O Senador Caxias, pelo Rio Grande do Sul 1847-8

Caxias foi senador vitalício pelo Rio Grande do Sul 1847-80,por cerca de 33 anos e pelo Partido Conservador.

Decidiu disputar uma vaga no Senado ,tão logo concluiu a sua ação pacificadora da Família Brasileira em Ponche Verde,em D.Pedrito atual, em 1 o mar 1845.

E para tal recorreu ao seu já amigo e colaborador ,o major Cav Manoel Luiz Osório, consagrado hoje na História como general Osório,atual patrono da Cavalaria , e ao escrever-lhe de Porto Alegre onde presidia a Província.

"...Para que não se deixe enganar ,devo-lhe dizer que não fiz chapa(eleitoral).

Conquanto goste mais de uns nomes do que outros que tenho lido em diferentes chapas ,não tenho tomado a peito nenhuma delas, porque em todas há mais ou menos joio(pessoas desqualificadas no seu entender).

Desejo porém ser senador pela Província do Rio Grande do Sul e creio que para persuadí-lo disto não é preciso muita lógica. E que me é indiferente que sejam estes ou aqueles os meus dois companheiros (de chapa).

Vá para Bagé e cabale forte e deixe o mais por minha conta.

Os soldados não votam para que se não diga que eu quero impor uma eleição à Província ,em baionetas(pressão militar).Porém cabos,sargentos e oficiais não deixam de fazer número( na votação).

Seu camarada e amigo - Conde de Caxias."

Caxias apresentado ao Imperador em lista tríplice em 22 set 1846 ,escreveu a Osório:

"Já saberá que sua Majestade o Imperador ,no mesmo dia em que chegou à Corte a ata das eleições escolheu-me senador por esta Província.Isto corou a obra que Vossa Senhoria e mais amigos principiaram."

(Afonso de Carvalho.Caxias,p.155).

Fica aí evidente a íntima ligação Caxias-Osório e a influência de Osório na eleição de Caxias senador ,em pleito em que foi eleito deputado provincial pelo Partido Liberal.

A condição de parlamentar era essencial a Caxias para que pudesse influenciar nos destinos do Exército e protegê-lo ,como o fez ,do esforço erradicador de que foi alvo o Exército durante o Império, conforme o já citado Edmundo Coelho de Campos o demonstrou na obra -Em busca de Identidade -o Exército e a política na Sociedade Brasileira.(Rio,Forense,1976) ,novamente citada por sua importância para o Exército.

Esta condição permitiu-lhe ser ministro da Guerra por mais de 6 anos e Chefe do Governo por mais de 4 anos, senador por cerca de 30 anos ,onde esteve sempre atento na defesa ,com resultados ,dos interesses do Exército e além ,ser conselheiro de Estado na Repartição dos Negócios da Guerra e Marinha 1870-80,onde defendeu os interesses do Exército ,para não dizer-se de suas imunidades parlamentares para recusar um comando-em-Chefe no início da Guerra do Paraguai, subordinado a um inimigo seu o Visconde de Camamú, então Ministro da Guerra.

Caxias chegou no Senado para tomar posse ,em 11 mai 1847,no local da Faculdade de Direito, ao lado da atual Policlínica do Exército. Chegou de sobrecasaca e foi recebido com toda a consideração e bem orientado de como proceder.

Presidia o Senado o Marques de Lages , cel João Vieira de Carvalho ,o recordista até hoje no número de vezes em que foi Ministro da Guerra -5 vezes durante 5 anos,9 meses e 7 dias ,seguido de Caxias que a rigor foi Ministro da Guerra 4 vezes, mas superando o Marques de Lages em permanência na função - com 6 anos ,6 meses e 24 dias. Ambos recordistas no Império e só superados com folga na República, pelo Ministro general Eurico Dutra ,de 5 dez 1936-3 ago 1945,por 8 anos 7 meses e 28 dias .

