Caxias, o inspirador da doutrina militar terrestre brasileira

O cel Amerino Raposo Filho em Caxias e os problemas militares brasileiros.Rio,SGeEx,1969.v.1(Série subsídios doutrinários) intitula o cap VI de "Caxias inspirador de nossa doutrina militar" subtítulo acima nomeado da presente abordagem.

Sintetizando o pensamento do cel Amerino Raposo neste trabalho ,ele destaca e demonstra a notável visão estratégica de Caxias e a sua adaptabilidade ,com facilidade ,ao realizar durante a sua vida operações militares completamente diversas em TO diversos .

Inicialmente raids audaciosos para conter as revoluções em São Paulo e Minas Gerais em 1842 .Apelo à guerrilha legal para combater as guerrilhas balaias no Maranhão e a farrapa no Rio Grande do Sul. E finalmente no Paraguai ,com as manobras de flanco de Humaitá e Piquiciri culminando em cerco.

Vale aqui lembrar que da Guerra 1851-52 o empreendimento militar por Caxias liderado e o melhor organizado pelo Brasil ,ele adotou uma estrutura operacional e logística que deu exelentes resultados. Como Ministro da Guerra em 1856 ele a adotou no Exército,o que se constituiu numa profunda reforma administrativa caracterizada pela criação das figuras do Ajudante General,em realidade o comandante do Exército que passou a comandar indiretamente todos os comandos de Armas e, pessoalmente, o comando das Armas da Corte e ,além ,a figura do Quartel Mestre General, encarregado da Logística e ambos subordinados ao Ministro da Guerra.

Na segunda vez que assumiu o Ministério da Guerra em 1861, com apoio na imensa experiência operacional que colhera, adotou com adaptações às realidades operacionais e culturais sul-americanas que vivenciara ,as Ordenanças de Portugal para as armas, até que se dispusesse de uma doutrina específica genuinamente nossa, o que assinalou mais um pioneirismo seu.

Para o autor citado, a Manobra de Flanco do Piquiciri seria ímpar na História Militar universal .Foi de concepção audaciosa ,aliada a rapidez e a surpresa na execução. E culminou com o cerco de todo o Exército adversário da frente de nossa frente secundária de fixação. O adversário foi batido quanto intentava a fuga e não uma retirada. Assim Caxias teria sido o pioneiro em Manobra de Cerco.

Vale lembrar que esta manobra foi um exemplo de Risco Calculado em que Caxias sacrificou o princípio de guerra da Segurança em prol do princípio de Guerra da Surpresa que ele obteve a nível estratégico.

Para o cel Amerino as atuações operacionais de Caxias estariam a sugerir uma doutrina militar fundamentada na Segurança tática e estratégica face a todas as direções .E a não observância dela pelo adversário resultou sua derrota na Dezembrada .E Caxias não foi um teórico em Arte e Ciência Militar ,mas essencialmente prático, ou segundo o mal Castelo Branco, possuir Caxias em alto grau o senso do praticável e a convicção de que a Arte Militar é toda execução.

Deste modo para o cel Amerino ,Caxias teria lançado as bases da doutrina militar terrestre brasileira, escrita com a ponta da sua espada e no campo de batalha ,como o fizeram Frederico O Grande, Napoleão, Suvorow e Sherman.

Assim ,Amerino Raposo sugeria aos profissionais militares brasileiros com responsabilidade na formulação da doutrina militar terrestre brasileira que mergulhassem no estudo crítico de nossas guerras internas e externas para daí emergir aquilo que orientará o novo comportamento ,no sentido do que deverá animar a Força Terrestre Brasileira e e,m conseqüência ajudar a caracterizar a guerra a ser conduzida nos diversos Teatros de Operações.

O cel Amerino sugere doutrinas táticas brasileiras e seus fundamentos com apoio nas atuações de Caxias. E explicita:

"Doutrina com intensa solicitação à Surpresa, à Audácia, à Rapidez de Movimentos ,às Manobras Flexíveis ,com estruturas leves e aptas a viver em grandes espaços,isoladas e até à própia sorte. Doutrina que respondesse às peculiaridades de nosso Teatros de Operações ,de nosso potencial humano e de nossas possibilidades Econômico - Industriais."

