OS 150 ANOS DA BATALHA DE MONTE CASEROS

Luiz Ernani Caminha Giorgis (x)

 

Registramos, este ano, os 150 anos da Batalha de Monte Caseros, que teve lugar em 3 fev 1852, próximo à localidade de Morón, a 30 Km a SO de Buenos Aires .Batalha também conhecida como Batalha de Morón ou ainda como Batalha da Quinta dos Santos Lugares.

Foi travada entre as tropas do ditador argentino Juan Manuel Ortiz de Rosas e as tropas Aliadas ( Argentina, Brasil e Uruguai) ao comando do também argentino, Gen Justo José Urquiza e vencida por este.

Esta batalha foi a principal e a final da campanha contra Rosas, que ameaçava incorporar à Argentina ,o Uruguai , o Paraguai e o Rio Grande do Sul, em seu sonho de reconstituir assim o antigo Vice - Reinado do Rio da Prata. O ditador contava com o apoio da Inglaterra, que tinha grandes interesses no Prata.

Rosas contava com 24 .000 homens e os Aliados com 26.000, sendo destes 20.000 mil argentinos, 4.200 brasileiros e 1.800 uruguaios.

O efetivo brasileiro era 1/6 do total, mas foi o mais importante para a vitória, com a Divisão Brasileira, comandada pelo Brigadeiro Manuel Marques de Souza( 3º ) e futuro Conde de Porto Alegre .Divisão composta de duas Brigadas de Infantaria. Ali lutou o 2º Regimento de Cavalaria, de Bagé’, comandado pelo Tenente-Coronel Manuel Luiz Osório, hoje Patrono da Arma de Cavalaria e o 1º Regimento de Artilharia a Cavalo, o desde então famoso "Boi de Botas", com 200 homens. O comandante deste Regimento era o hoje Patrono da Artilharia, Marechal Emílio Luiz Mallet, que integrava à 4ª Divisão de Cavalaria, comandada pelo Brigadeiro Davi José Martins Canabarro, herói da Guerra dos Farrapos.

Embora Canabarro e Mallet não estivessem presentes à Batalha, o Regimento honrou os nomes destes bravos representado por artilheiros seus comandados pelo Maj Joaquim Gonçalves Fontes.

Distribuídos entre as tropas brasileiras de Infantaria estavam 100 atiradores de elite prussianos, usando os moderníssimos fuzis Dreyse de agulha (percussor).

Os Aliados formaram o chamado Grande Exército Libertador da América do Sul, para livrar a Argentina da opressão e megalomania do ditador Rosas, no poder desde 1829, e que havia tentado, sem sucesso, interferir na Guerra dos Farrapos quando recebeu esta altiva recusa do General Canabarro comandante do Exército Farrapo:

"Com sangue do primeiro estrangeiro que atravessar a fronteira assinaremos a paz com o Império ..)

A marcha para a concentração Aliada, antes da batalha, foi caracterizada pela difícil transposição do rio Paraná, em Diamante que durou cerca de 15 dias.

Rosas em Caseros montou seu dispositivo com a tropa formando uma cunha com o Arroio Morón, e a Artilharia protegida por parapeitos e atiradores de escol nas sotéias (terraços) das casas da povoação e ainda duas Divisões de Cavalaria na Reserva.

O ponto mais forte era o centro. A sua Artilharia e era bem superior à nossa. Mas foram caçados por atiradores brasileiros de escol ,munidos com os fuzis Dreyse a agulha ,de longo alcance ,segundo o Cel Cláudio Moreira Bento em sua obra Estrangeiros e descendentes na História Militar do RGS.( Porto Alegre:IEL,1975)

Urquiza colocou os Aliados em linha oblíqua, com os uruguaios à direita, a Divisão Brasileira no centro e os argentinos à esquerda, reforçados estes com o 2º Regimento de Osório.

Enquanto isso, ao Marquês de Caxias, que era o Comandante do então 1º Distrito Militar, hoje 3ª RM, estava acampado na Colônia do Sacramento com 16 .000 homens prontos a intervir, se necessário.

A batalha começou às 0600 horas com troca de tiros de armas leves. O 2º RC foi lançado pela esquerda para chamar a atenção do inimigo, enquanto a direita transpunha o Arroio Morón.

