O DUQUE DE CAXIAS E A EDUCAÇÃO NO RIO GRANDE DO SUL EM 1846

Cláudio Moreira Bento (x)

O Barão de Caxias que pacificou o Rio Grande do Sul em 1o março de 1845 em Ponche Verde ,.onde ,também ,se tornou pioneiro abolicionista ,ao assegurar liberdade para os escravos que lutaram pela causa farrapa e incorporando - os como livres à Cavalaria Ligeira do Exército. Ele acumulava as funções de Presidente e de comandante militar da então província que a partir de 1846 o elegeu seu senador vitalício por cerca de 30 anos.

Pacificada a Província empreendeu vigorosa ação administrativa de que se ocuparam a resgatar Walter Spalding e Moacyr Flores e que a focalizamos em Porto Alegre - memória dos sítios farrapos e da administração de Caxias .(Brasília ,EGGCF,1986).

Quanto ao ensino, idealizou e lançou a pedra fundamental ,em 1o fev 1846, em presença do Imperador D.Pedro II, do Liceu D .Afonso nos moldes do Colégio D.Pedro II no Rio onde estudara ao tempo que era Convento de São Joaquim.

O curso no Liceu era previsto para 6 anos com uma carga horária semanal de 42 hora,s funcionando da 8 as 12 pela manhã e das 14 as 17 horas a tarde .Situava-se no quadrilátero formado pelas atuais artérias Borges de Medeiros, Fernando Machado, Demétrio Ribeiro e Espírito Santo .Este Liceu ,penso ,foi o alicerce de todo o edífício educacional gaúcho .

Ele reuniria as aulas esparsas de Gramática latina, Filosofia, e Geometria de Porto Alegre e as de Latim e Francês de Rio Grande e mais a de Latim do Rio Pardo ,sendo acrescida das aulas de Inglês, Geografia , Astronomia ,História, Álgebra, Retórica e Desenho ,segundo Moacyr Flores .n na publicação do CIPEL sobre a Educação no Rio Grande do Sul,1998.

Sobre as dificuldades de recrutamento de professores para o Liceu ,assim se expressou Caxias como presidente da Província em mensagem aos senhores deputados provinciais gaúchos:

"Senhores deputados ! Não deveis esperar que todas estas cadeiras sejam regidas por hábeis mestres ,porque, desgraçadamente, a pouca importância que se dá aos mestres de nossa mocidade ,afugenta da nobre carreira do magistério os que a ela se deviam dedicar com vantagem pública .E nem a remuneração prevista é tal que compense ou ao menos chegue para os misteres da subsistência dos mestres .. ."

Esta situação segundo nos informam pouco relativamente tem evoluído entre nós e até verificando-se involuções na remuneração e valorização social do Magistério ,contrastando com a cultura japonesa onde ,por exemplo ,no início do século, um herói nacional da Marinha japonesa perguntado pelo seu Imperador qual o prêmio que desejaria receber da nação ao deixar a Marinha respondeu:

" - 0 meu maior desejo é ser mestre escola em minha aldeia natal e contribuir com meu saber e experiência para formar as novas gerações ."

A própia idéia dos Colégios Militares é de Caxias como senador gaúcho e Chefe do Governo, ao propor aos seus pares a criação de um Colégio Militar na Fortaleza São João aproveitando instalações onde havia funcionado a Escola Militar ao transferir-se do Largo do São Francisco para a Praia Vermelha onde ela permaneceu até transferir-se em 1906 para o Casarão da Várzea como Escola de Guerra 1906-11.

O sonho de Caxias não aprovado pelo Senado seria realizado mais tarde no limiar da República por Thomaz Coelho que fora seu Ministro da Agricultura num dos Gabinetes de Ministros que presidiu.


(x) Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB) e do