A Guerra dos Cabanos - Pernambuco e Alagoas 1832-35

Generalidades

Esta revolta teve por cenário o norte de Alagoas e o sul de Pernambuco ,entre o mar e o sertão . Ela envolveu em suas ações em Pernambuco Una, Panelas, Limeira, Agua Preta e Santo Antão. O último cenário da Batalha dos Montes das Tabocas ,que abriu vitoriosamente a campanha da Insurreição pernambucana contra a dominação holandesa no Nordeste.

Em Alagoas envolveu Barra Grande, Jacuipe, Palmeira e Porto Calvo. Este foi o local em que foi justiçado o traidor Calabar

A região, além das guerras holandesas em Pernambuco, havia servido também de cenário as revoltas dos Quilombos dos Palmares ou Republica dos Palmares que exigiu muitos anos para a sua erradicação. Evento estudado na obra:

FREITAS,M.M,maj.Reino negro de Palmares. Rio de Janeiro :BIBLIEx,1954.

A área seria envolvida pelas revoltas republicanas de 1817 e 1824.

Hoje existe uma corrente que ao invés de Reino Negro dos Palmares defende que teria sido a República Negra dos Palmares, colocando assim Alagoas como pioneira na forma republicana de governo, que foi proclamada e consolidada pelos alagoanos marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. É mais uma picada a ser explorada.

A região em foco era povoada por sertanejos ou cabras mestiços de branco e índio,por escravos negros e por fazendeiros e senhores de engenhos de açucar que dominavam o contexto social,econômico e político.As relações entre os últimos como os sertanejos e negros eram rígidas e de dominação.

Em Pernambuco continuavam as disputas entre a aristocracia rural x burguesia comercial emergente que haviam se confrontado na Guerra dos Mascates entre Recife x Olinda no inicio do século 18.Esta burguesia era ajudada por pressões da minoria liberal da área, carente de melhoria de vida num quadro dominado pela aristocracia ,onde se encontravam muitos portugueses e descendentes.

A Abdicação de D.Pedro I acarretou distúrbios políticos no Recife e no interior entre os caramurús portugueses e conservadores inconformados com perdas diversas com a nova situação criada .

Por outro lado, alimentou entre os liberais e nativistas melhores oportunidades e o fim de sua posição socio-política inferior aos caramurús .

Este seria o combustível principal da revolta dos cabanos (gente humilde e pobre do interior) que por extensão da Cabanagem, em curso no Pará, seriam tratados de cabanos como o seriam também tratados os rebeldes da Balaiada.

E em Pernambuco eles foram instigados e apoiados por interesses do grupo local que perdeu com a Abdicação e passou com apoio dos cabanos a lutar pela restauração de D.Pedro I.

 

Desenvolvimento da revolta dos cabanos de Pernambuco e Alagoas.

Em Panelas , Pernambuco ,surgiu um grupo sob a liderança de Antônio Timóteo propagando a volta de D.Pedro I ao trono do Brasil.

Assim ,em 30 julho 1832 ,em Passo, foi proclamado D.Pedro I como Imperador do Brasil. E o problema criado foi tomando vulto, sendo enviadas para a região forças para reprimir o movimento restaurador.

Entre agosto e setembro 1832 operações do governo em Una, Jacuipe, e Barra Grande obtiveram sucesso .Alagoas foi pacificada e lideranças cabanas alagoanas foram presas.

Em Altino foi estabelecido o Quartel General legal ,com Pagadoria e Hospital. Líderes cabanos alagoanos conseguiram fugir da prisão e ocorreram sérias divergências entre o presidente ,o Comandante das Armas e o Chefe de Polícia de Pernambuco , tendo os legais sofrido derrota em Cafundó.A seguir o maj Manuel Santiago impôs derrotas sucessivas aos cabanos que resistem tenazmente.

Os presidentes de Pernambuco e de Alagoas se reuniram no Teatro de Operações, em 13 maio 1934, e coordenaram ações em plano de operações ,que decidiu pelo estabelecimento de uma área dentro da qual os cabanos seriam sitiados .

Área limitada pelas linhas:

A norte linha Jacuipe -ao sul o rio Manguaba. Ao leste o Atlântico e ao oeste a estrada Jacuipe - Porto Calvo.

E foi dado um prazo para a população ordeira evacuar a área sitiada.