E o que ele sugere encontra gloriosos precedentes na História Militar Terrestre do Brasil .

Vejamos, na expulsão de feitorias européias no Baixo Amazonas e afluentes; na luta de 30 anos contra os holandeses na Bahia e em Pernambuco onde os patriotas desenvolveram uma doutrina militar terrestre genuína denominada na Europa de Guerra Brasílica com apoio na guerrilha ,a estratégia do fraco contra o forte e de igual modo a Guerra à gaúcha ,no Rio Grande do Sul ,na luta contra invasões espanholas de 1763-77.Tipo de guerra este que seria apropiado por Caxias na Revolução Farroupilha ao entregar a condução das operações no campo tático a dois expertos neste tipo de guerra .

Na luta pela independência do Acre ,o gaúcho Plácido de Castro desenvolveu uma doutrina militar genuína para enfrentar os bolivianos ,apropiou muito da guerra à gaúcha que praticara na Guerra Civil 1893-95 no Sul , como major federalista.

Doutrina com estas características e inspirações citadas por Amerino Raposo e com precedentes gloriosos que apontamos, seguramente podem e devem ser implementadas para a defesa da Amazônia Brasileira para aumentar em muito a capacidade dissuasória das forças terrestres encarregadas de sua defesa ,contra tentativas várias que possam por em risco ali a Integridade, Unidade e Soberania do Brasil. Para defendê - la mais uma vez será impositiva a estratégia do fraco contra o forte - a guerrilha ,em grande parte responsável ,no Nordeste , "por um Brasil só e não dois ou três" e no Sul pela definição do destino brasileiro do Rio Grande do Sul etc.

Sobre a defesa da Amazônia leia-se o valioso artigo en cel Inf QEMA Luiz Alberto Martins Bringuel "A Estratégia da Lassidão." 48 que responde as nossas reflexões e considerações aqui feitas e do qual tomamos conhecimento depois de havermos escrito esta parte .E ensina-nos o ten cel Bringel: "

"Lassidão é a estratégia do fraco que valendo-se de alguns fatores a seu favor ,reage no campo militar ,evitando um enganjamento decisivo ,contra uma esmagadora superioridade militar,impondo-lhe o máximo desgaste e enfraquecendo-lhe assim ,a vontade de combater ,visando obter na opinião pública do adversário forte pressão sobre o seu Congresso no sentido de suspender as ações armadas."

E a Guerra Brasílica e a Guerra à gaúcha tiveram características de Lassidão que encontram suas raízes no pensamento militar português que decorreu de seu pensamento político de Dilatar a Fé Católica e o Império de Portugal pelo mundo, pois embora um pais minúsculo conseguiu se impor e manter grandes territórios nos 4 cantos do mundo e inclusive o Brasil por 322 anos .Pensamento militar português:

"Julgada a causa justa ,buscar a proteção divina atuar ofensivamente ,mesmo em inferioridade de meios."(na feliz interpretação do gen Francisco Paula Cidade).

E assim eles conquistaram e mantiveram a Amazônia inviolável de 1640-1822.

O cel J.B Magalhães, assinalado pensador militar terrestre brasileiro e biógrafo do gen Osório ,ao prefaciar o trabalho focalizado do cel Amerino , assim viu o valor para o presente e o futuro do Exército ,o aproveitamento crítico da História das Forças Terrestres Brasileiras,como força operacional ,com experiências guerreiras:

"Tudo o que existe deriva do que existiu antes .E é isto que dá valor positivo aos registros da História (no caso das FTB), permitindo fazer-se uma filosofia capaz de orientar com acerto as atividades humanas .E analizando como atuaram em bem do progresso as elites de ontem é que as elites de hoje e do amanhã poderão produzir eficazmente ,consideradas as modificações ambientais ."

