A Projeção no Exército da amizade do Duque de Caxias com o General Osório

A grande amizade CaxiasxOsório teve início na cidade de Pelotas em 1839 quando Caxias era tenente coronel e Osório capitão desde 20 ago 1838, depois de 11 anos como tenente.

A oportunidade teve lugar quando o Ministro da Guerra, o pernambucano Sebastião do Rego Barros foi obrigado a viajar ao Rio Grande do Sul, tendo levado como seu assessor o ten cel Luiz Alves de Lima e Silva, comandante há 8 anos dos Guardas Municipais Permanentes da Corte, raiz histórica da atual Policia Militar do Rio de Janeiro(PMRJ)e do Distrito Federal .

A viagem ministerial coincidia com o retorno de Bento Gonçalves ao Rio Grande depois de fuga espetacular do Forte do Mar ,na Bahia, com auxílio da Maçonaria.60

Na tropa havia queixas contra o gen Elzeário Miranda Brito, português nascido em Lisboa, engenheiro militar que assumira o comando das Armas da Província prometendo acabar com a revolução no que denominou -Um passeio de 17 dias". Foi muito mal sucedido operacionalmente e ,politicamente por apoiar-se em legalistas radicais. A par disso fora acusado de discriminar oficiais nascidos no Brasil. Chefe que focalizado pelo cel Claudio Moreira Bento na História da 3a Região Militar 61

O ambiente de descontentamento criado por Elzeário obrigou o futuro alte Grenfell a pedir demissão do comando naval da Província depois de haver realizado completo domínio naval nas lagoas e rios navegáveis do Rio Grande e ter feito em Pelotas séria tentativa de paz. Esta não concretizada por interferência de Silva Tavares que desrespeitou convênio firmado, conforme abordamos ao focalizarmos Greenfell 62

O cap Osório por sua liderança foi encarregado de representar seus companheiros em audiência ministerial a qual o futuro Duque de Caxias assistiu.

O que o ministro e Caxias viram e ouviram no Rio Grande desmentiram este conceito firmado pelo gen Elzeário sobre Osório ,ao este pedir reforma em razão de situação financeira crítica de sua mãe em Caçapava do Sul ,ao ficar viúva :

"Este oficial( cap Osório) é de gênio muito intrigante, tanto que todas as desinteligências que há na força estacionada em São Gonçalo(região de Pelotas) se atribuem ao seu inquieto humor, como V.Excia presenciou."

O despacho do seu requerimento indicou que devia ser atendido:

"Mas que a Osório devia o governo estabelecer sua residência fora da Província, até o término da Revolução."

Pouco mais tarde Osório recebeu este elogio do substituto de Elzeário, o ten gen Manoel Jorge Rodrigues :

"Serve na luta atual com bastante distinção. E merece o respeito geral."

Em 7 abr 1841 Osório recebeu a seguinte indicação do Comandante das Armas mal Thomaz Pereira Valente a que Caxias substituiria :

"Merece ser major de 1a Linha e a condecoração do Cruzeiro."

Segundo o cel J.B.Magalhães 63 a Caxias assumir o comando do combate à revolução:

"Tudo começou a caminhar como por encanto. Não mais prevaleceram as intrigas e as disputas por influências e prestígios."

Osório reencontrou-se com Caxias e continuou a amizade iniciada. Osório comandava o 2 o Regimento de Cavalaria Ligeira (2 o RCL)em Bagé e muito auxiliaria Caxias na pacificação. Esteve presente em Ponche Verde quando incorporou em seu Regimento, como livres, Lanceiros Negros libertados pela cláusula 4 do Convênio de Ponche Verde: "São livres e como tal reconhecidos os escravos que lutaram pela Revolução Farroupilha."64.

Caxias encarregou Osório, a frente de seu citado 2 o RCL da proteção entre Rio Grande e Pelotas ,no Rincão da Torotama ou dos Touros ,das cavalhadas que ali concentrou para remontar o Exército que recebera a pé no Passo do São Lourenço no Jacuí, a montante de Cachoeira do Sul.