Preenchidas as formalidades Caxias se aproximou da bancada fluminense e cumprimentou :"Bom dia meu pai! - "Bom dia meu filho! " Foi a resposta do do senador pela Província do Rio de Janeiro ,o mal Francisco de Lima e Silva ,curvado pelos anos e visivelmente emocionado levantou-se e se abraçaram em meio a emoção geral com a cena.

E os dois foram parlamentares assíduos. Quando um tinha de votar contra outro em assuntos conflitantes das províncias do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul ,não comparecia ao Senado .E juntos freqüentaram o Senado em cadeiras próximas ,por quase 8 anos ,até 2 dez 1853 ,quando o antigo Regente como chefe do Governo do Brasil faleceu.

No Senado reuniam-se estadistas eloqüentes ou sábios,capacidades nacionais por méritos parlamentares, brilho espiritual ou, valor como guerreiro e pacificador ,além de sabedoria castrense refinada que era o caso de Caxias e de seu pai.

Caxias guerreiro consumado ,não dominava a técnica da tribuna. Suas intervenções eram sóbrias ,objetivas e consistentes e sempre respondendo como defesa e nunca atacando. Quando acusado seu nome ou a sua autoridade de chefe militar respondia racionalmente ,ordenadamente ,sereno e com argumentação compacta do que ficou exemplo em seu histórico discurso no Senado em 15 jul 1870,reproduzido na integra por Wanderley Pinho em "Caxias senador. Revista Militar Brasileira ago 1936, em que respondeu magistralmente as infundadas acusações relativas ao seu comando no Paraguai.

Para A.de. Carvalho em Caxias, a sua chegada ao Senado teria o significado seguinte:

"A espada de Caxias fincou-se de súbito nesses arraiais(Senado).Para uns uma ameça, para outros um espantalho .Mas para muitos garantia."

Paulo Matos Peixoto em Caxias nume tutelar da Nacionalidade .V.1,assim interpretou o contexto político em que Caxias iria atuar como senador:

"Caxias não foi nunca um político no aspecto faccioso. Mas foi um político esforçado e diligente no sentido da promoção e da defesa do bem público.

Não entrou para o Senado com expressão política do Província do Rio Grande do Sul que pacificara. Suas raízes ali nunca foram partidárias, mas militares, administrativas e morais.....

Sem dúvida o moveu ao pleitear o Senado ,a convicção de que havia a necessidade de contribuir na câmara alta ,aos serviços que prestara como soldado, administrador e cidadão à Província do Rio Grande do Sul a que se afeiçoara. O povo gaúcho não lhe deu votos por motivos políticos, mas por gratidão e confiança.

Caxias não se destacou no Senado como polêmico, orador retórico ou hábil congressista .O que o destacou foi o trabalho atento e convincente ,a vigilância permanente, a severidade e o patriotismo."

É possível que nestas características tenha se inspirado Benedito Rui Barbosa na novela O Rei do Gado, para compor o personagem- o senador Roberto "Caxias",mártir da Reforma Agrária.

E prossegue o autor citado ,caracterizando o contexto político partidário em que Caxias atuaria como senador , três vezes como Ministro da Guerra e Chefe do Governo e duas vezes como Comandante - em - Chefe ,na Guerra contra Oribe e Rosas 1851-52 e na do Paraguai 1866-69:

"Os dois partidos ,o Liberal e o Conservador, não se diferenciavam ideológicamente. Dominavam a política desde 1837 e assim polarizaram a política no Império. Sustentaram tenaz e interrupta luta que foi até os exageros da guerra civil(caso das revoluções liberais de São Paulo e Minas Gerais 1842).Nem mesmo se podia traçar um limite entre eles. A luta era mais pessoal ,pela conquista de posições, não por um programa. Ambos eram presididos e dirigidos por políticos com origem na aristocracia rural. Ambos eram pela Monarquia e nenhum se opunha ao Imperador."

A respeito disto é comum ouvir-se que nada lembrava mais um conservador do que um liberal no poder.Pois este repetia as práticas que condenavam nos conservadores quando no poder. Os conservadores consideravam-se " bombeiros para apagar fogos ateados pelo incendiários - os liberais ."