E sobre Caxias ele assim interpretou sua projeção como chefe militar:

"Caxias foi chefe militar de escól. Atuou em época de acentuadas transformações nos mecanismos da guerra. Soube utilizar os meios de que dispunha ,dando-lhes uma orientação apropriada a seu melhor rendimento."

De fato a rigor Caxias comandou a fase mais brilhante da Guerra do Paraguai, do que considero a primeira Guerra Total entre nações ,já que a primeira foi a Guerra de Secessão nos EUA, mas uma guerra civil.

Caxias teve a sua disposição e empregou os meios que a descoberta da máquina a vapor que gerou a Revolução Industrial produziram: Navios de guerra a vapor; telégrafo; balões cativos para reconhecimentos, para flanquear Humaitá; linha férrea construída e operada por nossa Marinha ,para apoiar unidades navais que operaram no rio Paraguai, entre duas fortalezas inimigas e ,munição e armamento abundantes, produzidos industrialmente e não mais artezanalmente.

Tudo o que abordamos sobre Caxias e a doutrina militar e a atualidade do assunto para a Força Terrestre Brasileira encerro com esta palavras do ten cel Art QEMA Paulo Muniz Costa em artigo ; "Um futuro para a História Militar" 49

"O pensamento ,a estrutura, e o moral militares brasileiros atuais são decorrentes da assimilação de ensinamentos colhidos na participações nas campanhas externas e internas .Num mundo cada vez mais incerto, multipolarizado e cortado por antagonismos ,não é possível precisar qual a ameaça à nossa segurança mais provável ou imediata. O esforço há de ser prospectivo e ,para entendimento da atual conjuntura nos seus aspectos militares, dentre os instrumentos disponíveis mais eficazes, dispomos da História Militar .A História não acabou e Clio a deusa da História continuará em armas."

Caxias lançou também as bases da Doutrina Militar Terrestre Brasileira como Ministro da Guerra ,no tocante à regulamentação da Disciplina ,da Justiça Militar e dos Serviço Gerais. Este ao padronizar em 1875 rotinas nos Corpos de Tropa. E de lá para cá as novidades tem como base de partida os regulamentos específicos que baixou em 1856,1862 e 1875.

Por tudo concordamos com o cel Amerino Raposo - Caxias inspirador da Doutrina Militar Terrestre Brasileira ,que inclui as Polícias Militares pois ele foi o organizador e comandante por 8 anos da atual Polícia Militar do Rio de Janeiro que foi modelo para as demais no Império.

Ao encerrar esta parte nos congratulamos com os tenentes coronéis Bringuel e Muniz Costa ,pelos seus excelentes estudos aqui citados ,renovando a nossa confiança que outros estudiosos de seus portes venham um dia substituir estudiosos dos portes dos coronéis J.B Magalhães e Amerino Raposo Filho etc , com estudos de alta relevância e conseqüências para o contínuo progresso das nossas Forças Terrestres, fiéis as suas raízes plantadas solidamente no Brasil. Raízes que eles regaram e adubaram com seus estudos. Parabens.!" Os novos bárbaros seguramente sobreviverão ao Império " se souberem responder aos desafios que este status lhes poderá impor um dia .

Parece ser vero que a condição de manutenção do status de grande nação, potência ou grande potência mundial prende-se ao fato delas possuírem uma doutrina militar genuína ,calcada em sua experiência militar ao longo do seu processo histórico .No caso brasiileiro processo de cerca de quase 5 séculos de lutas vitoriosas em grande parte responsáveis pela definição, conquista e manutenção das dimensões continentais do Brasil ,sobre as quais pairam ameaças imprevisíveis ,impondo-se como o fazia Caxias ,estabelecer segurança em todas as direções.

E Caxias o maior de nossos generais e estadista de grande envergadura sonhou com uma doutrina militar brasileira genuína em 1862 e deu o primeiro grande passo neste sentido para respaldar o Brasil grande nação .

