Bases da Cultura do Duque de Caxias em Arte Militar

Uma das lacunas da biografia de Caxias era a explicação de como ele conseguiu acumular invejáveis conhecimentos não só em Arte como em Ciência Militar e resposáveis por sua bem sucedida carreira militar de general invencivel de 6 campanhas que o o colocam sem favor nenhum na galeria dos grandes capitães da História Militar Mundial.

Esta resposta é em parte a ensaiamos em artigos "Fontes da Cultura do Duque de Caxias em Arte da Guerra " 5 que assim pode ser sintetizada :

O visconde do Rio Branco pai do Barão do Rio Branco amigo e compadre de Caxias, do alto de sua sabedoria o classificou como "possuindo inteligência e bom senso genias."Para os marechais Humberto Castelo Branco e Tristão de Alencar Araripe, historiadores militares e ex-comandantes da ECEME estas seriam partes das explicações:

Para o mal Castello Branco o fato de Caxias haver adaptado às realidades operacionais sul-americanas ,muito da Arte da Guerra de Napoleão, em especial o conceito de que "a guerra é uma arte toda de execução".Para o mal Tristão Araripe ,o fato de Caxias haver feito um acompanhamento cerrado da evolução operacional da Guerra Secessão no Estados Unidos a qual apresenta tantas semelhanças com a Guerra do Paraguai e pioneiras do advento da Guerra Total. Exemplo eloquente foi sugerir e receber o apoio dos balonistas irmãos norte-amercanos Allen 6 que haviam apoiado reconhecimentos para o Exército do Norte ao comando do gen Lee ,para proceder reconhecimentos para a vitoriosa marcha de flanco sobre Humaitá cuja conquista significava o objetivo militar da Tríplice Aliança.

Para seu maior biógrafo, o Dr Vilhena de Moraes ,Caxias acompanhou com vivo interesse o desenvolvimento da doutrina militar da Guerra Franco- Prussiana 1870-1871 pela qual mais uma vez a França tornou-se República com a queda de Napoleào III.Havia neste acompanhamento, segundo ainda Vilhena de Moraes ,uma preocupação de Caxias com os reflexos da República Francesa na Monarquia Brasileira ,já recomeçada a ser combatida com a Convenção Republicana de Itú-SP de 1870.

Para o mais tarde mal Castello Branco que fora instrutor na ECEME de Tática e História Militar antes de ser o E-3 da Força Expedicionária Brasileira, a maior característica de Caxias era a de "possuir o senso do praticável."Fato que Vilhena de Moraes traduziu na norma que Caxias adotava e traduzia nesta máxima;"Fui ver não mandei outros verem."Ïsto é confirmado pelo pontoneiro cap Jacob Franzen ao conduzir Caxias de lancha para certificar-se se dos locais na foz dos afluentes do Chaco haviam sido removidos entulhos para facilitar o embarque e desembarque de tropas por embarcações de nossa Marinha 7.

Caxias além de militar de vocação como o demonstra sua vida e obra o foi militar de tradição.Caxias conviveu com 11 marechais em sua família.Era bisneto,neto,filho,sobrinho,tio e irmãos de destacados infantes que ocuparam posições de relevo no governo e junto a ele.

Eram os avós de Caxias o mal de Campo grad.José Joaquim Lima e Silva que em 1783 veio de Portugal e serviu no Regimento de Bragança que lutou na Guerra de Restauracão do Rio Grande do Sul.Seu avô materno de que herdou o nome foi o mal Luiz Alves Freitas Bello e veio de Portugal como coronel.

O pai de Caxias, o mal Francisco Lima e Silva 8 tornou-se infante sob orientação paterna no atual Batalhão Sampaio.Cursou a Academia de Artilharia Fortificação e Desenho fundada pelo vice rei Conde de Resende em 19 dez 1792,na Casa do Trem ,no aniversário da raínha D.Maria I ,já insana ,e sob a égide do príncipe regente D.João,que em 1810 ,promoveria na mesma Casa do Trem a Real Academia em Academia Real Militar ,só que agora não destinada a formar oficiais de Infantaria, Cavalaria, Artilharia e de Engenheiros para o Brasil Colônia,mas para todo o reino de Portugal.