As disputas entre ambos e criticas à Monarquia quando fora do poder, seriam um das causas que aceleraram a sua queda ,por exploradas pelos republicanos.

E conclui Paulo Matos Peixoto:

"Caxias jamais se ligou intimamente a qualquer partido. A sua identificação com os conservadores era conseqüência de sua formação (" de bombeiro e não de incendiário")e de seu ideal. A sua solidariedade ao Partido Conservador era questão de coerência e de dignidade. Sua afinidade extrapolava dos partidos e fixava-se na Monarquia que representava-lhe a força de coesão da Unidade Nacional.

Na tribuna do Senado fugia dos problemas partidários. Ocupava-se quase que unicamente dos interesses do Exército e da Província do Rio Grande do Sul. Às vezes conseguia unir os dois interesses num só plano que defendia com grande dignidade e incansável resistência."

Para o citado Wanderley Pinho op.cit. ao analisar a atuação de Caxias senador:

"Faltavam a Caxias as qualidades que o salientassem como parlamentar - a cultura política e jurídica, a vivacidade oratória,o gosto da controvérsia ,os recursos retóricos, a combatividade verbal e a eloquência. Mas quando impositivo assomava à tribuna com desembaraço, não raro exprimindo-se em asseada linguagem .Era ouvido com atenção. Não deixava de se manifestar em assuntos militares dos quais falava de cátedra. Sobre assuntos políticos muito raramente! E só o fazia obrigado como Ministro da Guerra e Presidente do Conselho e ainda assim em declarações concisas ..."

Certa feita foi atacado por um senador que o chamou de instrumento da oligarquia. Respondeu falando em tom solene sendo muito aplaudido por seus pares:

"Não há na minha vida ,quer privada quer pública ,um fato de que possa me envergonhar. Desde a infância (cadete aos 5 anos) abracei e segui a carreira das armas. Sou filho e neto de soldados .De todas as honras de possuo no Império ,prezo sobremodo ,as que tenho merecido como militar. Em toda a minha vida tomei por norma obedecer sem hesitar ,a todas as ordens do governo.

Depois que entrei para o Senado ,tendo de manifestar uma opinião política encostei-me (apoiei-me) sempre naqueles que por suas idéias e procedimentos me parecessem oferecer maiores garantias de ordem em meu pais(de Unidade Nacional).Tenho me conservado inabalavelmente fiel a estas idéias." (Foi muito aplaudido!) É a isto que o nobre senador chama de oligarquia ? Não se atiram infundadamente proposições dessa ordem contra um homem perfeitamente conhecido no pais que não tem o menor receio de que se proceda a mais rigorosa autópsia(devassa) no seu passado."

E terminou com uma ironia fina em relação ao senador que se apresentava como um leão furioso e implacável em seus ataques, ao que Caxias que o conhecia na intimidade e era seu amigo, concluiu como querendo dizer ."Fiquem tranqüilos ,o senador x não é um leão feroz e perigoso. É só um leão de tapete que não faz mal a ninguém !"

E provocou muitos risos !Mais tarde este senador foi seu Ministro da Justiça no Gabinete de 1875.Prova que o incidente foi superado por Caxias e seu colega.

Na Câmara de Deputados o deputado Souza Franco declarou que Caxias era incapaz para presidente do Conselho ou chefia do Governo .Disto se aproveitou o senador José Inácio Silveira da Mota 34 para potencializar o que disse o deputado e classificar sua fala de injuriosa a Caxias .Caxias percebendo a intenção de intriga de seu inimigo político respondeu:

"Não creio que o deputado Souza Franco me tenha injuriado, pois sou o primeiro a reconhecer a minha incapacidade para o cargo. Estou convencido pois que S.Excia não me fez nenhuma injúria ,não só porque isto não faz parte dos seus hábitos ,como porque eu sou incapaz de sofrer injúrias de quem quer que seja."

