DESCRIÇÃO DA 1ª BATALHA

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DESDOBRAMENTO HOLANDÊS NO MONTE DO TELÉGRAFO

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Após o retraimento da pequena cobertura luso-brasileira para o Boqueirão, o tenente general Von Schkoppe, pressentido algum perigo à frente, ordenou o desdobramento de seu exército no monte, hoje denominado do Telégrafo, e sua baixada leste.

Sua vanguarda ocupou as alturas do dito monte, e o corpo de batalha ocupou a baixada ao longo da estrada.

A retaguarda ainda marchava pouco distante, regulando a marcha pelas bagagens, trens, tralha do exército, a qual proporcionava proteção.

O Mestre de Campo Barreto de Menezes a tudo observava, mantendo o seu dispositivo escondido na linha Alagados—Boqueirão-—Monte Oitizeiro (ver esboço nº 1) (Interpretação: Relatórios Von Schkoppe, Van der Branden, Barreto de Menezes).

 

 

ATRAÇÃO DOS HOLANDESES AO BOQUEIRÃO

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Mantendo o seu dispositivo escondido, Barreto de Menezes faz avançar através do Boqueirão, sobre os holandeses, 200 a 300 homens, ao comando do Sargento-Mor Dias Cardoso, para atraí-los a uma grande emboscada, por fazer crer ao inimigo que somente uma pequena força lhes disputava aquela importante passagem para o sul.

A reação de Von Schkoppe não se fez esperar. Ordenou que uma força composta de seu regimento e dos regimentos dos coronéis Van Elst e Keervaen atacasse com presteza a pequena força luso-brasileira e conquistasse o Boqueirão.

Desfechado o ataque, muitos holandeses, dada a frente estreita do Boqueirão, foram obrigados a progredir com grande dificuldade através dos alagados, que julgavam solo firme, para envolverem pela esquerda a força pequena ao comando de Dias Cardoso.

A ala direita holandesa em posição no monte do Telégrafo (atual) iniciou a progressão com vistas a desbordar os luso-brasileiros, através de um ataque envolvente pela direita. Tinham os holandeses caído na grande emboscada que os luso-brasileiros lhes haviam preparado.

A ala direita, progredindo em direção ao monte Oitizeiro, ficara dissociada do grosso por árvores esparsas, na falda leste de dito monte que, com os alagados, formava o Boqueirão, estreita passagem de 100 passos em linha seca e desprovida de vegetação.

 

 

ATAQUE LUSO-BRASILEIRO

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Naquele exato momento, o Mestre de Campo Barreto de Menezes ordenou um ataque geral a espada dos luso-brasileiros, que se mantinham com o grosso de suas forças, a coberto, pelo monte Oitizeiro e restinga de mato nos alagados.

No Boqueirão, foi incumbido de atacar o dispositivo inimigo o Mestre de Campos Fernandes Vieira, que tinha por Sargento-Mor o bravo Dias Cardoso.

Atacaria cobrindo seu flanco direito e, através dos alagados, o terço de Felipe Camarão.

Fixaria o inimigo no monte do Oitizeiro o terço de Henrique Dias.

O terço do Mestre de Campo Vidal de Negreiros constituiu-se em Reserva, eixada na direção do esforço principal, este, a cargo de Fernandes Vieira.

Ordenado o ataque geral, após algumas trocas de tiros que poucas baixas causaram, foi desfechado violento ataque a espada, nos holandeses, na estreita faixa do interior do Boqueirão a que foram atraídos os inimigos.

Este impetuoso ataque surpreendeu os holandeses progredindo ainda em organização de seu dispositivo de ataque e pensando que iriam enfrentar uma pequena força inimiga.

O ataque principal, desfechado com toda a violência, logo rompeu o grosso holandês no Boqueirão, ultrapassou e envolveu a ala esquerda inimiga que progredia no interior dos alagados.

Em conseqüência, logo se estabeleceu a confusão e a desordem no dispositivo holandês, provocando a deserção de muitos de seus soldados.

Ao darem as costas aos luso-brasileiros para retrair, muitos holandeses foram abatidos à espada.

Nesta situação, verificou-se o maior número de baixas, pois, no açodamento da fuga, abandonavam o armamento para escaparem com maior velocidade.

Os numerosos holandeses envolvidos nos alagados encontraram a morte ali mesmo, principalmente abatidos a tiros, lançaços, à espada, provavelmente pelas forças de Felipe Camarão, por certo habituadas a deslocarem-se nos alagados.

Muitos holandeses, no interior dos alagados, na pressa de fugirem, deitaram fora seus armamentos, o que facilitou a destruição, perseguidos pelos ágeis índios de Camarão.

Progredia pelos alagados, ao que parece, o Regimento do Cel Keervaen.

Henrique Dias, após rechaçar uma ataque sobre sua posição, era auxiliado pela artilharia, que causava grandes estragos no grosso e na reserva holandesa, disposta entre os montes Oitizeiro e Telégrafo (Cel Van der Branden).