Osório repeliu uma tentativa farrapa de conquista desta cavalhada, perseguindo os atacantes até Piratini. Foi então que Caxias o chamou e disse -lhe :

"Major Osório ,o corpo ao seu comando é modelar .O Governo deve-lhe uma promoção. Previno-o que vou pedi-la ao Ministro da Guerra !"

Em jul 1844 Caxias teve atendida a sua recomendação de promoção de Osório a ten cel ,continuando a frente de seu modelar 2 o RCL cujo grande conceito se firmara no Exército e no Povo Gaúcho. Unidade para a qual não faltavam voluntários.

Caxias confiou ao ten cel Osório a delicada missão diplomática de manter o líder uruguaio Rivera afastado das negociações de paz com os farrapos .E segundo seus biógrafos Osório desincumbiu-se muito bem .

Segundo o historiador Pandiá Calógeras ,ex-ministro da Guerra ,na obra Rés Nostra ,a partir daí, Osório impôs-se:

"Como o homem indicado para missões que tato,coragem,finura e jeito."

Ganhou a confiança do amigo e chefe agora Barão de Caxias ao ponto deste confiar ao seu 2 o RCL a escolta do jovem Imperador D.Pedro II ,de Rio Pardo a a São Gabriel com a seguinte recomendação: :

"Cuidado ten cel Osório ! O Imperador é jovem ,só tem 20 anos e há de querer correr."

E Osório preparou uma escolta montada só com cavalos brancos o que impressionou vivamente o Imperador e comitiva. Mas a amizade Caxias xOsório se firmava cada vez mais.

Pacificada a Farroupilha, Caxias decidiu concorrer a um mandato parlamentar, condição para que pudesse inclusive um día ser Ministro da Guerra,função privativa de parlamentares.

E presidindo a Província em Porto Alegre ,dirigiu carta ao ten cel Osório em Bagé da qual reproduzimos este trecho:

"Vá para Bagé e cabale forte e deixe o mais por minha conta.Os soldados não votam para que não se diga que quero impor uma eleição a baioneta.Porém cabos,sargentos e oficiais não deixam de fazer número.Seu camarada e amigo -Conde de Caxias ."

Em 22 set 1846 Caxias escreveu a Osório sobre a sua eleição e escolha :

"Já saberá que sua Majestade o Imperador ,no mesmo dia que chegou à Corte a ata das eleições, escolheu-me senador por esta Província .Isto é completou a obra que Vossa Senhoria e mais amigos principiaram ."65

Caxias foi eleito senador pelo Partido Conservador e Osório deputado provincial pelo Partido Liberal da Província sulina .

A amizade entre Caxias e Osório a esta altura era íntima .E isto pelos próximos 30 anos teria um significado expressivo para o progresso do Exército .Segundo o cel J.B.Magalhães em Osório:

"Para o Exército subsistiam razões para que ao lado de líderes civis da época estivesse no Senado uma figura da representatividade de Caxias ,como intransigente advogado da classe e da instituição militar e seu legítimo intérprete junto à Coroa."

A grande projeção para o Exército da amizade de Caxias ,Conservador e Osório, Liberal e que perduraria por mais de 30 anos, residiu no fato de em matéria de Exército "não fazerem política no Exército, mas sim a política do Exército, "acima de interesses partidários .

E assim se mantiveram mesmo depois de um incidente contornável entre velhos amigos íntimos que foi super potencializado por sua intensa exploração política no Parlamento e pela Imprensa ,ao ponto de provocar em 1877 um leve abalo nas relações entre ambos, senadores gaúchos pelos partidos Conservador e Liberal, sendo então Caxias Chefe do Governo e Ministro da Guerra e ambos Osório e Caxias muito desgastados por saúdes precárias e desgostos por perdas de entes muito queridos.

Tanto que depois de incidente referido, em sessão do Senado de 5 out 1877,presente o senador Duque de Caxias ,Chefe do Governo e Ministro da Guerra ,o senador Osório e Marquês do Herval apresentou proposição consistente em vender-se campos no Rio Grande do Sul que o governo possuía longe dos quartéis em Bojurú. São Vicente e São Gabriel ,para adquirir-se campos junto aos quartéis onde pudessem ser mantidos os cavalos para usos em emergências na fronteira.