Esta é a verdade que pesquisas recentes revelam.Ali o pai de Caxias foi colega e amigo do pai de Miguel Frias de Vasconcellos.O pai de Caxias como coronel comandou expedição a Prnambuco que combateu e conjurou a revolta republicana liderada pelo padre Frei Caneca que passou a História como Confederação do Equador de 1824 e que se insere como a primeira luta interna do Brasil Independente.Liderou ainda como comandante das Armas da Côrte e da Província do Rio de Janeiro(atual 1a RM) ,defronte o atual Palácio Duque de Caxias ,o esquema militar do qual resultou a Abdicação de D.Pedro e foi regente do Imperio por duas duas vezes .Muita influência militar exerceu sobre o seu filho Luiz Alves que como ele viria a ter grande expressào politico-militar e governaria tambem o Brasil.Seu pai por mais de 4 anos na Regência e ele Caxias por quase igual período no 2 o Reinado ,em tres ocasiões.

Seu tio paterno mal de Campo e Visconde de Magé 9,fora iniciado em Arte Militar no atual Batalhão Sampaio com o seu pai e irmão Francisco ,pai de Caxias.Por seu valor militar foi encarregado pelo Imperador D.Pedro I para organizar o Batalhão do Imperador, unidade de elite e raíz histórica do atual Batalhão da Guarda Presidencial de Brasília que incorporou suas tradições.Foi o padrinho de batismo e de fogo de Caxias na Guerra da Independência da Bahia.Comandou o Exército Libertador da Bahia no impedimento do gen Labatut.Possuia muito bom conceito profissional e seu conselhos sobre doutrina militar eram levados muito em conta.Exerceu grande influência militar sobre o sobrinho e afilhado..Tomou posição em 7 abr 1831 em favor da Abdicação de igual forma que seus irmãos Francisco,pai de Caxias e Manoel Fonseca ,como única alternativa de preservaçào da Monarquia.E Caxias acompanhou o pai e tios nesta posição.Resistir era inviável!

Outro tio que muita influência exerceu sobre Caxias foi o citado mal de Campo Manoel da Fonseca Lima e Silva e Barão de Surui.Foi seu sub comandante no Batalhão do Imperador na Bahia .Era da 1a turma da Academia Real Militar 1811-12..Exerceu grande influência sobre Caxias.

O 1 o general farroupilha João Manuel Lima e Silva 10,era tio paterno de Caxias e dois anos mais moço que ele .Conviveram intimamente na infância e no atual Batalhão Sampaio e dois anos na Academia Militar no Largo do São Francisco.Ao estourar a Revolução Farroupilha a ela aderiu como comandante da única unidade de Infantaria do Exército no Rio Grande do Sul .Esta fora confinada na fronteira em São Borja dentro da política de erradicação do Exército que se seguiu à Abdicação e, causa de muitas revoltas entre integrantes do Exército nas lutas internas da Regência e, em especial da própia revolução farroupilha .Nesta, os seus líderes em maioria eram oficiais do Exército e revoltaram toda a Guarnição do Exército em 20 setembro, inclusive os dois Bento que eram oficiais de Estado-Maior do Exército.

Pensamento político erradicador dominante ,assim traduzido na época"por lideranças de elites influentes da Sociedade Brasileira do Sudeste em especial ,logo após a Independência, adeptas de uma politíca de erradicação do Exército e Marinha sob o argumento:

"Forças numerosas e permanentes são uma ameaça :

-À Liberdade.

-À Democracia.

-À prosperidade econônica.

-À Paz"

Tão logo proclamada a Independência segmentos influentes das elites do Sudeste pressionaram para reduzir o Exercito que foi só organizado em dezembro de 1824 , após D.Pedro outorgar a Constituição.Mas ali muitos constituintes de 1824 pretendiam posição insignificante e irreal ou romântica para o Exército , a defesa do litoral nas fortalezas e das fronteiras como instrumento de defesa externa e subordinado aos presidentes de províncias.

Com a Abdicação estas elites empolgaram o poder e colocaram em vigor seu plano de Erradicação do Exército subordinado aos presidentes de Províncias com capacidade presumida de ,com o auxílio da Guarda Nacional e Guardas Permanentes destinados à defesa interna ,neutralizar o Exército em caso de conflitos graves entre os poderes .