Em decorrência, os cabanos perderam o ímpeto combativo pelos seguintes motivos:

Perda do apoio da população da área sitiada; corte no apoio que recebiam do partido pernambucano que defendia a volta de D.Pedro I e ,escassez de munição de guerra e de boca

.Isto os reduziu a grupos errantes dos sertões ,a cada dia menores ,pela deserções e neles permanecendo só os líderes mais comprometidos com a revolta e os escravos negros ,por preferirem a luta à escravidão. Fato semelhante ocorrerá no Rio Grande do Sul com os lanceiros negros farrapos da República lá proclamada e que é abordado na obra já citada do cel Claudio Moreira Bento ,O negro e descendentes na sociedade do RGS.(Palegre:IEL1975).

As prisões ficaram abarrotadas de revoltosos capturados, exigindo para a sua guarda grandes efetivos e o consumo de alimentação destinada a sustentar a tropa.

O presidente de Pernambuco retornou ao Recife .Mas grupos de cabanos continuaram pertubando a tranqüilidade no interior.

Com a morte de D.Pedro I a revolta perdeu a sua motivação política principal. Mas Vicente de Paula liderando cabanos ,índios e negros prosseguiu de armas na mão.

Para a reintegração dos cabanos à comunidade alagoana e pernambucana foi relevante a atuação do bispo D.João Marques da Purificação .Ele procurou ganhar a confiança dos cabanos e estes começaram a se apresentar e a entregar suas armas.

E em abril 1835 conseguiu da Assembléia de Pernambuco ajuda aos cabanos em roupas, remédios e ferramentas.E eles reforçam a apresentação ao governo, tendo fim as duras privações passadas com as famílias nas matas e sempre sob perseguição.

Até que ponto ai se encontram as raízes do cangaço na área?

Em Japaramduba, em 29 mais 1835, se renderam os derradeiros cabanos de Alagoas e Pernambuco .Mas o líder Vicente de Paula ganhou o sertão com os seus jagunços.

Agosto de 1835 ,assinala a pacificação da revolta. Retornaram ao Recife as tropas que lhes davam combate e o Bispo de Recife e Olinda D.João Marques.

No mês seguinte ,em 20 set 1835 ,estourava vitoriosa em seu primeiro lance em Porto Alegre a Revolução Farroupilha que duraria quase 10 anos.

O líder Vicente de Paula foi contatado em 1841 em seu arraial. Envolveu-se na política pernambucana e tomou parte na Revolução Praieira em 1849 em Pernambuco. Capturado em 1850,foi recolhido preso em Fernando de Noronha ,de onde foi libertado em 1861.

Esta revolução foi paradoxal,depois de 3 movimentos republicanos em Pernambuco, por seu carácter restaurador do Imperador D,Pedro I e portanto monarquista.

Mais uma vez com ela fora posto em risco a Unidade Nacional que pernambucanos haviam assegurado na Insurreição pernambucana de que resultou a expulsão dos holandeses do Brasil, e em cujo contexto tiveram lugar as Batalhas do Guararapes nas quais, segundo Gilberto Freyre, insistimos "escreveu-se a sangue o destino do Brasil, o de ser um só e não dois ou três ,hostis entre si...."conforme consta junto com outros depoimentos abalizados ,em obra do então major Cláudio Moreira Bento ,As Batalhas dos Guararapes-análise e descrição militar.Recife:UFPE,1971.2v.

A colocação sob sítio afastado de uma enorme área geográfica dominada pelos cabanos, encontra paralelo no sítio de enorme área na Guerra do Contestado no Paraná e Santa Catarina no inicio do século 20 .E que foi a solução estratégica antes usada para por fim aquela desgastante revolta contra "cabanos" de Santa Catarina e Paraná no governo do Presidente Wenceslau Braz.

Esta solução lamentavelmente não foi lembrada para ser usada contra os canudenses em 1887 ,do que seguramente resultaria em poupar-se vidas preciosas de irmãos brasileiros de ambos os lados em confronto .

Aborda esta revolta ,a de Canudos e a do Contestado para aprofundamentos sobre a solução do cerco ou não aqui consideradas a seguinte obra :

ESTADO - MAIOR DO EXÉRCITO .História do Exército Brasileiro. Rio de Janeiro: Sergraf-IBGE, 1972 .v.2.

O Duque de Caxias, então coronel ,comandava a atual Polícia Militar do Rio de Janeiro ,garantindo a segurança do Governo Regencial na Corte.Esta é f’acil etender-se era a missão estratégica mais relevante .Pois qualquer ameaça direta ao Governo Central colocaria a Unidade Nacional em sério perigo.E por cerca de 8 anos ele foi o fiel da balança da segurança nacional ,como protetor do Governo Central .