A Sabinada na Bahia 1837-1838

Generalidades

No Rio Grande do Sul a Revolução Farroupilha atingia a sua fase áurea e no Pará ainda resistiam núcleos cabanos. Estas duas se constituíram nas mais duradouras revoltas do período regencial e os maiores desafios à pacificação e com possibilidades de envolvimento externo. No norte com França, no Amapá e ,no Sul com as repúblicas do Uruguai e Argentina no Rio Grande do Sul .

Na Corte, o Parlamento e Regência se degladiavam ! Nos meios intelectuais do Brasil incidiam várias doutrinas mal assimiladas, cujos defensores teoricamente se extremavam em defendê-las e colocá-las em prática ,sem levar em conta a viabilidade prática das mesmas, num pais gigante que ensaiava seus primeiros passos, independente.

Uns defendiam as idéias em moda da Revolução Francesa e outras do federalismo americano.E as lojas maçônicas eram o fórum de debates destas idéias, inclusive de defesa do modelo de monarquia constitucional inglesa.

E na Bahia todas estas idéias estavam em debates em jornai, os quais de 1831-1837 foram editados em número de 60 .

Mas nesta babel de idéias em debate, havia um concenso - a necessidade de uma revolução.

Concenso de conservadores exaltados ,de federalistas vencidos em 1832 e 1834,de desiludidos com o Ato Adicional à Constituição e de republicanos desesperançados com a não adoção da República do Brasil ,com a consagração do Império ou Monarquia em 1822 e a sua preservação em 7 de abril de 1831, com a atuação prudente do Exército sob a liderança do brigadeiro Francisco Lima e Silva e seus familiares militares ,onde se incluía o seu filho cap Luis Alves de Lima e Silva ,o nosso futuro Duque de Caxias

Isto,por verem que a Monarquia só teria chance de vingar com a abdicação de D.Pedro I em favor de seu filho Pedro ,menor de idade.Tese que vigorou para a felicidade do Brasil ,na época ,por ser um penhor da Unidade Nacional.

A prisão do líder farrapo general Bento Gonçalves da Silva no Forte do Mar,em Salvador, muito animou os baianos que inclusive tramaram sua exitosa fuga com apoio da Maçonaria.

E foi dentro deste clima que seria tentada a revolução baiana,congregando entre suas lideranças civis e militares do Exército.

Estes como os que aderiram em massa à Revolução Farroupilha possuíam sérias reservas pelas atitudes erradicadoras do Exército levadas a efeito por lideranças parlamentares que pretenderam, sob o belo argumento de destinar o Exército à defesa do litoral e das fronteiras ,lá colocá-lo em realidade com efetivos reduzidíssimos .

Esta circunstância tem sido omitida por razões várias.E crê-se hoje que Caxias as entendeu muito bem e procurou administrá-la dentro do que era possível nas suas circunstâncias da época.

 

Desenvolvimento da Sabinada

Em 7 nov1837 o líder revolucionário baiano -o médico dr Francisco Sabino A.da Rocha Vieira, acompanhado de 4 companheiros dirigiram-se a Forte São Pedro. Convocaram o corneteiro do forte e o mandaram executar o toque "Chamada Ligeira" que era a senha para ter início a revolução .

E em seguida tomaram o forte com apoio da guarnição deste.E deram a organização possível ao dispositivo militar revolucionário.

Na esteira dos batalhões revoltados, populares a eles se reuniram na Praça do Palácio. Divergências entre o Presidente,e o Comandante das Armas e o Chefe de Polícia da Bahia imobilizaram a reação do governo.

Em reunião na Câmara de Vereadores os revolucionários decidiram:

"A Bahia fica inteira e perfeitamente desligada do governo denominado Central do Rio de Janeiro e considerado estado independente."

O presidente legal refugiou-se num navio e renunciou dando parte de doente.

O dr Sabino era um médico pobre ,mas por humanitário ,era muito querido dos pobres, infelizes e oprimidos .Era fiel ao juramento de Hipócrates, parece que uma característica ética da medicina baiana da época.

Em realidade parece ter sido ele a alma e o cérebro da revolução que tomou seu nome - A Sabinada.

A reação à Sabinada começou no Recôncavo Baiano .O Chefe de Polícia Gonçalves Martins foi o líder da contra-revolução, conseguindo que ela ficasse circunscrita a Salvador sem ganhar o interior baiano.

A primeira medida militar da Regência foi submeter Salvador a rigoroso sítio terrestre e naval pela Marinha e Exército .

Sítio ou bloqueio que na parte naval era vez por outra quebrado por navios estrangeiros, por interesses comerciais .Nem os revolucionários saiam de Salvador ,nem estes deixavam ali entrar as forças legais,

Foi nomeado para conduzir as operações contra os revolucionários o gen João Crisóstomo Calado, veterano da Batalha do Passo do Rosário em 20 fev 1827, onde tiivera papel saliente no comando de uma Divisão de Infantaria da Esquerda, tendo enfrentado os seus cunhados uruguaios- os irmãos Inácio e Manuel Oribe. Personagem estudado por seu parente:

FRANCO,Afonso Arinos de M.Umsoldado do Reino e do Império. Rio de Janeiro :BIBLIEx,1942.

Em 23 jan 1838,ele assumiu o Comando das Armas da Bahia, em Pirajá, tendo encontrado a tropa em lastimável estado. E levou 50 dias para colocá-la em pé de guerra para investir Salvador.

Os revolucionários sabinos eram fracos no mar ,mas em terra possuíam expressivos efetivos ,cuja força fora potencializada por escudar-se em trincheiras e em fortes.

