CORONEL JOSÉ DE ALMEIDA CORTE REAL

(1809/1840)

Cel Cláudio Moreira Bento(x)

A minisérie A casa das sete mulheres tem focalizado com destaque o personagem Coronel Corte Real, valente chefe farrapo que preso em combate foi levado para o Rio de Janeiro como prisioneiro no forte de Santa Cruz de onde fugiu espetacularmente em companhia do Coronel Onofre Pires.

Era irmão de Maria Joaquina, esposa do primeiro general João Manoel de Lima e Silva .Lamentavelmente morreu tragicamente aos 31 anos, ao ser atingido por duas balas imperiais quando adentrava a sede de uma fazenda .Este é o seu perfil na História.

Naturalidade, ascendência e perfil militar

Nasceu em Rio Pardo, em 15 de novembro de 1805. Era filho do Capitão de Dragões Francisco de Borja de Almeida Corte Real que foi morto em ação no combate de Catalan, em 4 de janeiro de 1817, na primeira guerra contra Artigas.

Era irmão de Maria Joaquina esposa do general republicano João Manuel de Lima e Silva, por sua vez tio do atual Duque de Caxias.

Por parte de pai tinha suas raízes em Portugal, em Lagos, Algarve. Por parte de mãe era neto do Brigadeiro Antonio Pinto da Fontoura, rio- grandense de Rio Pardo (l760-1826) e da carioca Ana Joaquina das Dores.

Era trineto de Tenente dos Dragões João Carneiro da Fontoura, filho por sua vez de Antônio Carneiro da Fontoura, Morgado de Loires.

Seu pai, ao morrer em ação, era comandado do Coronel Sebastião Barreto, comandante do Regimento dos Dragões do Rio Pardo na primeira guerra contra Artigas 1816-17.

Em Passo do Rosário, Corte Real teve como comandante de Divisão o mesmo oficial, então marechal e por cuja derrubada do Comando – das - Armas do Rio Grande ele foi lutar em 1835.


 

Traços de seu perfil militar

Sobre seu perfil militar escreveu Caldeira que com ele privou:

"Corte Real serviu na Guerra 1825-28 como cadete. Por isso dispunha de alguns conhecimentos militares. Era o oficial de trato mais fino e delicado que havia no Exército Republicano. Foi ele considerado valente no ataque de Passo do Rosário, na Revolução Farroupilha quando caiu prisioneiro.

Foi confirmada a sua coragem e valentia no ataque de Taquari. Corte era amigo sincero de Netto e de Bento Gonçalves."

Segundo Othelo Rosa, "Corte Real, moço e rico não vacilou em sacrificar pela República a sua mocidade e riqueza. Era de porte elegante, aprimorado no vestuário, trazendo sempre seu cavalo de montaria ricamente ajaezado (bem aperado).

Corte Real foi a seu tempo um galhardo cavalheiro, de renome social, gentil galanteador nos salões".

Estas características sociais o aproximavam de Netto e Bento Gonçalves, grandes expressões gaúchas como cavalheiros e cavaleiros.

Por ocasião da adesão do Coronel Bento Manuel Ribeiro pela primeira vez ao Império, Corte Real, com 27 anos, foi feito coronel da Guarda Nacional. Saiu em campanha com o cunhado Major João Manoel de Lima e Silva, ao encalço de Bento Manuel que foi batido em Capané.

Deixado no comando de uma tropa para observar Bento Manuel. Corte Real, jovem impetuoso, decidiu atacar o experimentado Bento Manuel sem esperar por Bento Gonçalves.

Travou-se então, o combate de Passo do Rosário, de 17 de março de 1836. Corte Real foi batido e preso. Bento Manuel disse que ele fora batido por ser "imprudente e inexperiente, embora impetuoso".

 

 

Corte Real foi preso pelo Tenente . Manoel Osório

No ataque ao Coronel Corte Real comandou a vanguarda o Tenente Coronel Silva Borges e os seus dois filhos José Luiz Osório e Manoel Luiz Osório,(futuro patrono da Cavalaria do Exército) e ambos tenentes. O último nesta ação teve o seu cavalo baleado e mais tarde contou o seguinte ao seu filho e seu biógrafo Dr Fernando Luiz Osório:

"Corte Real, homem elegante e de porte, apresentou-se em combate montado em garboso cavalo, ricamente ajaezado e ostentando nos arreios custosos lavores de prata. Sendo rodeado por um grupo de legalistas ao mando do tenente Manoel Luiz Osório, dispunha-se a morrer pelejando, quando o Tenente Osório adiantou-se e bradou-lhe:

- Renda-se, patrício, entregue-me a espada que eu lhe garanto a vida!

Corte Real rendeu-se ao irmão de Osório, que o prendeu e o desarmou. Foi neste momento que um soldado legalista aproximou-se sorrateiro do cavalo montado por Corte Real, com o fito de cortar um estribo de prata do valente chefe farrapo. Este ao pressentir a intenção do soldado o chutou no queixo arremessando-o no chão."

Corte Real foi enviado preso para a cidade de Rio Grande pelo Capitão Mazzaredo que comandava, ao iniciar a Revolução o 2o RC de Bagé, quando foi conduzido até a fronteira, são e salvo, pelo tenente Osório que aderira à Revolução no seu início.

Enviado ao Rio de Janeiro, Corte Real lá esteve preso na Fortaleza de Santa Cruz até conseguir evadir-se, em 1o de março de 1837, depois de quase um ano de prisão segundo contou Caldeira que lá estava apoiando a fuga junto com Onofre Pires.

Corte Real participou de diversas ações como em Seival. Foi morto numa emboscada imperial no arroio Velhaco, atingido por duas balas, no momento em que adentrava o corredor da casa da fazenda de Marcos Alves Pereira Salgado, no local conhecido por Barba Negra, no dia 11 de junho de 1840. Possuía 31 anos.

Acreditando tratar-se da força de Antônio Netto, só identificou, tarde demais, tratar-se de uma força imperial destacada por Chinco Pedro e ao comando direto de João Patrício de Azambuja.

Sua morte causou consternação geral, até entre imperiais. Seguia ele o destino trágico de seu pai e de seu cunhado João Manoel, 3 anos antes tocaiado e assassinado, inerme, com requintes de perversidade, em São Borja.


 

(x) Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil e do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul e autor de O Exército farrapo e os seus chefes.