O senador Duque de Caxias presidente do Conselho de Ministros (Chefe do Governo) e Ministro da Guerra solicitou um aparte ao senador Osório:

"Sr. Presidente o que propõe o nobre senador Osório me parece conveniente! Com os recursos que existem na Província do Rio Grande do Sul e no local que estão colocados estes campos ,deixam eles de prestar bons serviços para as necessidades da fronteira. A idéia do nobre senador(Osório) de colocá-los próximos dos acampamentos é de suma vantagem e por isso não me oponho a que se conceda autorização."

Caxias foi substituído no Ministério da Guerra por Osório ,em 5 jan 1878 retirando-se muito doente para Santa Mônica ,após cumprir a sua mais ingrata e penosa missão, a Chefia do Gabinete São João1875-77, onde ao iniciar pacificara a Questão Religiosa.

Logo após, em outra sessão do Senado ,um senador insinuou que Osório estava fazendo uma crítica ao seu antecessor no Ministério da Guerra - o Duque de Caxias.

Tomado de viva indignação o senador e Ministro da Guerra Osório falou categórico:

"Declaro ao Senado que repilo a insinuação,porque se esse general ,por cuja vida(saúde) faço votos na sua doença, esqueceu por um momento os abraços do amigo dedicado no perigo ,não atribuo isso à sua vontade ,nem a ingratidão. Qualquer um de nós pode sofrer uma grave enfermidade. Eu nunca soube senão respeitá-lo!"

Estas duas colocações demonstram que o incidente que abordaremos ao final foi superado .Osório atribuiu o desencontro a doença de Caxias, mas não a má vontade ou ingratidão deste..

Mas voltemos ao período pós farroupilha para continuar balizando a amizade entre Caxias e Osório e os benefícios para o Exército, particularmente , na boa condução das operações nas guerras externas do II Reinado.

Na Guerra contra Oribe e Rosas 1851-52 Caxias como Comandante - em -Chefe do Exército Brasileiro em operações encontrou em Osório um auxiliar valioso .Caxias o usou como oficial de Ligação com o general argentino aliado Urquiza ,com vistas a realização de operações conjuntas .Osório em trajes civis e com dois ordenanças partiu a procura de Urquiza ,atravessando perigosa campanha uruguaia. Quando Caxias julgava Osório em viagem de ida esta já tinha voltado .E permaneceu longo tempo em campanha junto a Caxias ,participando dos entendimentos entre os generais aliados ,o uruguaio Eugênio Garzon e o argentino Urquiza.

Caxias designou Osório com o seu 2 o RCL para integrar a Divisão Brasileira que colocada à disposição de Urquiza combateu em Monte Caseros. Ali Osório teve destacado papel operacional para a vitória.Isto lhe valeu a indicação por Caxias a promoção a coronel o que teve lugar em 3 mar 1852.

Ao partir para o Rio ,Caxias deixou esta mensagem ao cel Osório a um oficial:

"Transmita este abraço ao nosso Osório. Ele é o maior guasca(bravo, testemido, valente)da Província e que mais naipes(louros) colheu em Morón(Monte Caseros).Dê-lhe este recado e que disponha deste amigo na Corte."

Mais tarde Osório sentiu-se perseguido por Ângelo Munis Ferraz, presidente do Rio Grande e agora presidente do Conselho de Ministros. Isto o levou ao Rio para pedir reforma ,no que foi desistimulado inclusive por Caxias que o tranqüilizou :

"Não tenho a menor apreensão sobre coisas do Exército e dessa Província (Rio Grande).Conheço muito bem o atual Ministro da Guerra (Sebastião do Rego Barros),o qual me merece muita confiança bem como o sr Manoel Felizardo(demissionário)."

Caxias ao assumir o Ministério da Guerra e o Conselho de Ministros em 1862 manteve Osório no comando da Fronteira do Jaguarão.

Certa feita ao Osório viajar a Uruguaiana ,espalhou-se este boato político:

"Osório foi tramar uma guerra para promover o surgimento de uma nova nação pela união do Rio Grande com o Uruguai."