(Não há certeza histórica da existência de artilharia patriota).

 

 

ATAQUE DE FLANCO HOLANDÊS

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Percebendo os holandeses a franqueza da ala esquerda luso-brasileira, resultante do abandono da posição por muitos homens de Henrique Dias (Relação da Vitória), para tentar silenciar a artilharia inimiga no monte Oitizeiro, decidem empregar a sua reserva num ataque de flanco (Regimento de Van der Branden).

Este ataque também visava envolver o grosso luso-brasileiro no Boqueirão, aí, então, fixado por um ataque secundário comandado por Von Schkoppe.

O Cel Van der Branden, com sua base de partida no atual monte do Telégrafo, atacou com dois batalhões o fraco dispositivo de Henrique Dias, no monte do Oitizeiro, além de silenciar a artilharia luso-brasileira aí colocada. Progressivamente recalcou na direção do monte da Igreja dos Prazeres as tropas de Henrique Dias (Relatório Van der Branden).

O Mestre de Campo Barreto de Menezes, apercebendo-se do perigo de desbordamento, empregou parte de sua reserva, constituída de 560 homens, ao comando do Capitão Cosmo do Rego, para reforçar Henrique Dias, que se retraía sob forte pressão inimiga (Relatório de Barreto de Menezes).

A tropa que mandou em reforço a Henrique Dias não cumpriu fielmente suas ordens e adotou outra direção de atuação, resultando ficar separada da tropa que iria apoiar, pela tropa de Van der Branden (ver detalhe Esboço 5). O Cap Cosmo Rego logo a seguir retornou e incorporou-se ao grosso.

Neste ínterim, os holandeses atacaram no Boqueirão, sendo fragorosamente batidos e obrigados a recuar, levando ferido o comandante da expedição, Ten General Von Schkoppe, atingido por dois projéteis numa das pernas.

Eliminada esta ameaça, prosseguiu avançando o ataque de flanco, retardado bravamente por Henrique Dias (ver detalhe Esboço 5). O restante da reserva, Barreto de Menezes a empregara no Boqueirão, para aumentar o ímpeto ofensivo do ataque, com a vanguarda ao comando, agora, de Vidal de Negreiros (Relatórios Barreto de Menezes e Vidal de Negreiros).

 

 

MANOBRA LUSO-BRASILEIRA PARA CONTER O ATAQUE

ENVOLVENTE HOLANDÊS

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Eliminada a ameaça no Boqueirão, Barreto de Menezes deixa-o ocupado com 200 homens, possivelmente ao comando do Sargento-Mor Antônio Dias Cardoso.

Com o restante, deu meia volta, abandonou o Boqueirão e tomou posição nas faldas leste do atual monte da Igreja N. S. dos Prazeres, cobrindo-se na direção de atuação de Van der Branden.

Pensando encontrar o Boqueirão abandonado, os holandeses enviaram uma fração para dele apossar-se; entretanto, ao perceberem que estava ocupado por 200 homens, retornaram para suas posições.

Van der Branden atingiu o monte da Igreja N. S. dos Prazeres acompanhado de perto pelas tropas de Henrique Dias, que evitavam um engajamento cerrado.

Ao atingir este ponto, sua tropa estava exausta e sem munição.

Gastou algum tempo, segundo seu depoimento, com uma peroração, concitando seus homens a prosseguirem no ataque, utilizando as espadas.

Nessa ocasião, Van der Branden recebeu ordens de Von Schkoppe, informando-lhe encontrar-se ferido e com o exército "bastante batido", na baixada.

Ordenou-lhe que assumisse o comando e que não prosseguisse no ataque, por ter fracassado na baixada do Boqueirão o ataque secundário de fixação.

Ordenou-lhe, outrossim, que retraísse para o atual monte Telégrafo, onde deveria reorganizar o restante do exército e, tão logo chegasse a noite, retirar-se para Leiteria, hoje Praia da Boa Viagem. (Interpretação do autor, de Relação da Vitória e relatório Van der Branden)

 

 

ESTABILIDADE DA FRENTE (Exércitos frente a frente)

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Após uma luta que durara 4 horas (Barreto de Menezes), levando à beira da exaustão muitos de seus soldados, os holandeses retornaram às suas posições no atual monte do Telégrafo, e os luso-brasileiros ficaram no Boqueirão e crista topográfica do monte do Oitizeiro.

Até à noite, os dois exércitos ficaram frente a frente, trocando insultos e disparando por vezes suas armas, ao mesmo tempo que aproveitavam para reorganizarem-se e recolherem os mortos e feridos mais próximos das posições.

Logo após o violento ataque de ruptura luso-brasileiro, os holandeses desviaram parte de seus efetivos para o transporte de feridos para o Recife, o que veio desfalcar ainda mais seus já desfalcados efetivos (mortos, feridos, deserções).

Houve, logo de início, muitas deserções holandesas, principalmente dos índios tapuias, seus aliados, tão logo perceberam a violência de um ataque convencional.