No Sul as elites do Sudeste pressionaram o Rio Grande do Sul criando escorchantes impostos pela propiedade rural e pela arroba do charque que passaram a comprar dos inimigos de ontém -os argentinos e uruguaios.

Aderiu à Revolução Farropilha inclusive o carioca cel José Mariano de Mattos, comandante da unidade de Artilharia do Exército no Rio Grande do Sul.Ele seria Ministro da Guerra e Marinha dos farrapos,vice presidente e presidente interino da República Rio Grandense e mais tarde chefe de Estado-Maior de Caxias na Guerra contra Oribe e Rosas e Ministro do Império do Brasil em 1864.

Os fluminenses gen João Manoel e cel Mariano de Mattos do Exército e que aderiram a Revoluçào Farroupilha e a lideraram no mais nível os estudamos na obra: O Exército Farrapo e seus chefes.Rio , BIBLIEx,1992.v.1,pp.47-49 e 145-151.

Obra que aborda o papel e posições na época das elites políticas ,econômicas e militares no Rio Grande e como se contrapunham a elas as elites políticas ,econômicas e militares dominantes do Sudeste.

O papel da elites políticas e econômicas do Sudeste da época podem ser bem apreciadas na importante obra que mostra que o esforço erradicador do Exército não foi ficção e sempre existiu sobre diversas formas ,disfarçadas ou sutis ,ou efetivas:

COELHO,Edmundo Campos.O Exército e a Política na Sociedade

Brasileira.Rio,Forense,1976.

O gen João Manuel foi assassinado em São Borja em 25 ago 1837, quando saia de um baile.Imagine-se o impacto entre os 3 irmãos Lima e Silva e o sobrinho atual Duque de Caxias com a tragédia.Até que ponto ela teria influido no ânimo pacificador de Caxias e determinado sua ida ao Rio Grande cerca de 2 anos mais tarde ?

Esta questão é aqui colocada por oportuna .Os revolucionrios farrapos do Exército em 20 set 1835 protestavam contra esta erradicação do Exército por elites que apoiaram em 7 abr 1831 na Abdicação e que o teriam trado após.

4Até o ten Manoel Luiz Osório foi revolucionário desta hora.Foi republicano de coração mas consciente que ainda não era chegado o momento da República no Brasil.

Havia depois da Independência um preconceito das elites brasileiras em formação.Um preconceito justificável contra os militares que dominaram o poder colonial como vice reis,governadores etc e em regime absolutista.E este sentimento se voltou irracionalmente contra o nascente Exército Brasileiro,liderado pós independência por alguns oficiais portugueses que aderiram ao Brasil, o que desgostou por exemplo militares brasileiros do Sul preteridos em comandos na Guerra Cisplatina 1825-28.

Ao Caxias ingressar no serviço ativo em 1817 ,fazia um ano que vigorava no Brasil As Ordenanças(Doutrina )de Infantaria do Marechal Carr Beresdorf,inglês ao serviço de Portugal.Elas substituiram em parte a doutrina do Conde de Lippe também inglês a serviço de Portugal, na qual haviam se formado infantes os avós,tios paternos e maternos de Caxias.

Havia uma preocupação na família Lima e Silva com a atualizaçào doutrinária do Exército dentro de nossa realidades e a isto se propoz um deles 11 desde que lhe dessem recursos em material de expediente.Mas ao que tudo indica não possuia crédito para tal !

Caxias é que iria resolver este problema como Ministro da Guerra em 1862 ao adaptar ,com base em sua experiência de comandante de 5 campanhas vitoriosas e no exercício em 1855 da função de Ministro da Guerra, as Ordenanças(Doutrina)de Infantaria de Portugal ,às realidades operacionais sul-americanas :

"Até que se desenvolva uma tática elementar(Doutrina) genuinamente nossa. e harmônica com as peculiaridades de nosso Exército e com a natureza de nossa guerras."

E foi a Doutrina usada na Guerra do Paraguai sobre a qual não se registram críticas, o que indica a sua exelência. Este pioneirismo e esforço de Caxias pela Doutrina Militar Brasileira e focalizada pelo pensador militar brasileiro ,assunto abordado adiante:

RAPOSO FILHO,Amerino Raposo,cel.Caxias e a doutrina Militar Bra

sileira.Rio,BIBLIEx,1959.