O mal Floriano o secundou, ao encarregar o cel Carlos Emílio Jourdan ,de produzir obra sobre a Campanha do Paraguai ,para que os alunos de nossas escolas militares Fortaleza, Praia Vermelha e Porto Alegre absorvessem um pouco das peculiaridades e realidades culturais e operacionais sul-americanas

Numa lembrança sumária das influências estrangeiras sobre a evolução da Doutrina do Exército Brasileiro podería-se interpretar a vôo de pássaro:

O Exército Colonial, até a União das Coroas de Portugal e Espanha 1580-1640 possuiu sua doutrina emanada de instituições de Portugal. Durante a União das Coroas recebeu influência da Doutrina Espanhola, caracterizada pelo terço, bandeiras e troços, nomes dados aos equivalentes hoje :Regimento, companhia e pelotão. O Comandante do terço, atual regjimento ,era chamado Mestre de Campo, e equivalia ao coronel.

Esta doutrina militar ao tempo das Guerras Holandesas estava em decadência ,relativamentea à doutrina militar dos invasores holandeses. Veja-se a respeito a análise da 1a Batalha dos Guararapes em História Militar do Brasil .Resende,AMAN ,1998 .

E na luta contra os holandeses os luso--brasileiros desenvolveram uma doutrina militar genuína chamada na Europa pelos especialistas de Guerra Brasílica.Ela aqui aligeirou os terços, deu liberdade de iniciativa a cada combatente que tinha como arma de choque a espada ou o chuço, por falta de arma de fogo e munição correspondente, em razão do bloqueio naval do Brasil Traduziu esta diferença de doutrinas a Brasílica e a holandesa, a mágoa de um oficial holandês ao major Antônio Dias Cardoso, atual patrono do Batalhão de Forças Especiais e o mestre das Emboscadas:

Oficial holandês: - "Da próxima vez será nós que venceremos, pois combateremos dispersos como vocês combateram!".

Dias Cardoso: - "Melhor para nós, pois para cada soldado de vocês disperso, necessitarão de um capitão ao lado dele, enquanto que cada soldado nosso é um capitão!".

Estes fatos podem ser aprofundados na seguinte obra do major Claudio Moreira Bento que remete o leitor a outras: As Batalhas dos Guararapes - Análise e discrição militar. Recife, UFPE, 1971. 2v. (Textos e mapas).

As bandeiras derivam da Doutrina Espanhola. Era uma organização militar que nos dias de hoje chamaríam-se companhias. Ex : Companhia de Raposo Tavares etc. Este assunto bandeiras e a origem militar do termo é bem esclarecido na obra:

BLANCO, Ricardo Roman, Las Bandeiras .Brasília 1966.

Com a rendição dos holandeses na Campina da Taborda em 1654, a Doutrina luso-brasileira passaria a ter influência inglesa direta ou indireta, através das Ordenanças do Exército de Portugal que mesmo independente o Brasil passou a adotar no todo ou com adaptações 1654-1910, por mais de dois séculos e meio.

Com influências inglesas marcantes tivemos o Corpo de Doutrina baixado pelo Conde de Lippe que para o Brasil enviou seu delegado , o tenente general Henrique Bonh que organizou o Exército Colonial do Brasil, fortificou o Rio e terminou por liderar o Exército do Sul para expulsar ,definitivamente ,os espanhóis do Rio Grande do Sul que ocupavam há 13 anos, ao reconquistar a Vila de Rio Grande em 1º abr 1776.

Para ter-se idéia do Corpo de Doutrina que aqui implantou o gen Bohn, remetemos leitor para as seguinte obra do cel Claudio Moreira Bento : A Guerra da Restauração do Rio Grande do Sul 1774-76. Rio, BIBLIEx, 1996 (Coleção Taunay).

Existem em coleções de obras rara alguns exemplares da Doutrina do Conde de Lippe..

Com a vinda da Família Real para o Brasil, na tropa ,foi implantada a Doutrina Militar do Marechal Carr Beresford, um inglês a serviço de Portugal.

Mas, na Academia Real Militar , D. João introduziu fortíssima influência francesa no ensino fundamental e no profissional . Neste era muito usada a obra do Conde Cessac um experto no assunto no Exército da França ,conforme é abordado no artigo do general Francisco Abreu e Lima. O brasileiro que foi general de Bolívar em A Defesa Nacional .725, mai /jun 1986.do cel Cláldio Moreira Bento .

