ANÁLISE DA MANOBRA LUSO- BRASILEIRA

- Manobra:

Os luso-brasileiros, em face de uma inferioridade numérica próxima de 3x1, acrescida de flagrante inferioridade de fogo, escolheram um local de batalha condizente com seus meios, organização e táticas de combate da doutrina militar brasileira nascente (Guerra Brasílica).

Através de um aproveitamento judicioso do terreno, atacaram com o grosso, em estreita faixa de terra, situada entre o monte Oitizeiro e os alagados.

Economizaram meios nas alas e nelas colocaram, na falta de cavalaria, tropas compostas de índios e pretos que apresentavam mobilidade relativa apreciável.

Ao atraírem os holandeses para o combate na faixa estreita do Boqueirão, impediram que estes tirassem partido de suas principais características: força do poder de fogo dos mosquetes e amplas manobras de alas, mais condizentes com o combate conduzido em largas frentes, na planície.

Com vistas a manter o ímpeto defensivo e ofensivo no combate no Boqueirão e mesmo a intervir numa ala ameaçada, os patriotas mantiveram forte reserva eixada na direção do esforço principal, e que foi empregada, parte numa ameaça de ala, parte para manter o ímpeto ofensivo no Boqueirão e, ao final, para substituir o escalão do ataque principal.

- Tipo de Manobra:

Manobra Estratégica

- Forma de Manobra:

Manobra Central (Ruptura), seguida de envolvimento da ala esquerda inimiga (lançamento dos holandeses contra os alagados).

Ruptura: foi realizada no centro holandês, no Boqueirão.

Envolvimento: foi realizado após a ruptura e sobre a ala esquerda holandesa que progredia através dos alagados.

- Oportunidade da execução da manobra:

Quando a força holandesa foi lançada na direção do Boqueirão e, através deste e dos alagados, em perseguição da fração luso-brasileira despachada do Boqueirão para atrair os holandeses a uma emboscada e após desferir-lhes violento ataque surpresa com o grosso.

- Constantes da manobra de Ruptura:

Os luso-brasileiros desfecharam vigoroso ataque no centro do dispositivo holandês, combinando com ações de fixação nos flancos.

Obedeceram uma só direção de ataque — a do esforço central.

Repartiram judiciosamente as forças em largura e profundidade e mantiveram no Boqueirão, acidente capital chave desta batalha, meios suficientes para a frente e eixados em reserva, para lançá-los no momento decisivo e com ímpeto avassalador, tão logo sentissem o ponto fraco holandês.

- Variáveis da manobra de ruptura:

Durante a ação de ruptura do centro holandês, o centro luso-brasileiro destacou uma fração que envolveu e destruiu a ala holandesa que, atuando através dos alagados, procurava cair na retaguarda do grosso de nossas forças no Boqueirão.

Esta ação foi em combinação com a da ala direita.

- Conduta de manobra:

Os holandeses empregaram forte reserva sobre a nossa ala esquerda, ao perceberem seu enfraquecimento, em decorrência do abandono do posto por parte de vários homens de Henrique Dias, que desceram do monte do Oitizeiro para pilharem holandeses mortos.

Este ataque pôs em sério risco de envolvimento todo o grosso luso-brasileiro no Boqueirão.

Em conseqüência, Barreto de Menezes reforçou Henrique Dias com 560 homens da reserva.

O capitão Cosmo Rego, comandante desta fração, por iniciativa própria, escolheu outra direção de atuação e não conseguiu cumprir a missão.

Continuando a ameaça de envolvimento e eliminada a central, Barreto de Menezes determinou que o grosso retraísse do Boqueirão e se cobrisse na direção do atual monte da Igreja, deixando no entanto forças suficientes nesta célebre passagem, estas capazes de desencorajar qualquer ataque sobre ela, como de fato aconteceu (Conclusão do relatório Von Shkoppe).

- Falhas da manobra:

Nesta batalha, os luso-brasileiros cometeram dois erros que poderiam ter posto o combate em sério risco, após ter sido praticamente ganho:

1º - abandono da posição na ala esquerda de parte de alguns homens de Henrique Dias para espoliarem os mortos holandeses na baixada (Lopes Santiago).

2º - não obediência por parte do capitão Cosmo Rego, no sentido de reforçar Henrique Dias, atuando em direção diferente à que lhe foi determinada, tendo como resultado o não cumprimento da missão, além de pôr em sério risco o êxito da batalha (Barreto de Menezes).

- Conclusões:

A inferioridade luso-brasileira de 2,86x1 combinada com inferioridade de poder de fogo não impôs a adoção da defensiva.

Foi adotada a ofensiva.

Não existindo flanco exposto no início da batalha, este foi criado após a ruptura e completamente envolvida a ala direita.

Nesta manobra ficou evidenciado que uma tática de ruptura poderia conduzir o defensor a uma operação de ala desde que o atacante não fixasse, convenientemente, o defensor no restante da frente.

E o exemplo foi o ataque do Cel Van der Branden.

A irresponsabilidade de alguns homens de Henrique Dias, abandonando a ala para espoliar o inimigo morto antes do término da batalha, foi judiciosamente aproveitada pelos holandeses.

O momento decisivo da batalha surgiu quando os holandeses se lançaram através do Boqueirão e dos alagados em perseguição de uma pequena força que julgavam ser toda a tropa inimiga que tinham pela frente (conclusão com base no relatório Von Schkoppe e depoimento do Cel Keerwaen).