Trata-se de importante obra de conhecido e consagrado instrutor da Escola de Comando e de Estado -Maior do Exército e de seu CPAEx e autor também de outra valiosa obra de grande importância aos estudos ministrados na citada Escola, o que atesta o autor que em 1968 ,dela muito se beneficiou na ECEME.

RAPOSO,Amerino,cel.A Manobra na Guerra.Rio,BIBLIEx,1969.

Caxias frequentou 4 anos de 1818-21 como cadete,alferes e tenente a Academia Real Militar do Largo do São Francisco, na condição do Brasil Reino Unido a Portugal e Algarve, sob a égide do Rei D.João VI que transferiu a sede do reino para o Brasil por cerca de 13 anos ,de 1808-1821.Dela saiu com o curso de Infantaria.

Estudou no 1o ano as seguintes matérias do ensino fundamental: Aritmética,Álgebra,(até equações do 4 o grau),Geometria,Trigonometria Retilínea e noções de Esférica e Desenho. Estudou no 2 o ano - ensino profissional os assuntos militares Tática, Estratégia, Castramentação ( arte de acampar),Fortificações em Campanha e Reconhecimennto do terreno.

.No 3 o ano estudou Álgebra, Geometria aplicada à Física, à Astronomia, ao Cálculo de Probabilidades e na dedução de teorias de Mecânica,Hidrodinâmica,Ótica ,Geometria Descritiva e Desenho.(Aliás teve dificuldades na matéria Desenho).

No4oe último ano estudou princípios de Mecânica,Estática,Hidrodinâmica,Hidráulica,Hidro-estática,Desenho,Máquinas e suas aplicações e Balística.

Era inspetor do ensino militar o mal Joaquim de Oliveira Alvares 12 , herói da guerra contra Artigas de 1816 e que desempenhou relevante papel como Ministro da Guerra, respaldando o Dia do Fico.No ensino fundamental o brig Norberto Xavier de Brito, comandante do Corpo de Engenheiros 13.

Os livros texto usados eram predominantemente de cientistas e generais franceses .

Tiveram influência na sua formação militar a obras sobre fortificações em campanha do gen e Barão Gay de Vernon e, do Conde de Cessac sobre Estratégia, Tática e Serviço em Campanha.

O conde Cessac era autor das obras :O Guia do Oficial em Campanha em 1786.2v: Projeto da Organização do Exército da França 1789 e Arte Militar (Tática e Estratégia) editado depois da Revolução Francesa.

O Conde Cessac e general ,em 1793 organizou a defesa da França nos Pirineus.Dirigiu o Bureau de Guerra em 1795.Presidiu o Conselho de Estado em 1803.Foi Ministro da Guerra em 1808 e Inspetor Geral da Infantaria em 1814.

Curiosamente D.João VI,obrigado a transferir-se para o Brasil por Napoleão procurou basear o ensino fundamental na Academia Real que aqui criou em 1810 em obras de cientistas franceses e o ensino profissional em dois generais franceses que se assinalaram na formulação da Doutrina Militar da Revolução Francesa.

O currículo da Academia Real foi estudado em artigo:.O Brasileiro que foi general de Simon Bolívar(gen Abreu e Lima). A Defesa Nacional(n o 725 mai/jun 86) do cel Claudio Moreira Bento.

Outra explicação da expressiva cultura de Caxias foi a sua intensa vivência militar em problemas de segurança interna e externa. Aprendizado na forma definida por Camões o poeta soldado que perdeu a vista em combate na área hoje do atual Viet Nam.

"Que a disciplina(doutrina)militar prestante não se aprende na fantasia,senão vendo,tratando e pelejando."

Fato que muito se aplica ao general Osório, formado na Academia Militar das Coxilhas na Fronteira do Vai Vem,na belicosa coreografia da Arte Militar dos Pampas.

De 1823-28 atuou expresivamente com ajudante do Batalhão do Imperador na guerra da Independência na Bahia e na Guerra Cisplatina, em Montevidéu.De 1831-1839 foi peça chave na segurança da Corte no sub comando e comando do Batalhão Sagrado,;ub comando e comando do que se constitui hoje a Policia Militar do Rio de Janeiro.De 1839-1845 comandou o dispositivo militar que pacificou o Maranhão e adjacências,São Paulo,Minas Gerais e Rio Grande do Sul.Em 1851-52 comandou no mais alto nível a vitória militar ,no tocante ao Brasil ,contra Oribe e Rosas.Comandou a fase decisiva da Guerra do Paraguai 1868-1869 que conquistou os objetivos: Militar-a Fortaleza de Humaitá e o político -a conquista de Assunção,tendo a sua disposição todas as forças aliadas.Foi Conselheiro de Guerra ,de Estado e Presidente do Conselho de Ministros cumulativamente com o Ministério da Guerra por tres vezes.Sua vivência militar intensa e rica foi superior a 60 anos.

Outra característiva foi a de haver sido ,segundo seu biógrafo Vilhena de Moraes, amigo de escrever cartas.Ele manteve durante longos anos intenso intercâmbio epistolar com pessoas muito bem informadas no Brasil e Exterior.E não descuidava de em qualquer circunstância enviar cartas à familia,aos parentes,aos amigos,aos chefes e até ao Jornal do Comércio do Rio que cunhou a expressão-" Caxias filho querido da Vitória!"

Lamentavelmente as centenas de cartas que escreveu foram desbaratadas por seus destinatários .Vilhena de Moraes relaciona as autoridades com que Caxias se correspondia em sua obra Novos aspectos da obra de Caxias.Acredita-se que a correspondência mais importante por descontraída e reveladora de aspectos de seu pensamento militar, era enviada ao seu irmão Barão de Tocantins ,quinhoeiro como ele do sucesso militar em Santa Luzia.Seu irmão ,ao presentir a morte mandou queimar todos os seus papéis e com ele a correspondência recebida de Caxias.

Com a esposa com quem mantinha confidências reveladoras de seu pensamento militar, a correspondência sumiu em grande parte.E pedia a ela:

"Não fale em cousas de guerra com outras pessoas para não colocar-me em má posição,pela possibilidade de não conseguires transmitir com fidelidade o meu pensamento."

Se correspondia e confidenciava com sua irmã Carlota.A destruição deste acervo precioso impediu até o presente restabelecer o pensamento militar de Caxias,o que não aconteceu com o general Osório que manteve sempre bem cuidado e junto de si seu precioso arquivo,hoje existente no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro .Arquivo que permitiru ao seu filho e neto escreverem sua alentadata biografia e dela ensaiarmos o seu pensamento militar na:REVISTA CAVALARIA,Curso de Cavalaria da AMAN, 1979.(Comemorativa do centenário de morte do gen Osório) do então ten cel Claudio Moreira Bento.

Nos serões que alimentava em sua residência, quartéis generais e em campanha colheu e absorveu experiências alheias em Arte Militar por muitos anos.Era muito amigo de conversar após o jantar em campanha.

Esta característica se comprova no questionário que respondeu em 1854 ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro sobre a Batalha do Passo do Rosário de 20 fev 1827 que não assistiu por estar guarnecendo Montevidéu,mas que reconstituiu e a interpretou com apoio em conversas que entreteve com participantes brasileiros,uruguaios e argentinos de 1827-1852.Trabalho reproduzido pela Revista do Instituto Histórico do Rio Grande do Sul em 1927(alusivo ao centenário da Batalha do Passo do Rosário).É fonte a caracterizar seu pensamento militar e sintetizado em O Guararapes,n o 8 ,jan/mar 1997. trancrito ao final deste assunto.

Caxias desde 1855 como presidente do Conselho de Ministros recebia muitas cartas de brasileiros em missão cultural ou diplomática no exterior, relatando-lhe assuntos de interesse militar ,como o demonstra Vilhena de Moraes em Novos aspectos de Caxias cit.

Esta parte é importante para entender-se o Duque de Caxias ,até hoje carente de uma biografia que abarque a sua multifacetada vida e obra de cidadão e soldado exponencial e providencial para o Brasil e brasileiros.

E como referiu-se o mal Castelo Branco em conferência no Centro Militar de Estudos de São Paulo ,em 1949, ao abordar "Caxias militar e político"e constante da obra -O Mal Castelo Branco seu pensamento militar.Rio ECEME,1969.

