OS 250 ANOS DO 1º GOVERNADOR E CAPITÃO GENERAL
 DO ATUAL RIO GRANDE DO SUL(de 19 out 1809 - 13 nov 1814)

 

Cláudio Moreira Bento(x)

 

Em 17 de maio de 2005 transcorre os 250 anos do nascimento, em Lisboa em 1755, do Tenente General . D. Diogo de Souza, nomeado por Carta Régia do Príncipe D. João, em 19 set 1807.Ele foi o primeiro Governador e Capitão General da novel capitania então criada, o atual Rio Grande do Sul , depois desta área estar diretamente subordinada ,por 70 anos, ao Rio de Janeiro como Comandância Militar.

Era filho de D. João de Souza, que fora comandante militar da Província do Minho, e de D. Ana Joaquina Cerqueira Leite.

Descendia de guerreiros que se estabeleceram em Portugal reconquistado aos Mouros. Eram de sua família Martim Afonso de Souza e D. Tomé de Souza, tão ligados aos primórdios da colonização do Brasil; como governadores gerais do Brasil Colônia. Casou com D. Ana Cândida de Sá Brandão. Não deixou filhos.

Ao chegar no Rio Grande do Sul, aos 54 anos, na condição de ser o seu 1º governador e comandante militar, era Brigadeiro de Cavalaria.

Antes de iniciar a carreira militar, diplomou-se em Matemática e Filosofia por Coimbra. Ao ser enviado para governar os destinos do atual Rio Grande do Sul havia governado "com luzes, zêlo e fidelidade " Moçambique e o Maranhão.

Chegou ao Brasil em 1808 com a Família Real. Foi criador das vilas de Porto Alegre, Rio Grande, Santo Antônio da Patrulha e Rio Pardo. Da última lhe adveio o título por Portugal de conde do Rio Pardo, em 25 jun. 1815.

Em seu governo o Rio Grande do Sul foi perturbado e ameaçado de envolvimento pelo processo de independência da Espanha, dos vizinhos Argentina e Uruguai. Teve a difícil missão de mobilizar e organizar tropa que constituiria o Exército Observador e depois Pacificador da Banda Oriental 1811/12 , a cuja frente se colocou e fez profunda e ampla incursão no atual Uruguai, com vistas a acautelar direitos da rainha de Portugal, D. Carlota Joaquina, irmã do rei de Espanha, feito prisioneiro por Napoleão.

Por esta razão, foi promovido a Marechal- de- Campo ( atual General de Divisão ) em julho de 1811.

Deixou o Rio Grande como Tenente General Graduado ( atual General do Exército ), posto que fora promovido em 13 maio 1813, após muito bem governá-lo ( administração civil e militar) de 19 out 1809 - 13 nov 1814, por cerca de 5 anos. Chegou ao Rio de Janeiro em tempo de assistir às festas de elevação do Brasil a Reino Unido de Portugal e Algarve.

A seguir foi vice-rei de Goa, na Índia, de 1816-20, onde foi colhido e destituído, em função da Revolta Liberal do Porto, em Portugal, em 1820.

Em Goa, ele deixou como realizações mais marcantes a criação da Escola Médico- Cirúrgica e da Escola Militar.

Em Portugal foi Conselheiro de Guerra ( 1828 ), Presidente do Conselho Ultramarino (1825 ) e Ministro e Secretário de Guerra ( 1828 ), Faleceu em Lisboa aos 74 anos, em 11 de julho de 1829.

É considerado o fundador de Bagé ao ali acampar, em 7 maio 1811, após chegar à região, e em torno da atual Matriz de São Sebastião. Sua memória vem sendo preservada no Museu D. Diogo de Souza, em Bagé, que estudou sua vida e obra em Anais de Bagé ( Bagé, 1963), nº 1, série 1.

Segundo Walter Spalding, Porto Alegre deve a D. Diogo a abertura do Caminho Novo, a atual artéria Voluntários da Pátria.

A missão de D. Diogo de Souza tinha por objetivo fortificar o Rio Grande para fazer frente a ameaças partidas do Prata. A estrutura militar que encontrou no Rio Grande antes de criar a 3ª RM foi esta, segundo historiador militar Ten. Cel. Henrique O Wiedersphan.

"A situação do Rio Grande era de verdadeiro abandono e desolação, inclusive em relação a sua guarnição militar. Etapas atrasadas, uniformes em farrapos, armamentos e munição precários." Guarnição que foi reforçada com a Legião de São Paulo que abordamos sob o título A Legião de São Paulo 1801/1824- A Legião Esquecida , na História da 3ª Região Militar.v.1.

Uma obra importante de D. Diogo de Souza foi preparar, na Campanha do Exército Pacificador da Banda Oriental de 1812, as condições para a incorporação ao Rio Grande do Sul , em 1821, do antigo território espanhol de Entre Rios ( entre os rios de Quaraí, Uruguai, Ibicuí e Santa Maria de 1821/1828.

O pintor Canovas pintou D. Diogo de Souza de corpo inteiro e seu rosto na expressiva galeria de comandantes da 3ª RM, que leva seu nome.

Do governo civil e militar de D.Diogo de Souza muito se beneficiaram a partir de então os gaúchos pelas notáveis projeções estratégicas de sua ação.

Maiores detalhes sobre sua vida e obra podem ser colhidos em nossa obra História da 3ª Região Militar 1807-1889 e Antecedentes. Porto Alegre;SENAI/RS,1994.

 

(x)Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil e do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul