A PENÍNSULA DA CRIMÉIA, A BOMBACHA DO GAÚCHO E A ALIMENTAÇÃO DA TROPA BRASILEIRA NA GUERRA DO PARAGUAI

(Notas dos historiadores militares coronéis Claudio Moreira Bento e Luiz Ernani Caminha Giorgis do IHTRGS e da FAHIMTB).

 

 

            A península da Criméia, por seu grande valor geopolítico e estratégico, está novamente em evidência com a sua anexação pela Rússia, retirando-a da soberania da Ucrânia.

            A anexação contraria interesses das sete nações mais ricas, também grandes potências militares, como no passado, empenhadas em conter a expansão russa sobre o Mediterrâneo.

            De 1853 a 1856 ocorreu a Guerra da Criméia, na qual a Rússia foi vencida por uma Coligação composta pelo Império Otomano, o Reino Unido, a França e Império Sardo (Sardenha), este último compondo a Aliança Anglo-Franco-Sarda.

 

 

            A guerra terminou com a assinatura do tratado de Paris de 30 de março de 1856, dela resultou a neutralização do Mar Negro para a Rússia e, por via de consequência, o seu acesso ao Mediterrâneo. Nesta guerra ficou famosa a heroica resistência de sua fortaleza Sebastopol, sede da frota russa no mar Negro, a prolongado cerco. O Cerco de Sebastopol (ao lado) foi o principal combate ocorrido durante a Guerra, tendo durado de setembro de 1854 a setembro de 1855. Leon Tolstoi, no livro Relatos de Sebastopol detalha os combates num misto de ficção e relato histórico. A Guerra da Crimeia foi o primeiro grande conflito armado documentado por recente invenção da época, a fotografia.    

 

 

 

 Acima, uma Imagem do cerco de Sebastopol na Guerra

da Criméia (Fonte: Google, Imagens)

 

 

           O Império Otomano era muito forte militarmente e integrava áreas do Oriente Médio, Leste Europeu e Norte da África, do qual, derrotado na 1ª Guerra Mundial, surgiu a Turquia em 1923.

            De 1865-70 ocorreu a Guerra da Tríplice Aliança da Argentina, Brasil e Uruguai contra o Paraguai. O que tem esta guerra a ver com aquela?

            Na Guerra do Paraguai, a Fortaleza de Humaitá que se constituiu em Objetivo Militar da Tríplice Aliança ganhou a denominação de a “Sebastopol  Sul-Americana”, pela resistência que ofereceu à sua tentativa de conquista pelas forças terrestres e navais da Tríplice Aliança.

            Depois da Guerra da Criméia, o Brasil comprou da França sobras de fardamento. Foram muitas calças, que receberam o nome de bombachas. Elas foram usadas pelos zuavos, nome dado a certos regimentos de infantaria do exército francês, originarios da Argelia, a partir da década de 1830, e que foram empregados na Guerra da Criméia.

            As bombachas foram introduzidas no Rio Grande do Sul por veteranos da Guerra do Paraguai. Desde então, passaram a ser peça tradicional da vestimenta do Gaúcho.

            Ainda na linha da logística, e passando para a alimentação da tropa, uma curiosidade. Na Campanha da Cordilheira, final da Guerra do Paraguai, estando o Exército sob o Comando do Conde D’Eu, este teve que importar de Nantes, França, um carregamento de sardinha para alimentar as tropas, em razão de rompimento com os fornecedores argentinos de carne bovina que tiravam proveito exagerado de seus fornecimentos (Meira, Cabeda, 2009, p. 19).

 

 

 

 

Zuavo, em 1888 (Fonte: wikipédia) 

 

 

            Sobre o que foi a alimentação do Exército no Paraguai, um soldado brasileiro assim a definiu, segundo Dionísio Cerqueira em suas Reminiscências da Guerra do Paraguai:

 

“Osório nos deu churrasco.

E General  Polidoro farinha.

O Marques (Caxias) nos deu jabá

E Sua Alteza (Conde D´Eu) sardinha”.

 

 Fontes:  Antônio Ribeiro (www.veja.abril.com.br);

               MEIRA, Antonio Gonçalves et CABEDA, Corálio. Nossas Guerras. Porto Alegre: Edigal, 2009;

               Wikipédia.