Mais tarde o senador voltaria a carga ,lendo uma carta do general Osório em que ele dava a impressão que Osório desmentia Caxias sobre a sua atuação em ataque a Humaitá, do qual foi obrigado a ordenar retirada e sobre o seu atraso no desbordamento de Itororó. Fato que serviu de base, explorado pela política e pela imprensa, para um estremecimento da grande amizade Osorio-Caxias o que é abordado ao final desta parte em "Projeção da amizade Osório- Caxias no progresso do Exército no Império."

Segundo o citado Wanderley Pinho, "Caxias era vigoroso e preciso ao contestar. Ferino mesmo ao cassar a palavra ao intruso,inconveniente."

Caxias teve um incidente com o senador Ângelo Moniz da Silva Ferraz que começou a criticar com minudências do oficio militar, a administração de Caxias na pasta da Guerra. A certa altura Caxias, irônico ,aparteou o colega -"-Outro ofício!"Como a dizer,mais uma faceta desconhecida do senador Ferraz - a de profissional militar. Provocou risos gerais a ironia oportunamente colocada .Incidente e desdobramentos que abordaremos adiante em "Caxias Comandante-em-Chefe e os problemas políticos."

Caxias no trato de problemas do Exército, aparteava, discursava e apresentava projetos ,a maioria aprovados, como será abordado adiante em "Caxias projeção como Ministro da Guerra."

Dedicava-se também aos problemas da Província do Rio Grande do Sul que o elegera.

Em 21 ago 1847 defendeu recompensas à Guarda Nacional, pleiteando fosse dado o título de oficiais honorários do Exército a guardas nacionais servindo na 1a linha. Foi contestado pelo Liberal ,o Ministro da Guerra, gen Santos Barreto, grande engenheiro militar que o comandara no combate em 1831 da revolta do Batalhão de Artilharia Naval da Ilha das Cobras e que o antecedera no combate à Farroupilha, sendo então derrotado pela guerra de guerrilhas ou de recursos -A Guerra à gaúcha, conforme a abordou o cel Cláudio Moreira Bento em O Exército farrapo e os seus chefes.Rio,BIBLIEx,1993.v.1,e que o sintetizou biográficamente.

E retornou a tribuna para defender seu ponto de vista nestes termos incisivos:

"Os oficiais da Guarda Nacional do Rio Grande do Sul (exemplos Andrade Neves e Chico Pedro e muitos outros) foram os que mais serviços prestaram no combate à Farroupilha. Entretanto foram os menos recompensados....No Rio Grande do Sul nenhumas honras se estimam tanto como os distintivos militares. Qualquer outra remuneração pouco efeito faz. Em conseqüência os postos de oficiais honorários satisfarão muito esses beneméritos sem que tragam os inconvenientes que se receiam."

Caxias viu vitorioso o seu ponto de vista e esta honraria se generalizou. Na família do autor sentia-se muito orgulho de meu bisavô materno (suprimido para não identificar o autor )

Oliveira Viana foi o quem magistralmente interpretou a civilização castrense do Rio Grande do Sul, opinião insuspeita que reproduzida na íntegra ,com complementos na obra também do autor cit. História da 3a Região Militar 1801953 e Antecedentes.Palegre,SENAI,1995,v.1,que vale a pena conferir

.E Caxias logo percebeu esta característica do gaúcho ao ponto de dizer a Osório ao encarregá-lo de mobilizar o 3 o Corpo de Exército.:

"Fale a estes guascas( bravos, destemidos) naquela linguagem que nós dois sabemos."

Em 18 jul 1847 ,o senador Caxias defendeu a promoção para oficiais que combateram a Revolução Farroupilha ,preteridos segundo ele:

"Por 97 oficiais que tinham vivido em completo ócio, enquanto outros derramavam o seu sangue pela pátria. Isto pareceu-me bárbaro .Julguei de meu dever fazer esta observações .Já como oficial do Exército, já como testemunha ocular do serviço que eles tem prestado."

