AHIMTB / RESENDE
            MARECHAL MARIO TRAVASSOS

 

 

O 80º ANIVERSÁRIO DA REVOLUÇÃO DE 1932 – ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

 

 

Cel Cláudio Moreira Bento 
 

(Presidente da Federação de Academias de História Militar Terrestre do Brasil (FAHIMTB),
 da Academia de História Militar Terrestre do Brasil/Resende Marechal Mário Travassos e
 do Instituto de História e Tradições do RGS (IHTRGS)

 


                  

       Em 1° de março de 1996, no contexto de um encontro do Instituto de Estudos Valeparaibanos (IEV), na AMAN, CRI e AEDB,  nos coube com seu 3° Vice presidente coordená-lo sobre o título, A Presença Militar no Vale do Paraíba, ocasião em que fundamos a Academia de História Militar Terrestre, (AHIMTB), destinada a desenvolver a História das Forças Terrestres Brasileiras(FTB):Exército), Fuzileiros Navais, Infantaria da Aeronáutica, Policiais e Bombeiros Militares.

 

       E nesta missão como não podia deixar de ser ocorreram  diversas abordagens sobre este histórico movimento do ponto de vista governista e revolucionário. Este predominante!

       O objetivo primordial desta AHIMTB era levantar na História Militar Brasileira, subsídios de Arte e Ciência Militar Brasileira, com o objetivo de eles servirem a instrução dos quadros da FTB e contribuírem para o desenvolvimento progressivo de uma doutrina militar brasileira genuína, sonho de Duque de Caxias em 1862, o que se impõe hoje, mais do que antes, para um Brasil grande  potencia econômica e social, mas longe de ser considerado uma potência militar, coerente com esta idéia  consagrada pelo pensamento militar mundial de que “País para ser rico deve ser forte militarmente”. Ou também fiel e este princípio universal. “Se queres a Paz, prepara-te para a Guerra.”         

 

    Desde a Infância em Canguçu -RS , minha terra Natal, ouvia falar na Revolução de 32 e sua projeção local, através de seus filhos que integrando o 9° RI de Pelotas, combateram a Revolução no Vale do Paraíba e, sobre o Combate do Cerro Alegre, na vizinha Piratini, a antiga capital farroupilha, quando ali foi aprisionado o ex. Presidente  gaúcho, Antônio Augusto Borges de Medeiros, que saíra em campo em defesa dos paulistas e no dia 20 de setembro de 1932, no 97° aniversário do início da Revolução Farroupilha.

 

     E daí por diante sempre estudamos este movimento, o traduzindo em artigo na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo como  fruto de palestra que realizamos a pedido do IEV em Cruzeiro/SP. Trabalho que divulgamos em artigo A Revolução Paulista de 1932- Operações Militares na Revista A Defesa Nacional nº 760, abr/jun 1993,p.25/58. E na mesma revista em seu nº 775, jan/mar 1997 publicamos artigo Operações da Aviação do Exército em Resende na Revolução de 1932.

 

      Movimento que abordamos  na publicação; História da Polícia Militar de São Paulo, publicado pela PMSP em seu sesquicentenário.

 

      Esta Revolução se projetou na minha comunidade natal  no nome de suas duas primeiras agremiações futebolísticas, O Cruzeiro e o Itararé, nomes levado por participantes canguçuenses do combate a Revolução de 32.

Como membro da Comissão de História do Exercito do Estado-Maior do Exército de 1971/74 compulsamos a documentação do Exército relativa a esta Revolução e desconhecida dos revolucionários.

 

      Mas vamos a outras considerações neste 80° aniversário da Revolução Constitucionalista de 1932, que esta para São Paulo, como a Revolução Farroupilha 1835/1845, esta para o Rio Grande do Sul. Episódio histórico este  sobre o qual muito pesquisei e  escrevi como o livro O Exército farrapo e os seus chefes.Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1992.2v Livro em que demonstrei que esta revolução foi um laboratório de táticas e estratégias militares gauchas. E mais do que isto uma escola de líderes de combate que depois de combaterem quase 10 anos em campos opostos como republicanos farrapos e imperiais que se irmanaram na defesa do Brasil nas guerras externas contra Oribe e Rosas 1851/52 , contra Aguirre em 1864 e contra o governo do Paraguai 1865/70.

 

Recordo que a  TV CULTURA de São Paulo levou ao   ar em 9 de julho de 2007, programa especial comemorativo dos 75 anos da Revolução de 1932, apresentando um debate na Assembléia de São Paulo e reportagens de estudantes de jornalismo nas frentes onde se desenrolaram os combates.

 

 A Academia de História Militar Terrestre do Brasil(AHIMTB) participou diretamente através dessa Presidência,  a convite da TV Cultura, na área   Cruzeiro – Tunel da Mantiqueira – Passa Quatro .E o seu acadêmico emérito Hernani Donato, autor do precioso Dicionário das Batalhas Brasileiras e autoridade no tema, no debate na Assembléia de São Paulo. E  participaram,  indiretamente, o patrono da Delegacia da AHIMTB em São Paulo, o General Bertoldo Klinger, o comandante militar do movimento em São Paulo e mais  o seu patrono de Cadeira Especial,  o Coronel Médico da Policia Militar de Minas,Juscelino Kubishek  na frente Mineira que atacou  e venceu a forte resistência paulista no  túnel en maciço da Mantiqueira que separava os atacantes mineiros em Passa Quatro e os paulistas que disputaram a ferro e fogo o domínio do Acidente Capital cidade de Cruzeiro.  entroncamento ferroviário estratégico . Disputa que o Coronel Médico Juscelino relatou detalhes em carta.

 

   O General Klinger não havia se consagrado como um estrategista e tático militar e sim como um grande artilheiro que com seus estudos na Alemanha em 1912, e dedicação ao assunto, muito desenvolveu a Artilharia do Exército, cujos progressos ele transmitia principalmente através de seus numerosos artigos na Revista A Defesa Nacional que ele ajudou a fundar com outros Jovens Turcos em 1913, os quais através da citada revista  promoveram uma revolução cultural no Exército.

 

 Ensinamentos de Artilharia de Klinger que foram muito usados por nossa Artilharia na FEB, conforme reconheceu o seu amigo que comandou a FEB, o Marechal Mascarenhas de Morais. Klinger  fora o mais brilhante aluno que estudou na Escola Preparatória e Tática de Rio Pardo, podendo ter concluído seu curso de três anos em um  só, mas  lhe foi permitido concluir em dois, sendo o único a receber como prêmio um espadim distintivo de sua aplicação e  brilho estudantil, o qual depois   mandou  banhar em ouro, o doando a Campanha do Ouro em São Paulo em 1932, e que hoje se encontra num museu paulista.

 

O biografamos em seu centenário na Revista a Defesa Nacional, nº 711 ,jan/fev 1991. A ele muito devemos o trabalho de resgate da História da Escola Preparatória e Tática do Rio Pardo em nosso livro Escolas Militares em Rio Pardo 1859/1911, em parceria com o acadêmico Cel Luiz Ernani Caminha Giorgis e prefaciado pelo acadêmico Gen Ex Renato Cesar Tibau da Costa, então comandante do Comando Militar do Sul e hoje presidente do Clube Militar. Escola Militar, onde estudaram entre outros Getúlio Vargas, Eurico Dutra, Mascarenhas de Morais  e o Coronel Pantaleão Pessoa. Este que seria o Chefe do Estado-Maior do General Góis Monteiro que redigiu os termos da Convenção Militar que colocou fim no movimento, a maior luta interna no Brasil, na qual “ era  reconhecida a extraordinária persistência e bravura com se bateram os paulistas” em 1932. em defesa de suas verdades. 

 

 Fomos convidados para nos deslocarmos a Cruzeiro, onde em 1992, no 60º aniversário da Revolução de 32, a convite do IEV, a abordamos, conforme a publicamos então na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, entidade de que  somos sócio  desde 1977, tendo  como patrono o paulista paulistano  Cel Diogo Moraes de Arouche Lara, o 1º historiador militar do Brasil como Reino Unido. Cadeira inaugurada na AHIMTB pelo historiador Hernani Donato, elevado a acadêmico emérito, sendo hoje seu titular o notável historiador sorocabano Adilson Cesar.

 

E novamente  abordamos a Revolução de 32, do ponto de vista militar crítico  na boca do Túnel, em Passa Quatro, para a TV Cultura, por meio de uma análise doutrinária militar, ressaltando a importância estratégica desta posição,  o mais importante Acidente Capital da Revolução 32, que de posse dos paulistas assegurava proteção do seu dispositivo no vale do Paraíba que alcançou os limites de São Paulo/ Rio de Janeiro. Acidente Capital que de posse dos governistas, em Cruzeiro, isolariam o dispositivo paulista entre Cruzeiro e Resende, ao longo dos  eixos ferroviário e rodoviário. E que depois de operada a junção da frente Leste no Vale do Paraíba com a Frente Mineira decretava o fim da capacidade defensiva tática dos revolucionários. E foi o que aconteceu!

 

Percebendo a importância da posição, em  10 de jul, dia seguinte ao estouro da Revolução, o revolucionário Coronel Sampaio, que segundo consta seria  descendente do heróico General Antônio de Sampaio, patrono da Infantaria do Exército,  fortificou o maciço  e o túnel, para cobrar alto preço por sua conquista pelas tropas governistas  da Frente Mineira.