Em 1861, o Duque de Caxias Ministro da Guerra com base em sua vitoriosa experiência operacional em 4 campanhas pacificadoras e guerra externa contra Oribe e Rosas 1851-52 e mais experiência a cerca de 8 anos no comando da atual Polícia Militar do Rio de Janeiro, adaptou as Ordenanças de Portugal para as armas às realidades que vivenciara, com a ressalva "até que se disponha de uma tática (Doutrina) genuinamente nossa.."

Com isto se tornou pioneiro na nacionalização progressiva da Doutrina Militar Terrestre Brasileira, conforme o focalizou pioneiramente na ECEME em 1958:

RAPOSO, Amerino, Filho. cel.. Caxias inspirador de nossa Doutrina : Caxias e o problema militar brasileiro.Rio,SGeEx,1969.p.56-63(esgotado).

Esta Doutrina baixada por Caxias foi a que presidiu o emprego do Exército Brasileiro na Guerra do Paraguai 1865-70.Inclusive usada por Caxias como Comandante -em - Chefe 1866-68.

Antes, Caxias como Ministro da Guerra ,em 1855, aproveitando a estrutura operacional que imprimiu ao Exército em operações na Guerra de 1851-54, introduziu no Ministério da Guerra, duas estruturas: Uma operacional e outra logística.

A operacional sob a égide do Ajudante General do Exército, que passou a ser efetivamente o comandante do . Exército e que ,em 1899 ,foi substituído pelo Estado -Maior do Exército. A logística sob a égide do Quartel Mestre General e que se ramificava por toda a organização de paz e de guerra.

O Ajudante General foi substituído pelo Estado- Maior do Exército, Órgão de influência doutrinaria prussiana , sugerida pelo então capitão Augusto Tasso Fragoso, que viria a chefia-lo nos anos 20.

Órgão que promoveu a edição da seguinte obra sobre sua existência:

ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO.História do Estado-Maior do Exército.Rio de Janeiro , BIBLIEx,1984.(Org.pelo cel Art Paulo Motta Banho).

Após a Guerra do Paraguai houve um grande declínio doutrinário, de 1874-1905 por cerca de 30 anos. O Exército foi dominado pelo "bacharelismo militar, com outras preocupações que não o desenvolvimento da Doutrina do Exército como Força Operacional. A Doutrina estava a cargo da Congregação. de Professores da Escola Militar da Praia Vermelha, mas não a implementaram efetivamente .

Certo feita o cel Conrado Bittencourt ,heróico comandante do Batalhão de Engenheiros aquartelado na Praia Vermelha ,encaminhou um importante regulamento militar francês solicitando à Congregação que o traduzisse para ser lido pela tropa. E veio a resposta então: - "Não é necessário pois nós o lemos no original.!"

Neste período raros oficiais brasileiros tarimbeiros valiam-se da obra traduzida: FAVÉ, Gen. Curso de Arte Militar. Rio, Tipografia. Militar 1892.

Esta involução doutrinária refletiu-se nos conflitos internos no início da República: Guerra Civil 1895-95 na região Sul , Revolta na Armada, 1893-94 e Canudos 1897 . Neste apareceu uma complexa Ordenança de Portugal, que recebeu o nome de "Regulamento Moreira César", em razão da Comissão dele encarregada o haver homenageado, após morto em Canudos, colocando o seu retrato.

Era irreal para as realidades dos pampas sulinos e das caatigas nordestinas , a não ser na defesa de localidades como foi o caso de Bagé e Lapa sitiadas por federalistas em 1893-94.E este regulamento foi abordado na obra lançada na ECEME em 1989:O Exército na Proclamação da República, Rio, SENAI,1989.( 100 anos de República) do cel Claudio Moreira Bento .

Ainda em Canudos, para enfrentar as mesmas realidades operacionais e logísticas, o cel Carlos Telles, comandante do 31º BI de Bagé teve a inspiração de improvisar um Esquadrão de Cavalaria com o qual previniu futuras emboscadas e recolheu cabeças de gado esparsas na caatinga para alimentar as tropas .