Em sessão de 3 jul 185O hipotecou solidariedade a Holanda Cavalcanti que opinou pela retirada da atual Academia Militar para fora da Corte ,por classificá-la "de mais política do que militar"

E Caxias apoiou a sua idéia de transferência "ao menos para fora da cidade do Rio", o que ele promoveria em 1856 como Ministro, retirando-a provisoriamente para a Fortaleza São João, enquanto construiu a Escola Militar da Praia Vermelha.

Respondendo a críticas sobre a pacificação da Revolução Farroupilha falou ao Senado:

"Não sei se a pacificação da Revolução Farroupilha foi boa ou má. Só sei que quando ela foi feita ,todos reclamavam para si a glória .Eu declaro que nunca alardeie tê-la feito. Tenho a consciência de cumprir exatamente tudo quanto o ministério(Gabinete de Ministros) me encarregou de fazer. Possuo nas minhas mãos provas de que este ministério ficou satisfeito."

Em 15 jul 1870 defendeu-se em discurso histórico de críticas a sua ação de comando no Paraguai o qual Wanderley Pinho reproduziu na íntegra em "Caxias senador" citado: Reproduzimos vários aspectos ao longo deste trabalho no local mais apropiado:

A acusação de haver maltratado prisioneiros disciplinares e penais colocando-os presos num navio da Marinha ,demonstrou que foi o tempo em que receberam melhor tratamento. Pois os encontrara presos em campo aberto, cercados por guardas que viviam a tensão de substituir, como castigo, os presos que fugiam em seus serviços. E isto causava enorme problema para quem recebia a missão de tomar conta dos presos.

Lembramos que foi Caxias que criou um livro Registro de prisioneiros de guerra ,hoje no Arquivo Histórico depois de ser localizado em 1978 no Curso de Intendência da AMAN pela sua cadeira de História Militar .

Foi acusado de não haver condecorado o conde de Porto Alegre e o cel Tibúrcio por atos de bravura .Deu convincentes explicações aos seus pares de este não reconhecimento ter sido responsabilidade avocada pelo Ministério da Guerra.

No tocante a condecorações ,propôs a extinção da Medalha por Bravura que concedida a soldados destemidos e não muito disciplinados ,conferia-lhes honras de capitão que, as mais das vezes, mal interpretadas, estes heróis não mais se submetiam aos cabos, sargentos e oficiais ,chegando alguns a disputar a liderança com seus capitães dando origem segundo Caxias , "até a assassinatos de tenentes e capitães, com graves prejuízos á disciplina. " Conseguiu que fosse aprovada a medalha do mérito militar para premiar atos de bravura praticados depois de sua criação, não retroativa a atos praticados antes de criada. Mais tarde sua concessão foi avocada pelo escalão superior, contemplando atos de bravura antes da criação da medalha. O soldado com ela condecorado não podia ser castigado com pranchachos de espada. Osório Santana Figueiredo em ,Caserna de Bravos .Santa Gabriel,6 o BE Cmb,1996,mencionou um cabo velho que quando começou a ser castigado puxou do bolso sua medalha de bravura ,o que interrompeu logo o castigo.

Acusado de haver promovido por atos de bravura em número superior ao previsto no Quadro de Organização argumentou:

"Que em 27 meses de comando promovera 227 oficiais enquanto que o Conde D’Eu em 11 meses promovera 320 e só excedendo o Quadro em 4 majores."

Em aparte um senador perguntou porque não perseguira Lopes em Lomas Valentinas e que salvasse a reputação do Visconde de Itaparica gen Argolo por não ter reconhecido previamente a ponte de Itororó e a do Marquês do Herval o gen Osório por ter atrasado o desbordamento da ponte de Itororó, o que determinou o ataque da ponte antes da chegada de Osório? E Caxias assim respondeu às críticas infundadas aos seus dois generais:

"Senhores, nada mais fácil depois do fato consumado e conhecido o terreno ,a força e a manobra do inimigo ,de longe e com toda a calma e sangue frio , a vista de partes oficiais ,criticar operações e indicar o plano mais vantajoso.

Mas o mesmo não acontece a quem se acha no teatro de operações ,caminhando nas trevas ,em pais inteiramente desconhecido , inçado de dificuldades naturais.