"...Um homen do porte de Caxias ,que teve ,em vida,a veneração e a injustiça,igualmente humanas,tem que ser projetado no plano da crítica.E aí sua figura avultará objetivamente.Trazê-lo para o nosso tempo como o estadista e o marechal do Brasil de hoje é fazer obra inconsistente. Cair-se-ia na idolatria,e em vez de enaltecê-lo o vulgarizaria..."

Uma das formas de acumulação de cultura em Arte e Ciência Militar de parte de Caxias foram as 9 longas 14 viagens por imposições profissionais , de segurança interna e externa do Brasil e, em especial na Bacia do Rio da Prata ,numa luta interna e em 3 lutas externas e onde fez intenso intercâmbio de experiências militares com oficiais brasileiros,portugueses,espanhóis,argentinos,uruguaios e até alemães em 1851-52 da Brigada Prussiana ,os Brummer 15,contratada pelo Brasil para combater Oribe e Rosas.

A 1a viagem foi Rio-Salvador e vice e versa ,como ajudante do Batalhão do Imperador no combate na Guerra da Independência na Bahia 1822-23.

A 2a viagem foi Rio-Montevidéu e vice e versa ,para defender esta praça no contexto da Guerra Cisplatina 1825-28 de que resultou a independência do Uruguai do Brasil ,ao mesmo tempo que se evitou sua incororação à Argentina."Um algodão entre 2 cristais."

A 3a viagem foi ao Rio Grande do Sul em 1839 acompanhando o Ministro da Guerra, no contexto da Revolução Farroupilha e onde teve início a grande amizade Caxias-Osório.

A 4a viagem foi Rio-São Luiz e vice e versa para pacificar a Balaiada no Maranhão onde tomou conhecimento e absorveu as realidades operacionais e culturais do Meio Norte,transição entre a Amazônia e o Nordeste.

A 5a viagem foi em 1842, Rio-Sorocaba e vice versa, para pacificar a Revolução Liberal de São Paulo.Ida via marítima até Santos e retorno por terra em parte pelo Caminho da Independência percorrido por D.Pedro I em 1822.

A 6a viagem foi Rio-Porto da Estrela-Vassouras-Santa Luzia e vice e versa,a cavalo ,para pacificar a Revolução Liberal de Minas Gerais em 1842.O trecho Rio-Porto da Estrela foi feito pela Baia de Guanabara e era seu conhecido desde a infância pois nascera na área de influência de Porto da Estrela.

A 7a viagem foi de 1842-46 Rio- Rio Grande do Sul e vice versa’,para pacificar a Revolução Farroupilha e de onde retornou eleito pelos gaúchos senador vitalício .Percorreu então longamente a região da Campanha gaúcha,conhecimento valioso para o seu comando do Exército do Sul na Guerra contra Oribe e Rosas 1851-52.

A 8 a viagem foi em 1851-52 Rio-Porto Alegre-Santana -Colônia do Sacramento com retorno por Colônia-Montevidéu-Jaguarão ,via lacustre(Pelotas-Porto Alegre)-Rio, para combater na Guerra contra Oribe e Rosas 1851-52.

A 9a foi Rio-Porto Alegre-Uruguaina em 1865,como ajudante de Campo de D.Pedro II, para receber a rendição dos paraguaios que haviam tomado Uruguaiana.

A 10a viagem foi de 1866-69 Rio-Montevidéu-Assunção e vice e versa para combater Solano Lopes na Guerra do Paraguai ,oportunidade que estiveram sob o seu Comando-em-Chefe oficiais argentinos e uruguaios aliados.

Indiscutivelmente estas viagens enriqueceram sobremodo sua cultura em Arte e Ciência Militar na forma repetimos que a definiu Camões o poeta soldado:

"A Disciplina Militar Prestante(Arte e Ciência Militar) não se aprende senhores na fantasia,senão vendo,tratando e pelejando."

Demonstra o aprendizado da Arte e Ciência Militar por Caxias em sua viagens operacionais a sua interpretação sobre a batalha do Passo do Rosário a seguir:

Em 20 fev 1997 transcorreu os 170 anos da Batalha de Passo do Rosário ,que teve lugar próximo da atual cidade de Rosário do Sul .Foi a maior batalha campal travada no Brasil ,na qual se enfrentaram forças terrestres do Brasil ,com forças terrestres argentinas e orientais(uruguaias ), cujo resultado foi indeciso para uns ,derrota brasileira para outros e vitória brasileira para outros tantos.