Politicamente o conde de Porto Alegre "deu crédito à calúnia" e escreveu ao Rio no sentido de que Osório fosse chamado à ordem. A carta foi parar nas mãos de Caxias que a mostrou ao Imperador e seus companheiros de Gabinete de Ministros:

"Como um exemplo das teias caluniosas da época."

Caxias amorteceu e depois anulou a calúnia contra o amigo. Mas Osório ficou indignado e escreveu a Caxias seu amigo e defensor na Corte:

"Enquanto dura o perigo não sofro acusação de separatista .Acaba-se a guerra logo começam os meus grandes inimigos a apregoar que sou anarquista, insubordinado etc.O barão de Porto Alegre foi ultimamente alistar-se nesta roda .Não poderia ele me fazer uma ferida tão dolorosa, tão infundada quanto ofensiva. Se de fato a notícia não chegasse a min pela letra de V.Excia, dela duvidaria ,porque a perversidade é demais."

Vê-se quão difícil foi a vida política de Osório.Não fora Caxias defendê-lo como o seu imenso prestígio junto ao Imperador, talvez outro tivesse sido o seu destino.

Passada esta onda ,outras calúnias contra Osório prosperaram e terminaram por afastá-lo do Rio Grande para servir no Rio de Janeiro sem comissão. Sua despedida do Rio Grande foi entusiástica. Liderava a oposição contra ele o Conde de Porto Alegre e o cel José Luiz Mena Barreto.

Caxias mais uma vez defendeu o valoroso amigo junto ao Imperador .Conseguiu que a intriga fosse anulada por força do Poder Moderador do Imperador .E o brigadeiro Osório reassumiu a Fronteira do Jaguarão. E mais uma vez o salvou o dedo providencial do amigo Caxias junto ao Imperador.

E eclodiu a Guerra do Paraguai. Caxias convidado pelos liberais para o Comando - em - Chefe, com apoio em suas imunidades como senador recusou por não terem lhe assegurado as condições de assumir a presidência do Rio Grande a qual se subordinava a Guarda Nacional e ser o Ministro da Guerra ,o Visconde de Camamú o seu único inimigo no Exército. Assim ele seria crucificado!

Mesmo assim empenhou-se nos bastidores para que seu amigo general Osório assumisse o Comando -em Chefe ,o que de fato ocorreria para sua satisfação.

Sobre a escolha de um Comandante - em - Chefe ,escreveu artigo Gaspar Silveira Martins, cuja ascenção política muito estava a dever a indicação e empenhos de Osório:

"O que é fora de dúvida é que o Rio Grande do Sul concorre com a maior força de todo o Império.........e não tolera outro general que não seja Manoel Luíz Osório ou o Exmo Sr Marquês de Caxias."

Conceito partido de um liberal. E com o Partido Liberal no poder Osório comandou até a batalha de Tuiuti ,em 24 mai 1866,retirando-se por doença.

Antes ,ao defrontar-se com a invasão do Paraguai, Osório escreveu ao seu amigo Marquês Caxias como parte da correspondência que mantiveram:

"Temos apalpado o imenso e respeitável rio Paraná e parece que ao final teremos de passar o mesmo sobre o campo de Lopes(dirigente do Paraguai).Ou entre este campo de Lopes e Humaitá, indo contra as regras da arte(militar).Que fazer ?Ou não irou correr o risco."66

Campo de Lopes refere-se ao território paraguaio.

Quando Osório muito doente foi obrigado a retirar-se do Comando - em - Chefe foi confortado por carta pelo amigo Marquês de Caxias.

Caxias foi nomeado Comandante - em - Chefe,depois do desastre militar Aliado de Curupaiti, classificado por Osório de hecatombe. Em Curupaiti os desentendimentos entre o presidente Mitre da Argentina, Gen Polidoro Quintanilha Jordão, Comandante - em - Chefe brasileiro ,o Conde de Porto Alegre e o alte Inacio e Visconde de Inhaúma, de nossa Marinha feriram de morte o prícipio de guerra da Unidade de Comando.

