pela citada Brigada Liberal de Antônio Neto, ele foi ministro da Guerra e da Marinha, vice presidente da República e presidente da Republica interino, além de autor do brasão que figura na bandeira da República Rio- Grandense que foi adotado para o Rio Grande do Sul pelos constituintes de 1891. Assunto que abordamos em nosso citado livro Símbolos do Rio Grande do Sul... Próximo do final da Revolução ele foi preso em Piratini por Chico Pedro ou Moringue, e mais tarde Barão de Jacui e mantido preso em Canguçu a sua base de operações, em cadeia que mandara construir como " quarto de hóspedes para os farrapos" como ironicamente divulgava. Finda a Revolução José Mariano de Matos foi o Ajudante General de Caxias na guerra contra Oribe e Rosas em 1851-52 e ao retornar ao Rio retomou sua carreira, sendo Ministro da Guerra em 1865. E considerado um dos 3 afro- descendentes a governar o Rio Grande do Sul, ao lado de Carlos dos Santos e Alceu Colares.

O Major João Manuel Lima e Silva tio de Caxias, por irmão de seu pai o Brigadeiro Lima e Silva, possuía o curso da Escola Militar e comandava a unidade de Infantaria do Exército em Porto Alegre que foi transferida com ele para São Borja e para lá se deslocando, estacionou em Rio Pardo, por falta de condução para seguir para seu destino. .Ele foi um dos que opinou pela proclamação da República Rio- Grandense pela qual foi eleito o primeiro general farroupilha. Comandou o Exército Farrapo em Pelotas, com vistas a reconquista da cidade de Rio Grande, até sofrer ferimento no maxilar, deformador de seu rosto, sendo obrigado a ir tratar-se no Uruguai. Terminou sendo assassinado em São Borja de onde foi exumado e sepultado com toda a pompa e circunstância em Caçapava , onde mais tarde seu túmulo foi profanado por imperiais e seus ossos espalhados pelos campos. Esta introdução serve para se entender a ação dos dois e de seus comandados em Rio Pardo

Revoltados com ações sutis contra o Exército visando o seu enfraquecimento ou erradicação passaram a conspirar uma revolução. Vale lembrar que os coronéis Bento Gonçalves da Silva e Bento Manoel Ribeiro eram oficiais de Estado- Maior do Exército e que em data recente haviam comandado unidades de Cavalaria do Exército, respectivamente em Jaguarão e Alegrete e que elas com a de Bagé haviam sido enfraquecidas radicalmente pelo Governo, por reduzirem seus efetivos de cerca de 800 homens para cerca de 100. E os dois Bentos estavam revoltados com esta situação .A Bento Gonçalves cabia na época o comando da Guarda Nacional do Rio Grande do Sul, integrada por estancieiros, fazendeiros e charqueadores e mais pessoas que conseguissem mobilizar e que estavam revoltados com o aumento imposto sobre a légua de campo e com impostos escorchantes sobre o charque gaúcho, beneficiando o charque dos uruguaios e argentinos inimigos de ontem, o que Érico muito bem abordou em O Continente..

A Guarnição do Exército do Rio Grande do Sul era a mais poderosa do Império. E estes desgostos somados aos de militares do Exército e da Guarda Nacional , serviram de combustível para o 20 de setembro de 1835, decidido numa reunião maçônica em Porto Alegre no dia anterior em que estavam presentes Bento Gonçalves e José Mariano de Matos, bem como depois para o 11 de setembro de 1836, no Campo do Meneses, aproveitando o êxito da vitória farrapa de Seival.. O Coronel Joaquim Pedro herói farroupilha esquecido pela História, era veterano no Exército das lutas para expulsar Napoleão da Península Ibérica e foi quem organizou o Corpo de Lanceiros Negros Farroupilha, e o estudamos em O Exército Farrapo e os seus chefes ,v1,p.168/170. História é verdade e justiça !

Em Rio Pardo os majores do Exército José Mariano em João Manuel fundaram, em 7 de abril de 1835,no 4º aniversário da Abdicação de D. Pedro I a Sociedade Defensora ,agitando as questões aqui abordadas, terminando 17 dias mais tarde, em 24 de abril de 1835, ocorrendo o assassinato do juiz Casemiro de Vasconcelos Cirne, as 9 da manhã. Juiz que processava acusados de promoverem agitação política em Rio Pardo. O major José Mariano foi acusado de envolvimento, não provado, na morte do juiz e foi enviado preso para Porto Alegre onde era deputado provincial..

Esta participação do Exército na Revolução Farroupilha até bem pouco não abordada pela historiografia a conclui em nosso citado livro O Exército farrapo e seus chefes elaborado depois de detida pesquisa em fontes primárias na coleção Anais do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul.

Érico Veríssimo recorreu a personagem D. Picucha Fagundes" que depois da Revolução Farroupilha não falou mais de Carlos Magno e seus 12 cavalheiros. E que esqueceu Rolando por Bento Gonçalves, Oliveira por Antônio Neto, Reinaldo por Davi Canabarro, João Manoel Lima e Silva por Florisbaldo. " . E esqueceu D. Picucha do General João Antônio da Silveira e de Bento Manoel Ribeiro. E este foi alvo de uma injustiça política popular traduzida por esta poesia que atravessou os tempos.