Esta batalha foi imortalizada na literatura gauchesca no antológico conto ,com apoio na realidade, "O Anjo da Vitória "do maior escritor regionalista gaúcho e um dos maiores do Brasil-J.Simões Lopes Neto.

Neste conto ele focaliza a morte em combate do legendário gaúcho mal José de Abreu, personagem que impressionou vivamente o Barão do Rio Branco,que sobre este herói produziu estudo que o guindou a sócio do IHGB ainda muito moço .Conto que reproduzido na História da 3a Região Militar 1808-1957 e Antecedentes (Palegre,SENAI,1995.v.1) pelo cel Claudio Moreira Bento.

Em 28 ago 1854,decorridos 27 anos da batalha, o então Marquês de Caxias, eleito sócio honorário do IHGB ,desde 11 mai 1847(há 150 anos atráz), respondeu ao questionário de 9 quesitos que lhe dirigira o secretário do IHGB Dr Joaquim Manoel de Macedo, o qual foi publicado pela Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, em 1927, centenário da batalha.

Caxias recém egresso da vitoriosa campanha contra os ditadores Oribe e Rosas 1851-52, respondeu ao questionário com apoio em dados que colhera in loco, onde acampara por mais de 4 vezes e em depoimentos de vários oficiais brasileiros,argentinos e uruguaios que participaram da batalha.(troca de experiências).

Sintetizando o seu pensamento de como interpretou a batalha:

"Os brasileiros dispunham de 5007homens (Cavalaria 2731h,Infantaria 2036h e Artilharia 240h).Os argentinos e orientais 10.557homens(Cavalaria 8.379,Infantaria 1538 e Artilharia 600h).Não participaram da batalha 1720 brasileiros (Brigada de Bento Manuel )o que subiria o efetivo brasileiro na batalha para 6.627, caso tivessem combatido.

O movimento inimigo, retrocendo através do Passo do Rosário foi estratégico e poderia ter sido previsto e ,se não o foi deve-se ao fato de não ter sido levado em conta que um exército invasor e superior não poderia fugir à perseguição de um inferior numericamente e nem abandonar as posições que ocupara, sem ter conquistado o objetivo a que viera.

O campo em que o general Alvear esperou as tropas brasileiras que marchavam às cegas e sem ter informações seguras sobre o inimigo ,poude por ele ser escolhido.E nele se exercitou por 2 ou 3 dias ,segundo ouvi de oficiais argentinos e uruguaios e inclusive do gen Eugênio Garzon que interroguei.(Comandou como coronel um batalhão de Infantaria dos 4 que combateram contra os brasileiros).

Os brasileiros surpreendidos tiveram de aceitar a batalha no terreno para onde foram atraídos.A posição do inimigo de antemão escolhida, forçosamente deveria ser muito favorável do que a deixada para os brasileiros.

Mas, em abono a verdade ,não foi a posição favorável ao inimigo que lhe favoreceu na batalha.

Se os brasileiros logo que tivessem reconhecido o inimigo, mudassem a frente à direita ,mais para cima ,teriam anulado esta vantagem de posição,obrigando o inimigo a manobrar para vir combatê-lo e logo a seguir impedí-lo de adotar nova linha de batalha.

A surpresa impediu a reflexão(estudo da situação de conduta de combate).E tudo foi confusão ao se avistar o inimigo onde ele não era esperado .

O terreno ocupado pelo inimigo era mais própio à Cavalaria do que à Infantaria e dominava o terreno ocupado pelos brasileiros ,sendo assim mais favorável a sua Artilharia, superior a nossa, quantitativa e qualitativamente.

Havia entre os Exércitos uma sanga sem água e que era um fosso enxuto que só dava passagem à Cavalaria em poucos lugares.E qualquer dos exércitos que a atravessasse,teria a dupla desvantagem de desfilar à vista do outro,no ataque e ,na retirada em caso de insucesso.

O nosso general(Barbacena) não levando em conta as vantagens do inimigo em efetivo e posição ,ordenou o ataque.