O problema logístico só seria solucionado com a cadeia de Apoio Logístico que o Ministro da Guerra, mal Bittencourt, estabeleceu na Bahia, em apoio as forças operando contra Canudos, o que lhe valeu a consagração, como patrono da Intendência do Exército.

De 1910-20 o Exército sofreu grande influências prussiana ou alemã. O mal Hermes da Fonseca, como Ministro da Guerra, enviou oficiais para estágio no Exército Alemão .De retorno fundaram em 1913 a revista A Defesa Nacional que passou a difundir a Doutrina Alemã, que ganhou grande impulso na Missão Indígena da Escola Militar do Realengo 1919-21, integrada por muitos oficiais com curso na Alemanha ou a eles ligados.

Sobre a influência dos chamados Jovens Turcos da Defesa Nacional indica-se os seguintes artigos do cel Claudio Moreira Bento que remeterão o leitor a outras fontes. Paula Cidade - um escritor e soldado ao serviço do Exército .A Defesa Nacional. N o 709, Set/Out 1983. pp.13-35; Centenário do nascimento de Bertoldo Klinger. A Defesa Nacional. 711, Jan/Fev 1984, pp. 5-6.e,. Reunião no Clube Militar para a fundação da Defesa Nacional . A Defesa Nacional .715, Set/Out 1984. pp. 168//169 e mais o citado na nota 41, Mal Caetano de Farias - Projeção como chefe do EME e Ministro da Guerra na Reforma Militar. A Defesa Nacional 724, Mar/Abr 1986.

Em 1918, quase ao final da Guerra ,o Brasil enviou a França 24 oficiais que integraram a Comissão de Estudos e Operações e de Aquisição de Material Bélico na França 1918-19. A finalidade era absorver, inclusive combatendo nos Exércitos Aliados, ensinamentos da Doutrina Militar Terrestre da França e adquirir material bélico para implantá-lo no Brasil, no Exército e na sua Aviação.

E eles trouxeram valiosos subsídios e idéias como os ten cel José Fernandes Leite de Castro, e os tenentes José Pessoa Cavalcante de Albuquerque e Cristóvão de Castro Barcellos de grande projeção nos destinos do Exército , após a revolução de 30 Foi abordado o tema no seguinte artigo que conduz o leitor a outras fontes. O Exército e a 1ª Guerra Mundial, A Defesa Nacional . 752, Abr/Jun 1991, pp.. 145-146. Aprofundou nesta Comissão com Monografia Curricular exigida na ECEME ,o seu ex aluno e atual Cel R/1 Eng Jorge Cosendey residente em Macaé - RJ.

Estudou a vida do Marechal José Pessoa, o chefe de maior projeção cultural militar e nacional desta Comissão e o idealizador da AMAN e introdutor dos blindados em nosso Exército a obra :

CÃMARA,Hyram Freitas,cel .Mal José Pessoa a força de um ideal. Rio, BIBLIEx, 1986.

Era adido militar na França o maj Alfredo Malan d’Angrone que foi encarregado de contratar a Missão Militar Francesa(MMF), para o nosso Exército sendo que a 1ª chefiada pelo gen.Gamelim.

Esta MMF chegou ao Brasil, em 1920 e por cerca de 19 anos, ate a 2ª Guerra Mundial ,exerceu grande influência doutrinária no ensino do Exército.

Em 1939 ela foi substituída por uma Missão Militar dos Estados Unidos e desde então e até o presente tem estado O Exército sob esta influência doutrinaria .

No Arquivo Histórico do Exército foi iniciado em 1985 um projeto História da Doutrina do Exército Brasileiro, reunindo regulamentos que de longa data vêm presidindo o emprego do Exército Brasileiro.

Eis ,pois em largos traços as influências doutrinárias recebidas pelo nosso Exército e que a partir de 1862 Caxias fez o primeiro grande esforço para nacionalizá-la .

E nacionáliza-la progressivamente é missão histórica das atuais e futuras gerações do Exército Brasileiro.