"Pode um altivo humilhar-se

Pode um teimoso ceder

Pode um pobre enriquecer

Pode um pagão batizar-se

Pode um mouro ser cristão

Pode um arrependido salvar-se

Tudo pode ter perdão

Só Bento Manoel, não.

Condenação agravada com linchamento moral do personagem real pela minissérie da TV Globo, A Casa das Sete Mulheres.

Em realidade, Bento Manoel foi um grande soldado e conforme D. Picucha "ele era valente, ligeiro e alarife..." O próprio veterano farrapo Manoel Alves da Silva Caldeira que o conheceu assim traçou o perfil militar de Bento Manoel .

"Bento Manoel era um militar de muito boa tática de guerra. E possuía muito conhecimento dos habitantes da campanha da Província e também era de muito prestígio. Quando a legalidade estava caída, ele com sua presença dava-lhe vida e quando a causa da República, precisava a alento ele lhe dava."

Quem nos alertou para a grande injustiça com a sua memória foi o grande brasileiro Osvaldo Aranha, cujo depoimento a respeito reproduzimos no nosso livro O Exército farrapo e os seus chefes. v. 1, p. 124.

Em síntese, Bento Manoel liderou no campo militar a derrubada do Presidente e do Comandante das Armas. Afastados os dois como objetivos da Revolução, ele permaneceu como o novo Comandante das Armas e foi para tal convidado a permanecer neste cargo pelo novo presidente da Província. E cessou para ele a motivação revolucionária, na qual outros chefes persistiram. No exercício das funções novas foi obrigado a combater os farrapos, até que chegou um novo e desastrado Presidente de Província, sem inteligência emocional, diríamos hoje, e que entrou em choque com ele e quis prendê-lo, o que ele fez primeiro, sendo obrigado a se tornar um fora da lei imperial. Quando combatia o Império e havia levado à vitória a causa farroupilha, a burocracia da República em Piratini, a revelia de Bento Gonçalves, o desconsiderou através do jornal O Povo, promovendo a tenente coronel um oficial baiano com o qual ele se desentendera seriamente. E muito magoado não lhe restou outra alternativa que a de cair fora, em que pese os grandes esforços de Bento Gonçalves. E com ele fora, a causa militar farroupilha entrou em declínio. E mal com o Império e com a República não lhe restou outra alternativa do que combater ao lado do Império ao receber convite para tal.

Quem o havia defendido antes de Osvaldo Aranha fora o grande escritor rio- grandense Alfredo Ferreira Rodrigues em seu Almanaque Literário e Estatístico do Rio Grande do Sul (1889/1917).

D. Picucha recorda o Manifesto de Bento Gonçalves neste trecho o que bem traduzia o espírito do gaúcho contra as elites do Sudeste detentoras do poder:

"Éramos o braço direito e também a parte mais vulnerável do Império. Agressor ou agredido, o governo nos fazia sempre marchar a frente. Disparávamos o primeiro tiro de canhão e éramos os últimos a recebê-lo. Longe do perigo dormiam em profunda paz as outras Províncias, enquanto nossas mulheres, nossos filhos e nossos bens prezas do inimigo, ou nos eram arrebatados, ou mortos, e muitas vezes trucidados, cruelmente."

Este sentimento dominava os integrantes da Guarnição do Exército no Rio Grande do Sul e a sua Guarda Nacional.

D. Picucha lembra que os republicanos deram alforria para todos os negros que combateram pela causa revolucionária e baixou decreto dizendo que sempre que imperial surrasse um negro farrapo, eles tirariam a sorte entre os prisioneiros e passariam um oficial imperial pelas armas .

No romance Érico Veríssimo não põe em dúvida a honestidade de Canabarro e Caxias no tocante aos lanceiros negros em Porongos, e conclui que a pacificação da Revolução Farroupilha por Caxias foi honrosa.

Ao finalizarmos nosso livro História da 3ª Região Militar 1808-1889 e Antecedentes. Porto Alegre: 3ª RM/IHTRGS, 1994, v. 1 colocamos esta observação no final.

" A moldura da História da 3ª Região Militar completar-se-á com a obra:

VERÍSSIMO, Érico. O Tempo e o Vento. Porto Alegre: Liv. Globo, 1961, 3. v.

Obra esta que com muita verossimilhança resgata a vida do Rio Grande do Sul em vários aspectos e ajuda a consolidar os conhecimentos abordados no presente trabalho."

Esta é a homenagem que prestamos a Érico no seu centenário em 17 de dezembro de 2005 e em nome das entidades abaixo que presidimos .


 

(x) Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil , do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul e das academias Canguçuense e Piratiniense de História e membro dos CIPEL, IHTRGS, IHGPel, IH São Leopoldo e do IH de São Luis Gonzaga .

End: Rua Florença 266, Casa da Palmeira Imperial Jardim das Rosas . 27580-000 Itatiaia- RJ e.mail cmbento@resent.com. br