É preciso que os senhores senadores se convençam que a Guerra do Paraguai foi feita as apalpadelas .Não havia mapa do pais , por onde me pudesse guiar ,nem práticos de confiança .Só se conhecia o terreno onde se pisava. Era preciso ir fazendo reconhecimentos e explorações para se poder dar um passo.

Não é possível , Sr. presidente , fazer idéia adequada dos terrenos do Chaco. Durante o tempo seco cria uma crosta de 3 ou 4 palmos de grossura .E assim permite a passagem de um ou outro cavaleiro, de uma ou outra carreta. Mas se o trânsito se amiúda e o tráfego aumenta ,a terra fende-se e o cavalo ,cavaleiro ,carretas e tudo é absorvido por tremedais insondáveis. Em luta com tantas e tamanha dificuldades, ,pisando-se um terreno completamente desconhecido, como se quer exigir impossíveis? Onde está a culpa atribuída aos dois generais(Argolo e Osório)? Pode ser que o meu nobre colega(senador José Inácio Silveira da Mota) se general fosse e lá estivesse ,procedesse de outro modo. Eu fiz o que julguei mais acertado."

E o senador goiano Silveira da Moda demonstrou concordar com a idéia de Caxias.

E Caxias prosseguiu em seu histórico discurso dirigindo-se a Silveira da Mota:

"V.Exa. me acusou de que se nossas tropas não entraram em Humaitá em 16 jul 1868 foi porque mandei ordens ao sr marquês do Herval de retirar-se quando já estava lá dentro .... É inexato !O Diário do Exército diz inteiramente o contrário do que referiu V.Excia......Eis o que houve !O sr Marquês do Herval (Osório)cumpriu o seu dever e procedeu como entendeu. E procedeu bem! Não retirou-se por ordem minha, mas usando o arbítrio que eu lhe havia confiado. Esta é a verdade! Este Diário do Exército foi publicado há dois anos. O sr Marquês do Herval é um general de pundonor e brio ,não deixaria pairar sobre a sua honra a menor suspeita. Se eu lhe tivesse faltado à justiça ,não deixaria de reclamar em tempo.(apoiados dos senadores).Nunca o fez antes e continua a conservar comigo as mais íntimas amizades."

Mais tarde em 9 set 1870 o mesmo senador José Inácio Silveira da Mota subtilmente leu uma carta de Osório sobre o episódio. Dava a impressão a Caxias de estar sendo desmentido .E ambos Osório e Caxias foram envolvidos na armadilha que abalaria em 1877 a amizade entre ambos ,mas não o respeito e admiração. Assunto que será abordado adiante em "A projeção da amizade Caxias Osório no progresso do Exército."

Osório senador, na sessão de 5 out 1877 após um abalo das relações fez uma proposição com a qual Caxias se solidarizou como senador e chefe do Governo. Em sessão de 8 out ,três dias ,depois o senador Osório fez os seguintes esclarecimentos :

"Foi em 9 set 1870 que o nobre senador por Goiás(Silveira de Mello)discutiu com a atual Ministro da Guerra(Duque de Caxias),ex - general - em - Chefe do Exército sobre pontos das operações militares havidas no Paraguai o que pode ser consultado nos Anais do Senado. Nada acrescentarei sobre o combate de Itororó, de que tratei na minha carta de agradecimento escrita ao nobre senador (Silveira da Mota) e que consta dos Anais.(Carta que foi o pivô do abalo das relações de amizade íntimas Caxias -Osório)em razão deste assunto haver perdido a importância desde que retirando-me do Exército com S.Excia Duque de Caxias ,teve este a bondade de dizer-me em Montevidéu que tinha dado continuidade ao combate de Itororó, sem esperar-me ,receando que por sua vez o inimigo atacasse em condições desfavoráveis. .Esta resolução do general - em - Chefe foi militarmente tomada e prova o motivo porque não pude assistir o combate de Itororó. E portanto não teve fundamento a nota do Diário do Exército. Quanto a minha retirada de Humaitá direi que sabendo-me distante do sr General - em - Chefe, Duque de Caxias ,eu não poderia saber se S.Excia deu ou não a ordem de retirada .Mas a verdade é que eu recebi esta ordem pelo meu Ajudante de Campo ,o Maj Francisco da Silveira como emanada de S.Excia( Caxias) conforme carta do mesmo que ratifica no documento que vou ler :