Um dos primeiros atos de Caxias como Comandante-em-Chefe foi convidar Osório para retornar ao Teatro de Guerra a frente do 3 o Corpo de Exército a ser organizado no Rio Grande do Sul .E Osório mesmo doente aceitou o convite do amigo.E Caxias convencido da sua capacidade de comunicar-se com os gaúchos escreveu a Osório:"

"Fale com estes guascas(bravos,testemidos ,valentes )naquela linguagem que nós dois sabemos lhes falar!"

Caxias empenhou-se em fazer Osório comandante das Armas da província sulina.Incumbiu-lhe de formar uma força de Caçadores a Cavalo ,em condições de combater como Infantaria na falta de cavalos.Caxias então escreveu a Osório:

"V.Excia deu-me a resposta que eu esperava......conheço-o como um homen de bem que sabe ser amigo de quem o estima ......As coisas estão num tal estado que precisamos andar muito unidos e ligeiros para que não vejamos perdido tanto sangue já derramado por nossos patrícios brasileiros e voltarmos para casa no fim, cheios de vergonha......Cure a sua perna e vá reunindo gente,pois para montar a cavalo quase que uma perna só é suficiente ......Nos negócios da guerra atual tem carta branca minha ...E ande ligeiro que o negócio urge,e não lhe posso dizer mais nada ....."

A missão de Osório foi dificultada pelo presidente da Província,que protegia os relapsos por interesses políticos,pelo comandante superior da Guarda Nacional gaúcha e pelo Barão do Serro Alegre ,João da Silva Tavares que havia sido derrotado em 10 set 1835 no combate do Seival por Antônio Neto ,este depois o comandante da Vanguarda de Osório até Tuiuti,como brigadeiro do Exército e não mais um farrapo.

O Barão Homen de Mello ,grande historiador que foi vice presidente do IHGB e Ministro da Guerra e que pronunciaria a oração oficial por ocasião da fundação do Colégio Militar do Rio de Janeiro como seu professor ,foi presidir o Rio Grande do Sul.E assim lamentou em carta a Osório a quem muito ajudou em sua missão:

"...Lastimo o mal até então feito e o fato de não ter vindo a mais tempo presidir a província..."

A partir daí segundo o gen Tasso Fragoso em A Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai:"

"Teve início uma colaboração estreita e interrupta entre o Barão Homem de Mello ,presidente e o gen Osório, comandante das Armas da Província."

Ao despedir-se Osório de Homem de Mello rumo ao Teatro de Guerra ,falou-lhe:

"Tenha pena de mim como eu tenho de V.Excia, Presidente!"

Homem de Mello foi o 1 o biógrafo de Andrade Neves ,o Barão do Triunfo. Ele faleceu em Itatiaia em 1918,vítima da Gripe Espanhola e é o patrono do historiador cel Claudio Moreira Bento na Academia Itatiaiense de História. É autor do primeiro roteiro de acesso ao Maciço do Itatiaiai e caba de ser biografado pelo ten Sebastião de Almeida do Centro Sgt Max Wolff . Foi ele que indicou o local do atual Centro de Recuperação de Itatiaia(CRI).

Caxias escreveu a Osório em 4 abr 1866 expondo-lhe o seu Plano de desbordamento e isolamento por terra e água de Humaitá:

"Tenho projetado fazer um movimento com o Grosso do Exército pelo nosso flanco direito, deixando ocupada a nossa atual posição ,com forças capazes de oferecer resistência a qualquer ataque que os paraguaios possam empreender. Julgo conveniente que V.Excia depois de operar junção com a 4a Divisão do gen Portinho, desça o rio Paraná e passe ao Cerrito ,caso julgar que a força que V.Excia dispõe para isso seja suficiente .Ou então venha até o Itati, onde a salvo pode atravessar o rio...."

Caxias não ordena ,deixa como sempre a conduta ao livre arbítrio do amigo .Sobre o plano de desbordar e isolar Humaitá Caxias escreveu ao amigo Osório:

"Se V.Excia tiver alguma opinião diferente e lhe lembrar mais alguma coisa a ser feita ,rogo-lhe que como bom camarada, me auxilie escrevendo-me o quanto antes ,porque o que desejo é acertar...."

