A Revolução Praieira em Pernambuco1848-49

Generalidades

De 1844-1848 o Pardido Liberal dominou politicamente Pernambuco. Ao ser substituído pelo Conservador em 1848 produziu-se grandes reações que seriam o combustível para a derradeira maior revolta no período monárquico- a Praieira em Pernambuco.

Nome Praieira derivado da rua da Praia no Recife ,local da sede do jornal o Diário Novo, porta voz dos liberais locais. Segundo Joaquim Nabuco em Um estadista do Império:

"O povo pernambucano acreditava que possuía dois inimigos que o impediam de ganhar a vida e desfrutar algum bem estar .Eles eram os portugueses que monopolizavam o comércio das cidades e os senhores de engenho que monopolizam a terra no interior .A guerra dos praieiros era feita contra estes dois elementos, daí o seu caracter social mais do que político."

E os praieiros terão a adesão sucessiva de dois líderes republicanos Borges da Fonseca e Nunes Machado.Os liberais tiveram na liderança militar Pedro Ivo Veloso da silveira As violências e abusos de autoridades do interior iriam detonar a revolta Praieira.

 

Desenvolvimento da Revolução Praieira.

A revolução teve início com concentrações praieiras em Igaraçu que a seguir rumaram para Nazaré. E a seguir isolaram as comunicações de Recife com o interior. Eles conseguiram o apoio de 300 guardas nacionais treinados sob o controle de chefes liberais.

Os praieiros ,a par de medidas militares ,desencandearam vigorosa campanha contra o governo de Pernambuco visando desestabilizá-lo por voltarem o povo contra ele.

E o governo local reagiu. Expediu contra os revolucionários o Chefe de Polícia com apoio de 100 policiais. Sentiu esta autoridade ser impotente para resolver a questão.

Em 10 nov 1848, o cel José Vicente de Amorim Bezerra, com o seu 4 o Batalhão de Artilharia de Posição, reforçado por 80 guardas nacionais e policiais, recebeu a missão de dar combate aos revolucionários. Retraindo sob pressão do governo ,os revoltosos chegaram à região do engenho Mussupinho onde foi travado violento combate, com vitória dos legais. Combate foi descrito pelo cel José Vicente ao presidente de Pernambuco nestes termos:

"Comunico que força ao meu comando obteve o mais completo triunfo no lugar Mussupinho, concentração dos rebeldes.

O combate durou 3 horas e foi renhido e sangrento.Os desalojei ,levando-os a completa debandada até vasta distância do acampamento.

Desarmei os prisioneiros .Não persegui fugitivos por estar fora de combate o clarim(corneteiro)de Cavalaria e eu não podendo fazer executar os toques para que a Cavalaria fizesse carga. Em seguida mandei a Infantaria ao encalço dos revoltosos derrotados, apresentando-se alguns deles.

A perda do inimigo foi considerável -18 mortos e uma grande parte de feridos. Ficaram em nosso poder 56 prisioneiros e grande porção de armamento e cartuchos,3 barris de pólvora, muitas pedras de ferir(sílex) e uma corneta.

Nossa perda foi de 10 mortos e poucos feridos."

Pouco depois chegava ao Recife o deputado Joaquim Nunes Machado ,um dos mais importantes líderes da área liberal oficialmente, mas em realidade republicano.E sob a sua liderança praieiros reuniram-se nas matas de Catuca.

Ali o jornalista liberal(republicano) Borges da Fonseca redigiu um Manifesto dirigido ao mundo ,revelando idéias liberais avançadas praticadas no ano anterior na Europa e que haviam culminado com a derrocada da Monarquia na França.

As tropas legais investiram Catuca, onde os revolucionários praticavam ações guerrilheiras. Acuados se retiraram para a cidade de Goiana ,berço natal do heróico tenente Conrado morto no combate à Balaiada, com grande pesar de Caxias.

E novamente se concentraram em Igaraçu.

No Natal de 1848 assumiu a presidência de Pernambuco o dr Manuel Vieira Tosta .Demonstrando vontade política de pacificar, distribuiu proclamação assegurando justiça e oferecendo perdão aos praieiros de armas nas mãos.