Rosas resistiu a este primeiro golpe. Em seguida, os Aliados fizeram o centro e a direita girarem sobre o próprio flanco direito e a Divisão Brasileira atacou o centro de Rosas ,enquanto a nossa direita atacava a esquerda inimiga. Nesta hora houve um retardamento do avanço da Infantaria uruguaia e o Brigadeiro Marques de Souza ordenou a 1ª Bda de Infantaria reforçar, mas esta acabou ultrapassando os orientais e conquistando a posição inimiga.

Enquanto isso a 2ª Bda Infantaria atacava pela frente e colocava os rosistas em fuga. O centro foi rompido às 1100 horas. O 1ºRACav (o Boi de Botas) bateu a Artilharia de Rosas com auxílio dos atiradores prussianos ( os brummer ) munidos de fuzis Dreyse .E sob a proteção de nossa Artilharia os atiradores prussianos e caçadores brasileiros expulsaram à baioneta os rosistas e tomaram as sotéias.

Osório ainda fez uma carga com seu Regimento, venceu os rosistas e arrebatou uma bandeira de Rosas. E, depois de mais alguns entreveros, às 1300 horas "não havia mais inimigo a combater". Toda a Artilharia , munições, equipamentos, fardamentos, armamentos, carros, carretas, cavalos, rosistas caíram em poder dos Aliados. Foram feitos 7.000 prisioneiros.

Na verdade, a resistência de Rosas não foi tão forte como se esperava, considerando-se a superioridade do armamento e a posição defensiva assumida. Os Aliados perderam 250 argentinos, 18 brasileiros (dois oficiais e mais 16 entre sargentos e soldados) e 19 uruguaios.

Rosas fugiu para não ser preso . No caminho para o Porto de Buenos Aires renunciou em um papel escrito à lápis. Embarcou em um navio inglês e refugiou-se em Londres.

A Divisão Brasileira desfilou nas ruas da capital, ovacionada pelo povo portenho e logo depois embarcou nos navios da nossa Esquadra, retornando à Pátria com a missão cumprida.

O General Urquiza que assumiu a presidência da Argentina , em agradecimento, saudou o Brigadeiro Marques de Souza da seguinte forma:

"Quando a história, traçando o horrível quadro da ditadura argentina, tributar o merecido elogio aos libertadores desta terra, o nome de Vossa Senhoria e de seus valentes companheiros de armas, ocupará o honroso lugar que lhes compete, como dignos aliados da civilização e da liberdade."

Em conseqüência desta vitória, foram definidos os limites Brasil-Uruguai; confirmou-se a independência do país oriental; foi reparada a espoliação de brasileiros residentes naquele país, antes dominado pelo ditador Manuel Oribe, aliado de Rosas e , restabelecido o direito brasileiro à livre navegação no Rio da Prata, fechada desde 1842. E o General Urquiza governou a Argentina até 1860.

Fontes consultadas

1-ACADEMIA DE HISTÓRIA MILITAR TERRESTRE DO BRASIL

O Guararapes 32 .jan/mar 2002 .( os 150 anos da Guerra

Contra Oribe e Rosas ,por Cláudio Moreira Bento )

2-BENTO.Cláudio Moreira .História da 3a RM 1808-18889 e

Antecedentes .Porto Alegre:SENAI,3a RM,1994.

3-(____).Estrangeiros e descendentes na História Militar do

RGS,Porto Alegre :IEL,1975.

4-(____).Os patronos nas Forças Armadas do Brasil .No site

(www.resenet.com.br/users/ahimtb)

5-DONATO,Ernani.Dicionário de batalhas brasileiras. São Paulo:

IBRASA,1996.

6-PESSOA ,Corina de Abreu ,Cartas de Montevidéu. Rio deJaneiro

BIBLIEx,1953 .

7-VASCONCELLOS,Genserico , História Militar do Brasil. Rio

de Janeiro BIBLIEx,1941.2v

(x) Acadêmico Delegado da Academia de História Militar Terrestre do Brasil no RGS –Delegacia Gen Rinaldo Pereira da Câmara e 1 vice Presidente do Instituto de História e Tradições do RGS