Veja-se a grandeza e humildade de Caxias neste gesto de consulta ao amigo!

Osório respondeu concordando com o plano relativo a Humaitá ,transmitiu a experiência que adquiriu naquele Teatro de Guerra e se revelou muito preocupado com o segredo que o amigo e Chefe lhe confiou. E a certa altura escreveu em resposta:

"Na minha marcha irei mandando própios a V.Excia .O portador que é o major Faustino dará a V.Excia alguns pormenores .Mas não lhe diga o que não quiser que ele saiba.."

E sempre confiando um no outro conduziram o Exército Brasileiro à vitória, escrevendo então juntos as mais belas páginas da História do Exército Brasileiro , na Marcha de Flanco de Humaitá ,na Marcha de Flanco de Piquiciri pelo Chaco e na Dezembrada.Eventos amplamente abordados na farta bibliografia sobre o conflito.

Caxias doente retirou-se vitorioso do Teatro de Guerra onde permaneceu Osório. E ambos trocaram intensa correspondência e confidências da qual vai uma amostragem:

Ao chegar ao Rio onde só foi recebido pela esposa ,Caxias recolheu-se ao seu sítio na Tijuca ,local da atual loja da Mesbla e de lá escreveu ao amigo:

"Vim para o sítio da Tijuca para ficar mais longe dos foguetes e músicas da cidade ,acompanhados de longos discursos ,que é coisa com que se pagam os militares que tem a fortuna de não morrerem ."

E noutra carta a Osório desiludido confidencia ao amigo em certo trecho:

"Ainda não fui a cidade desde que aqui cheguei e ando cada vez mais aborrecido dos homens e das coisas deste mundo de enganos."

Em 6 ago 1869 em outra carta a Osório revela seu interesse pelo amparo das famílias dos seus comandados que pereceram em ação:

"Tenho feito daqui o que posso pelas famílias dos nossos camaradas mortos na guerra e, já para quase todas tenho obtido pensões, mas ainda faltam esclarecimentos a respeito de alguns ."

E revela a sua decepção com a ingratidão de pessoas as quais mais bem ele tinha feito, coompreendo a amargura da velhice de muitos, pelas ingratidões e decepções recebidas ao longo da vida. Osório em resposta confidencia-lhe :

"Que um certo ministrinho Alencar ,seu votante(eleitor de Caxias ) disse que este seu criado nem merecia a confiança da nação e que eu era um defunto estúpido. "E concluiu escrevendo:

"Responderei como V.Excia quando em certa época me escreveu e disse-me -Ah meu Osório ,que canalha e esta com a qual temos que viver..."

Em carta de 28 jun 1870 Caxias mais uma vez confidenciou a Osório e o alerta:

"Aqui estou sofrendo as intrigas provenientes dos serviços que cai na asneira de prestar ao nosso pais .Mas como tenho consciência de que cumpri o meu dever ,estou satisfeito e disposto a reagir como puder aos intrigantes .os quais aqui me tem atormentado com suas visitas......Fez bem em espaçar a sua visita a esta Corte onde lhe haveriam de receber com foguetes e vivas que não enchem barriga ,e no fim das festas ,se V.Excia não tivesse a casa de algum amigo para se recolher , o haviam de o deixar na rua, pois assim são as coisas deste mundo, pois diz o rifão - que festa acabada, músicos a pé."

Nesta altura as intrigas políticas contra Caxias senador conservador que havia vencido a guerra para o Gabinete Liberal que o nomeara , atingiram alta temperatura e o intrigavam com o seu amigo Osório e o Visconde de Itaparica.

Isto levou Caxias a pronunciar célebre discurso no Senado em 15 jul 1870 em que tudo esclareceu e não deixou dúvidas nos senadores sobre a correta atuação de seu amigo Osório em ataque a Humaitá e no desbordamento da ponte de Itororó e do Visconde de Itaparica sobre o não reconhecimento prévio da ponte de Itororó. Discurso publicado na integra por Wanderley Pinho 67 em artigo "Caxias senador", bem como o debate de Caxias , senador Ministro da Guerra e presidente do Conselho de Ministros em 1877,com o senador Zacarias de Góes, sobre incidente que afetou a amizade entre Caxias e Osório, mas restabelecida ao menos quanto ao respeito mútuo, conforme abordado ao início deste trabalho .