Adotou a Ofensiva ,quando julgo, deveria ter adotado a Defensiva e, assim, esperando o inimigo na posição que os brasileiros foram obrigados a ocupar . Deste modo obrigariam o inimigo a atacar as tropas brasileiras e assim deixar a posição que vantajosamente ocupava.

As formações dos dois exércitos foram sempre paralelas .As tentativas de flanqueamento(desbordamento)só foram feitas com vantagem pelo inimigo,pois no início da batalha conseguiram tomar-nos as bagagens e as munições de reserva ,só escapando as cavalhadas que seus encarregados, sem ordens e por iniciativa , conduziram a salvo para São Gabriel.

As duas divisões de Infantaria brasileiras permaneceram nas posições e só as deixaram mediante ordens.

A batalha durou 11 horas mais ou menos .Durante este tempo as unidades sustentaram as posições que lhes foram designadas pelo general .

A retirada foi competentemente ordenada pelo General -em-Chefe e muito bem aconselhada na falta de reservas.

A de munições tomadas no início da batalha;a de cavalhadas evacuadas para São Gabriel e a de tropas que haviam sido enganjadas na batalha encontravam -se exaustas.

A ausência de 1200 homens da melhor Cavalaria ao mando do cel Bento Manoel Ribeiro ,destacada com o fim de observar o inimigo e com ordem de se reunir ao Exército, logo que ouvisse os primeiros tiros ,o que não cumpriu,não obstante ter ouvido os estrondos da Artilharia inimiga. E,antes,retirou-se para mais longe, supondo o nosso Exército perdido.

É opinião geral de todos os oficiais práticos da natureza da guerra(Guerra à gaúcha, vide artigo no mensário Tradição -Porto Alegre, jan 1996))que se faz nos campos do Sul, de que os brasileiros não deveriam ter perseguido o inimigo que se retirava da frente do nosso. Não pelo receio de combater ,por ser ele superior em forças-mas por estratagema .

A distância de coronel Bento Manuel quando teve início a batalha não passava de 6 léguas castelhanas.As baixas brasileiras foram mais de 200 e as argentinas e orientais em mais de 1000.(Foram baixas da Cavalaria contra os quadrados da Divisão do gen Crisóstomo Calado).

Fez bem o Marquês de Barbacena em ordenar a Retirada em direção a São Sepé ,em razão dos brasileiros estarem faltos de munição logo no início da batalha,a Cavalaria quase inutilizada depois de 11 horas de batalha e no mesmo estado os muares da nossa Artilharia.

Seria impossível ao Marquês de Barbacena tentar outra vez a sorte das armas enquanto não pudesse se refazer de munições e cavalhadas."

Esta abordagem inédita e inexplorada do Duque de Caxias em estudos sobre a batalha, esta a sugerir que ela seja analizada a luz das seguintes obras entre outras: A Batalha do Passo do Rosário do gen Tasso Fragoso,A Batalha de Ituizangô do ten cel Henrique O.Wiedersphan e do ten cel Claudio Moreira Bento estudos comemorativos do sesquicentenário da batalha ,publicados em A Defesa Nacional n os 672/ano1977 e 680/ano 1978, sob os títulos :Os fatores da Decisão Militar na Batalha do Passo do Rosário"e "Marchas estratégicas dos exércitos para a Batalha do Passo do Rosário".Assim se estaria dando consequência ao abalizado pensamento do mal Ferdinand Foch, o comandante da Vitória Aliada na I Guerra Mundial:

"Para alimentar o cérebro(comando) de um Exército na paz,para melhor prepará-lo para a eventualidade indesejável de uma guerra, não existe livro mais fecundo em licões e meditações do que o da História Militar. "

E indiscutivelmente, Caxias 20 anos decorridos da batalha a estudou sem nela haver participado,como o comprova sua análise, um dos raros documentos em que expõe seu pensamento militar.

O gen Eugênio Garzon ,veterano de Passo do Rosário comandou o Exército do Uruguai e Caxias o do Brasil na Guerra contra Oribe e Rosas,onde consolidaram grande amizade, inclusive nos acampamentos onde aparecia vez por outra Angela Garzón ,que em solteira fora namorada de Caxias em Montevidéu e que este ao retornar ao Brasil ela casou com Garzon.Mas este é outro assunto tratado em aspectos humanos de Caxias neste trabalho.