...Tenho a declarar-lhe que como Ajudante - de -Ordens de V.Excia me foi dada a parte para transmitir ao Exmo Sr Duque de Caxias ,em 16 de jul, que V.Excia estava nas trincheiras de Humaitá perdendo bastante gente e esperava suas ordens .A ordem do Duque de Caxias para transmitir a V.Excia ,foi que se retirasse em ordem e não deixasse gente para traz........Quaró 24 mar 1871."

E prossegue Osório :

"Acrescentarei mais ,que tive e tenho por muito conveniente a ordem de retirada, porque tendo-se executado o reconhecimento a viva força ,e eu não dispondo de material apropriado para entulhar o fosso (de Humaitá),até então desconhecido, de 42 palmos de largura e 20 de profundidade, a demora ali da força só poderia dar em resultado aumentar o número de vítimas (baixas) que já passavam de 1.000,não podendo dar-se o assalto defendido por mais de 100 canhões e a guarnição de Humaitá. Assim julguei prudente e sensata a ordem de retirar-me .E devia ela ter partido do Comando - em - Chefe..."

E lê a seguir telegrama de Caxias ao general Argolo a propósito do ataque a Humaitá:

"O general Osório tendo chegado próximo a trincheira inimiga e encontrando resistência invencível ,dei ordem para que voltasse a força ..."

E conclui Osório :

"Tenho provado segundo me parece que si a ordem do General- em- Chefe foi alterada eu não poderia deixar de cumpri-la tal como a recebi. Conquanto eu reconheça que sou o último dos meus camaradas ,penso que eles não poderão exprobrar-me o ter evitado o perigo alguma vez ,deixando-os comprometidos."

Foi muito aplaudido e Paranaguá acrescentou que Osório sempre fora o primeiro.

Aqui os elementos para julgar-se o incidente Caxias -Osório em torno de atuações de Osório em Itororó e Humaitá ,desencontro mais a conta de intrigas políticas e de erros do Diário do Exército .

Eis uma preciosa lição da História ,a mestra das mestras ,a mestra da vida .E segundo Santaina ,"quem não conhece a História corre o risco de repeti-la."

Em 5 jan 1878 ,Caxias deixou o Governo e retirou-se doente para Santa Mônica. Foi substituído no Ministério da Guerra por Osório que continuou a defender ,por curto período, com resultados, interesses do Exército ,que Caxias defendera por cerca de 30 anos sempre com apoio de Osório.

Osório faleceu em 1879 e Caxias em 1880, deixando os interesses do Exército na orfandade e sem defensores carismáticos no Senado, de molde que ,em 1881, para compensar suas ausências no Parlamento ,foi organizado o Diretório Militar na Santa Cruz dos Militares ,visando a eleição de militares pelos partidos Liberal ,Conservador e Republicano para o Parlamento, onde os interesses da classe militar estavam órfãos.E daí a República foi um passo em razão dos militares não terem sido atendidos .E deste Diretório Militar emergiu a liderança do Marechal de Campos Manoel Deodoro da Fonseca. Este ,na Questão Militar e fundação do Clube Militar contou com o apoio do senador Liberal e 2 o Visconde de Pelotas o Marechal Câmara.

O historiador civil Wanderley Pinho que estudou pioneiramente Caxias como senador pela Província do Rio Grande do Sul ,concluiu emitindo o seguinte conceito:

"Caxias -senador foi o mesmo do que em tudo o mais que exerceu como homen público: Digno e alto como homem. Patriota útil na palavra e na pugna e caracter íntegro."

Em outras partes deste trabalho são focalizados outros aspectos de sua atuação com senador.