Em 13 mar 1838, pela manhã ,o general Calado investiu Salvador com 3 brigadas do Exército, formando cada, uma coluna, e com mais o reforço de uma brigada pernambucana de 2a linha .A esta caberia em Bate Folha romper o fogo e dar início ao assalto das trincheiras revolucionárias.

A Brigada do Centro, ao comando do ten cel Argolo Ferrão ,(baiano que construíria a Estrada do Chaco no Paraguai), em disputado e sangrento confronto atingiu a região de Sítio do Resgate

.A Brigada da direita ao comando do cel Correia Seara avançou até a região de São Caetano.

A brigada da esquerda do ten cel Sepúlveda atingiu a região de São Lourenço.

A luta prosseguiu durante todo o dia 14 de março, com violência .Os revolucionários começaram a atear fogo em casas. Para previnir o incêndio da área comercial para lá o gen Calado destacou uma brigada.

Em 15 mar 1838, o gen Calado progrediu com seu Exército no direção do principal objetivo militar e político da contra revolução - o Forte de São Pedro.

Ao defrontar-se com o Forte São Pedro os revolucionários propuseram-lhe anistia para todos.

E Calado envia-lhes por escrito a seguinte resposta lacônica mas determinada:

"Ao general do Exército Brasileiro com forças sobre o Forte de São Pedro só convém que a guarnição rebelde se entregue a descrição( rendição incondicional).Campo do Forte de São Pedro,15 de março 1838,as 6 horas da tarde ."

Em seguida renderam-se os revoltosos do Forte do Mar de onde Bento Gonçalves havia fugido para assumir a Presidência da República Rio Grandense

O general Bento Gonçalves da Silva, esteve preso no Forte do Mar por 13 dias , desde o final de agosto até 10 nov 1837 ,data de sua fuga espetacular e assim desvendada por Pedro Calmon e aqui sintetizada:

Do Forte do Mar ,Bento Gonçalves foi levado para a ilha de Itaparica. Ali foi embarcado num navio que transportava farinha de trigo destinada a Pelotas e Montevidéu. Foi desembarcado em Florianópolis. Dali ,a cavalo ,seguiu em companhia do catarinense Mateus. Em 3 de nov atingiu Torres e em 10 de nov atingiu Viamão, Quartel General do sítio terrestre de Porto Alegre ao comando do cel Onofre Pires, com quem duelaria mais tarde por questões de honra e o feriria de morte com sua espada albana.

Havia decorrido 1 ano e sete meses de sua prisão na ilha do Fanfa ,no rio Jacui e 2 meses de sua fuga do Forte do Mar.

Síntese biográfica do líder farrapo na obra nossa citada O Exército farrapo e os seus chefes.Rio de Janeiro : BIBLIEX,1992.v.1.

Ela esclarece mais o episódio, bem como a figura do chefe baiano ten cel Francisco José da Rocha que participou de sua libertação o qual o líder farrapo acolheria no Rio Grande, finda a Sabinada, fazendo-o comandante de um batalhão de Infantaria farrapo e a mais alta autoridade maçônica no Rio Grande

.Por isto ele elevaria a grau compatível o gen Canabarro para que este pudesse assumir o comando do Exército farrapo ao final.

Bento Gonçalves chegou na Bahia "com ar seco, aspecto melancólico e sisudo" segundo o Jornal local.Mas sua breve permanência serviu para motivar a Sabinada.

As duas prisões em que o prenderam eram insalubres e desconfortáveis conforme se conclui de carta de sua lavra:

"Pedia 3 camisas por estarem as suas em frangalhos,um capote por sentir frio a noite,pois só tinha um lençol para cobrir-se e , um par de tamancos para poder passear na masmorra em que estava preso que é toda uma lagoa cheia de imundície e de péssimo cheiro."

A Bahia foi restaurada à Regência e pacificada na noite de 15 mar1838 .

As perdas revolucionárias mencionadas por algumas fontes se elevaram a morte de 1258 ,segundo os sepultamentos efetuados e a 160 casas incendiadas e a prisão de 2,298 revolucionários republicanos.

O Dr Sabino buscou proteção na casa do cônsul francêz. Submetidos a julgamento ,muitos revolucionários foram condenados à morte. Foram interpostos sucessivos recursos até o derradeiro ao Superior Tribunal de Justiça .Antes que este fosse decidido ocorreu a Maioridade de D.Pedro II que concedeu clemência aos republicanos baianos e estendeu a anistia a todos os delitos políticos.

Líderes revolucionários foram anistiados e confinados longe de grandes centros.

E assim terminava mais uma tentativa republicana e com ela a preservação a Unidade e Integridade do jovem Brasil em seus primeiros e dificultosos passos na Comunidade das Nações.

O futuro Duque de Caxias continuava a fazer a segurança do Governo Central e a Segurança Pública da capital do Império e com medidas preventivas desistimulando novas aventuras insensatas que marcaram no Rio os primeiros tempos da Regência.

E pacificada a Bahia ,dentro em breve seus serviços seriam reclamados para pacificar a Balaiada no Maranhão ,uma espécie de versão maranhense da Cabanagem como se verá.

Entre outros estudos sobre a Sabinada destacam-se a seguintes obras:

BLACKE,Sacramento.A Revoluçào da Bahia de 7 nov 1837. RIHGB. Tomos 48,2a parte 1885 e 50 ,2a parte ,1887.

VIANNA FILHO,Luiz.A .A Sabinada.Rio de Janeiro:José Olympio,1946.