Os praieiros responderam com concentração em Água Preta de cerca de 2.000 homens dispostos a atacar o Recife , o,que levaram a efeito na manhã de 2 fev 1849.

A defesa do Recife esteve a cargo do citado cel José Vicente, comandante da Artilharia a Pé .

E foi travada violenta batalha que envolveu ruas e praças do Recife, chegando os defensores em muitos momentos temerem pela perda da vitória.

Segundo Figueira de Mello ,em Crônica da revolução Praieira ,houve um série de erros graves de parte a parte.As linhas defesa do Recife se estenderam em demasia ,de modo que os atacantes puderam nelas se infiltrar com facilidade.

Os revoltosos ao invés de se concentrarem num só bloco para atacarem e conquistarem logo o Palácio do Governo, foram dispersados e, assim, fracos em todos os pontos .

Outro erro foi a coluna revoltosa da Soledade que ao invés de combater se aplicou a saquear casas do bairro.

Rechaçados do Recife ,os revoltosos atingiram Igaraçu e, Pasmado em 5 fev 1849, para reorganização e se suprirem de munições de guerra e boca .

E nesta tarefa praticaram violências e outros atos condenáveis. Pressionados internaram-se na Paraiba. Alguns chefes desertaram e rumaram para o sul do Brasil.

Em 31 mar 1849 ,Borges da Fonseca, que se havia refugiado com seu grupo no Cabo ,foi atacado de surpresa e feito prisioneiro. Pedro Ivo ainda resistiu por dois meses guerrilhando. Convencido pelo pai entregou-se em 1850.Foi levado preso para a Fortaleza da Laje na entrada da Bahia de Guanabara. Dali conseguiu fugir com o concurso de sociedades secretas. Faleceu em viagem para a Europa. Tornou-se uma legenda no sertão!

O derradeiro combate da resistência liberal praieira ocorreu em Água Preta, em 26 jan 1850.

Lideranças praieiras foram em parte confinadas em Fernando de Noronha.O perdão imperial só foi concedido em 1852 ,depois da Guerra contra Oribe e Rosas 1851-52 em que as forças brasileiras foram comandadas na vitória por Caxias.

Por ocasião da Revolução Praieira ,Caxias depois de imortalizado como Pacificador do Maranhão, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, comandava as Armas da Corte no atual Palácio Duque de Caxias. Suas preocupações se voltavam para a delicada situação no Prata que punha em risco a Integridade e Soberania do Brasil no Sul, para o que contaria com o apoio decidido de militares farrapos que ele pacificara.

Combateu a Praieira o cap Antônio de Sampaio, atual patrono da Infantaria .Ele vinha do Rio Grande do Sul onde ,ao comando de uma companhia destacada de Jaguarão ,passou longo período em Canguçu, mantendo a paz, em posição estratégica entre Piratini e Caçapava, antigas capitais farrapas conforme o cel Cláudio Moreira Bento ,em seu Canguçu reencontro com a História.Palegre:IEL,1983.

Esta foi a 4a luta interna no período monárquico em Pernambuco. Estado que abriu e fechou o ciclo de revoltas expressivas na Monarquia.A primeira em 1817 e a última em 1850.Circuntância que esta a sugerir um aprofundamento interdiciplinar.

Delas duas foram republicanas ,uma restauradora de D.Pedro I e a última com características sociais liberais e republicanas.

Como teriam nelas influído o justo orgulho nativista decorrente da expulsão dos holandeses simbolizados pelas Batalhas dos Guararapes?

Proclamada a República, Pernambuco teve papel estratégico de relevo ao lá ser organizada e adestrada a Esquadra Legal organizada pelo mal Floriano Peixoto e que teve atuação decisiva na vitória sobre sobre a Revolta na Armada no Rio ,em 1894 e sobre a Guerra Civil 1893-95 na Região Sul.

A Praieira é estudada por:

REGO,Melo,gen.Rebelião Praieira.Rio de Janeiro: Imprensa Nacional ,1899.

MELO,Urbano Pessoa de .Apreciação da Revolta Praieira. São Paulo:Ed Nacional ,1938.

CARNEIRO,Edson.Insurreição Praieira.Rio de Janeiro : Conquista,1960.