Com a consciência pesada pelos degolamentos de bravos patriotas na Barreta, os tapuias puseram-se em fuga desordenada e embrenharam-se em matas longínquas, temendo represálias.

 

 

RETIRADA HOLANDESA

Enquanto os luso-brasileiros se recompunham do grande desgaste do dia, ao mesmo tempo que se reorganizavam para o combate no dia seguinte, os holandeses, aproveitando-se da noite, bateram silenciosamente em retirada para a Leiteria (Boa Viagem), debaixo de enorme aguaceiro que caiu durante a noite.

Dito aguaceiro apanhou nossas tropas em posição em campo aberto, castigando-as e impedindo um sono reparador, ao mesmo tempo que agravou os sofrimentos dos feridos.

Pela manhã, foram lançados reconhecimentos na direção holandesa e feitos prisioneiros alguns sentinelas que desconheciam a retirada de seu exército.

O Cel Van der Branden retirou-se com 3200 homens de seu exército, ou 50% do efetivo inicial, de vez que os restantes 3200 tombaram em combate, desertaram, esconderam-se nas matas próximas ou foram encarregados do transporte de feridos.

Lutando em campo aberto, à moda européia, este efetivo ainda poderia causar sérios danos aos luso-brasileiros.

 

 

BAIXAS DE COMBATE

 - Holandesas:

515 mortos e 523 feridos (Supremo Conselho do Recife);

470 mortos e 523 feridos (Netscher e Watjen);

300 mortos e 500 feridos (Handelmann);

900 mortos deixados no campo (Vidal de Negreiros);

900 mortos e feridos deixados no campo (Mestre de Campo B. de Menezes);

900 mortos e feridos deixados no campo (Felipe Bandeira de Mello).

É possível que os holandeses tenham computado as baixas referentes ao seu exército, omitindo as baixas entre os índios tapuias e mais índios encarregados de transportar a impedimenta, e que em seu total poderiam atingir 900 mortos e feridos deixados no campo de batalha.

Ao aceitar o número 1038 baixas de combate, segundo o depoimento do Supremo Conselho do Recife, é de admitir-se que as deserções atingiram números bem superiores a 500 homens, pois o próprio Von Schkoppe, em seu depoimento, referiu-se a 1.500 claros em sua tropa, após o primeiro embate com os luso-brasileiros.

Na Relação da Vitória, constam numerosas baixas, por morte, entre coronéis, majores, capitães, ajudantes e alferes holandeses.

Consta, também, que somente escaparam com vida ou de caírem prisioneiros o Ten Gen Von Schkoppe (ferido) e dois dos seis coronéis: Van der Branden e Brinck.

No mesmo documento consta a morte dos coronéis Hans, Van Elst e Hauthyn e o aprisionamento do Cel Peter Keerwaen, e, como mortos, o Ten Cel Pistor e Santwoort, bem como o Major Claes.

Os nomes dos coronéis Van Elst e Hauthyn aparecem na segunda batalha, bem como o do Maj Claes.

É um ponto que exige maiores dados para esclarecimentos que se fazem necessários.

 

- Luso-brasileiras:

80 mortos e 400 feridos (Mestre de Campo Barreto de Menezes);

70 mortos e 350 feridos (Filipe Bandeira de Mello);

84 mortos e 400 feridos (Lopes Santiago);

80 mortos e 400 feridos (Vidal de Negreiros).

 

 

PERCENTUAL DE BAIXAS SOBRE OS EFETIVOS

 Tomando-se como base os dados de Barreto de Menezes acerca dos luso-brasileiros e os do Conselho do Recife acerca do inimigo, de ambos os beligerantes, as baixas de combate representaram as seguintes percentagens sobre os efetivos em presença:

- luso-brasileiros:

mortos - 3,63%

feridos - 18,10% sobre 2.200 homens

21,73%

 

- holandeses:

mortos - 8,15%

feridos - 8,30% sobre 6.300 homens

16,40%

Relação de mortos: 515/80 - 6,43 x 1 luso-brasileiro

Relação de feridos: 523/400 - 1,30 x 1 luso-brasileiro

Deixemos as conclusões ao leitor interessado.

 

- Presas de guerra:

- 33 bandeiras das 60 carregadas pelo exército holandês, incluindo-se o estandarte principal das Províncias Unidas e uma com a legenda "Amigos de Deus, Inimigos dos Traidores";

- duas peças de artilharia (bronze);

- copioso armamento e munição;

- despojos holandeses (equipamentos e dinheiro que traziam na algibeira e cofres);

- cinco trombetas;

- uma botica (farmácia) com medicamentos;

- um barril com algemas e grilhões.

"O Estandarte dos Estados de tafetá carmesim e azul possuía esculpidas e bordadas as armas de Holanda e da Companhia das Índias Ocidentais e, no mesmo carmesim, um leão rompante coroado estendendo suas garras" (Lopes Santiago).