Caxias em verdade foi o líder estratégico de batalha e Osório o líder tático sem igual de combate. E ambos formaram uma dupla que se completava. Osório tinha mais contato com a tropa e tornou-se um ídolo da mesma. Caxias mais afastado não fez jús a esta popularidade. E foi aí que intrigantes, ainda no Paraguai ,intentaram afetar aquela exemplar amizade ,com elogios exagerados a Osório que procuravam diminuir a glória de Caxias.Fato que se repetiria mais tarde em relação ao ten cel Benjamin Constant e o Marechal Deodoro da Fonseca no tocante a proclamação da República, quando políticos destacavam exageradamente Benjamin Constant em detrimento de Deodoro.

Caxias ficou magoado com a leitura de carta enviada por Osório ao senador por Goiás ,Silveira de Mello seu adversário político, dando a impressão pela interpretação do senador que Caxias era desmentido.

Em 1877 Osório chegou ao Rio para tomar posse em sua cadeira como senador pelo Rio Grande do Sul e assentar-se ao lado de Caxias na bancada gaúcha .Como militar não fora se apresentar a Caxias que antes de ser um velho amigo era o comandante - em - Chefe de Osório como Ministro da Guerra e Chefe do Governo do Brasil .Osório desculpou-se por não haver trazido farda e não ter tido tempo para tal. Biógrafos de Osório são unânimes em reconhecer esta sua falta .

Ao chegar ao Senado ,Caxias não o abraçou e só o cumprimentou a pequena distância com um gesto de cabeça, talvez esperando que Osório fizesse como ele fizera com o seu pai no Senado ao tomar posse - ir ao encontro do pai senador e abraçá-lo. Eram separados por três cadeiras, na bancada gaúcha do Rio Grande do Sul.

Seu gesto teve grande repercussão e sobretudo exploração política implacável de parte do senador Zacarias de Góes o que é abordado pelo artigo citado de Wanderley Pinho que demonstra que Caxias não fez concessão a quebra das vigas mestras do seu Exército -Hierarquia e a Disciplina ,nem pelo seu melhor amigo .

E Caxias encerrou com firmeza o implacável inquérito, por qual a razão não havia abraçado o seu amigo que não fora visitá-lo no Ministério(Gabinete de Ministros) como militar que era ,antes de emposssar-se no Senado:

"Não fui abraçá-lo ,pois Osório e que deveria ter ido cumprimentar-me antes no Gabinete de Ministros e Ministério da Guerra ,por ser eu mais velho, mais graduado e ter sido sempre o seu Chefe. "

Caxias convenceu a todos com sua argumentação monossilábica. Satisfeito Zacarias de Góes disse não perder a esperança que os dois velhos amigos se reconciliassem pois que a pátria poderia ainda exigir os serviços de ambos. Caxias senador Chefe do Governo e Ministro da Guerra respondeu - "Para min já é tarde!"

E ficou provado ,segundo o própio inquisidor Zacarias de Góes que artigos no Diário do Rio de Janeiro, com críticas ao senador Osório não tinham direta, indireta ,oficial ou oficiosa nenhuma influência do Governo chefiado por Caxias.

Aqui indicamos os elementos para julgar-se o incidente Caxias -Osório em torno de atuações de Osório em Itororó e Humaitá, desencontro mais a conta de intrigas políticas e de possíveis erros do Diário do Exército. Eis uma preciosa lição da História a mestra das mestras a mestra da vida .E segundo Santaina:

"Quem não conhece a História corre o risco de repeti-la."

Em 5 jan 1878 ,Caxias deixou o Governo e retirou-se doente e com muita sofrida viuvez para Santa Mônica. Foi substituído no Ministério da Guerra por Osório que continuou a defender, por curto período, com resultados, interesses do Exército ,que Caxias defendera por cerca de 30 anos ,na paz e na guerra ,sempre com apoio de Osório.