 

No debate na Assembléia de São Paulo chamou minha a atenção as preciosas considerações históricas do nosso acadêmico emérito Ernani Donato, sobre o valor do povo paulista no conflito que considero o mais notável exercício de Mobilização Geral ocorrido no Brasil e riquíssimo  em lições de Logística,   bem como a participação militar, geralmente esquecida do esforço revolucionário no Rio Grande do Sul, Bahia, Mato Grosso, Amazonas e Belém. De fato foi notável e comovente a resposta do Povo Paulista à convocação para a luta, como ressaltei na entrevista a TV Cultura no Túnel da Mantiqueira.   Muito apreciei o debate esclarecedor e democrático na Assembléia de São Paulo, como as considerações da professora Ilka Cohen, historiadora social, de que a Revolução foi promovida por elites oligárquicas depostas pela Revolução de 30. E ao que nos pareceu houve consenso entre os debatedores. Igualmente apreciei as considerações do professor Rogério Batistini Mendes, professor da Escola de Sociologia e Política,  bem como a equilibrada participação do repórter moderador dos debates e perguntas dos universitários assistentes. Debate muito esclarecedor na procura da verdade, sem maniqueísmo, assegurando o contraditório, a determinadas posições mitificadas. E,  em especial a dos professores Rogério e Ilka que expuseram os pontos de vistas dos governistas. Interessante foi a Guerra Psicológica mencionada por Hernani Donato desenvolvida pelas lideranças da Revolução sobre o Povo Paulista e a dos governistas sobre o restante do Brasil. E  ambos exagerando intenções indignas de cada contendor. Confirmando assim que na guerra a “ primeira vítima é a verdade”. Ou que” em tempo de guerra a mentira e como terra” . Concordamos com o confrade Hernani Donato de que a Revolução militarmente nasceu morta e que embora ela tivesse inicialmente uma idéia ofensiva visando atingir o Rio, ela foi defensiva, não explorou o efeito surpresa. .Resultado o seu isolamento e bloqueio e liberdade total para o Governo fazer cerrar para frente de combate recursos de toda a ordem.

 

O  professor Rogério colocou muito bem questões do lado dos governistas,  o que é difícil colocar face à ainda possível paixão, como  no  ocaso da Revolução  Federalista e Revolta na Armada1893/95,   em razão da lembrança das atrocidades cometidas por ambos os contendores contra o adversário, por conduzidas por lideranças civis, com tropas civis sem o conhecimento de Ciência e Arte Militar.

 

Na entrevista a TV Cultura no Túnel  mencionei o esforço gaúcho sobre a liderança de Borges de Medeiros e Batista Luzardo que teve seu epílogo em 20 de setembro de 1932, em Piratini, exatamente a 97 anos da eclosão da Revolução Farroupilha, com a derrota e prisão dos líderes  gaúchos em Cerro Alegre, que formaram ao lado dos paulistas. E lá por pouco não foi aprisionado meu pai prefeito de Canguçu, que se dirigia para encontrar-se  com Borges de Medeiros, do qual seu pai Cel GN Genes Gentil Bento fora seu Chefe de Polícia, Secretário e organizador da defesa de Porto Alegre com a Guarda Republicana em 1923.

 

 Lamento que nossa  contribuição à TV Cultura não tenha sido mais bem aproveitada e citada nos agradecimentos a nossa AHIMTB a que eu e Hernani Donato integramos também como historiadores militares. AHIMTB que possui em São Paulo 4 Delegacias tendo como patronos o historiador militar Cel PMSP Pedro Dias Campos na Associação de Oficias da Reserva da PMSP e como patronos de cadeiras especiais os generais Miguel Costa e Marcondes Salgado e também consagrado patrono de cadeira em vida, o Cel PMSP Edilberto de Oliveira Mello, o maior historiador militar contemporâneo da PMSP. E   no CMSE como patrono o General Bertoldo Klinger . em Sorocaba o historiador da Revolução de 1842  Aluisio de Almeida e em Campinas o Marechal Mario Travassos. Faltou algo??? Atribuímos a percepção equivocada da Sociedade Brasileira de que a responsabilidade pela Defesa Nacional é de suas Forças Armadas, quando estas em realidade são o braço armado do Povo Brasileiro, o qual é o responsável pela eleição de seus dirigentes  no Poder Executivo e Legislativo, que em realidade são os responsáveis, historicamente pela Defesa Nacional , e por via de conseqüência com o dever de  bem armarem as Forças Armadas, como braço armado do Povo Brasileiro e com os meios compatíveis para bem atenderem  esta lei da História Militar Mundial. “ Se queres a paz, prepara-te para a guerra.”

 

Os expositores das outras frentes que eram predominantemente moças, foram brilhantes, em especial a que lia o Diário de Getúlio, inclusive numa tomada em frente ao Monumento do General Osório no Rio, bicentenário em 2008 e tema de meu livro General Osório o maior herói e líder e popular brasileiro. Herói que teve seu batismo de fogo entre cavalarianos paulistas da Legião  de São Paulo, na Guerra da Independência na Província Cisplatina, Mas foi um documentário sem rival e que muito aprendi com o debate dos integrantes da mesma e as interessantes perguntas do coordenador.

 

Privamos com dois oficiais do Exército nossos particulares amigos  que quando jovens combateram como soldados da Revolução de 32, o Cel Edgar Barreto Bernardes, filho de Itatiaia e que nos prestou depoimento sobre sua participação como revolucionário paulista, o qual  publicamos na Revista da Academia Itatiaiense de História nº 1 em 2005, as p. 23/25. E o General Carlos de Meira Mattos, herói de nossa FEB e notável geopolítico brasileiro, filho de São Carlos e hoje patrono de cadeira especial na FAHIMTB, sucessora da AHIMTB, na qual foi o 1º a ser empossado como acadêmico.