O exercício do Governo fora tarefa penosa ou calvário para Caxias ,conforme escreveu ao amigo Osório depois do término da Guerra do Paraguai:

"Hoje toda a minha estratégia será empregada em me livrar da Chefia do Gabinete de Ministros de que sempre tive mais medo do que das baterias de Lopes."

E Caxias a rigor fora compulsado pelo Imperador a chefiar o Governo 1875-77, conforme desabafou a uma filha em certo trecho de carta :

"Que fazer minha querida Anicota ,senão resignar-me e morrer no meu posto de Chefe de Governo. Acresce que eu já tenho arriscado tantas vezes a minha vida pelo Imperador que mais uma na idade em que estou ,pouco sacrifício será...."

Conforme abordamos ouve um reencontro de Caxias e Osório ao menos na defesa dos interesses do Exército e na repulsa de Osório de como Ministro da Guerra estar fazendo críticas ao seu sucessor Caxias ,ao dizer que em toda a sua vida só o teria respeitado.

Osório faleceu em 1879 e Caxias em 1880 ,cerca de meio ano após ,deixando os interesses do Exército na orfandade e sem defensores carismáticos no Senado.

Assim ,em 1881, para compensar suas ausências no Parlamento, foi organizado o Diretório Militar na Santa Cruz dos Militares ,visando a eleição de militares pelos partidos Liberal, ,\Conservador e Republicano para o Parlamento, onde os interesses da classe militar Exército e Marinha estavam órfãos.

E daí a República foi um passo, em razão dos militares e da família militar não terem sido atendidos .E deste Diretório Militar emergiu a liderança do Marechal de Campos Manoel Deodoro da Fonseca. Este ,na Questão Militar e fundação do Clube Militar contou com o apoio do senador Liberal e 2 o Visconde de Pelotas o Marechal Câmara ,grande amigo de Caxias .

Aqui procuramos ,pela primeira vez, fazer uma análise da amizade intima entre os dois maiores generais brasileiros do Império a qual se projetou, muito beneficamente, na guerra no bom desempenho operacional e político do Exército na pacificação da Família Brasileira na Revolução Farroupilha e, no exelente desempenho operacional do Exército na Guerra contra Oribe e Rosas 1851-52 e na Guerra do Paraguai 1866-68 e, na paz ,com o exercício do Ministério da Guerra por Caxias por mais de 6 anos e meio,onde as opiniões do general Osório eram sempre consideradas por ele.

O incidente que abalou uma velha sólida e íntima amizade os colheu quando desgastados pela avançada idade, doenças adquiridas no campo de batalha e ressentidos por dores da viuvez e mais Caxias pela perda do filho de mesmo nome, sua esperança de continuar sua tradição militar e que em família era chamado cadete

.Assim dois velhos e heroicos chefes habituados à luta nos campos de batalha foram envolvidos numa guerra de alfinetes a que não estavam habituados, fato que chegou a abalar um pouco a velha amizade ,mas nunca o respeito e admiração profissional recíprocas.

Osório no Paraguai fora para Caxias uma éspecie de seu Subcomandante - em - Chefe do Exército.Fato que se projetou na República ao ponto de certa feita Osório ser pensado para subpatrono do Exército e Andrade Neves para Patrono da Cavalaria.

Eis, nesta abordagem uma série de temas a meditação dos soldados do Exército de hoje e do futuro,e de como uma guerra de alfinetes de inspiração política ,pode confundir as cabeças e provocar cisões ou abalos entre chefes e do que a História Universal nos dá vários exemplos .

E aqui mais uma lição de como a orfandade dos militares ,no Senado , com as mortes de Caxias gerou a necessidade de se fazerem representar no Parlamento para defender os interesses da Marinha e Exército e que desatendidos terminou acelerando a queda do Império e a sua própia derrubada em 15 nov 1889.E por via de consequência a mudança de Monarquia para República .

Fica evidente que a grande amizade Caxias x Osório foi estremamente benéfica para o Exército ,onde com muita justa razão fuguram como os seus maiores expoentes de todos os tempos .